Havia
uma casa construída em um pequeno monte. A casa do monte, como era conhecida,
possuía janelas largas com persianas estreitas que se abriam e se fechavam em
movimentos sincronizados. Era quase um balé aquele fecha e abre de persianas, em
um total de treze janelas.
Certa
noite houve uma grande ventania. Os donos da casa haviam esquecido uma das
janelas aberta e, através dela, o vento entrou de forma avassaladora, derrubou
mobília, quebrou vasos, varreu o chão e trouxe toda a sorte de poeira que havia
arrastado em sua trajetória de vento.
Os
donos da casa acordaram sobressaltados com a ventania e correram para cerrar a
janela. Um colocava a culpa no outro pelo esquecimento porque é mais fácil não
admitir suas próprias negligências e os estragos delas decorrentes.
As
persianas, aparentemente alheias à discussão do casal, puseram-se, entretanto,
a debater entre elas o acontecido.
Por
que não te fechastes? Perguntou a última persiana à primeira. Não sabes que somente
me fecho se tu te fechares primeiro? Não é essa a ordem do comando? Não me fechei
porque também dependo da janela, de nada adianta fechar-me se a janela estiver aberta.
As
persianas, querendo se eximir de culpa, imediatamente se voltaram contra a janela:
E tu, por que não te fechastes? Não
sabias que o vento é destruidor? Podias ter evitado tanto estrago. A janela em
defesa respondeu: Mas o tal vento destruidor de que falas não é aquele mesmo
que encanta os olhos do pescador, é a razão da existência das velas nas
jangadas ou que graciosamente balança os cabelos da menina-moça?
- Ele
mesmo, respondeu a persiana, é que por vezes ele é brisa, mas também pode se
fazer furação.
-
E como querias que eu adivinhasse que tipo de vento seria? Indagou a janela, tentando
se justificar junto às persianas.
A
mim pouco importa se brisa, furação, ou encanto de pescador, sei de mim que sou
janela e proporciono àqueles que vivem na casa a claridade do amanhecer e a
visão da paisagem, mas é preciso que queiram que eu sirva a tudo isso, ordenando
como devo me dispor, autorizando e permitindo o que pode e deve, ou não, entrar
por suas janelas.
Depois
de pensar a respeito de tudo que a janela havia dito, as persianas pararam e
num silêncio profundo, em respeito ao fado de cada um, se recolheram e a primeira
persiana replicou: De fato a nós não cabe decidir ou evitar que tipo de vento
cada um vai ter que enfrentar em seu destino. É preciso preparar os corações
para brisas ou furações porque cumpre a cada um, como donos de suas próprias
casas, cuidar de cerrar suas janelas pessoais de forma a não permitir a
desorganização causada pela entrada da poeira arrastada pelas trajetórias dos
caminhos alheios.
CRISTIANE
CARACAS
04/04/2014
Nenhum comentário:
Postar um comentário