As reflexões sobre religião,
religiosidade e espiritualidade vêm ganhando cada
vez mais espaço no mundo contemporâneo não apenas no seio da população laica,
mas, sobretudo, nos meios científicos onde as pesquisas apontam para uma
possível relação entre espiritualidade, saúde, qualidade de vida e longevidade.
O termo “espírito” tem a origem latina spiritus e quer dizer “sopro”
ou “respiro”, em referência ao “sopro da vida”. Envolve, também, o sentimento
de gratidão pela vida, o desenvolvimento de ver o sagrado nos fatos comuns, de
remeter a uma questão referente ao significado e ao propósito da vida, de ter
fé, de amar, de perdoar, de adorar, de transcender o sofrimento e de refletir
sobre o significado da vida (SOMMERHALDER e GOLDSTEIN, apud FREITAS, 2006,
p.1307).
Hufford (s.d), citado
por Stroppa e Moreira (2008), busca uma
definição mais objetiva e ligada à origem etimológica da palavra
espiritualidade, a noção de espírito. Para ele, “espiritualidade se refere ao
domínio do espírito”, ou seja, à dimensão não material, extrafísica da
existência, que pode ser expressa por termos como: “Deus ou deuses, almas,
anjos e demônios”. Habitualmente, refere-se
a “algo invisível e intangível, que é a essência da pessoa”.
SOMMERHALDER
e GOLDSTEIN (2006) discutem a compreensão atual de
espiritualidade enquanto atitude de atenção e cuidado para consigo mesmo e com
outras pessoas, podendo ser capaz de transcender e de se perceber espiritualizada, sem
pertencer a qualquer religião específica ou cultuar qualquer natureza de
divindade. Enfim, compreendem espiritualidade como algo que vai além de
ideologias, dogmas ou instituições religiosas, funcionando como “um recurso
interno do indivíduo, que pode ser acionado pelo contato com a natureza, com as
artes, com a experiência de doação de si ou com o engajamento em causas que
visam o bem coletivo.
Na mesma linha de pensamento, Angeramim (2008) descreve espiritualidade como
a busca de elevação da condição humana que não depende necessariamente da busca
de Deus ou de alguma instância de elevação e deificação. Assim, tudo o que for
buscado na tentativa de elevação humana pode ser considerado um ato de
espiritualidade ou, se preferirmos, de elevação espiritual. “Não é a busca de Deus
ou da verdade que anima essas experiências religiosas. É a satisfação de necessidades
pessoais” (ANTONIAZZI, 1998, p.17).
“Espiritualidade
é uma
busca pessoal pela compreensão das questões últimas acerca da vida, do seu
significado e da relação com o sagrado e o transcendente, podendo ou não
conduzir ou originar rituais religiosos e a formação de comunidades” (HUFFORD, (s.d),
apud STROPPA E MOREIRA, 2008).
Leonardo Boff (2001), teólogo e escritor brasileiro, afirma que nos
tempos atuais a espiritualidade vem sendo descoberta como dimensão profunda do
humano; como um espaço de paz no meio de conflitos e desolações sociais
existenciais. Ainda nessa perspectiva, Boff (2006) reconhece
a espiritualidade como uma das fontes primordiais, embora não seja a única, de
inspiração do novo, de esperança, de geração de um sentido pleno e capacidade
de autotranscendência do ser humano, pois, segundo ele, o ser humano que a
desenvolve e a vive realmente celebra a alegria nesse encontro com Deus ao
festejar Sua presença como sentido de tudo.
Segundo Frankl (2003),
a essência da espiritualidade é o impulso de buscar significado e propósito
para a existência. Além disso, a espiritualidade tem sido vista como a base
emocional e motivacional para a busca por significado.
No contexto geral,
observa-se que a maioria dos autores comunga com a ideia de que a razão maior
da espiritualidade é encontrar o propósito e significado da vida – uma
necessidade intrínseca de todo ser humano – e, no que fica claro, o atendimento
dessa necessidade não passa, necessariamente, pela religião. É o que Deus revela
através do profeta Isaías, dizendo:
“Este
povo vem a mim, e com a sua boca e com os seus lábios me honra, enquanto seu
coração está longe de mim, e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos
de homens, que maquinalmente aprendeu, portanto, continuarei a tratar este povo
de modo tão estranho que a sabedoria dos espertalhões se perderá e a inteligência
dos malignos desaparecerá” (ISAÍAS 29,13-14).
Nos estudos revisados, observa-se
que muitos autores sobrepõem os conceitos de religiosidade e espiritualidade
como se ambos os termos significassem a mesma coisa, enquanto outros conseguem
estabelecer alguma diferença.
Para Elkins (1998), a participação
em cultos, a repetição de rituais e a crença em ritos são, geralmente,
associadas à religiosidade. Já o cultivo do espiritual, valores, transcendência
e fé são considerados parte do fenômeno da espiritualidade, que é encontrado em
todas as culturas e em todas as idades. Sommerhalder
e Goldstein (2006) vêm fazer coro a esse pensamento quando dizem que religiosidade e
espiritualidade são compreensões diferentes: “enquanto espiritualidade remete a
uma reflexão “sobre”, a religiosidade remete a uma reflexão “com”.
Jeruzia Costa de Medeiros
*Artigo científico apresentado ao Curso de Pós-graduação (Lato Senso) em Psicologia Transpessoal da Faculdade de Tecnologia Darcy Ribeiro em parceria com o Instituto Celta, como requisito parcial para obtenção do Título de Especialista em Psicologia Transpessoal.
*Artigo científico apresentado ao Curso de Pós-graduação (Lato Senso) em Psicologia Transpessoal da Faculdade de Tecnologia Darcy Ribeiro em parceria com o Instituto Celta, como requisito parcial para obtenção do Título de Especialista em Psicologia Transpessoal.
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