As
tardes de domingo na casa de Elise eram sempre animadas e alegres. Elise, uma
menina pequena e vaidosa, mais parecia um daqueles personagens de contos de
fada, uma princesa mesmo por assim dizer. Naquelas tardes a família inteira se
reunia, sons de risos, cantorias e algazarras faziam parte da rotina.
A
menina percebeu, entretanto, que sua avó não mais participava da alegria
dominical, sempre com olhar distante, estava presente de corpo, mas o espírito
parecia vagar em um lugar que só ela conhecia.
A
criança curiosa de mansinho se chegou e iniciou uma conversa com a anciã.
_
Vó, por que você não conversa e nem acha mais graça nos nossos domingos em
família?
A
avó, ainda alheia, mas em um instante de lucidez, respondeu:
_
E quem foi que disse que não acho graça dos domingos? É que um dia, minha neta,
o número de domingos que carregamos nos ombros se torna por demais pesados e é aí
que começamos a desaparecer, não existimos como éramos, viramos rabiscos, numa
espécie de rascunhos do que fomos. Deixamos de ser futuro, nos tornamos um
presente incômodo e a partir daí é preciso lentes de amor para enxergar o
pretérito invisível. Como um fardo pesado, uma mobília velha ou um relógio cuja
hora marcada não importa mais, somos imperceptíveis, borrões desgastados pelo
tempo e, portanto, para alguns, sem nenhuma serventia, mas uma coisa nos difere
e nos faz seguir: a vida já não tem mais tempo para nos dirigir e com o roteiro
pronto e quase acabado, nos tornamos meros espectadores de nós mesmos.
Caiu
uma fina chuva lá fora e da janela logo se viu resplandecer no céu um arco-íris.
Elise, em um atino, compreendeu o que sua avó dizia. Não desistir das pessoas
que amamos é como o desafio de buscar o pote de ouro no fim do arco-íris. Só
alcança quem tiver a coragem de caminhar por suas linhas e impregnar-se com
cores incertas. Haverá momentos que encontraremos o azul e o amarelo, no
entanto, o cinza e o preto terão que ser confrontados com a mesma ousadia de um
duelo que o tempo recompensará.
O
tal pote na verdade só podia ser preenchido com gotas de amor, mais valiosas
que o ouro do cântaro. De certo, o importante aos olhos não era o cântaro, mas os
sentimentos que carregamos nos nossos caminhos coloridos que se transformam em
pingos de ternura, capazes de rompem o invisível e nos fazer melhor.
Naquele momento Elise reencontrou o olhar vago de sua avó e um sorriso discreto em seus lábios, atinou para qual seria o lugar remoto, onde vez por outra sua avó parceria se achar. Certamente era lá no fim do arco-íris, prêmio da perseverança. Ela havia alcançado seu pote mágico e é por isso que o intangível não mais tinha importância, havia vencido as curvas do tempo com seus infinitos becos, vielas dúbias, ermos atalhos de cores vacilantes na imprecisa aquarela da vida, quadro da existência, inevitavelmente pincelado com as tintas do destino.
Cristiane Caracas
19/7/2015
Naquele momento Elise reencontrou o olhar vago de sua avó e um sorriso discreto em seus lábios, atinou para qual seria o lugar remoto, onde vez por outra sua avó parceria se achar. Certamente era lá no fim do arco-íris, prêmio da perseverança. Ela havia alcançado seu pote mágico e é por isso que o intangível não mais tinha importância, havia vencido as curvas do tempo com seus infinitos becos, vielas dúbias, ermos atalhos de cores vacilantes na imprecisa aquarela da vida, quadro da existência, inevitavelmente pincelado com as tintas do destino.
Cristiane Caracas
19/7/2015
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