Naldo era um pinto que morava em um galinheiro lá na fazenda do Sr. Alan. O Senhor Alan e sua esposa, Dona Branca, eram um casal de idosos simpáticos, mas que não gostavam de mudanças. No galinheiro da fazenda do Sr. Alan havia uma regra: todas as aves só podiam se vestir de branco, tudo em homenagem à Senhora Dona Branca.
Reginaldo, esse era o nome
de Naldo, nunca se conformou com a tal regra e tinha o sonho de ver cores no
galinheiro. Ele achava que as cores traziam com elas sensações: a alegria do
amarelo, o calor do vermelho, a mansidão do azul, a inquietude do laranja, a
harmonia do lilás e a delicadeza do rosa.
Naldo era um inconformado,
queria mudar o galinheiro, queria que essas “sensações” pudessem fazer parte da
vida de todas as aves que ali viviam, mas era o único a se importar com “sensações,”
as outras aves achavam tudo isso uma tremenda bobagem.
Dora era uma galinha
influente porque sempre seguiu as regras de forma a nunca quebrá-las. Seu
guarda roupas, sempre impecável, era ornado dos mais belos vestidos brancos de
renda, os quais ela se orgulhava de fazê-los ela mesma. E, talvez porque nunca
se permitiu pensar em mudar, Dora foi a primeira a não gostar da ideia de
mudança e, com seu bico afiado, tratou logo de espalhar que tais pensamentos só
poderiam vir de uma cabecinha maluca como a do esquisito Naldo.
Formou-se uma grande divisão
no galinheiro, uns eram a favor das cores e outros a favor do branco. Foram
muitas discussões, bate bicos e desentendimentos por todos os lados. Finalmente,
chegaram a um acordo: iriam fazer uma votação e decidir se deviam ou não
colorir o galinheiro.
Chegou o grande dia, todas
as aves residentes no galinheiro foram votar: os galos, galinhas, frangos e frangas
adolescentes. O galinheiro todo estava ansioso para saber o resultado que foi
proclamado pelo galo mais velho: VENCEU o Branco, 16 votos a 08.
Naldo era só tristeza. Lembrou-se
do preto que trazia a sensação que ele estava sentindo e foi aí que pensou: se
as cores causam em mim tais sensações e se as outras aves não sentem assim, tenho
que respeitar, mas isso não impede que eu comece as mudanças por mim. Seria
assim, então, começaria a vestir-se com as cores que refletisse o que ele
estava sentindo e pouco importava se os outros não queriam mudar, a mudança
mais importante começaria por ele. Primeiro, decidiu usar uns óculos cor de
rosa, queria com isso enxergar as coisas de forma mais delicada, dizia. As aves
todas caçoavam de Naldo e diziam: Dora tem razão, esse pinto Naldo é mesmo um
esquisito maluco, metido a ser diferente.
- Onde já se viu usar óculos
cor de rosa para enxergar dessa ou daquela forma. Algumas galinhas, mais modernas,
porém, de forma ainda tímida arriscaram dizer que tais óculos até que eram
charmosos, mas tudo de forma muito discreta, com medo de serem chamadas de
malucas também.
Depois dos óculos vieram o
chapéu roxo e a gravata verde. Naldo ouviu piadas e reprovações, mas não
ligava. As cores lhe faziam bem, ser da forma como ele se sentia trazia uma
sensação que ele até então não conhecia e nem sabia dizer em que cor encontrá-la.
Foi aí que tomou uma decisão, mandou fazer um paletó com todas as cores e foi passear
pelo galinheiro vestido de arco íris. Ah! Que sensação maravilhosa poder
vestir-se de todas as cores ao mesmo tempo era o máximo, foi quando percebeu
que todas as cores juntas lhe traziam aquela sensação que ele tanto procurava a
da FELICIDADE.
Àquela altura alguns
franguinhos e franguinhas adolescentes já ousavam vestir uma ou outra peça
colorida, até os mais velhos arriscavam um cinza ou bege de vez em quando e as
galinhas solteiras, separadas e divorciadas apostavam sempre no vermelho a quem
elegeram a cor da paixão.
Dora, quem diria, foi quem,
depois, radicalizou no colorido, mandou fazer uma tatuagem de arco íris tamanho
gigante nas penas do bumbum, dizia que as penas coloridas davam um certo charme
ao rebolado.
E foi assim, aos pouquinhos,
que o galinheiro, por causa da mudança pessoal de Naldo, foi aceitando as cores
e compreenderam que Naldo não era maluco ou esquisito, apenas tinha preferência
pelo colorido e não pelo branco e que a harmonia do galinheiro estava
exatamente em aceitar e respeitar as diferenças de cada um, inclusive daqueles
que continuavam preferindo o branco.
Fortaleza/Ceará, 25/2/2014.
Cristiane Caracas
Nenhum comentário:
Postar um comentário