domingo, 26 de julho de 2015

Caso Clínico em Psicanálise VII - O desequilíbrio da anima; ou Perfeição ou felicidade? - José Anastácio de Sousa Aguiar


Pedro tinha um estilo típico e inconfundível. Imponente e sisudo, adentrara ao consultório com um ar ao mesmo tempo resoluto e inseguro. Demonstrando muita convicção e firmeza nos gestos, foi logo me falando que somente me procurara após muita insistência de sua ex-esposa, minha paciente.
Pedi para que me dissesse em que poderia ajudá-lo. Asseverou que achava que eu não poderia fazer nada por seus problemas, já que ele tentara por toda sua vida resolvê-los e não conseguira, mas já que estava ali, iria me contar um pouco de sua história.
Relatou-me que casara jovem, aos 18 anos, e viera de uma família pobre, o que o obrigou a trabalhar muito, desde cedo. Tivera cinco filhos e apesar de suas dificuldades financeiras, dera o melhor de si, sempre procurando dar tudo de melhor para os filhos e a esposa. Acrescentou que todos os filhos, enquanto na fase da infância, sempre foram comportados e submissos a ele, mas a partir da adolescência, todos, sem exceção, se revoltaram, de uma forma ou de outra. Na atualidade, encontra-se sozinho, recebendo visitas esporádicas de sua ex-esposa. Após um longo descortinar dos atritos entre ele e os filhos, me confessara, sob forte emoção, que fora até mesmo ameaçado de morte por dois dos filhos e genros. Acrescentou que programara toda a vida de seus filhos, indicando a eles o que deveriam fazer, tanto no lado profissional como pessoal, já que ele sabia muito bem o que fazer, posto ter vencido todos os desafios em sua vida. Finalizou assim: “Fui perfeito, não admito que meus filhos sejam menos que isso”.
A escassez da anima, fortemente, influenciara o desequilíbrio das suas energias psíquicas, mas ao mesmo tempo seria o fio de Ariadne do tratamento terapêutico.
José Anastácio de Sousa Aguiar
*nomes, sexos e alguns detalhes foram alterados para proteger a identidade dos pacientes.

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