Doce,
meiga e com sorriso largo era Lara, a menina de olhos grandes curiosos. Nem bem
chegou da escola encontrou, em cima da cama, um livro fininho, presente de seu
pai, onde era narrada a história de um príncipe de cabelos loiros como espigas
de milho e uma rosa singular e geniosa que moravam em um minúsculo planeta, lá
juntinho das estrelas.
Desde
aquele dia, Lara não parava de pensar na possibilidade de conhecer o céu, as constelações,
a via láctea, a Lua e o Sol, enfim, tudo que habita o cosmo.
Sendo
filha única, identificou-se com o principezinho em sua solidão e na busca por
um amigo, imaginou que poderia juntar-se ao menino e a rosa sendo felizes no
diminuto astro, afinal não precisava de muito, apenas de um amigo. Esse era,
pois, o seu desejo secreto.
Dedicava
horas e horas de suas tardes deitada na relva contemplando, com seus olhos
grandes, todo o céu estrelado. Tinha preferência pelas noites de verão quando
os pontos de luzes pareciam maiores e mais brilhantes.
Passaram
os anos e a aspiração de viver perto das estrelas desapareceu por entre as
tarefas e compromissos da juventude que sufocam os desejos infantis. Lara já
não era mais criança, tinha consciência do impossível. Numa linda manhã
ensolarada de verão, entretanto, passeava tranquilamente na praia e esbarrou,
trazida pelas ondas de espumas esbranquiçadas, com uma estrela do mar.
Apressadamente, com mãos trêmulas, apossou-se daquela estrela que a fez lembrar
o velado desejo infantil.
Recordou-se
do principezinho e da rosa e atinou que o impossível é uma coisa ou lugar que
ninguém conhece e nunca foi lá e assim, não se sabendo a coisa ou lugar, nem
onde, quando e como encontrá-lo, ele pode ser qualquer coisa ou coisa alguma e até
ser um lugar comum. Aquela estrela era a prova de que o inverossímil acontece
quando o acaso se distraí e abre as portas para a utopia. É num desses momentos
de descuido que as estrelas aproveitam para visitar outro lugar, aquele que
alguém um dia chamou de impossível.
Podia
sim viver no impossível, podia sim ser amiga do principezinho e da rosa, afinal
o irreal só existe para quem não acredita na força do desejo, capaz até de
precipitar estrelas no mar ou permitir que a criança que habita em nós dite as
regras de nossos destinos.
E
daquele dia em diante, Lara percebeu um certo brilho que reluzia de seus olhos
sempre que contemplava o firmamento. Lara não pode ir às estrelas, mas as
estrelas habitariam nela para sempre em forma de luz no espelho da alma, sinal
de que nada é impossível. E foi assim que Lara passou a ser a menina dos olhos
de luz, onde as estrelas, aproveitando um cochilo do acaso, vieram fazer morada.
Cristiane Caracas
3/6/2015
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