sábado, 4 de outubro de 2014

Da Religiosidade à Espiritualidade: um caminho percorrido - Parte I - Introdução


Minha história de vida inclui, entre outras coisas, uma longa e intensa busca de encontro ou “reencontro” com a dimensão divina do meu ser. Com esse objetivo, percorri uma diversidade de caminhos, quase sempre orientados por filosofias e teologias bastante ortodoxas, caracterizadas por práticas exteriores e condutas superficiais que não atendiam aos meus anseios mais profundos. A partir de um determinado ponto, não conseguia mais subordinar essa busca a lugares convencionalmente destinados ao exercício da espiritualidade, como a religião, os templos e as casas de orações. Minha ideia de espiritualidade evoluía para um processo de tomada de consciência da minha própria divindade e, consequentemente, da bondade, generosidade, compaixão, amor e sabedoria inerentes ao ser humano, capazes de reconhecer o divino em todas as formas de vida. Espiritualidade como expressão natural da alma humana para a transcendência, que não precisa, necessariamente, estar sob o jugo das religiões. O que minha alma buscava ardentemente era uma relação mais íntima e direta com o divino, sem ter que passar por intermediações de fora. Diante disso, uma pergunta se fazia recorrente: por onde começar a buscar esta relação – dentro ou fora de mim? 
Nos relatos dos livros sagrados do Antigo Testamento, a relação do homem com Deus se dava de forma exteriorizada, baseada no velho homem ou homem exterior, centrada na dimensão física do ser, habituada a receber informações quase que exclusivamente através dos sentidos físicos. A cultura do paganismo exigia uma intensa prática religiosa baseada em jejuns, rituais, oferendas, entre muitas outras coisas.
O homem contemporâneo – produto de uma sociedade moderna e materialista –, nos moldes do homem pagão, tem relegado a segundo plano o esforço do conhecimento e da vivência do sagrado optando por trilhar uma religiosidade sem espiritualidade, presa a ritos, credos e dogmas, sem uma conexão mais profunda com a essência espiritual. No entanto, se Deus é Espírito – e essa me parece uma noção quase unânime para a humanidade, é perfeitamente natural que sua relação com o homem aconteça no âmbito da subjetividade, mesma de ambos os seres – de espírito para espírito.                                                                  
Partindo desse entendimento, comecei a levantar os seguintes questionamentos: qual o papel da religião em nossa vida? A descoberta da nossa dimensão divina passa, obrigatoriamente, por fatores externos, como a religião ou pode se dar a partir de eventos ocorridos no nosso mundo interno? Que outros fatores, internos ou externos, poderiam nos levar a este encontro ou re-encontro com o divino em nós?
Este trabalho tem como objetivo relatar minha experiência pessoal no contexto dessa dimensão humana, fundamentando-a científica e filosoficamente em pesquisa bibliográfica, com fins exploratórios, contemplando os principais elementos presentes na diferenciação conceitual e estrutural entre espiritualidade, religiosidade e religião.  Minha motivação principal para realizá-lo é fruto dessa experiência, que pretendo compartilhar como forma de resgatar esse percurso por mim realizado entre o religioso e o espiritual, num movimento de despertar para um “novo nascimento” – aquele que liberta o homem dos condicionamentos religiosos, transcendendo-o rumo à espiritualidade essencial.
O trabalho está dividido em três capítulos. No primeiro capítulo, apresento um breve histórico sobre Ciência e Religião. No segundo, faço algumas considerações sobre fé e discuto os conceitos de religião, religiosidade e espiritualidade, explorando os principais elementos presentes na sua diferenciação. No terceiro capítulo, faço um relato de minha experiência no contexto da espiritualidade, compartilhando com o leitor o percurso por mim realizado entre o religioso e o espiritual. Por fim, faço algumas considerações finais, como forma de conclusão deste estudo.
Jeruzia Costa de Medeiros
*Artigo científico apresentado ao Curso de Pós-graduação (Lato Senso) em Psicologia Transpessoal da Faculdade de Tecnologia Darcy Ribeiro em parceria com o Instituto Celta, como requisito parcial para obtenção do Título de Especialista em Psicologia Transpessoal.

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