terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Caso Clínico em Psicanálise II - A prisão (in)voluntária ou A retomada da liberdade pessoal - José Anastácio de Sousa Aguiar


Recentemente, atendi uma jovem paciente que adentrou ao consultório com um garboso cachecol vermelho. Reclamava a referida moça que suas relações amorosas e profissionais estavam conturbadas e que isso a motivara a procurar um psicanalista. Acrescentou ela que se relacionava com pessoas casadas, apesar de ter um caso sério. Cobrava fidelidade do segundo relacionamento e exigia atenção excessiva dos outros. 
Ao dar início à sessão demonstrou descrença no método psicanalítico e disse nem saber ao certo a razão de estar ali. Depois de descortinar os eventos de sua vida, em especial a conturbada infância em razão de um pai ausente e agressivo, bem como os sentimentos por ela vividos, restou evidenciado que sua vida baseava-se numa insuperável e sufocante ambivalência emocional, o que lhe causava constante conflito interno. 
Demonstrei para a paciente que uma das principais funções da psicanálise é trazer para o consciente os conteúdos reprimidos do inconsciente e a partir daí trabalhá-los para a superação das fixações em fases infantis e a consequente obtenção da saúde emocional. A título de exemplo, perguntei qual teria sido a razão de ela estar usando naquele dia o já citado exuberante cachecol. Surpresa com a pergunta, mas já confiante no método, a jovem, após uma rápida reflexão, informou que não havia percebido a razão no momento da escolha do acessório, mas agora conseguia discernir que o tinha escolhido para se sentir desejada pelas pessoas, imputando, assim, ciúmes em seus amantes. 
Demonstrou alegria radiante em identificar suas fixações na fase narcisista infantil, bem como pelo fato de o adulto ter dado início ao processo de libertação das prisões impostas pela criança interna magoada e carente.
José Anastácio de Sousa Aguiar
*nomes, sexos e detalhes pessoais são modificados para preservar a identidade dos pacientes.

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