Minha história de vida inclui,
entre outras coisas, uma longa e intensa busca de encontro ou “reencontro” com
a dimensão divina do meu ser. Com esse objetivo, percorri uma diversidade de caminhos, quase sempre orientados por filosofias e
teologias bastante ortodoxas, caracterizadas por práticas exteriores e condutas
superficiais que não atendiam aos meus anseios mais profundos. A partir
de um determinado ponto, não conseguia mais subordinar essa busca a lugares
convencionalmente destinados ao exercício da espiritualidade, como a religião,
os templos e as casas de orações. Minha ideia de espiritualidade evoluía para
um processo de tomada de consciência da minha própria divindade e, consequentemente,
da bondade, generosidade, compaixão, amor e sabedoria inerentes ao ser humano, capazes
de reconhecer o divino em todas as formas de vida. Espiritualidade como
expressão natural da alma humana para a transcendência, que não precisa, necessariamente,
estar sob o jugo das religiões. O que minha alma buscava ardentemente era uma relação
mais íntima e direta com o divino, sem ter que passar por intermediações de
fora. Diante disso, uma pergunta se fazia recorrente: por onde começar a buscar
esta relação – dentro ou fora de mim?
Nos relatos dos livros sagrados do Antigo
Testamento, a relação do homem com Deus se dava de forma exteriorizada, baseada
no velho homem ou homem exterior,
centrada na dimensão física do ser, habituada a receber informações quase que
exclusivamente através dos sentidos físicos. A cultura do paganismo exigia uma
intensa prática religiosa baseada em jejuns, rituais, oferendas, entre muitas
outras coisas.
O homem contemporâneo
– produto de uma sociedade moderna e materialista –, nos moldes do homem pagão,
tem relegado a segundo plano o esforço do conhecimento e da vivência do sagrado
optando por trilhar uma religiosidade sem espiritualidade, presa a ritos, credos
e dogmas, sem uma conexão mais profunda com a essência espiritual. No entanto,
se Deus é Espírito – e essa me parece uma noção quase
unânime para a humanidade, é perfeitamente natural que sua relação com o homem
aconteça no âmbito da subjetividade, mesma de ambos os seres – de espírito para
espírito.
Partindo desse entendimento, comecei a levantar
os seguintes questionamentos: qual o papel da religião em nossa vida? A
descoberta da nossa dimensão divina
passa, obrigatoriamente, por fatores externos, como a religião ou pode se dar a
partir de eventos ocorridos no nosso mundo interno? Que outros fatores, internos
ou externos, poderiam nos levar a este encontro
ou re-encontro com o divino em nós?
Este
trabalho tem como objetivo relatar minha experiência pessoal no contexto dessa
dimensão humana, fundamentando-a científica e filosoficamente em pesquisa bibliográfica,
com fins exploratórios, contemplando os principais elementos presentes na
diferenciação conceitual e estrutural entre espiritualidade, religiosidade e
religião. Minha motivação principal para
realizá-lo é fruto dessa experiência, que pretendo compartilhar como forma de resgatar
esse percurso por mim realizado entre o religioso e o espiritual, num movimento
de despertar para um “novo nascimento” – aquele que liberta o homem dos
condicionamentos religiosos, transcendendo-o rumo à espiritualidade essencial.
O trabalho está
dividido em três capítulos. No primeiro capítulo, apresento um breve histórico
sobre Ciência e Religião. No segundo, faço algumas considerações sobre fé e
discuto os conceitos de religião, religiosidade e espiritualidade, explorando
os principais elementos presentes na sua diferenciação. No terceiro capítulo,
faço um relato de minha experiência no contexto da espiritualidade, compartilhando
com o leitor o percurso por mim realizado entre o religioso e o espiritual. Por
fim, faço algumas considerações finais, como forma de conclusão deste estudo.
Jeruzia
Costa de Medeiros
*Artigo científico apresentado ao Curso de Pós-graduação (Lato
Senso) em Psicologia Transpessoal da Faculdade de Tecnologia Darcy Ribeiro em
parceria com o Instituto Celta, como requisito parcial para obtenção do Título
de Especialista em Psicologia Transpessoal.
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