Franzina,
cabelos castanhos ondulados e brilhantes era Catarina. Tinha recebido na escola
o apelido de pé de vento já que insuperável na corrida. Catarina era aquilo:
travessa, inquieta e sapeca.
Certo
dia, sua avó chegou à casa com uma novidade, iam ao circo. A menina logo tratou
de colocar seu vestido preferido: aquele com babados e laço azul de fita. E
assim foram, Catarina e a avó para o maior espetáculo do mundo, era o que dizia
o letreiro do Circo.
Tudo
ia de boa, as duas se divertiam quando chegou a atração dos palhaços e um deles,
em especial, chamou a atenção da menina, era o triste Pierrô. Catarina
intrigou-se com aquela dualidade de alegria no ornamento e tristeza na face.
Indagou da sua avó como poderia um palhaço ser triste? Afinal nem combinava o colorido com as lágrimas.
A
avó do alto de sua experiência respondeu: “É que, de quando em quando, minha neta,
somos como os palhaços deste circo, por vezes alegres, por vezes tristes e
sempre que a melancolia invade a alma nos travestimos de Pierrô em um disfarce do
desalento”. Catarina não compreendeu bem as palavras da avó, atinou, porém, que
por trás das máscaras tristes ou alegres sempre existe o homem/palhaço, desnudo
porque aprendeu que é preciso sair de si para reencontrar-se no avesso do eu.
Na
saída do circo, entretanto, a criança, ligeira com seus pés de vento, terminou
por esbarrar no Pierrô triste e lá de foram os dois ao chão. Catarina sorriu para
o palhaço que agora se desmanchava em risos altos e soltos. Aquela imagem
atentou a menina sapeca para o poder mágico dos sorrisos, pois não importava o
tamanho ou aparência da tristeza, sempre haveria um remédio eficaz para aquela
dor interior de que sua avó falava: são os sorrisos mágicos que não podem ser
olvidados e devem ser ministrados em doses diárias, perenes e abstratas.
Catarina se foi, mas deixou no circo uma lição: o maior espetáculo da vida é
feito por cada um quando não desistimos de rir de nós mesmos com os tais sorrisos
mágicos, ainda que os fatos e as circunstâncias insistam em nos trajar de pierrôs.
Cristiane Caracas
28/6/2015
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