Por mais que tentasse, Cassandra não
conseguia relacionar-se bem com a filha. Ela me dissera que já havia tentado
tudo, havia inicialmente procurado os grupos de aconselhamento da sua
congregação religiosa, depois tentara o acompanhamento por meio de um psicólogo
e, recentemente, tentara um psiquiatra, todos sem o menor sucesso.
Relatou-me a aflita mãe, que sua filha
mais nova desde tenra idade demonstrara desconforto em sua presença, e a
situação só se agravara com o passar dos anos. Atualmente, já com 19 anos de
idade, Poliana permanecia arredia à mãe. O relacionamento da referida jovem com
seu pai e os outros irmãos mais velhos, apesar de tenso, estava na casa do
aceitável.
Após duas sessões de terapia
tradicional, sugeri à Cassandra que tentássemos uma hipnose, que poderia tanto
proporcionar um estado de relaxamento a sua angustiada realidade, bem como
poderíamos obter informações valiosas que facilitassem a terapia. Ela informou
que apesar de já haver ouvido falar da existência da hipnose, desconhecia o seu
potencial curativo. Seria, então, a sua primeira sessão.
Pois bem, ao longo de três sessões,
Cassandra descreveu-me, sob forte emoção, que sua filha em duas ocasiões em
vidas passadas era sua opositora: a primeira num cenário político na guerra de
secessão americana; e a segunda, mais recente, no final do século XIX, vieram
como homens que disputavam a conquista de uma mesma mulher. Os dados obtidos
permitiram potencializar o efeito curativo da terapia analítica, e atualmente
ambas, após compreenderem os sentimentos envolvidos que as afastava,
permitiram-se o perdão mútuo.
Após um não breve tratamento, Cassandra
perguntou-me se seria real ou fruto de seu inconsciente os eventos que ela
presenciou em vidas passadas. Respondi que ela seria a melhor pessoa para
responder esta pergunta, posto que o que ela vivenciara era personalíssimo e
somente ela poderia fazer este julgamento. Após uma breve reflexão, asseverou:
“Realmente, nenhuma palavra poderia descrever o que senti, vi e vivi, mas o que
realmente importa é a minha redenção dos erros passados e a nova oportunidade
que estou tendo de recomeçar com consciência e paz”.
José Anastácio de Sousa Aguiar
*nomes, sexos e alguns detalhes foram
alterados para proteger a identidade dos pacientes.
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