Nunca pensei que um jardim pudesse ser palco de tamanho aprendizado e refletisse tão bem o mundo dos humanos.
Certo
dia, antes de sair para trabalhar, fui completar a água da cumbuca da Bia,
nossa bela labradora. A cumbuca sempre fica na varanda que dá acesso ao jardim.
Pois bem, ao aproximar-me do jardim, notei, o que me pareceu ser, à primeira
vista, uma folha agitada pelo vento. Olhando com mais vagar, verifiquei que não
havia vento suficiente para tamanha agitação da suposta folha, bem como vi que
os movimentos não eram compatíveis com a calmaria do restante do jardim.
Aproximei-me,
então, e verifiquei que se tratava de um pequeno filhote de passarinho
extremamente agitado. Achei, inicialmente, que o diminuto ser estava a se
contorcer em razão da sua exposição excessiva ao sol. A proximidade me fez ver
a verdadeira realidade...
A
tenra criatura debatia-se em razão de estar sendo atacada pelas formigas da
região, que identificaram no neonato um prato fácil. Prontamente o peguei nas
mãos e de imediato retirei as várias formigas que certamente já mordiam aquela
pele frágil. Ato contínuo, procurei identificar o eventual ninho de origem, que
se quedava na parte mais alta do telhado próximo.
De
pronto, chamei o jardineiro para trazer uma escada que alcançasse o teto e
enquanto o aguardava, segurei nas mãos o pequeno filhote. Já totalmente sem
formigas sobre o seu corpo frágil, a novel criatura já não mais se
estrebuchava, e aos poucos, com o calor e o conforto das minhas mãos, pareceu
relaxar por completo. Num dado momento, fitou-me com um olhar cansado e ali não
estavam mais duas criaturas de espécies distintas, mas dois filhos de Deus.
Provavelmente,
a agitação de tantos outros seres, caracterizada pela agressividade, inquietude
e hostilidade gratuita, passa não pelas mordidas de formigas, mas pelo pulsar
das suas feridas internas.
José Anastácio de Sousa Aguiar
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