Um velho candeeiro
jogado em um sótão de uma casa sentia-se inútil desde a chegada da luz
elétrica. De fato há muito fora esquecido ali, junto com “tralhas” que não
servem mais. Aquele amontoado de objetos, hoje imprestáveis, ontem pulsantes,
ficavam ali empoeirados e aprisionados no passado glorioso
O velho candeeiro, vez
por outra, era dominado pelas lembranças de outrora.
_ Belos tempos! Eu era
a luz do mundo, importantíssimo porque sem mim as noites eram escuras e
sombrias.Gabava-se, assim, aos outros objetos que acostumados àquelas lamurias
já não se importavam com as repetidas “histórias de candeeiro”.
Certa feita chegou ao
lugar, dentro de um caixote chamativo, uma vela grande, daquelas que enfeitam
as mesas nas noites de natal. Sempre que chegava algo novo era aquele rebuliço.
_ Já viram a novata? Cochichavam
um ao outro.
_ Certamente que sim,
respondiam em sussurros.
O candeeiro encabulado
iniciou uma prosa com a vela.
_ Bom dia!
_ Dias, respondeu a
vela.
_ Por que te trouxeram
pra cá? Parece-me uma vela tão bonita.
_ Não sabes que aqui é
o porão dos esquecidos?
_ Porão dos esquecidos?
replicou a vela.
_ Pensei que fosse um
sótão.
_ Ah! Ah! Ah! Riu-se em
deboche o candeeiro.
_ Logo se vê que és
jovem demais para perceber o que o maldito tempo nos faz, já que especialidade no
esquecimento.
A vela se assustou com
o rancor do candeeiro e retrucou:
_ Não te pareces que o
esquecimento por vezes, ao contrário de maldito, é o que nos torna capazes de
prosseguir?
_ Não te apercebes quão
maravilhoso é esquecer o que nos fez sofrer?
_ Talvez a minha
juventude é que me faça enxergar com olhos de esperança. É que não acho que
aqui seja o porão do esquecimento, talvez o sótão da reflexão.
_ É que certas vezes
candeeiro é preciso parar e perceber que há o momento certo para tudo. Hora de
produzir e hora de só contemplar, há hora de perdoar o outro e hora de perdoar
a si mesmo, assim como há hora de simplesmente esperar pelo tempo das coisas.
_ Certamente quando
chegado o natal, serei levada daqui para enfeitar lá fora e, em razão do meu
tempo de reflexão, serei capaz de iluminar consciente do que represento, já que
saí das sombras. Aprender a conviver com a nossa escuridão e compreender o momento
certo de rompê-la é ser verdadeiramente luz e entender que ascender a chama que
ilumina os corações depende do tempo que como especialista no esquecimento,
também o é das cicatrizes das dores da vida.
O candeeiro compreendeu
que sua forma obtusa de olhar a vida é que apagou sua chama porque há muito esqueceu
de que só se precisa de luz onde há escuridão, razão de sua existência. Quiçá
um dia, ele também não iria adornar um antiquário qualquer, já que agora se
sentia relíquia. De certo tudo depende do olhar jovem da esperança...
Cristiane Caracas
23/11/2014
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