Recentemente, atendi uma jovem paciente
que adentrou ao consultório com um garboso cachecol vermelho. Reclamava a
referida moça que suas relações amorosas e profissionais estavam conturbadas e
que isso a motivara a procurar um psicanalista. Acrescentou ela que se
relacionava com pessoas casadas, apesar de ter um caso sério. Cobrava
fidelidade do segundo relacionamento e exigia atenção excessiva dos outros.
Ao dar início à sessão demonstrou
descrença no método psicanalítico e disse nem saber ao certo a razão de estar
ali. Depois de descortinar os eventos de sua vida, em especial a conturbada
infância em razão de um pai ausente e agressivo, bem como os sentimentos por ela
vividos, restou evidenciado que sua vida baseava-se numa insuperável e sufocante ambivalência
emocional, o que lhe causava constante conflito interno.
Demonstrei para a paciente que uma das principais
funções da psicanálise é trazer para o consciente os conteúdos reprimidos do
inconsciente e a partir daí trabalhá-los para a superação das fixações em fases
infantis e a consequente obtenção da saúde emocional. A título de exemplo,
perguntei qual teria sido a razão de ela estar usando naquele dia o já citado exuberante
cachecol. Surpresa com a pergunta, mas já confiante no método, a jovem, após
uma rápida reflexão, informou que não havia percebido a razão no momento da
escolha do acessório, mas agora conseguia discernir que o tinha escolhido para se sentir desejada pelas pessoas, imputando, assim, ciúmes em seus
amantes.
Demonstrou alegria radiante em
identificar suas fixações na fase narcisista infantil, bem como pelo fato de o
adulto ter dado início ao processo de libertação das prisões impostas pela criança
interna magoada e carente.
José Anastácio de Sousa Aguiar
*nomes, sexos e detalhes pessoais são modificados para preservar a identidade dos pacientes.
*nomes, sexos e detalhes pessoais são modificados para preservar a identidade dos pacientes.
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