Todas as definições de
Religião estão ligadas à expressão exterior – ritos, atos de culto e outras
formas visíveis de manifestação religiosa. O fundamento da religião está no
ritual, no cerimonial, no visível. A própria definição etimológica latina
“religio” presume uma compreensão de ato de culto a alguma divindade, ligação
entre duas partes ou conexão entre imanência e transcendência (MAZZAROLO,
2006).
As religiões possuem um
código de ética que rege o comportamento e dita valores morais. Muitas
religiões baseiam suas crenças num ser supremo ou num Deus que deve ser
reverenciado e as pessoas devem viver de acordo com os seus ensinamentos (SOMMERHALDER;
GOLDSTEIN apud FREITAS, 2006).
“Religião é o aspecto
institucional da espiritualidade”, “religiões são instituições organizadas em torno
da ideia de espírito” (HUFFORD apud STROPPA e MOREIRA (2008).
Weil (1987) explica que
no plano religioso, as tradições que poderiam mostrar ao homem o significado de
sua existência no mundo e de seu papel na terra foram igualmente fragmentadas e
institucionalizadas em agrupamentos e seitas, frequentemente muito distanciados
do espírito universal e abertos de seus criadores.
Os ensinamentos de Jesus, Buda, Krishna,
Maomé, Moisés, entre outros grandes mestres, que deveriam trazer grandes
avanços à humanidade foram deturpados e utilizados indevidamente para outros
fins. As guerras religiosas estão aí para nos mostrar isso.
Cavalcanti (2000), no
texto abaixo, faz uma reflexão sobre o papel da religião como algo que pouco
tem contribuído para a esperada transformação do indivíduo.
“Com
o tempo, as religiões oficiais foram adotando uma visão laica, ligada ao mundo
profano, visível na atuação de seus representantes, a qual mostra uma
preocupação muito maior com o aspecto social e político do que com o aspecto
transcendente e sagrado. Mesmo assim, as práticas espirituais das religiões
institucionalizadas ainda que mecânicas e destituídas de significados
transcendentes, são como parênteses na vida das pessoas. E tem contribuído
muito pouco para a vivência do lado espiritual como elemento transformador,
pois não fornecem o instrumento simbólico que permita a seus praticantes uma
mudança na concepção de mundo. Sem tais instrumentos determinantes de uma
auto-reflexão e de uma práxis que levam ao autoconhecimento e à autotransformação
– pouco poderá ser feito” (CAVALCANTI, 2000, p. 59).
Desse modo, o espírito tem
sido destronado e esquecido nas religiões e todo o conhecimento das antigas
tradições corrompido e desprezado, restando instituições com regras dogmáticas,
ressaltando o pecado e a culpa, ameaçando, aterrorizando, causando divisões,
disputas e alimentando o ego, quando na verdade deveriam ser instrumento de
reflexão e autotransformação.
Sobre esse assunto, Wildes
(1995) ressalta que religião é um conjunto de crenças, leis e ritos que visam a
um poder que o homem considera supremo, do qual é dependente e com o qual tem
um relacionamento e obtém favores. Trata-se, portanto, de questões sagradas,
exercidas no seio de uma instituição, ligadas às estruturas formais, rígidas,
dogmáticas e, principalmente, relacionadas às questões do além-morte (religiões
de salvação).
Kant (1794) tenta
situar o pensamento religioso e o sentimento de religiosidade no âmbito da
racionalidade humana. O autor parte do princípio que a dualidade da existência,
representada no bem e no mal, afeta fundamentalmente o indivíduo e que, somente
através do esclarecimento interior, o homem pode entender seu papel frente à
universal luta entre o bem e o mal, a qual está no mundo, mas, também, se faz
presente em seu interior.
De acordo com Zilles
(2002), Kant era contrário à fé numa religião de culto, pois seria uma fé de
escravos, já que o culto em si não teria valor moral e que o verdadeiro culto deveria
ser o cumprimento do dever moral, como mandamento de Deus. Nesse aspecto, Deus
se revela em diálogo com o que Kant afirma:
“(...)
Nas suas mentes imprimirei as minhas leis, também sobre os seus corações as
inscreverei; e Eu lhes serei por Deus, e eles me serão por povo. E não ensinará
jamais cada um ao seu próximo, nem cada um a seu irmão, dizendo: conhece ao
Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor deles até o maior” (HEBREUS 8,10).
Finalmente, Boff (2006)
deixa claro que existe uma distinção essencial entre religião e espiritualidade,
onde a religião estaria vinculada a crenças, rituais, dogmas, e a
espiritualidade relacionada às qualidades do espírito humano – amor, compaixão,
capacidade de perdoar, solidariedade, tolerância, contentamento, noção de
responsabilidade e harmonia – que trazem felicidade para a própria pessoa e
para os outros.
Jeruzia Costa de Medeiros
*Artigo científico apresentado ao Curso de Pós-graduação (Lato
Senso) em Psicologia Transpessoal da Faculdade de Tecnologia Darcy Ribeiro em
parceria com o Instituto Celta, como requisito parcial para obtenção do Título
de Especialista em Psicologia Transpessoal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário