domingo, 23 de novembro de 2014

Aptidão...


Apólogo - A vela e o candeeiro - Cristiane Caracas


Um velho candeeiro jogado em um sótão de uma casa sentia-se inútil desde a chegada da luz elétrica. De fato há muito fora esquecido ali, junto com “tralhas” que não servem mais. Aquele amontoado de objetos, hoje imprestáveis, ontem pulsantes, ficavam ali empoeirados e aprisionados no passado glorioso
O velho candeeiro, vez por outra, era dominado pelas lembranças de outrora.
_ Belos tempos! Eu era a luz do mundo, importantíssimo porque sem mim as noites eram escuras e sombrias.Gabava-se, assim, aos outros objetos que acostumados àquelas lamurias já não se importavam com as repetidas “histórias de candeeiro”.
Certa feita chegou ao lugar, dentro de um caixote chamativo, uma vela grande, daquelas que enfeitam as mesas nas noites de natal. Sempre que chegava algo novo era aquele rebuliço.
_ Já viram a novata? Cochichavam um ao outro.
_ Certamente que sim, respondiam em sussurros.
O candeeiro encabulado iniciou uma prosa com a vela.
_ Bom dia!
_ Dias, respondeu a vela.
_ Por que te trouxeram pra cá? Parece-me uma vela tão bonita.
_ Não sabes que aqui é o porão dos esquecidos?
_ Porão dos esquecidos? replicou a vela.
_ Pensei que fosse um sótão.
_ Ah! Ah! Ah! Riu-se em deboche o candeeiro.
_ Logo se vê que és jovem demais para perceber o que o maldito tempo nos faz, já que especialidade no esquecimento.

A vela se assustou com o rancor do candeeiro e retrucou:
_ Não te pareces que o esquecimento por vezes, ao contrário de maldito, é o que nos torna capazes de prosseguir?
_ Não te apercebes quão maravilhoso é esquecer o que nos fez sofrer?
_ Talvez a minha juventude é que me faça enxergar com olhos de esperança. É que não acho que aqui seja o porão do esquecimento, talvez o sótão da reflexão.
_ É que certas vezes candeeiro é preciso parar e perceber que há o momento certo para tudo. Hora de produzir e hora de só contemplar, há hora de perdoar o outro e hora de perdoar a si mesmo, assim como há hora de simplesmente esperar pelo tempo das coisas.
_ Certamente quando chegado o natal, serei levada daqui para enfeitar lá fora e, em razão do meu tempo de reflexão, serei capaz de iluminar consciente do que represento, já que saí das sombras. Aprender a conviver com a nossa escuridão e compreender o momento certo de rompê-la é ser verdadeiramente luz e entender que ascender a chama que ilumina os corações depende do tempo que como especialista no esquecimento, também o é das cicatrizes das dores da vida.
O candeeiro compreendeu que sua forma obtusa de olhar a vida é que apagou sua chama porque há muito esqueceu de que só se precisa de luz onde há escuridão, razão de sua existência. Quiçá um dia, ele também não iria adornar um antiquário qualquer, já que agora se sentia relíquia. De certo tudo depende do olhar jovem da esperança...
Cristiane Caracas
23/11/2014

A vida é... - Goethe


sábado, 22 de novembro de 2014

Sabedoria, tolerância e silêncio


Estado amoroso - Sigmund Freud


Da Religiosidade à Espiritualidade: um caminho percorrido - Parte VIII - Considerações Finais


Baseada na revisão bibliográfica realizada neste estudo, compreendi que o anseio pelo divino é uma necessidade inerente ao ser humano na medida em que se busca a compreensão do sentido de vida. Todos nós, consciente ou inconscientemente, estamos numa jornada de autodescoberta para o reencontro com a nossa verdadeira essência – Deus –, o divino que existe em nós.
Nesse contexto a experiência tem mostrado que o caminho do autoconhecimento é permeado de questionamentos e insatisfações que podem ser considerados por nós como decorrentes de eventos relacionados ao nosso mundo exterior, o que nem sempre é verdade. Da mesma forma, quando escolhemos o caminho da religião como prática instituída, na tentativa de aplacar nossas necessidades mais íntimas, estamos muitas vezes mergulhando na ilusão de que a busca por Deus, ou o encontro com a nossa dimensão sagrada, é algo que se processa do lado de fora.
Para além dessa compreensão, o atendimento dessas necessidades começa quando nos propomos a mergulhar nos recônditos do nosso próprio ser e a nos perceber como a totalidade que somos. É nesse exame interior que o homem mobiliza os recursos que lhe possibilitarão transpor os limites estreitos de sua materialidade, desenvolvendo e reencontrando seus potenciais divinos.  Assim, ainda que os meus questionamentos tenham sido motivo de grande insatisfação, produziram a abertura necessária ao início dessa frutífera jornada interior, conduzindo-me ao encontro da minha divindade.
No contexto da ciência, as descobertas recentes da física moderna – ao redefinir conceitos fundamentais da realidade como matéria, vida e consciência – associadas ao surgimento da psicologia transpessoal, vêm respaldar essa compreensão da espiritualidade como algo inerente à natureza humana, cujo desenvolvimento e autocuidado independem da adesão a uma religião formalmente constituída.
Diante disso, podemos afirmar que os resultados deste estudo apontam para diferentes formas de buscar o transcendente, o sagrado, o divino que existe em cada um de nós, e que a religião e a religiosidade são caminhos, mas não obrigatoriamente os únicos. As diferentes vertentes do conhecimento humano como a filosofia, a teosofia, a meditação, a física moderna, entre outras, levam o homem às mesmas reflexões que a religião, portanto, podem operar o mesmo grau de transformação interior e de evolução, representando, assim, um recurso importante no desenvolvimento da espiritualidade humana.
Jeruzia Costa de Medeiros

*Artigo científico apresentado ao Curso de Pós-graduação (Lato Senso) em Psicologia Transpessoal da Faculdade de Tecnologia Darcy Ribeiro em parceria com o Instituto Celta, como requisito parcial para obtenção do Título de Especialista em Psicologia Transpessoal.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Resumo do Livro XII – O Caso Schreber, Artigos sobre Técnica e outros trabalhos (1911-1913)

Resumo do Livro XII – O Caso Schreber, Artigos sobre Técnica e outros trabalhos (1911-1913)
Nota do editor inglês
_ o texto sobre o Caso Schreber foi lido perante o terceiro Congresso Psicanalítico Internacional, realizado em Weimar em 22 de setembro de 1911 – p. 15/16;
_ vinculação existente entre paranoia e homossexualismo passivo reprimido – p. 16;
Notas psicanalíticas sobre um relato autobiográfico de um caso de paranoia (dementia paranoides)
_ não deve o psicanalista aceitar tratar casos de paranoia – p. 21;
_ a investigação psicanalítica da paranoia seria completamente impossível se os próprios pacientes não possuíssem a peculiaridade de revelar (de forma distorcida, é verdade) exatamente aquelas coisas que outros neuróticos mantêm escondidas como um segredo – p. 21;
_ penso ser legítimo basear interpretações analíticas na história clínica de um paciente que sofria de paranoia (ou, precisamente, de dementia paranoides) e a quem nunca vi, mas que escreveu sua própria história clínica e publicou-a – p. 21;
I – História Clínica
_ ‘Duas vezes sofri de distúrbios nervosos’, escreve Dr. Schreber, ‘e ambas resultaram de excessiva tensão mental. Isso se deveu, na primeira ocasião, à minha apresentação como candidato à eleição para o Reichstag, enquanto era juiz de um tribunal inferior em Cheminitz, e, na segunda, ao fardo muito pesado de trabalho que me caiu sobre os ombros quando assumi meus novos deveres como juiz superior – p. 23;
_ considerações sobre alguns sonhos de Schreber sobre o retorno do distúrbio e o sonho de achar bom ser mulher e se submeter ao ato da cópula – p. 24;
_ considerações sobre os acontecimentos anteriores à eclosão da doença: acesso d insônia, ideias hipocondríacas, ideias de perseguição, ilusões sensoriais, sensibilidade à luz e ao barulho, ilusões visuais e auditivas, distúrbios cenestésicos – p. 24;
_ suas ideias delirantes assumiram gradativamente o caráter místico e religioso; achava-se em comunicação direta com Deus, era joguete de demônios, via aparições miraculosas, ouvia música sagrada, e, no final chegava mesmo a acreditar que estava vivendo em outro mundo – p. 24/25;
_ acreditava que tinha a missão de redimir o mundo e restituir-lhe o estado perdido de beatitude. Isso, entretanto, só poderia realizar se primeiro se transformasse em mulher – p. 27;
_ a parte mais essencial de sua missão redentora é ela ter que ser precedida por sua transformação em mulher – p. 27;
_ o diretor da clínica acentua dois pontos como sendo de suma importância: a assunção, pelo paciente, do papel de Redentor e sua transformação em mulher. O delírio de Redentor constitui fantasia que nos é familiar, pela frequência com que forma o núcleo da paranoia religiosa– p. 28;
_ sabemos que a ideia de transformar-se em mulher (isto é, de ser emasculado) constitui o delírio primário, que ele no início encarva esse ato como grave injúria e perseguição, e que o mesmo só se relacionou com o papel de Redentor de maneira secundária. Pode-se formular a situação, dizendo-se que um delírio sexual de perseguição foi posteriormente transformado, na mente do paciente, em delírio religioso de grandeza – p. 29;
_ a ideia de ser transformado em mulher foi a característica saliente e o germe mais primitivo de seu sistema delirante – p. 31;
_ em todos os pontos de sua teoria, ficaremos impressionados pela espantosa mistura do banal e do brilhante, do que foi tomado emprestado e do que é original – p. 32;
_ nenhuma tentativa de explicar o caso Schreber terá possibilidade de ser correta, se não levar em consideração essas peculiaridades de sua concepção de Deus, essa mistura de reverência e rebeldia em sua atitude para com Ele – p. 39;
_ as raízes de todo distúrbio nervoso e mental devem se encontrar principalmente na vida sexual do paciente – p. 40;
_ antes de sua enfermidade, Schreber fora homem de moral estrita: ’Poucas pessoas’, declara ele, e não vejo razão para duvidar de sua assertiva, ‘podem ter sido criadas segundo os estritos princípios morais em que fui, e poucas pessoas, durante toda a sua vida, podem ter exercido (especialmente em assuntos sexuais) uma autocoibição que se conformasse tão estritamente a esses princípios, como posso dizer de mim mesmo que exerci’. Após o severo combate espiritual, do qual os fenômenos de sua moléstia foram os sinais exteriores, sua atitude para com o lado erótico da vida se alterou. Chegara a perceber que o cultivo da voluptuosidade lhe incumbia como um dever e que somente pelo cumprimento desse dever é que poderia terminar o grave conflito que irrompera dentro dele – ou, como pensava a seu respeito. A voluptuosidade, assim as vozes lhe asseguravam, havia se tornado ‘temente a Deus’, e só lhe restava lamentar que não se pudesse dedicar a esse cultivo durante todo o dia – p. 41;
_ Foi esse, então, o resultado das modificações produzidas em Schreber por sua doença, tal como as encontramos expressas nas duas características principais de seu sistema delirante. Antes dela, inclinara-se ao ascetismo sexual e fora um descrente com referência a Deus, enquanto que, após a mesma, tornou-se crente em Deus e devoto da voluptuosidade. Ele assumiu uma atitude feminina para com Deus; sentiu que era esposa de Deus – p. 41/42;
_ no sistema de Schreber, os dois elementos principais de seus delírios (sua transformação em mulher e sua relação favorecida com Deus) acham-se vinculados na adoção de uma atitude feminina para com Deus – p. 44;
II – Tentativas de Interpretação
_ é natural que determinado analista tenda demasiadamente para cautela e outro excessivamente para a ousadia – p. 47;
_ o caso Schreber assumiu a princípio a forma de delírios de perseguição e só começou a perde-la quando chegou ao ponto decisivo de sua moléstia (a ocasião de sua reconciliação). Dessa época em diante, as perseguições tornaram-se cada vez menos intoleráveis e o propósito ignominioso que a princípio fundamentava sua ameaçada emasculação começou a ser suplantado por um propósito de consonância com a Ordem das Coisas – p. 47/48;
_ o estudo de vários casos de delírios de perseguição levou-me, bem como a outros pesquisadores, à opinião de que a relação entre o paciente e o seu perseguidor pode ser reduzida a fórmula simples. Parece que a pessoa a quem o delírio atribui tanto poder e influência, a cujas mãos todos os fios da conspiração convergem, é se claramente nomeada, idêntica a alguém que desempenhou papel igualmente importante na vida emocional do paciente antes de sua enfermidade, ou facilmente reconhecível como substituto dela. A intensidade da emoção é projetada sob a forma de poder externo, enquanto sua qualidade é transformada no oposto. A pessoa agora odiada e temida por ser um perseguidor, foi, noutra época, amada e honrada. O principal propósito da perseguição asseverada pelo delírio do paciente é justificar a modificação em sua atitude mental – p. 50;
_ a fantasia feminina que se havia conservado impessoal defrontou-se imediatamente com um repúdio indignado, um verdadeiro protesto masculino, para utilizar a expressão de Adler, mas num sentido diferente do seu. Na aguda psicose que irrompeu logo após, porém, a fantasia feminina venceu todas as dificuldades; e só é preciso ligeira correção na imprecisão paranoica característica do modo de expressão de Schreber, para permitir-nos adivinhar o fato de que o paciente temia um abuso sexual das mãos do próprio médico. A causa ativadora de sua doença, então, foi uma manifestação de libido homossexual; o objeto dessa libido foi provavelmente, desde o início, o médico, Flechsig, e suas lutas contra o impulso libidinal produziram o conflito que deu origem aos sintomas – p. 52;
_ falando de modo geral, todo ser humano oscila, ao longo da vida, entre sentimentos heterossexuais e homossexuais e qualquer frustação e desapontamento numa das direções pode impulsioná-lo para outra – p. 55;
_ hipótese de que a causa ativadora da enfermidade foi o aparecimento de uma fantasia feminina (isto é, homossexual passiva) de desejo, que tomou por objeto a figura do médico. Uma resistência interna a esta fantasia surgiu por parte da personalidade de Schreber, e a luta defensiva que se seguiu, e que talvez pudesse ter assumido alguma outra forma, tomou, por razões que nos são desconhecidas, a forma de delírio e perseguição. A pessoa por que agora ansiava tornou-se o seu perseguidor, e a essência da fantasia de desejo tornou-se a essência da perseguição – p. 56;
_ era impossível para Schreber resignar-se a representar o papel de uma devassa para com seu médico, mas a missão de fornecer ao próprio Deus as sensações voluptuosas que Este exigia não provocava tais resistências por parte de seu ego. A emasculação, agora, não era mais uma calamidade; tornava-se ‘consonante com a Ordem das Coisas’ – p. 57;
_ a megalomania pode desenvolver-se a partir de delírios de perseguição – p. 57;
_ um processo de decomposição desse tipo é mito característico da paranoia. A paranoia decompõe, tal como a histeria condensa. Ou antes, a paranoia reduz novamente a seus elementos os produtos das condensações e identificações realizadas no inconsciente – p. 58;
_ a fantasia feminina, que despertou uma oposição tão violenta no paciente, tinha assim suas raízes num anseio, intensificado até um tom erótico, pelo pai e pelo irmão. Esse sentimento na medida em que se referia ao irmão, passou, por um processo de transferência, para o médico, Flechsig; e, quando foi devolvido ao pai, chegou-se a uma estabilização do conflito – p. 59;
_ estamos perfeitamente familiarizados com a atitude infantil dos meninos para com o pai; ela se compõe da mesma mistura de submissão reverente a insubordinação amotinada que encontramos na relação de Schreber com o seu Deus, e é o protótipo inequívoco dessa relação, fielmente copiada dela – p. 60;
_ o sol nada mais é que outro símbolo sublimado do pai – p. 62;
_ enquanto o pai estava vivo, revelou-se em rebeldia indomável e franca discórdia, mas, imediatamente, após a sua morte, assumiu a forma de uma neurose baseada em submissão abjeta e obediência tardia para com ele – p. 63;
_ quando uma fantasia de desejo aparece, nossa tarefa é associá-la com alguma frustação, alguma privação na vida real – p. 65;
III – Sobre o mecanismo da paranoia
_ estivemos até aqui lidando com o complexo paterno, elemento dominante no caso Schreber, e com a fantasia de desejos em torno da qual a doença se centralizou. Mas, em tudo isso nada existe de característico da enfermidade conhecida como paranoia, nada que não possa ser encontrado em outros tipos de neuroses. Tenderíamos a dizer que caracteristicamente paranoico na doença foi o fato de o paciente, para repelir uma fantasia de desejo homossexual, ter reagido precisamente com delírios de perseguição desta espécie – p. 67;
_ ficamos estupefactos ao descobrir que, em todos os casos de paranoia, uma defesa contra o desejo homossexual era claramente identificável no próprio centro do conflito subjacente à moléstia, e que fora uma tentativa de dominar uma corrente inconsciente reforçada de homossexualismo que todos eles haviam fracassados. Isso certamente não era o que havíamos esperado. A paranoia constitui exatamente um distúrbio no qual a etiologia sexual de maneira alguma é óbvia; longe disso, as características notavelmente relevantes na origem da paranoia, particularmente entre indivíduos do sexo masculino, são as humilhações e desconsiderações sociais. Mas, se nos aprofundarmos apenas um pouco mais no assunto, poderemos perceber que o fator realmente eficaz nessas afrontas sociais reside na parte que nelas desempenham os componentes homossexuais da vida emocional – p. 67/68;
_ considerações sobre os estágios de desenvolvimento da libido: auto-erotismo, narcisismo, estágio de escolha objetal (homossexualismo e heterossexualismo) – p. 68/69;
_ após o estágio de escolha objetal heterossexual ter sido atingido, as tendências homossexuais não são, como se poderia supor, postas de lado ou interrompidas; são simplesmente desviadas de seu objetivo sexual e aplicadas a novas utilizações. Combinam-se agora com partes dos instintos do ego e ajudam a constituir os instintos sociais, contribuindo assim como um fator erótico para a amizade e a camaradagem, para o espírito de corpo e o amor à humanidade em geral – p. 69;
_ cada estádio de desenvolvimento da psicossexualidade fornece uma possibilidade de fixação. Esse resultado pode ser produzido por qualquer coisa que faça a libido fluir regressivamente – p. 69/70;
_ considerações sobre as principais formas de paranoia conhecidas com relação às contradições da proposição única: eu (um homem) o amo (um homem) – p. 70/71;
_ considerações sobre o mecanismo pelo qual os sintomas da paranoia são formados e o mecanismo pelo qual a repressão é ocasionada. A característica mais notável da formação de sintomas na paranoia é o processo que merece o nome de projeção – p. 73;
_ na psicanálise, acostumamo-nos a encarar os fenômenos patológicos como derivados, de maneira geral, da repressão. Se examinarmos mais perto do que chamamos de repressão, encontraremos razões para dividir o processo em três fases que são facilmente distinguíveis uma da outra, conceptualmente. A primeira parte consiste na fixação, que é precursora e condição necessária de toda repressão. A segunda fase é a repressão propriamente dita. A terceira fase, e a mais importante no que se refere aos fenômenos patológicos, é a do fracasso da repressão, da irrupção, do retorno do reprimido – p. 74/75;
_ considerações sobre o desligamento da libido – p. 79;
_ que emprego se faz da libido após ela ter sido liberada pelo processo de desligamento? Uma pessoa normal começará imediatamente a procurar um substituto para a ligação perdida e, até que esse substituto seja encontrado, a libido liberada será mantida em suspenso dentro da mente, e aí dará origem a tensões e alterará o seu humor. Na histeria, a libido liberada transforma-se em inervações somáticas ou em ansiedade. Na paranoia, porém, a evidência clínica vai demonstrar que a libido, após ter sido retirada do objeto, é utilizada de modo especial – p. 79;
_ aceitamos a distinção popular entre instintos do ego e instinto sexual, pois tal distinção parece concordar com a concepção biológica de que o indivíduo possui dupla orientação, visando, por um lado a auto-preservação e, por outro, a preservação das espécies – p. 81;
_ a relação alterada do paranoico com o mundo deve ser explicada inteira ou parcialmente pela perda de seu interesse libidinal – p. 82;
_ o afastamento da libido do mundo externo é uma característica particular e claramente marcante da demência precoce. Desta característica inferimos que a repressão é efetuada por meio do desligamento da libido – p. 83;
_ teses principais relativas à teoria da libido das neuroses e das psicoses: as neuroses surgem, principalmente, de um conflito entre o ego e o instinto sexual e as formas que elas assumem guardam a marca do curso do desenvolvimento seguido pela libido e pelo ego – p. 86;
Pós-escrito
_ considerações sobre a estranha relação do paciente com o sol. É a este privilégio delirante de ser capaz de olhar fixamente o Sol sem ficar ofuscado que o interesse mitológico se prende – p. 87;
_ e quando Schreber se gaba de poder olhar o Sol ileso e não ofuscado, redescobriu o método mitológico de expressar sua relação filial com o Sol, e mais uma vez confirmou a nossa opinião de que o Sol é um símbolo do pai – p. 88;
_ ‘nos sonhos e nas neuroses’, assim dizia nossa tese, ‘deparamos mais uma vez com a criança e as peculiaridades que caracterizam suas modalidades de pensamento e sua vida emocional.’. ‘E deparamos também com o selvagem’, podemos agora acrescentar, ‘com o homem primitivo, tal como se nos revela à luz das pesquisas da arqueologia e da etnologia.’ – p. 89;    
Artigos sobre Técnica (1911-1915[1914])
_ seis artigos que não são uma exposição sistemática sobre a técnica psicanalítica, mas representam a abordagem mais aproximada de Freud sobre uma exposição desse tipo – p. 94;
_ a relativa escassez de trabalhos de Freud sobre técnica deve-se a sua relutância em publicar esse tipo de material – p. 95;
O Manejo da Interpretação de Sonhos na Psicanálise (1911)
_ a questão que pretendo tratar não é a técnica da interpretação de sonhos, mas a maneira pela qual o analista deve utilizar a arte da interpretação de sonhos no tratamento psicanalítico dos pacientes – p. 101;
_ diversos sonhos que ocorrem em uma mesma noite não passam de tentativas, manifestadas sob várias formas, de representar um só significado. Em geral, podemos ficar certos de que todo impulso de desejo que cria hoje um sonho reaparecerá noutros sonhos, enquanto não tiver sido compreendido e retirado do domínio do inconsciente – p. 103/104;
_ a interpretação de sonhos não deve ser perseguida no tratamento analítico como arte pela arte – p. 104;
_ quanto mais o paciente aprende da prática da interpretação de sonhos, mais obscuros, geralmente, se tornam seus sonhos posteriores – p. 105;
A Dinâmica da transferência (1912)
_ cada indivíduo, através da ação combinada de sua disposição inata e das influências sofridas durante os primeiros anos, conseguiu um método específico próprio de conduzir-se na vida erótica – p. 111;
_ aproveito esta oportunidade para me defender da acusação errônea de haver negado a importância dos fatores inatos (constitucionais), por ter acentuado a das impressões infantis – p. 111;
_ nossas observações demonstram que somente uma parte daqueles impulsos que determinam o curso da vida erótica passou por todo o processo de desenvolvimento psíquico. Esta parte está dirigida para a realidade, acha-se a disposição da personalidade consciente e faz parte dela. Outra parte dos impulsos libidinais foi retida no desenvolvimento; mantiveram-se afastadas da personalidade consciente e da realidade, e, ou foi impedida de expansão ulterior, exceto na fantasia, ou permaneceu totalmente no inconsciente, de maneira que é desconhecida pela consciência da personalidade – p. 112;
_ assim, é perfeitamente normal e inteligível que a catexia libidinal que alguém que se acha parcialmente insatisfeito, uma catexia que se acha pronta por antecipação, dirija-se também para a figura do médico – p. 112;
_ considerações sobre ‘imago paterna’, ‘imago materna’ e ‘imago fraterna’ – p. 112;
_ uma precondição invariável e indispensável de todo desencadeamento de uma psiconeurose é o processo a que Jung deu o nome apropriado de ‘introversão’. Isso equivale a dizer: a parte da libido que é capaz de se tornar consciente e se acha dirigida para a realidade é diminuída e a parte que se dirige para longe da realidade e é inconsciente, e que, embora possa ainda alimentar as fantasias do indivíduo, pertence todavia ao inconsciente, é proporcionalmente aumentada. A libido (inteiramente ou em parte) entrou em curso regressivo e reviveu as imagos infantis do indivíduo. O tratamento analítico então passa a segui-la; ele procura rastrear a libido, torna-la acessível à consciência e, enfim, útil à sociedade – p. 113/114;
_ se a introversão ou regressão da libido não houvesse sido justificada por uma relação específica entre o indivíduo e o mundo externo – enunciado, em termos mais gerais, pela frustração da satisfação – e, se não se tivesse, no momento, tornado mesmo conveniente, não teria absolutamente ocorrido – p. 114;
_ considerações sobre o momento em que a transferência entra em cena – p. 115;
_ como é possível que a transferência sirva tão admiravelmente de meio de resistência? – p. 116;
_ considerações sobre a distinção entre transferência positiva e negativa – p. 116;
_ até este pronto admitimos prontamente que os resultados da psicanálise baseiam-se na sugestão; por esta, contudo, devemos entender, como o faz Ferenczi (1909), a influência de uma pessoa por meio dos fenômenos transferenciais possíveis em seu caso. Cuidamos da independência final do paciente pelo emprego da sugestão, a fim de fazê-lo realizar um trabalho psíquico que resulta necessariamente numa melhora constante de sua situação psíquica – p. 117;
_ onde a capacidade de transferência tornou-se essencialmente limitada a uma transferência negativa, como é o caso dos paranoicos, deixa de haver qualquer possibilidade de influência ou cura – p. 118;
_ no processo de procurar a libido que fugira do consciente do paciente, penetramos no reino do inconsciente – p. 119;
_ esta luta entre o médico e o paciente, entre o intelecto e a vida instintual, entre compreensão e a procura da ação, é travada quase exclusivamente nos fenômenos da transferência. É nesse campo que a vitória tem que ser conquistada – vitória cuja expressão é a cura permanente da neurose – p. 119
Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise
_ as regras técnicas que estou apresentando aqui alcancei-as por minha própria experiência, no decurso de muitos anos – p. 125;
_ primeira técnica para lembrar-se da quantidade de material durante a análise é uma técnica muito simples, manter a atenção uniformemente suspensa em face de tudo o que se escuta – p. 125;
_ em termos técnicos, a regra é: o analista deve simplesmente escutar e não se preocupar se está se lembrando de alguma coisa – p. 126;
_ o analista dever voltar seu próprio inconsciente, como um órgão receptor, na direção do inconsciente transmissor do paciente – p. 129;
_ não hesito, portanto, em condenar a técnica afetiva para com o paciente como incorreta. O médico deve ser opaco aos seus pacientes e, como um espelho, não mostrar-lhes nada, exceto o que lhe é mostrado – p. 131;
_ o médico deve controlar-se e guiar-se pela capacidade do paciente e não pelos seus próprios desejos. Nem todo neurótico possui grande talento para sublimação – p. 132;
_ tem-se acima de tudo ser tolerante com a fraqueza do paciente. A ambição educativa é de tão pouca utilidade quanto a ambição terapêutica. Deve-se manter em mente que muitas pessoas caem enfermas exatamente devido à tentativa de sublimar os seus instintos além do grau permitido por sua organização e que, naqueles que possuem capacidade de sublimação, o processo geralmente se dá espontaneamente, assim que suas inibições são superadas pela análise – p. 132;
_ até que ponto deve-se busca a cooperação intelectual do paciente no tratamento? – p. 132;
_ o paciente tem que aprender, acima de tudo, que atividades mentais, tais como refletir sobre algo ou concentrar a sua atenção, não solucionam nenhum dos enigmas de uma neurose; isto só pode ser efetuado a se obedecer pacientemente à regra psicanalítica, que impõe a exclusão de toda crítica do inconsciente ou de seus derivados – p. 132;
_ devo fazer a mais séria advertência contra qualquer tentativa de conquistar a confiança ou apoio de pais ou parentes dando-lhes livros psicanalíticos para ler, de natureza introdutória ou avançada – p. 133;
Sobre o início do tratamento (novas recomendações sobre a técnica da psicanálise I) (1913)
_ todo aquele que espera aprender o nobre jogo de xadrez nos livros, cedo descobrirá que somente as aberturas e os finais de jogos admitem uma apresentação sistemática exaustivas – p. 139;
_ considerações sobre a impossibilidade de mecanização das técnicas psicanalíticas – p. 139;
_ considerações sobre aceitação de pacientes de forma provisória – p. 139;
_ considerações sobre experimento preliminar – p. 139;
_ possibilidade de uma neurose com sintomas histéricos ou obsessivos poder ser um estádio preliminar de uma demência precoce (esquizofrenia ou parafrenia) – p. 140;
_ deve-se desconfiar de todo paciente que quer esperar um pouco antes de iniciar o tratamento – p. 141;
_ dificuldades especiais surgem quando o analista e seu novo paciente, ou suas famílias, acham-se em termos de amizade ou têm laços sócias um com o outro – p. 141;
_ a pergunta relativa à duração provável de um tratamento é quase irrespondível – p. 144;
_ considerações sobre interrompimento e abreviação do tratamento – p. 145;
_ o analista é certamente capaz de fazer muito, mas não pode determinar de antemão exatamente quais os resultados que produzirá. Ele coloca em movimento um processo, o processo de solucionamento das repressões existentes – p. 146;
_ considerações sobre os honorários do médico e tratamento gratuito – p. 146/147;
_ considerações sobre o cerimonial do tratamento (divã) – p. 149;
_ considerações sobre o material que se inicia o tratamento – p. 149;
_ é indispensável e também vantajoso estabelecer a regra da psicanálise nos primeiros estádios do tratamento (falar o que vier à mente do paciente sem censuras ou reflexões) – p. 150;
_ caso de paciente que inicia o tratamento e não consegue pensar em nada para dizer. Os primeiros sintomas ou ações fortuitas do paciente, tal como sua primeira resistência, podem possuir interesse especial e revelar um complexo que dirige sua neurose– p. 152/153;
_ enquanto as comunicações e ideias do paciente fluírem sem qualquer obstrução, o tema da transferência não deve ser aflorado. Deve-se esperar até que a transferência, que é o mais delicado de todos os procedimentos, tenha se tornado uma resistência ­– p. 154;
_ quando devemos começar a fazer nossas comunicações ao paciente? Somente após uma transferência eficaz ter se estabelecido – p. 154;
_ condeno qualquer linha de conduta que nos levasse a dar ao paciente uma tradução dos seus sintomas – p. 154/155;
_ mesmos nos estádios posteriores da análise, tem-se em ter cuidado em não fornecer ao paciente a solução de um sintoma ou a tradução de um desejo até que ele esteja tão próximo delas que só tenha que dar mais um passo para conseguir a explicação por si próprio – p. 155;
_ considerações sobre o significado de conhecimento e o mecanismo da cura na psicanálise – p. 155;
_ contar ou descrever o trauma reprimido não cura – p. 156;
_ os pacientes conhecem agora a experiência reprimida em seu pensamento consciente, mas falta a este pensamento qualquer vinculação com o lugar em que a lembrança reprimida, de uma ou outra maneira, está contida. Nenhuma mudança é possível até que o processo consciente de pensamento tenha penetrado até esse lugar e lá superado as resistências da repressão – p. 156/157;
_ a força motivadora primária na terapia é o sofrimento do paciente e o desejo de ser curado que deste se origina – p. 157;
_ sozinha, a força motivadora não é suficiente para livrar-se da doença – p. 157;
_ a novas fontes de força pelas quais o paciente é grato ao analista reduzem-se à transferência e à instrução (através das comunicações que lhes são feitas). O paciente, contudo, só faz uso da instrução na medida em que é induzido a fazê-lo pela transferência; é por esta razão que nossa primeira comunicação deve ser retida até que uma forte transferência tenha se estabelecido – p. 158;
Recordar, repetir e elaborar (novas recomendações sobre a técnica psicanalítica II) (1914)
_ o Dr. Erneste Jones nos conta (1955,266) que Freud considerava este o melhor da presente série de trabalhos técnicos – p. 161;
_ não me parece desnecessário continuar a lembrar aos estudiosos as alterações de grandes consequências que a técnica psicanalítica sofreu desde os primórdios. Em sua primeira fase – a da catarse de Breuer – ela consistia em focalizar diretamente o momento em que o sintoma se formava, e em esforçar-se persistentemente por reproduzir os processos mentais envolvidos nessa situação, a fim de dirigir-lhes a descarga ao longo do caminho da atividade consciente. Recordar e ab-reagir, com o auxílio, era, a que, àquela época, se visava. A seguir, quando a hipnose foi abandonada, a tarefa transformou-se em descobrir, a partir das associações livres do paciente, o que ele deixava de recordar. A resistência deveria ser contornada pelo trabalho da interpretação e por dar a conhecer desta ao paciente. As situações que haviam ocasionado a formação do sintoma e as outras anteriores ao momento em que a doença irrompeu conservaram seu lugar como foco de interesse; mas o elemento da ab-reação retrocedeu para segundo plano e pareceu ser substituído pelo dispêndio de trabalho que o paciente tinha de fazer para ser obrigado a superar sua censura das associações livres, de acordo com a regra fundamental da psicanálise. Finalmente, desenvolveu-se a técnica sistemática hoje utilizada, na qual o analista abandona a tentativa de colocar em foco um momento ou problema específicos. Contenta-se em estudar tudo o que se ache presente, de momento, na superfície da mente do paciente, e emprega a arte da interpretação principalmente para identificar as resistências que lá aparecem, e torná-las conscientes ao paciente – p. 163;
_ considerações sobre quando o paciente não se recorda de coisa alguma do que esqueceu e reprimiu, mas expressa-o pela atuação ou atua-o. Ele o reproduz não como lembrança, mas como ação; repete-o, sem, naturalmente, saber o que está reprimido – p. 165;
_ aprendemos que o paciente repete ao invés de recordar e repete sob as condições da resistência – p. 167;
_ o primeiro passo para superar as resistências é dado, como sabemos, pelo fato de o analista revelar a resistência que nunca é reconhecida pelo paciente, e familiarizá-lo com ela. Deve-se dar ao paciente tempo para conhecer melhor esta resistência com a qual acabou de se familiarizar, para elaborá-la, pela continuação, em desafio a ela, do trabalho analítico segundo a regra fundamental da análise. Só quando a resistência está em seu auge é que pode o analista, trabalhando em comum com o paciente, descobrir os impulsos instintuais reprimidos que estão alimentando a resistência – p. 170/171;
Observações sobre o amor transferencial (novas recomendações sobre a técnica da psicanálise III) (1915[1914])
_ a interpretação das associações do paciente e lidar com as suas reproduções do reprimido não são tão difíceis quanto o manejo da transferência – p. 177;
_ o analista deve reconhecer que o enamoramento da paciente é induzido pela situação analítica e não deve ser atribuído aos encantos da sua própria pessoa; de maneira que não tem nenhum motivo para orgulhar-se de tal conquista – p. 178;
_ alerto para a insensatez do comportamento de alguns médicos de preparar suas pacientes para o surgimento da transferência ou até mesmo a incentivá-las – p. 179;
_ é tão desastroso para a análise que o anseio da paciente por amor seja satisfeito, quanto seja reprimido – p. 183;
_ quanto mais claramente o analista permite que se perceba que ele está à prova de qualquer tentação, mais prontamente poderá extrair da situação seu conteúdo analítico – p. 183;
_ o amor consiste em novas adições de antigas características e que ele repete reações infantis. Mas este é o caráter essencial de todo estado amoroso. Não existe estado deste tipo que não produza protótipos infantis – p. 185;
_ considerações sobre a superação do princípio do prazer – p. 188;
Os sonhos no folclore (Freud e Oppenheim) (1957[1911])
_ o simbolismo empregado nesses sonhos coincide inteiramente com o aceito pela psicanálise – p. 197;
Simbolismo de pênis em sonhos que ocorrem no folclore
Uma interpretação de sonho
Um sonho mau
_ devemos tomar o estado de necessidade material do conteúdo do sonho como substituto de um estado de necessidade sexual – p. 203;
Simbolismo das fezes e ações oníricas relacionadas
_ a psicanálise nos ensinou que, no mais primitivo período da infância, as fezes constituem substância muito apreciada, em relação à qual os instintos coprófilos encontram satisfação – p. 204;
Ouro de sonho
Um sonho vívido
Cagou na sepultura
Sonho e realidade
A ascensão do camponês ao céu
Estúpido
O sonho do tesouro
A luz da vida
De medo
O anel da fidelidade
Não adianta chorar sobre o leite derramado
_ o folclore interpreta os símbolos oníricos da mesma maneira que a psicanálise – p. 221;
Sobre a psicanálise
_ breve resumo histórico da psicanálise – p. 227;
_ os sintomas histéricos são resíduos(reminiscências) de experiências profundamente comovedoras. As perspectivas terapêuticas residem na possibilidade de livrar-se dessa repressão, de modo a permitir que parte do material psíquico inconsciente se torne consciente e privá-la assim de seu poder patogênico – p. 227;
_ as dissociações psíquicas se originam devido a conflito interno, que conduziu à repressão do impulso subjacente. Os sintomas patológicos são realmente os produtos finais desses conflitos, que conduziram à repressão e à divisão da mente. Os sintomas são gerados por mecanismos diferentes: a) seja como formações de substituição das forças reprimidas, seja b) como conciliações entre as forças repressoras e reprimidas, seja c) como formações reativas e salvaguardas contra as forças reprimidas. A conclusão que a psicanálise chegou foi que tais conflitos davam-se sempre entre os instintos sexuais (empregando a palavra ‘sexual’ em seu sentido mais amplo) e os desejos e tendências do restante do ego. Nas neuroses são os instintos sexuais que sucumbem à repressão, e constituem assim a base mais importante para a gênese dos sintomas, que podem, por conseguinte, ser encarados como substitutos de satisfações sexuais – p. 228;
_ as enigmáticas perversões do instinto sexual que ocorrem em adultos parecem ser inibições de desenvolvimento, fixações ou crescimento assimétricos. Assim, as neuroses são o negativo das perversões – p. 228;
_ o desenvolvimento cultural imposto `humanidade é o fator que torna inevitáveis as restrições e repressões do instinto sexual, sendo exigidos sacrifícios maiores ou menores, de acordo com a constituição individual. O desenvolvimento quase nunca é conseguido de modo suave e podem ocorrer distúrbios (quer por causa da constituição individual ou de incidentes sexuais prematuros), que deixem atrás de si uma disposição a futuras neuroses. Tias disposições podem permanecer inofensivas se a vida do adulto progride de modo satisfatório e tranquilo, mas podem tornar-se patogênicas se as condições da vida madura proíbem a satisfação da libido ou exigem gravemente sua supressão – p. 229;
_ o reconhecimento da presença simultânea dos três fatores de ‘infantilismo’, ‘sexualidade’ e ‘repressão’ constitui a principal característica da teoria psicanalítica. A psicanálise demonstrou que não existe diferença fundamental, mas apenas de grau, entre a vida mental das pessoas normais, dos neuróticos e dos psicóticos. Uma pessoa normal tem de passar pelas mesmas repressões e lutar com as mesmas estruturas substitutas; a única diferença é que ela lida com esses acontecimentos com menos dificuldade e mais sucesso – p. 229;
_ o sonho é uma realização disfarçada de um desejo reprimido – p. 230;
_ quem quer que deseje não ignorar uma verdade fará bem em desconfiar de suas antipatias – p. 230;
 Formulações sobre dois princípios do funcionamento mental (1911)
_ é um dos clássicos da psicanálise – p. 235;
_ o tema principal da obra é a distinção entre os princípios reguladores (o princípio do prazer e o princípio da realidade) que dominam, respectivamente, os processos mentais primário e secundário – p. 236;
_ toda neurose tem como resultado e, portanto, provavelmente, como propósito, arrancar o paciente da vida real, aliená-lo da realidade. Os neuróticos afastam-se da realidade por acha-la insuportável, seja no todo ou em parte – p. 237;
_ considerações sobre o princípio do prazer e o princípio da realidade – p. 238/239;
_ parte essencial da disposição psíquica à neurose reside assim na demora em ensinar aos instintos sexuais a considerar a realidade – p. 241/242;
_ considerações sobre a doutrina da recompensa noutra vida pela renúncia – voluntária ou forçada – dos prazeres terrenos – p. 242;
_ enquanto o ego passa por suas transformações, do ego-prazer para o ego-realidade, os instintos sexuais sofrem as alterações que os levam de seu auto-erotismo original, através de diversas fases intermediárias, ao amor objetal a serviço da procriação. A forma assumida pela doença subsequente (a escolha da neurose) dependerá da fase específica do desenvolvimento do ego e da libido na qual a inibição disposicional do desenvolvimento ocorreu – p. 243;
Tipos de desencadeamento da neurose (1912)   
_ a causa precipitante mais óbvia, mais facilmente descobrível e mais inteligível de um desencadeamento da neurose deve ser vista no fator externo que pode ser descrito, em termos gerais, como frustação – p. 249;
_ a frustração tem efeito patogênico por represar a libido e submeter assim o indivíduo a um teste de quanto tempo ele pode tolerar este aumento de tensão psíquica – p. 249;
_ duas possibilidades de permanecer sadio quando há uma frustação persistente de satisfação no mundo real – p. 250;
_ o feito imediato da frustração reside em ela colocar em jogo os fatores disposicionais que até então haviam sido inoperantes – p. 250;
_ risco da libido tornar-se introvertida, o indivíduo vira as costas à realidade e volta-se para o mundo da fantasia – p. 250;
_ possibilidade de o indivíduo cair enfermo por tentar adaptar-se à realidade – p. 251;
_ importância dos fatores da disposição, constituição e experiência – p. 251;
_ a frustação não vem imediatamente do mundo externo, mas, em primeiro lugar, de certas tendências no ego do indivíduo – p. 252;
_ a psicanálise alertou-nos de que devemos abandonar o contraste infrutífero entre fatores internos e externos, entre experiência e constituição, e ensinou-nos que invariavelmente encontraremos a causa do desencadeamento da enfermidade neurótica numa situação psíquica específica que pode ser ocasionada de várias maneiras – p. 255;
Contribuições a um debate sobre a masturbação (1912)
_ é o mais amplo trabalho de Freud sobre a masturbação – p. 259;
_ divisão do estudo segundo a idade do indivíduo: bebê, criança e puberdade – p. 264;
_ a diferença entre a pessoa normal e o neurótico não é se existem complexos e conflitos, e sim se eles tornaram-se patogênicos – p. 267;
_ derivamos a neurose de um conflito entre os impulsos sexuais de uma pessoa e suas outras tendências do ego – p. 268;
_ considerações sobre a masturbação inconsciente – p. 271;
_ a masturbação como vício primário, do qual todos os vícios posteriores (do álcool, fumo, morfina, etc) são substitutos – p. 272;
Uma nota sobre o inconsciente na psicanálise (1912)
_ uma concepção inconsciente é uma concepção da qual não estamos cientes, mas cuja existência, não obstante, estamos prontos a admitir, devido a outras provas ou sinais – p. 277;
_ considerações sobre a distinção entre consciente e inconsciente, sobre pré-consciente e sobre divisão da consciência – p. 278/279/280;
_ a teoria mais provável que podemos formular é a de que a inconsciência é uma fase regular e inevitável nos processos que constituem nossa atividade psíquica; todo ato psíquico começa como um ato inconsciente e pode permanecer assim ou continuar a evoluir para a consciência – p. 281;
_ considerações sobre a formação onírica – p. 282;
_ as leis da atividade inconsciente diferem amplamente daquelas da consciente – p. 282;
Um sonho probatório (1913)
_ os chamados resíduos diurnos podem atuar como perturbadores do sonho e construtores de sonhos. Esses resíduos do dia, contudo, não são o próprio sonho, falta-lhes o elemento essencial principal de um sonho. São, estritamente falando, apenas o material psíquico para a elaboração onírica, exatamente como os estímulos sensórios e somáticos, quer acidentais quer produzidos sob condições experimentais, constituem o material somático para a elaboração onírica – p. 293;
_ o fator essencial na construção de sonhos é um desejo inconsciente – p. 294;
A ocorrência, em sonhos, de material oriundo de contos de fadas (1913)
_ algumas pessoas transformaram os contos de fadas em lembranças encobridoras – p. 303;
O tema dos três escrínios (1913)
_ considerações sobre duas cenas de Shakespeare para explicar o tema dos três escrínios – p. 313;
_ considerações sobre Páris, Psiqué, Afrodite, Cordélia e Cinderela – p. 315;
_ transformação do mito da natureza em mito humano – p. 319;
_ o home faz uso de sua atividade imaginativa para satisfazer os desejos que a realidade não satisfaz – p. 320;
_ relações dos três escrínios com a relação homem-mulher e homem-mãe – p. 323;
Duas mentiras contadas por crianças (1913)
_ em certo número de mentiras contadas por crianças possuem significação especial e deveriam fazer com que seus responsáveis refletissem, de preferência a ficarem zangados – p. 329;
_ seria sério equívoco interpretar más ações infantis como estas como prognóstico de desenvolvimento de um mal caráter – p. 332;
A disposição à neurose obsessiva – uma contribuição ao problema da escolha da neurose (1913)
_ este artigo foi lido por Freud perante o Quarto Congresso Psicanalítico Internacional, realizado em Munique em 7 e 8 de setembro de 1913 – p. 335;
_ considerações sobre os estádios de desenvolvimento dos instintos sexuais: auto-erotismo e narcísico; e oral, anal e fálico – p. 338;
_ divisão dos determinantes patogênicos envolvidos na neurose em aquele que a pessoa traz consigo para sua vida, e aqueles que a vida lhe traz – o constitucional (hereditário) e o acidental – p. 339;
_ esses desenvolvimentos não são serenamente realizados, onde quer que uma parte dela se apegue a um estágio anterior resulta o que se chama de ‘ponto de fixação’ – p. 339;
_ primeira tentativa de elucidar a questão da escolha da neurose ligava a ordem em que as principais formas de psiconeuroses – histeria, neurose obsessiva, paranoia, demência precoce, à ordem das idades em que o desencadeamento dessas perturbações ocorria – p. 340;
_ abandono da teoria que apontava a histeria para a passividade e a neurose obsessiva para a atividade na experiência infantil teve de ser abandonada, por incorreta – p. 341;
_ tenho boas razões para asseverar que todos possuem, em seu próprio inconsciente, um instrumento com que podem interpretar as elocuções do inconsciente das outras pessoas – p. 342;
_ após as mulheres perderem a função genital seu caráter, amiúde, sofre uma alteração peculiar – p. 345;
_ a predisposição desenvolvimental a uma neurose só é completa se a fase do desenvolvimento do ego em que a fixação ocorre é levada em consideração, assim como a da libido – p. 346;
_ os neuróticos obsessivos têm de desenvolver uma super-moralidade a fim de proteger seu amor objetal da hostilidade que espreita por trás dele – p. 346;
_ o ódio, e não o amor, é a relação emocional primária entre os homens – p. 347;
Introdução a The Psycho-analytic Method, de Pfister (1913)
_ primeiro apelo publicado em favor do reconhecimento dos analistas não médicos – p. 351;
_ os sintomas patológicos amiúde nada mais são que substitutos de inclinações más, isto é, inúteis, e que os determinantes desses sintomas são estabelecidos nos anos de infância e juventude – p. 353;
_ a educação constitui uma profilaxia; a psicoterapia, uma espécie de pós-educação – p. 354;
Prefácio a Scatalogic Rites of all nations, de Bourke (1913)
_ a lição de que a limpeza corporal é muito mais prontamente associada ao vício que à virtude, amiúde, me ocorreu posteriormente – p. 361;
_ o bebê humano é obrigado a recapitular, durante a primeira parte de seu desenvolvimento, as mudanças na atitude da raça humana para com matérias excrementícias – p. 362;
_ importantes constituintes na formação do caráter se desenvolvem ou fortalecem a partir da repressão das inclinações coprófilas – p. 362;
_ parte das antigas preferências persiste, parte das inclinações coprófilas continua a operar na vida posterior e se expressa nas neuroses, perversões e maus hábitos dos adultos – p. 363;
Breves Escritos (1911-1913)
A significação das sequências de vogais (1911)
_ entre os antigos hebreus, o nome de Deus era tabu; não podia ser falado em voz alta, nem registrado por escrito – p. 367;
Prefácio a Os Distúrbios Psíquicos da potência masculina, de Maxim Steiner