Este blog destina-se àqueles que tem interesse em questões ligadas à espiritualidade, à evolução integral e estão sempre em busca do conhecimento.
sexta-feira, 31 de outubro de 2014
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domingo, 26 de outubro de 2014
sábado, 25 de outubro de 2014
Da Religiosidade à Espiritualidade: um caminho percorrido - Parte IV - Religião
Todas as definições de
Religião estão ligadas à expressão exterior – ritos, atos de culto e outras
formas visíveis de manifestação religiosa. O fundamento da religião está no
ritual, no cerimonial, no visível. A própria definição etimológica latina
“religio” presume uma compreensão de ato de culto a alguma divindade, ligação
entre duas partes ou conexão entre imanência e transcendência (MAZZAROLO,
2006).
As religiões possuem um
código de ética que rege o comportamento e dita valores morais. Muitas
religiões baseiam suas crenças num ser supremo ou num Deus que deve ser
reverenciado e as pessoas devem viver de acordo com os seus ensinamentos (SOMMERHALDER;
GOLDSTEIN apud FREITAS, 2006).
“Religião é o aspecto
institucional da espiritualidade”, “religiões são instituições organizadas em torno
da ideia de espírito” (HUFFORD apud STROPPA e MOREIRA (2008).
Weil (1987) explica que
no plano religioso, as tradições que poderiam mostrar ao homem o significado de
sua existência no mundo e de seu papel na terra foram igualmente fragmentadas e
institucionalizadas em agrupamentos e seitas, frequentemente muito distanciados
do espírito universal e abertos de seus criadores.
Os ensinamentos de Jesus, Buda, Krishna,
Maomé, Moisés, entre outros grandes mestres, que deveriam trazer grandes
avanços à humanidade foram deturpados e utilizados indevidamente para outros
fins. As guerras religiosas estão aí para nos mostrar isso.
Cavalcanti (2000), no
texto abaixo, faz uma reflexão sobre o papel da religião como algo que pouco
tem contribuído para a esperada transformação do indivíduo.
“Com
o tempo, as religiões oficiais foram adotando uma visão laica, ligada ao mundo
profano, visível na atuação de seus representantes, a qual mostra uma
preocupação muito maior com o aspecto social e político do que com o aspecto
transcendente e sagrado. Mesmo assim, as práticas espirituais das religiões
institucionalizadas ainda que mecânicas e destituídas de significados
transcendentes, são como parênteses na vida das pessoas. E tem contribuído
muito pouco para a vivência do lado espiritual como elemento transformador,
pois não fornecem o instrumento simbólico que permita a seus praticantes uma
mudança na concepção de mundo. Sem tais instrumentos determinantes de uma
auto-reflexão e de uma práxis que levam ao autoconhecimento e à autotransformação
– pouco poderá ser feito” (CAVALCANTI, 2000, p. 59).
Desse modo, o espírito tem
sido destronado e esquecido nas religiões e todo o conhecimento das antigas
tradições corrompido e desprezado, restando instituições com regras dogmáticas,
ressaltando o pecado e a culpa, ameaçando, aterrorizando, causando divisões,
disputas e alimentando o ego, quando na verdade deveriam ser instrumento de
reflexão e autotransformação.
Sobre esse assunto, Wildes
(1995) ressalta que religião é um conjunto de crenças, leis e ritos que visam a
um poder que o homem considera supremo, do qual é dependente e com o qual tem
um relacionamento e obtém favores. Trata-se, portanto, de questões sagradas,
exercidas no seio de uma instituição, ligadas às estruturas formais, rígidas,
dogmáticas e, principalmente, relacionadas às questões do além-morte (religiões
de salvação).
Kant (1794) tenta
situar o pensamento religioso e o sentimento de religiosidade no âmbito da
racionalidade humana. O autor parte do princípio que a dualidade da existência,
representada no bem e no mal, afeta fundamentalmente o indivíduo e que, somente
através do esclarecimento interior, o homem pode entender seu papel frente à
universal luta entre o bem e o mal, a qual está no mundo, mas, também, se faz
presente em seu interior.
De acordo com Zilles
(2002), Kant era contrário à fé numa religião de culto, pois seria uma fé de
escravos, já que o culto em si não teria valor moral e que o verdadeiro culto deveria
ser o cumprimento do dever moral, como mandamento de Deus. Nesse aspecto, Deus
se revela em diálogo com o que Kant afirma:
“(...)
Nas suas mentes imprimirei as minhas leis, também sobre os seus corações as
inscreverei; e Eu lhes serei por Deus, e eles me serão por povo. E não ensinará
jamais cada um ao seu próximo, nem cada um a seu irmão, dizendo: conhece ao
Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor deles até o maior” (HEBREUS 8,10).
Finalmente, Boff (2006)
deixa claro que existe uma distinção essencial entre religião e espiritualidade,
onde a religião estaria vinculada a crenças, rituais, dogmas, e a
espiritualidade relacionada às qualidades do espírito humano – amor, compaixão,
capacidade de perdoar, solidariedade, tolerância, contentamento, noção de
responsabilidade e harmonia – que trazem felicidade para a própria pessoa e
para os outros.
Jeruzia Costa de Medeiros
*Artigo científico apresentado ao Curso de Pós-graduação (Lato
Senso) em Psicologia Transpessoal da Faculdade de Tecnologia Darcy Ribeiro em
parceria com o Instituto Celta, como requisito parcial para obtenção do Título
de Especialista em Psicologia Transpessoal.
sexta-feira, 24 de outubro de 2014
quinta-feira, 23 de outubro de 2014
quarta-feira, 22 de outubro de 2014
Resumo do Livro XI de Sigmund Freud - Cinco Lições de Psicanálise, Leonardo da Vinci e outros trabalhos (1910)
Resumo
do Livro XI – Cinco Lições de Psicanálise, Leonardo da Vinci e outros trabalhos
(1910)
Cinco
Lições de Psicanálise
_ as 5
conferências de Freud na Clark University, Worcester, Massachusetts foi o
primeiro reconhecimento oficial na novel ciência – p. 17;
_ as
conferências foram em alemão e foram pronunciadas de improviso, sem notas e
depois de muito pouco preparo – p. 18;
_ em
1908, se reunia em Salisburgo, o primeiro congresso psicanalítico internacional
– p. 21;
_ a
vida de Freud tem sido toda ela uma luta incessante pela verdade e é possível
dizer que Freud passou toda a existência debruçado sobre a alma dos neuróticos –
p. 22;
Primeira
lição
_ o
primeiro a empregar o método da psicanálise num tratamento de uma jovem histérica
foi o Dr. Breuer (1880-1882) – p. 27;
_
considerações a respeito dos sintomas da primeira paciente do Dr. Breuer – p. 27/28;
_ nem
sempre é fácil distinguir a histeria de uma grave doença orgânica – p. 28;
_ é
forçoso reconhecer que a alteração psíquica manifestada durante as “absences”
era consequência da excitação proveniente dessas fantasias intensamente
afetivas. A própria paciente, que nesse período da moléstia só falava e
entendia inglês, deu a esse novo gênero de tratamento o nome de “talking cure”
(cura pela conversação) qualificando-o também, por gracejo, de “chimney
sweeping” (limpeza de chaminé). Verificou-se logo, como por acaso, que,
limpando-se a mente por esse modo, era possível conseguir alguma coisa mais que
o afastamento passageiro das repetidas perturbações psíquicas – p. 30;
_ depois
de exteriorizar energicamente a cólera retida, pediu de beber, bebeu sem
embaraço grande quantidade de água e despertou da hipnose com o copo nos
lábios. A perturbação desapareceu definitivamente – p. 30;
_ ninguém,
até então, havia removido por tal meio um sintoma histérico nem penetrado tão
profundamente na compreensão da sua causa – p. 31;
_ quase
todos os sintomas se haviam formado desse modo, como resíduos – como
‘precipitados’, se quiserem – de experiências emocionais que, por essa razão,
foram denominados posteriormente ‘traumas psíquicos’; e o caráter particular a
cada um desses sintomas se explicava pela relação com a cena traumática que o
causara. Eram, segundo a expressão técnica, determinados pelas cenas cujas lembranças
representavam resíduos – p. 31;
_ todas
as impressões patogênicas provinham do tempo em que ela se dedicara ao pai
doente – p. 31;
_ os
histéricos sofrem de reminiscências. Seus sintomas são resíduos e símbolos
mnêmicos de experiências especiais traumáticas – p. 33;
_ os
histéricos e os neuróticos não só recordam acontecimentos dolorosos que se
deram há muito tempo, como ainda se prendem a eles emocionalmente; não se
desembaraçam do passado e alheiam-se por isso da realidade e do presente. Essa
fixação da vida psíquica aos traumas patogênicos é um dos caracteres mais
importantes da neurose e dos que têm maior significação prática – p. 33;
_ é
preciso salientar que a doente de Breuer em quase todas as situações teve que
subjugar uma poderosa emoção, em vez de permitir sua descarga por sinais
apropriados de emoção, palavras ou ações – p. 34;
_ ao
reproduzir, posteriormente, essas mesmas cenas diante do médico, a energia
afetiva então inibida manifestava-se intensamente, como se estivera até então
represada. Além disso, o sintoma – resíduo desta cena – atingia a máxima
intensificação quando durante o tratamento ia-se chegando a sua causa, para
desaparecer completamente quando esta se aclarava inteiramente. Por outro lado,
pode-se verificar que era inútil recordar a cena diante do médico se, por
qualquer razão, isto se dava sem exteriorização afetiva. Era pois a sorte
dessas emoções, que podemos imaginar como grandezas variáveis o que regulava
tanto a doença como a cura. Tinha-se de admitir que a doença se instalava
porque a emoção desenvolvida nas situações patogênicas não podia ter
exteriorização normal; e que a essência da moléstia consistia na atual
utilização anormal das emoções ‘enlatadas’. Em parte ficavam estas como carga
contínua da vida psíquica e fonte permanente de excitação para a mesma; em
parte se desviavam para insólitas inervações e inibições somáticas, que se
apresentavam como sintomas físicos do caso. Para esse último mecanismo
propusemos o nome de ‘conversão histérica’. Demais, uma certa parte de nossas
emoções psíquicas é conduzida normalmente para a inervação somática,
constituindo aquilo que conhecemos por ‘expressão das emoções’ – p. 34/35;
_ onde
existe um sintoma, existe também uma amnésia, uma lacuna da memória, cujo
preenchimento suprime as condições que conduzem à produção do sintoma – p. 36;
Segunda
lição
_ divisão
da mente e dissociação da personalidade como ponto central da nossa teoria – p.
37;
_ o
procedimento catártico, como Breuer o praticava, exigia previamente a hipnose
profunda do doente, pois só no estado hipnótico é que tinha este o conhecimento
das ligações patogênicas que em condições normais lhe escapavam. Tornou-se-me
logo enfadonho o hipnotismo, como recurso incerto e algo místico; e quando
verifiquei que apesar de todos os esforços não conseguia hipnotizar senão parte
dos meus doentes, decidi abandoná-lo, tornando o procedimento catártico
independente dele – p. 38;
_ pude,
prescindindo do hipnotismo, conseguir que os doentes revelassem tudo quanto
fosse preciso para estabelecer os liames existentes entre as cenas patogênicas
olvidadas e os seus resíduos – os sintomas. Esse processo era, porém, ao cabo
de algum tempo, extenuante, inadequado para uma técnica definitiva – p. 38;
_ as
recordações esquecidas não se haviam perdido, mas alguma força as detinha,
obrigando-as a permanecer inconsciente, a resistência do enfermo – p. 38/39;
_ nesta
ideia da resistência alicercei então minha concepção acerca dos processos
psíquicos na histeria. Para o restabelecimento do doente mostrou-se
indispensável suprimir estas resistências. Partindo do mecanismo da cura,
podia-se formar ideia muito precisa da gênese da doença. As mesmas forças que
hoje, como resistência, se opõem a que o esquecido volte à consciência deveriam
ser as que antes tinham agido, expulsando da consciência os acidentes
patogênicos correspondentes. A esse processo por mim formulado, dei o nome de
repressão e julguei-o demonstrado pela presença inegável da resistência – 39;
_ era,
portanto, a incompatibilidade entre a ideia e o ego do doente, o motivo da
repressão; as aspirações individuais, éticas e outras, eram as forças
repressivas. A aceitação do impulso desejoso incompatível ou o prolongamento do
conflito teriam despertado intenso desprazer; a repressão evitava o desprazer,
revelando-se desse modo um meio de proteção da personalidade psíquica – p. 39;
_ considerações
sobre um caso em que estão patentes os aspectos determinantes e a vantagem da
repressão e comparação do processo de repressão com um indivíduo comportando-se
de modo inconveniente num auditório – p. 39/40/41;
_ a
hipnose encobre a resistência, deixando livre e acessível um determinado setor
psíquico, em cujas fronteiras, porém acumula as resistências, criando para o
resto uma barreira intransponível – p. 41;
_ a
repressão das ideias, expulsam-na da consciência e da lembrança; com isso os
pacientes se livram aparentemente de grande soma de dissabores. Mas o impulso
desejoso continua a existir no inconsciente à espreita de oportunidade para se
revelar, concebe a formação de um substituto do reprimido, disfarçado e irreconhecível,
para lançar à consciência, substituto ao qual logo se liga a mesma sensação de
desprazer que se julgava evitada pela repressão. Esta substituição da ideia
reprimida – o sintoma – é protegida contra as forças defensivas do ego e em
lugar do breve conflito, começa então um sofrimento interminável. Pelo
tratamento psicanalítico desvenda-se o trajeto ao longo do qual se realizou a
substituição, e para a recuperação é necessário que o sintoma seja reconduzido
pelo mesmo caminho até a ideia reprimida – p. 41/42;
_ uma
vez restituído à atividade mental consciente aquilo que fora reprimido – e isso
pressupõe que consideráveis resistências tenham sido desfeitas – o conflito
psíquico que desse modo se originara e que o doente quis evitar, alcança, orientado
pelo médico, uma solução mais feliz do que a oferecida pela repressão – p. 42;
_ considerações
sobre as várias soluções para rematar satisfatoriamente conflito e neurose – p.
42;
Terceira
lição
_ duas
forças antagônicas atuam no doente; de um lado o esforço refletido para trazer
à consciência o que jazia deslembrado no inconsciente; de outro lado a
resistência, já nossa conhecida, impedindo a passagem para o consciente do
elemento reprimido ou dos derivados deste – p. 43;
_ podemos
admitir que seja tanto maior a deformação do elemento procurado quanto mais
forte a resistência que o detiver – p. 43;
_ considerações
sobre a técnica psicanalítica: as ideias livres nunca deixam de aparecer se o
paciente renunciar a qualquer crítica, expondo tudo o que lhe vier à mente. O
material associativo que o paciente rejeita como insignificante está sob a
influência da resistência – p. 45;
_ a
interpretação dos sonhos é a estrada real para o conhecimento do inconsciente.
Quando me perguntam como pode uma pessoa fazer-se psicanalista, respondo que é
pelo estudo dos próprios sonhos – p. 46;
_ os
fatos e impressões da tenra infância exercem no desenvolvimento do homem um
papel importantíssimo e nunca imaginado – p. 49;
_ a
ansiedade é uma das reações do ego contra desejos reprimidos violentos, daí
perfeitamente explicável a presença dela no sonho, quando a elaboração deste se
pôs excessivamente a serviço da satisfação daqueles desejos reprimidos – p. 49;
_ a
interpretação dos sonhos leva ao conhecimento dos desejos ocultos e reprimidos –
p. 49/50;
_ o
exame dos atos falhos, os sintomáticos e os fortuitos, bem como a interpretação
dos sonhos fazem jus à mesma consideração que os sintomas e o seu exame podem
levar ao descobrimento da parte oculta da mente – p. 50;
_ a
proposta da técnica psicanalítica é conduzir à consciência o material psíquico
patogênico, dando fim desse modo aos padecimentos ocasionados pela produção dos
sintomas de substituição. Quer a psicanálise tornar conscientemente reconhecido
aquilo que está reprimido na vida mental – p. 51;
Quarta
lição
_ o
exame psicanalítico relaciona com uma regularidade verdadeiramente
surpreendente os sintomas mórbidos a impressões da vida erótica do doente;
mostra-nos que os desejos patogênicos são da natureza dos componentes instintivos
eróticos: e obriga-nos a admitir que as perturbações do erotismo têm a maior
importância entre as influências que levam à moléstia, tanto num como noutro
sexo – p. 53;
_ alguns
são inclinados a julgar que eu exagero a participação etiológica do fator
sexual, e vêm a mim perguntando por que outras excitações mentais não hão de
dar também motivo aos fenômenos da repressão e formação de substitutivos. Por ora
só lhes posso responder: não sei. Mas a experiência mostra que elas não têm a
mesma importância – p. 53;
_ em
matéria sexual, os homens são, em geral, insinceros – p. 53;
_ só
os fatos da infância explicam a sensibilidade aos traumatismos futuros e só com
o descobrimento desses restos de lembranças, quase regularmente olvidados, e
com a volta deles à consciência, é que adquirimos o poder de afastar os
sintomas – p. 54;
_ comentários
sobre a existência da sexualidade infantil – p. 54/55;
_ os
instintos sexuais aparecem em grupos de dois, um oposto ao outro, ativo e
passivo: cito-lhes como mais notável representante desse grupo o prazer de
causar sofrimento (sadismo) com o seu reverso passivo (masoquismo) e o prazer
visual, ativo ou passivo. Do gozo visual ativo desenvolve-se mais tarde a sede
de saber, como do passivo, o pendor para as representações artísticas e
teatrais – p. 56/57;
_ a
diferença de sexo ainda não tem neste período infantil papel decisivo; pode-se,
pois, atribuir a toda criança, sem injustiça, uma parcial disposição
homossexual – p. 57;
_ os
mais profundamente atingidos pela repressão são primeiramente, e sobretudo, os
prazeres infantis coprófilos, isto é, os que se relacionam com os excrementos,
e, em segundo lugar, os da fixação às pessoas da primitiva escolha de objeto –
p. 57;
_ um
dos princípios da patologia geral afirma que todo processo evolutivo traz em si
os germes de uma disposição patológica e pode ser inibido ou retardado ou
desenvolver-se incompletamente. Isso vae para o tão complicado desenvolvimento
da função sexual que nem em todos os indivíduos se desenrola sem incidentes que
deixem após si ou anormalidades ou disposições a doenças futuras por meio de
uma regressão. Pode suceder que nem todos os impulsos parciais se sujeitem à
soberania da zona genital; o que ficou independente estabelece o que chamamos perversão
e pode substituir a finalidade sexual normal por sua própria. Segundo já foi
dito, acontece frequentemente que o auto-erotismo não seja completamente
superado, como testemunham as multiformes perturbações aparecidas depois. A
equivalência primitiva dos sexos como objeto sexual pode conservar-se, e disso
se originará no adulto uma tendência homossexual, capaz de chagar em certas
circunstâncias até a da homossexualidade exclusiva. Esta série de distúrbios
corresponde a entraves diretos no desenvolvimento da função sexual: abrange as
perversões e o nada raro infantilismo geral da vida sexual – p. 57/58;
_ a
propensão à neurose deve provir por outra maneira de uma perturbação do
desenvolvimento sexual. As neuroses são para as perversões o que o negativo é
para o positivo – p. 58;
_ é
muito possível que me contestem dizendo que nada disso é sexualidade e que
emprego a palavra num sentido mais extenso do que estão habituados a entender.
Concordo. O psicanalista considera a sexualidade nesse sentido amplo – p. 58;
_ a
criança toma ambos os genitores, e particularmente um deles, como objeto de
seus desejos eróticos – p. 59;
_
considerações sobre o mito do rei Édipo – p. 59;
_ é
absolutamente normal e inevitável que a criança faça dos seus pais o objeto da
primeira escolha amorosa – p. 60;
Quinta
lição
_ os
indivíduos adoecem quando, por obstáculos exteriores ou ausência de adaptação
interna lhes falta na realidade a satisfação das necessidades sexuais – p. 61;
_ a
fuga, da realidade insatisfatória para aquilo que pelos danos biológicos que
produz chamamos doença, não deixa jamais de proporcionar ao doente um prazer
imediato; ela se dá pelo caminho da regressão às primeiras fases da vida sexual
a que na época própria não faltou satisfação. Esta regressão mostra-se sob dois
aspectos: temporal e formal – p. 61;
_ quando
com a revolta perpétua contra o mundo real faltam ou são insuficientes esses
preciosos dons, é absolutamente inevitável que a libido, seguindo a origem da
fantasia, chegue ao reavivamento dos desejos infantis, e com isso à neurose,
representante, em nossos dias, do claustro aonde costumavam recolher-se todas
as pessoas desiludidas da vida ou que se sentiam fracas demais para viver – p. 62;
_
considerações sobre a transferência, experiência mais importante, que vem
confirmar nossa suposição acerca das forças instintivas sexuais da neurose e
verdadeiro veículo da ação terapêutica– p. 62/63;
_
considerações sobre o que acontece com os desejos inconscientes libertados pela
psicanálise – p. 64;
_ a
extirpação radical dos desejos infantis não é absolutamente o fim ideal. Por
causa das repressões, o neurótico perdeu muitas fontes de energia mental que
lhe teriam sido de grande valor na formação do caráter e na luta pela vida.
Conhecemos uma solução muito mais conveniente, a chamada ‘sublimação’. Pela
qual a energia dos desejos infantis não se anula, mas ao contrário permanece
utilizável, substituindo-se o alvo de algumas tendências por outro mais
elevado, quiça não mais de ordem sexual. A repressão prematura exclui a
sublimação do instinto reprimido; desfeito aquele, está novamente livre o
caminho para a sublimação – p. 65;
Leonardo
Da Vinci e uma lembrança da sua infância (1910)
_ este
trabalho de Freud não foi o primeiro em que foram aplicados métodos clínicos da
psicanálise no estudo de vultos históricos do passado – p. 70;
_ o
mundo gosta de denegrir o brilhante e arrastar na lama o sublime – p. 73;
_ Da
Vinci adorava o belo em tudo o que o cercava – p. 74;
_ ele
possui uma tênue visão da perfeição, que tenta sempre reproduzir sem nunca
conseguir satisfazer-se – p. 76;
_ a
vagareza do trabalho de Leonardo era proverbial– p. 76;
_ uma certa
ociosidade e indiferença são evidentes em sua personalidade. Leonardo se fazia
notar pela sua pacatez e pela aversão a qualquer antagonismo ou controvérsia.
Era gentil e amável para com todos, recusava-se, dizem, a comer carne por não
achar justo matar animais; gostava, sobretudo, de comprar pássaros no mercado
para soltá-los depois – p. 78;
_
Leonardo representava a fria rejeição da sexualidade– p. 79;
_ Leonardo
tinha o insaciável desejo de tudo compreender a seu redor. Dizia que não se tem
o direito de amar ou odiar qualquer coisa da qual não se tenha conhecimento
profundo – p. 82;
_ seus
afetos eram controlados e submetidos ao instinto da pesquisa e convertera sua
paixão em sede de conhecimento – p. 83;
_ devido
a sua sede insaciável e incansável de conhecimento, Leonardo tem sido chamado
de o Fausto italiano. A evolução de Leonardo se aproxima do pensamento de
Spinoza – p. 84;
_ a
investigação substituiu a ação e também a criação. Um homem que começou a
vislumbrar a grandeza do universo com todas as suas complexidades e suas leis,
esquece facilmente de sua própria insignificância – p. 84;
_ sua
ânsia de conhecimento foi sempre dirigida ao mundo exterior, qualquer coisa o
afastava da investigação da alma humana – p. 85;
_ a
observação da vida cotidiana das pessoas mostra-nos que a maioria das pessoas
conseguiu orientar uma boa parte das forças resultantes do instinto sexual para
sua atividade profissional. O instinto sexual presta-se bem a isso, já que é
dotado de uma capacidade de sublimação: isto é, tem a capacidade de substituir
seu objetivo imediato por outros desprovidos de caráter sexual e que possa ser
mais altamente valorizados – p. 86;
_
considerações sobre o sonho de Leonardo com abutre – p. 91/100;
_
considerações sobre o complexo de castração – p. 103;
_
considerações sobre eventuais causas de impotência psíquica, misoginia e
homossexualidade – p. 104;
_ em
todos os nossos casos de homossexualismo masculino, os indivíduos haviam tido
uma ligação erótica muito intensa como uma mulher, geralmente sua mãe, durante
o primeiro período de sua infância, esquecendo depois esse fato; essa ligação
havia sido despertada ou encorajada por demasiada ternura da própria mãe, e
reforçada posteriormente pelo papel secundário desempenhado pelo pai durante
sua infância – p. 106;
_ o
amor da criança por sua mãe não pode mais continuar a se desenvolver
conscientemente – ele sucumbe à repressão. O menino reprime seu amor pela mãe;
coloca-se em seu lugar, identifica-se com ela, e toma a si próprio como um modelo
a que devem assemelhar-se os novos objetos de seu amor. Desse modo ele
transformou-se num homossexual. Um homem que assim se torna homossexual,
permanece inconscientemente fixado à imagem mnêmica de sua mãe – p. 107;
_
considerações sobre o quadro ‘A Mona Lisa’ – p. 114/120;
_ a
compulsão derivada das impressões dos primeiros anos da infância, e o que foi
reprimido e se tornou inconsciente, não pode ser corrigido pelas experiências
futuras – p. 128;
_ a
psicanálise tornou conhecida a intima conexão existente entre o complexo do pai
e a crença em Deus – p. 129;
_ os
sintomas neuróticos são estruturas que funcionam como substitutos para algumas
consequências de repressão, a qual devemos submeter-nos no curso de nosso
desenvolvimento, desde a criança ao ser humano civilizado – p. 137;
_ duas
características de Leonardo que não podem ser explicadas pela psicanálise: sua
tendência muito especial para a repressão dos instintos e sua extraordinária
capacidade para sublimar os instintos primitivos – p. 141;
_ a natureza
está cheia de inúmeras razões que nunca penetram a experiência – p. 142;
As
perspectivas futuras da terapêutica psicanalista (1910)
_ trabalho
proferido para a abertura do Segundo Congresso de Psicanálise em Nurembergue –
p. 145;
_ o
tratamento psicanalítico compõe-se de duas partes: o que o médico infere e diz
ao doente e o que o doente elabora de quanto ouviu – p. 147;
_ à
época do tratamento catártico, o que almejávamos era a elucidação dos sintomas;
afastamo-nos depois dos sintomas e devotamo-nos, em vez disso, a desvendar os
complexos, para usar uma palavra que Jung tornou indispensável; agora, no
entanto, nosso trabalho objetiva encontrar e sobrepujar, diretamente, as
resistências, e podemos confiar em que venham à luz, justificadamente, sem
dificuldade, os complexos, tão logo se reconheçam e se removam as resistências
– p. 150;
_ nos
pacientes masculinos, a maioria das resistências importantes ao tratamento
parecem derivar-se do complexo paterno e expressar-se neles no medo ao pai,
desobediência ao pai e desavença ao pai – p. 150;
_
nenhum psicanalista avança além do quanto permitem seus próprios complexos e
resistências internas – p. 150;
_
qualquer um que falhe em produzir resultados numa auto-análise desse tipo deve
desistir, imediatamente, de qualquer deia de tornar-se capaz de tratar
pacientes pela análise – p. 150;
_
deve-se modificar a técnica psicanalítica, em certos setores, de acordo com a
natureza da doença e das tendências instintivas predominantes no paciente – p.
151;
_ não
necessito dizer-lhes muito sobre a importância da autoridade. Poucas pessoas
civilizadas, apenas, são capazes de existir sem confiar em outras ou, até
mesmo, de vir a ter uma opinião independente. Os senhores não podem exagerar a
intensidade de carência interior de decisão das pessoas e de exigência de
autoridade. O aumento extraordinário das neuroses desde que decaiu o poder das
religiões pode dar-lhes uma medida disso. O empobrecimento do ego devido ao
grande dispêndio de energia, na repressão, exigido de cada indivíduo pela
civilização, pode ser uma das principais causas desse estado de coisas – p.
151/152;
_ as
psiconeuroses são satisfações substitutivas de algum instinto, cuja presença o
indivíduo é obrigado a negar a si e aos outros – p. 153;
_ certo
número de pessoas, ao defrontar-se em suas vidas, com conflitos que constataram
muito difíceis de resolver, fogem para a neurose e, desse modo, retiram da
doença vantagem inequívoca, embora com o tempo, acarrete bastante prejuízo – p.
155;
_ um
bom número daqueles que, hoje, fogem para a enfermidade não suportariam o
conflito. As neuroses possuem, de fato, sua função biológica, como um
dispositivo protetor, e têm sua justificativa social: a vantagem da doença – p.
155;
A significação
antitética das palavras primitivas (1910)
_ o
não parece não existir no que se refere aos sonhos – p. 161;
_ eu
não conseguia entender a tendência singular do trabalho do sonho para
desconhecer a negação e empregar os mesmos meios de representação para
expressar os contrários – p. 161;
_ nossos
conceitos devem sua existência a comparações. É claro que tudo nesse planeta é
relativo e tem uma existência independente apenas na medida em que se
diferencia quanto as suas relações com as outras coisas. De vez que cada
conceito é dessa maneira o gêmeo de seu contrário, como poderia ele ser de
início pensado e como poderia ele ser comunicado a outras pessoas que tentavam
concebê-lo, senão pela medida de seu contrário? – p. 163;
_ é
nas raízes mais antigas que se vê ocorreram as significações duplas antitéticas
– p. 164;
_ a
relatividade essencial de todo conhecimento, pensamento ou consciência não se
pode mostrar a não ser na linguagem – p. 165;
_ o
trabalho do sonho faz uso da inversão do material representativo para várias
finalidades – p. 166;
Um
tipo especial de escolha de objeto feita pelos homens (contribuições à
psicologia do amor I) (1910)
_
pré-condições para o amor – p. 173/174;
_
influência da fixação infantil dos sentimentos de ternura pela mãe na fixação –
p. 176;
_
escolha de assemelhamento a prostituta como objeto de amor – p. 176/177;
_ o
que no consciente encontra dividido com dois opostos, muitas vezes no
inconsciente ocorre como unidade – p. 178;
_
ânsia de salvar a pessoa amada – p. 179;
_ o
nascimento é tanto o primeiro de todos os perigos da vida, como o protótipo de
todos os subsequentes que nos levam a sentir ansiedade, e a experiência do
nascimento, provavelmente, nos levou a expressão de afeto que chamamos de
ansiedade – p. 180;
_
Artemidoro, o intérprete dos sonhos da Antiguidade, estava certamente com razão
ao afirmar que a significação de um sonho depende de quem venha a ser a pessoa
que sonha – p. 181;
_
vários significados de salvamento – p. 181;
_
conexões entre o tema salvamento e o complexo parental – p. 182;
Sobre
a tendência universal à depreciação na esfera do amor (contribuições à
psicologia do amor II) (1912)
_
considerações sobrea impotência psíquica e antagonismo entre a civilização e a
vida instintiva – p. 185/188;
_ o
máximo de intensidade de paixão sensual trará consigo a mais alta valorização
psíquica do objeto – sendo esta a supervalorização normal do objeto sexual por
parte do homem – p. 189;
_
considerações sobre as correntes de afeição e sensualidade – p. 190/192;
_ a
psicanálise revelou-nos que quando o objeto original de um impulso desejoso se
perde em consequência da repressão, ele se representa, frequentemente, por uma
sucessão infindável de objetos substitutos, nenhum dos quais, no entanto,
representa satisfação completa – p. 196;
_ é
impossível harmonizar os clamores do nosso instinto sexual com as exigências da
civilização – p. 197;
O tabu
da virgindade (contribuições à psicologia do amor III) (1918[1917])
_
poucas particularidades dos povos primitivos são tão estranhas a nossos próprios
sentimentos quanto a valorização da virgindade, o estado de intocabilidade da
mulher – p. 203;
_ o
homem primitivo institui algum tabu quando teme algum perigo – p. 210;
_ a
frigidez inclui-se, assim, entre os determinantes genéticos das neuroses – p.
213;
A
concepção psicanalítica da perturbação psicogênica da visão (1910)
_
neste trabalho pela primeira vez Freud empregou o termo “instintos do ego”,
identificou-os, explicitamente, com os instintos de autopreservação e
atribui-lhes papel vital na função da repressão. Freud expressa, com firmeza
especial, sua convicção de que os fenômenos psíquicos se baseiam
definitivamente nos físicos – p. 221;
_ a
cegueira histérica é considerada um tipo de perturbação psicogênica visual – p.
223;
_ as
pessoas histericamente cegas só o são no que diz respeito à consciência; em seu
inconsciente elas veem – p. 224;
_ o
paciente histérico fica cego, não em consequência de uma ideia auto-sugestiva
de que ele não pode ver, mas como resultado de uma dissociação entre os
processos inconsciente e consciente – p. 224;
_ o
conceito psicanalítico é dinâmico e atribui a origem da vida psíquica a uma
interação entre forças que favorecem ou inibem uma a outra – p. 224;
_
considerações sobre a repressão – p. 225;
_
tanto os instintos sexuais como os instintos do ego, têm, em geral, os mesmos
órgãos e sistemas de órgãos a sua disposição – p. 227;
_
considerações sobre a relação de um órgão com uma dupla exigência sobre ele –
sua relação com o ego consciente e com a sexualidade reprimida – p. 228;
Psicanálise
silvestre (1910)
_
considerações sobre o caso de uma mulher que consultara um jovem médico e este
a informou que a causa de sua ansiedade era a falta de satisfação sexual – p.
235;
_
longos anos de experiência me ensinaram a não aceitar de imediato como verdade
os que os pacientes relatam – p. 235;
_ em
psicanálise, o conceito do que é sexual abrange bem mais, ele vai mais abaixo e
também mais acima do que seu sentido popular – p. 236;
_
considerações sobre as neuroses atuais – p. 237;
_ é
ideia há muito superada, e que se funda em aparência superficiais, a de que o
paciente sofre de uma espécie de ignorância, e que se alguém consegue remover
essa ignorância dando a ele a informação (acerca da conexão causal de sua
doença com sua vida, acerca de suas experiências da meninice, e assim por
diante) ele deve recuperar-se. O fator patológico não é esse ignorar
propriamente, mas estar o fundamento dessa ignorância em suas resistências
internas; foram elas que primeiro produziram esse ignorar e elas ainda o
conservam até agora. A tarefa do tratamento está no combate a essas
resistências. O informar ao paciente aquilo que ele não sabe porque ele
reprimiu é apenas um dos preliminares necessários ao tratamento. O informar ao
paciente sobre seu inconsciente redunda, em regra, numa intensificação do
conflito nele e uma exacerbação em seus distúrbios. No entanto, a psicanálise
não pode abster-se de dar essa informação, prescreve que isto não se poderá
fazer antes de duas condições tenham sido satisfeitas. Primeiro, o paciente
deve, através de preparação, ter alcançado ele próprio a proximidade daquilo
que ele reprimiu e, segundo, ele deve ter formado uma ligação suficiente
(transferência) com o médico para que seu relacionamento emocional com este
torne uma nova fuga impossível. Somente quando essas condições forem
satisfeitas se torna possível reconhecer e dominar as resistências que
conduziram à repressão e à ignorância – p. 239;
_
pois, em verdade, os analistas silvestres desta espécie causam amis danos à
causa da psicanálise do que aos pacientes individualmente – p. 240;
Breves
escritos (1910)
Contribuições
para uma discussão acerca do suicídio
A
carta ao Dr. Friedrich S. Krauss sobre a Anthropophyteia
Dois
exemplos de fantasias patogênicas reveladas pelos próprios pacientes
Críticas
às cartas de uma mulher neurótica, de Wilhelm Neutra
terça-feira, 21 de outubro de 2014
segunda-feira, 20 de outubro de 2014
As Aventuras de Sri Prem Tata - Episódio 2 - O destino de cada um ou O que não for trabalhado em você, tornar-se-á seu destino
Certa feita, Sri Prem Tata
e o seu discípulo dirigiram-se a um longínquo reinado para visitar um antigo
companheiro de jornada espiritual. Tratava-se de Sri Buddu Amurti, um velho e
circunspecto ermitão, no qual a grande sabedoria aliava-se ao porte físico
avantajado.
Rever seu amigo de priscas eras era
para Tata motivo de regozijo e o fazia lembrar dos tempos em que ele, Sri Buddu
Amurti e Lama Tahju, outro amigo de inestimável sabedoria, eram pupilos
iniciáticos. Desde aquela época, os três eram grandes amigos, em especial,
depois que descobriram por meio de profunda meditação progressiva que o trio
haveria de recepcionar, um dia, o menino Cristo com ouro, incenso e mirra, mas essa
é outra estória...
O reinado no qual Buddu vivia passava
por um período de tensões, posto que um rei despótico preparava-se para entrar
em outra guerra contra o reinado vizinho por disputa de poder. Para motivar o
povo a entrar em guerra, utilizava-se de todo tipo de artimanha falaciosa, em
especial a incitação ao ódio e ao medo. Aproveitava-se das justas
reivindicações da população, como diminuição da pobreza e igualdade social,
para obter cada vez mais poder e eternizar-se no trono, às custas do
cerceamento da liberdade de opinião e de expressão.
Ao aproximarem-se da gruta na qual
Buddu residia e atendia àqueles que recorriam a ele em busca de sabedoria, Tata
e seu fiel discípulo avistaram Buddu falando para um pequeno grupo de pessoas.
Ambos juntaram-se à plateia e ouviram o mestre, que dizia: “A liberdade é sem
nenhum motivo, a liberdade não está no fim da evolução humana, mas se encontra
no primeiro passo da sua existência. Pela observação, a pessoa começa a
descobrir a falta de liberdade. A liberdade é encontrada no estar atento, sem
escolha, à nossa existência e atividades diárias.”
Pouco tempo depois a aula encerrou-se
e o grupo dispersou-se. Tata e o amigo saudaram o mestre, que os convidou para
compartilharem uma leve refeição. Após alguns dias de amigável convívio, ambos
deixaram a companhia do guru e seguiram viagem.
Dado momento da caminhada, o escudeiro
de Tata, referindo-se ao que tinha ouvido do mestre Buddu sobre o tema
liberdade, perguntou a Tata qual seria a razão de as pessoas deixarem-se
envolver por líderes tiranos e demagogos, empenhando a liberdade individual e arriscando,
até mesmo, a própria vida em uma guerra.
Sri Prem Tata destacou que nem todos
conseguem se libertar dos seus medos e culpas e existem pessoas que ainda não
conseguiram trabalhar a sua relação mal resolvida com a maternidade e projetam
as suas carências emocionais nos líderes messiânicos acolhedores, que eles veem
como o representante inconsciente da própria mãe, mesmo que tenham que pagar um
preço caro por sua ânsia de carinho e atenção maternais. Complementou o mestre,
“aquilo que não trabalhamos na nossa vida, torna-se o nosso destino. Só há
verdadeira liberdade com autoconhecimento, que é pai da consciência.”
*desenho
de Jailson Arquino
domingo, 19 de outubro de 2014
Fábula - Promessas quebradas - Cristiane Caracas
Vivia no meio da rua,
sem endereço e sem pouso certo, um cão que de tão magro e franzino era
conhecido entre a cachorrada como Sibite.
Sibite podia se
definir como a própria liberdade encarnada em um cão. Não tinha casa, não tinha
laços com ninguém, era dono de si, sua vontade dirigia seus atos. Era assim um
cosmopolita.
Certa feita, Sibite
dormia tranquilo embaixo do banco de uma praça, uma praça qualquer, dessas que
ele elegia como seu lar provisório, quando se deixou prender a atenção para um
homem que sentado no banco da praça chorava como criança.
Sibite se comoveu com
a dor daquele homem. Não sabia do que se tratava, aliás, nem tinha a pretensão
para tanto, mas, por um instante, pode sentir a dor dele que de tão grande fez
Sibite querer dividi-la, na esperança de que compartilhada fosse aliviada como
um sopro gélido em feridas escaldantes.
E nesse transe de
compartilhamento de sentimentos, Sibite conheceu a dor do homem e ela tinha
nome: Chamava-se decepção.
Quis conhece-la
melhor, sua face era desfigurada, teve medo. Sibite fez da fraqueza força e a
enfrentou. Percebeu que se mostrava de diferentes maneiras, a daquele homem era
imensa, com raízes na honra e galhos no ego.
Estando frente a frente quis saber dela mesma
a sua razão e ela logo respondeu: Foram promessas quebradas. Pode sentir que a decepção, embora sentimento
único, se apresenta com duas faces que oscilam entre o ingênuo inacreditável do
“antes” e a cruel constatação da realidade dos fatos do “depois”.
Desnorteando a razão, revela-se um fardo
pesado, difícil de carregar já que seu caminhar é sem chão, sem rumo, apresentando
muitas estradas, mas nenhuma direção. E porque sem chão, para continuar, ao ser
decepcionado não resta outra alternativa a não ser do peito dilacerado criar
asas e aprender a voar.
Sibite silenciou porque compreendeu que por
mais que se compadecesse daquele homem, somente a ele cabia se reinventar e,
nesse novo ser, encontrar novas razões para viver. Quem sabe o choro do homem -
criança não fosse o início do aprendizado de que somente se despojando de si,
se poderá encontrar o verdadeiro “eu”.
Cristiane Caracas
19/10/2014
sábado, 18 de outubro de 2014
Da Religiosidade à Espiritualidade: um caminho percorrido - Parte III - Religião, Religiosidade e Espiritualidade
A existência de Deus
é um sentimento inato ao ser humano. A adoração, como a elevação do pensamento
a Deus, existe entre todos os povos em diferentes formas. Essa espiritualidade
vem sendo manifestada desde os primórdios da humanidade, quando ainda os nossos
ancestrais já acreditavam no poder mágico da natureza, estendendo-se pelas
primeiras civilizações, chegando aos textos sagrados, aos ensinamentos dos
grandes profetas, até que a experiência humana dessa espiritualidade se
convertesse em religião institucionalizada. A vivência do sagrado como experiência
interior foi se diluindo ao longo do tempo, sobretudo nas culturas ocidentais.
Os ritos foram sendo incorporados e automatizados e o significado espiritual
transcendente foi sendo alienado da vida das pessoas. Com o tempo, o homem
passou a confiar somente naquilo que os seus próprios olhos viam, pois
precisava acreditar que as coisas estavam sob seu controle, já que isso lhe
trazia mais segurança. Pensar dessa forma, no entanto, comprometia a natureza e
a intensidade de sua fé e, por conseguinte, sua relação com Deus.
Nas últimas décadas,
contudo, começa a emergir nos povos do mundo inteiro um movimento no sentido de
resgatar a espiritualidade humana, assim como já é possível perceber uma tímida
aproximação entre a ciência e a espiritualidade. Entretanto, entender a dimensão espiritual da realidade não é tarefa fácil, tendo
em vista certa sobreposição de conceitos, no que diz respeito à
espiritualidade, religião e religiosidade. Além do mais, discutir quaisquer desses
aspectos implica, necessariamente, uma discussão preliminar sobre fé, tendo em
vista que esta permeia todas essas instâncias da subjetividade humana.
CONSIDERAÇÕES SOBRE FÉ
Segundo Breitbart (2005), a espiritualidade é uma
construção formada por fé e sentido. Já o dicionário Vine (Urger; White; Vine, 2002)
define o termo “fé”, do grego “pistis”, como “persuasão firme”, convicção
fundamentada no ouvir (cognato de peithõ, “persuadir”). Assim, pode-se dizer que fé é uma determinada
estrutura de sentido e de valores que cada um constrói para dar significação à
sua existência dentro do real. Todos nós temos uma fé, que é aquilo que dá
sabor à nossa existência. No sentido antropológico do termo, “fé é uma relação
com o fim visado e que dinamiza todo o processo de ir em direção a ele. Seria a
determinação que dá toda energia ao agir” (SEGUNDO, 1983, 1997).
Segundo os
estudiosos, todo o ser humano tem imanente dentro de si um poder capaz de criar
tudo aquilo que deseja com uma vontade firme e persistente. De acordo com essa
premissa, referem às Escrituras Sagradas que somos feitos à imagem e semelhança
de Deus e, consequentemente, em seu espírito – que é a parte do Espírito
infinito, do qual procede – residem o poder infinito e a sabedoria infinita. (GÊNESIS
1,26).
Essa capacidade nos é inerente e responde de
maneira diretamente proporcional às nossas crenças e convicções. Ter fé é
acreditar na realização do seu propósito. É trazer ao mundo, através da vontade
firme, as coisas que esperamos.
Nessa linha de pensamento, define o apóstolo Paulo:
“Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, a convicção de fatos
que não se vêem. Pela fé, entendemos que foi o universo formado pela palavra de
Deus, de maneira que o visível veio a existir das coisas que não aparecem”
(HEBREUS, 11,1,3).
Para Chardin (1980), “fé
é a certeza inabalável de que o Universo, considerado em seu conjunto, tem uma
finalidade e não pode nem se enganar de itinerário, nem se deter no caminho”.
Frankl (2003) discute
a fé como uma ligação com o esperado, a determinação da ação, o vivido de uma
opção que mobiliza todo o ser.
O autor enfatiza,
ainda, que o homem sempre apresentou, mesmo inconscientemente, um vínculo
intencional com Deus, a quem ele denomina de “Deus inconsciente”. Complementa
dizendo que o ser humano tem uma religiosidade inconsciente, pois
nos campos de concentração, em meio à angústia, ele percebeu que uma fé surgia,
uma esperança no futuro fazia brotar o sentido da vida, a crença em Deus, que
parecia estar oculta. A isso ele chamou de dimensão noética ou espiritual
humana (FRANKL, 2006).
Não falamos aqui de
fé em crenças dogmáticas de religião convencional – ritual, cerimônia, forma ou
instituição. A ideia de que a fé só tem a ver com a nossa experiência religiosa
é um engano. Ela é, portanto, uma faculdade da mente que tem a sua máxima
expressão na atitude religiosa.
Segundo Trevisan
(1980), “a mente também tem as suas leis e seus princípios que nunca falham,
quando usados corretamente; por exemplo: o pensamento cria, o desejo atrai e a
fé realiza. Isto quer dizer que tudo o que você pensa, deseja e acredita que
vai acontecer, acontece obrigatoriamente”.
O Mestre Jesus, que
conhecia todas as leis universais, ensinava este princípio, quando dizia: “Pedi e recebereis”. (MATEUS 7,7). Nesse mesmo sentido, ainda
declara : “Seja-vos feito
segundo a vossa fé” (MATEUS 9,29).
Definiu claramente
que a sua metodologia de ação estava inteiramente ancorada no poder da fé. E
ainda ressalta: “Se tiverdes fé como um grão de mostarda direis a este monte: Passa daqui para acolá, e ele passará. Nada vos será impossível” (MATEUS 17,20).
Fé é aceitar
definitivamente uma coisa como verdadeira. Em outras palavras, é trazer o
invisível para o mundo de manifestação. É materializar as formas originais oriundas
do mundo das ideias.
Podemos deduzir daí que a fé é o instrumento que
move e sustenta o reino invisível, contribuindo para o desenvolvimento de uma
espiritualidade amadurecida e, consequentemente, para um relacionamento mais
verdadeiro com Deus.
Jeruzia
Costa de Medeiros
* Artigo científico apresentado ao Curso de Pós-graduação (Lato
Senso) em Psicologia Transpessoal da Faculdade de Tecnologia Darcy Ribeiro em
parceria com o Instituto Celta, como requisito parcial para obtenção do Título
de Especialista em Psicologia Transpessoal.
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