Vivia em um sobrado antigo da
Rua 26, Leo, um gato preto, charmoso e elegante. Aquele sobrado tinha uma
peculiaridade: possuía em seu interior muitas portas que davam a diferentes
cômodos.
Além dos atributos físicos,
Leo tinha algo que encantava a todos, especialmente às gatas da redondeza. Já
não era tão jovem, é verdade, mas isso não era motivo para diminuir o poder de
sedução de Leo, aliás, talvez até aumentasse, já que a experiência é mais uma
das facetas da conquista.
Os outros gatos, sabedores da
fama de Leo, nutriam por ele um despeito aparente, diziam que não passava de um
conquistador barato e que tudo se devia a um certo “it” que ele tinha. Leo não
se incomodava, era livre.
Certo dia Leo conheceu uma
gata sensível, amorosa que, como não podia deixar de ser, caiu de amores por
ele. Por um tempo Leo parecia feliz, completo, enfim os dias de conquistador
pareciam ter terminado.
Os anos se passaram e Leo por
mais que evitasse o tal “it”, vez por outra, o atormentava a ponto de colocá-lo
em questionamentos.
É que a natureza dos seres,
por mais que se pretenda sufocar, uma hora ou outra ressurge do seu âmago e de
uma forma avassaladora, não importando o desejo, a vontade ou a consciência
daquilo que se quer ser, mas determinando e impondo aquilo que se é.
Bateu um vento forte no
casarão e Leo percebeu que por entre as fendas das portas, porque não
totalmente cerradas, surgiam brechas por onde passavam fragmentos de sentimentos
e meias verdades que, como aquele vento, não tinha compromisso com qualquer
direção.
Compreendeu então que o motivo
e a razão de tudo aquilo eras as portas do casarão que ele teimava em não
fechar, o que permitia a entrada daquelas emoções. Parou para ouvir o vento que
sussurrou ao seu ouvido: É preciso cerrar as portas, Léo, fechar as janelas,
conferir os cadeados e tudo isso só pode ser feito com uma única chave: a chave
do amor verdadeiro.
Cristiane Caracas
10/4/2015
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