Resumo
do Livro XIV – A História do movimento psicanalítico, artigos sobre a
metapsicologia e outros trabalhos (1914-1916)
Nota
do editor inglês
_ um
relato completo da situação que levou Freud a escrever esta obra é apresentado
no Capítulo V do segundo volume de sua biografia escrita por Ernest Jones
(1955, 142 e seg.) Aqui basta fazer um pequeno resumo da situação. As
discordâncias de Adler quanto aos pontos de vista de Freud culminaram em 1910,
e as de Jung uns três anos depois. Apesar das divergências que os afastaram de
Freud, ambos persistiam, entretanto, em descrever suas teorias como
“psicanálise”. A finalidade do presente artigo foi estabelecer claramente os
postulados e hipóteses fundamentais da psicanálise, demonstrar que as teorias
de Adler e Jung eram totalmente incompatíveis com eles, e inferir que só
levaria à confusão conjuntos de pontos de vista contraditórios receberem todos
a mesma designação. E embora por muitos anos a opinião popular continuasse a
insistir em que havia “três escolas de psicanálise”, o argumento de Freud
finalmente prevaleceu. Adler já escolhera a designação de “Psicologia
Individual” para as suas teorias e logo depois Jung adotou a de “Psicologia
Analítica” para as suas – p. 15/16;
A
história do movimento psicanalítico
_ não
é de se estranhar o caráter subjetivo desta contribuição que me proponho trazer
à história do movimento psicanalítico, nem deve causar surpresa o papel que
nela desempenho, pois a psicanálise é criação minha; durante dez anos fui a
única pessoa que se interessou por ela, e todo o desagrado que o novo fenômeno
despertou em meus contemporâneos desabafou sobre a minha cabeça em forma de
críticas. Embora de muito tempo para cá eu tenha deixado de ser o único
psicanalista existente, acho justo continuar afirmando que ainda hoje ninguém
pode saber melhor do que eu o que é a psicanálise, em que ela difere de outras
formas de investigação da vida mental, o que deve precisamente ser denominado
de psicanálise e o que seria melhor chamar de outro nome qualquer – p. 18;
_ em
1909, no salão de conferências de uma universidade norte-americana, tive a
primeira oportunidade de falar em público sobre a psicanálise. A ocasião foi de
grande importância para a minha obra, e movido por este pensamento declarei
então que não havia sido eu quem criara a psicanálise: o mérito cabia a Joseph
Breuer, cuja obra tinha sido realizada numa época em que eu era apenas um aluno
preocupado em passar nos exames (1880-2). Depois que fiz aquelas conferências,
entretanto, alguns amigos bem intencionados suscitaram em mim uma dúvida: não
teria eu, naquela oportunidade, manifestado minha gratidão de uma maneira
exagerada? Na opinião deles, devia ter feito o que já estava acostumado a
fazer: encarado o “método catártico” de Breuer como um estágio preliminar da
psicanálise, e a psicanálise em si como tendo tido início quando deixei de usar
a técnica hipnótica e introduzi as associações livres – p. 18/19;
_ as
descobertas de Breuer já foram descritas tantas vezes que posso dispensar um
exame detalhado das mesmas aqui. O fundamental delas era o fato de que os
sintomas de pacientes histéricos baseiam-se em cenas do seu passado que lhes
causaram grande impressão mas foram esquecidas (traumas); a terapêutica, nisto
apoiada, que consistia em fazê-los lembrar e reproduzir essas experiências num
estado de hipnose (catarse) – p. 19;
_ é
sabido também que depois de Breuer ter feito sua primeira descoberta do método
catártico deixou-o de lado durante anos e só veio a retomá-lo por instigação
minha, quando de volta dos meus estudos com Charcot – p. 19/20;
_ há
pouco tempo nos foi dada uma sugestão – que se propunha representar um dos mais
recentes desenvolvimentos da psicanálise -, no sentido de que o conflito do
momento e o fator desencadeante da doença devem ser trazidos para o primeiro
plano na análise. Ora, isto era exatamente o que Breuer e eu fazíamos quando
começamos a trabalhar com o método catártico. Conduzíamos a atenção do paciente
diretamente para a cena traumática na qual o sintoma surgira e nos esforçávamos
por descobrir o conflito mental envolvido naquela cena, e por liberar a emoção
nela reprimida. Ao longo deste trabalho, descobrimos o processo mental,
característico das neuroses, que chamei depois de “regressão” – p. 20;
_ essa
direção regressiva tornou-se uma característica importante da análise. Era como
se a psicanálise não pudesse explicar nenhum aspecto do presente sem se referir
a algo do passado; mais ainda, que toda experiência patogênica implicava uma
experiência prévia que, embora não patogênica em si, havia, não obstante,
dotado esta última de sua qualidade patogênica – p. 21;
_
minha primeira divergência com Breuer surgiu de uma questão relativa ao
mecanismo psíquico mais apurado da histeria. Ele dava preferência a uma teoria
que, se poderia dizer, ainda era até certo ponto fisiológica; tentava explicar
a divisão mental nos pacientes histéricos pela ausência de comunicação entre
vários estados mentais (“estados de consciência”, como os chamávamos naquela
época), e construiu então a teoria dos “estados hipnóides” cujos produtos se supunham
penetrar na “consciência desperta” como corpos estranhos não assimilados. Eu
via a questão de forma menos científica; parecia discernir por toda parte
tendências e motivos análogos aos da vida cotidiana, e encarava a própria
divisão psíquica como o efeito de um processo de repulsão que naquela época
denominei de “defesa”, e depois de “repressão”. Fiz uma tentativa efêmera de
permitir que os dois mecanismos existissem lado a lado separados um do outro,
mas como a observação me mostrava sempre uma única e mesma coisa, dentro de
pouco tempo minha teoria da “defesa” passou a se opor à teoria “hipnóide” de
Breuer – p. 21/22;
_ estou
bem certo, contudo, de que esta oposição entre os nossos pontos de vista nada
teve que ver com o rompimento de nossas relações que se seguiu pouco depois.
Este teve causas mais profundas, mas ocorreu de forma tal que de início não o
compreendi; só depois é que, através de claras indicações, pude interpretá-lo.
Como se sabe, Breuer disse de sua primeira e famosa paciente que o elemento de
sexualidade estava surpreendentemente não desenvolvido nela e que em nada
contribuíra para o riquíssimo quadro clínico do caso. Sempre fiquei a imaginar
por que os críticos não citam com mais freqüência esta afirmação de Breuer como
argumento contra minha alegação referente à etiologia sexual das neuroses, e
até hoje não sei se devo considerar a omissão como prova de tato ou de descuido
da parte deles – p. 22;
_ o
surgimento da transferência sob forma francamente sexual – seja de afeição ou
de hostilidade -, no tratamento das neuroses, apesar de não ser desejado ou
induzido pelo médico nem pelo paciente, sempre me pareceu a prova mais
irrefutável de que a origem das forças impulsionadoras da neurose está na vida
sexual. A este argumento nunca foi dado o grau de atenção que ele merece, pois
se isso tivesse acontecido, as pesquisas neste campo não deixariam nenhuma
outra conclusão em aberto. No que me diz respeito, este argumento continua a
ser decisivo, mas decisivo mesmo do que qualquer das descobertas mais
específicas do trabalho analítico – p. 23;
_ a
teoria da repressão sem dúvida alguma ocorreu-me independentemente de qualquer
outra fonte; não sei de nenhuma impressão externa que me pudesse tê-la
sugerido, e por muito tempo imaginei que fosse inteiramente original, até que
Otto Rank (1911a) nos mostrou um trecho da obra de Schopenhauer World as Will and Idea na
qual o filósofo procura dar uma explicação da loucura – p. 26;
_ a
teoria da repressão é a pedra angular sobre a qual repousa toda a estrutura da
psicanálise. É a parte mais essencial dela e todavia nada mais é senão a
formulação teórica de um fenômeno que pode ser observado quantas vezes se
desejar se se empreende a análise de um neurótico sem recorrer a hipnose. Em
tais casos encontra-se uma resistência que se opõe ao trabalho da análise e, a
fim de frustrá-lo, alega falha de memória. O uso da hipnose ocultava essa
resistência; por conseguinte, a história da psicanálise propriamente dita só
começa com a nova técnica que dispensa a hipnose. A consideração teórica,
decorrente da coincidência dessa resistência com uma amnésia, conduz
inevitavelmente ao princípio da atividade mental inconsciente, peculiar à
psicanálise, e que também a distingue muito nitidamente das especulações
filosóficas em torno do inconsciente. Assim talvez se possa dizer que a teoria
da psicanálise é uma tentativa de explicar dois fatos surpreendentes e
inesperados que se observam sempre que se tenta remontar os sintomas de um
neurótico a suas fontes no passado: a transferência e a resistência. Qualquer
linha de investigação que reconheça esses dois fatos e os tome como ponto de
partida de seu trabalho tem o direito de chamar-se psicanálise, mesmo que
chegue a resultados diferentes dos meus. Mas quem quer que aborde outros aspectos
do problema, evitando essas duas hipóteses, dificilmente poderá escapar à
acusação de apropriação indébita por tentativa de imitação, se insistir em
chamar-se a si próprio de psicanalista. Eu me oporia com maior ênfase a quem
procurasse colocar a teoria da repressão e da resistência entre as premissas da psicanálise em
vez de colocá-las entre as suas descobertas.
Essas premissas, de natureza psicológica e biológica geral, na verdade existem
e seria útil considerá-las em outra ocasião; mas a teoria da repressão é um
produto do trabalho psicanalítico, uma inferência teórica legitimamente
extraída de inúmeras observações – p. 26/27;
_
outro produto dessa espécie foi a hipótese da sexualidade infantil. Isto,
porém, foi feito numa data muito ulterior. Nos primeiros dias da investigação
experimental pela análise, não se pensou em tal coisa – p. 27;
_ com
a atividade sexual dos primeiros anos de infância também foi reconhecida a
constituição herdada do indivíduo. A disposição e a experiência estão aqui
ligadas numa unidade etiológica indissolúvel, pois a disposição exagera
impressões – que de outra forma teriam sido inteiramente comuns e não teriam
nenhum efeito -, de modo a transformá-las em traumas que dão margem a estímulos
e fixações; por outro lado, as experiências
despertam fatores na disposição que, sem elas, poderiam ter ficado adormecidos
por muito tempo e talvez nunca se desenvolvessem. Abraham (1907) deu a última
palavra sobre a questão da etiologia traumática quando ressaltou que a
constituição sexual peculiar às crianças é calculada precisamente para provocar
experiências sexuais de uma natureza particular, ou seja, traumas – p. 28;
_
pouco preciso dizer sobre a interpretação de sonhos. Surgiu como os prenúncios
da inovação técnica que eu adotara quando, após um vago pressentimento, resolvi
substituir a hipnose pela livre associação. Minha busca de conhecimentos não se
dirigira, de início, para a compreensão dos sonhos. Não sei de nenhuma
influência externa que tivesse atraído meu interesse para esse assunto ou que
me tivesse inspirado qualquer expectativa valiosa. Antes de Breuer e eu nos
separarmos, apenas tinha tido tempo de comunicar-lhe, e numa única frase, que
eu, àquela altura, estava sabendo como traduzir os sonhos. Visto ter sido assim
a descoberta, conclui-se que o simbolismo
na linguagem dos sonhos foi quase a última coisa a tornar-se acessível a mim,
pois as associações da pessoa que sonha nos ajudam muito pouco a compreender
símbolos – p. 29;
_ mais
tarde, descobri a característica essencial e a parte mais importante da minha
teoria dos sonhos, ou seja, que a distorção dos sonhos é conseqüência de um
conflito interno, uma espécie de desonestidade interna– p. 30;
_ eu
próprio me aventurei a abordar pela primeira vez os problemas colocados pela
psicologia da religião traçando um paralelo entre o ritual religioso e os
cerimoniais dos neuróticos (1907b). O Dr. Pfister, pastor em Zurique, remontou
a origem do fanatismo religioso às perversões eróticas, em seu livro sobre a
devoção do Conde von Zinzendorf [1910], bem como em outras contribuições. Nas
últimas obras da escola de Zurique, entretanto, constatamos a presença de idéias
religiosas na análise em lugar do resultado oposto que estivera em vista – p. 46;
_ a
experiência demonstra que apenas pouquíssimas pessoas conseguem manter a linha
– para não falar na objetividade – numa discussão científica, e a impressão que
me causam essas brigas científicas sempre foi odiosa. Essa minha atitude talvez
tenha sido mal interpretada; talvez me tenham julgado de tão boa natureza ou
tão facilmente intimidável que não havia necessidade de se ter consideração por
mim. Isso era um engano; posso insultar e me enfurecer tanto quanto qualquer
um; mas não tenho a arte de expressar essas emoções subjacentes de forma
publicável e, por isso, prefiro abster-me por completo – p. 48;
_ dois
anos depois do primeiro Congresso privado de psicanálise, realizou-se o
segundo, dessa vez em Nuremberg, em março de 1910. No intervalo entre os dois,
influenciado em parte pela boa receptividade obtida nos Estados Unidos, pela
hostilidade cada vez maior nos países de língua alemã e pelo inesperado apoio
da escola de Zurique, fiz um projeto que, com a ajuda de meu amigo Ferenczi,
realizei nesse segundo Congresso. O que tinha em mente era organizar o
movimento psicanalítico, transferir o seu centro para Zurique e dotá-lo de um
chefe que cuidasse de seu futuro. Como esse esquema encontrou muita oposição
entre os partidários da psicanálise, apresentarei, em detalhes, os motivos que
me levaram a formulá-lo. Espero que esses motivos me justifiquem, muito embora
reconheça que o que fiz não foi, na verdade, muito prudente – p. 51;
_ a
primeira tarefa com que se defrontou a psicanálise foi a de explicar as
neuroses; utilizou a resistência e a transferência como pontos de partida e,
levando em consideração a amnésia, explicou os três fatos com as teorias da
repressão, das forças sexuais motivadoras da neurose e do inconsciente. A
psicanálise jamais pretendeu oferecer uma teoria completa da atividade mental
humana em geral, mas esperava apenas que o que ela oferecia pudesse ser
aplicado para suplementar e corrigir o conhecimento adquirido por outros meios.
A teoria de Adler, entretanto, vai muito além disso, procurando de um só golpe
explicar o comportamento e o caráter dos seres humanos bem como de suas doenças
neuróticas e psicóticas – p. 58;
_ a
psicanálise “livre” permaneceu à sombra da psicanálise “oficial”, “ortodoxa”, e
foi tratada simplesmente como um apêndice dela. Adler então tomou uma atitude
pela qual lhe somos gratos; cortou todas as ligações com a psicanálise, e deu a
sua teoria o nome de “Psicologia Individual”. Há bastante espaço nesse mundo de
Deus, e todos têm o direito de perambular nele sem serem impedidos; mas não é
conveniente que pessoas que deixaram de se compreender e que se tornaram
incompatíveis permaneçam sob o mesmo teto. A “Psicologia Individual” de Adler é
agora uma das numerosas escolas de psicologia contrárias à psicanálise e o seu
ulterior desenvolvimento já não nos diz respeito – p. 60;
_ a
psicanálise cedo reconheceu que todo sintoma neurótico deve sua possibilidade
de existência a uma transação. Todo sintoma deve, portanto, de alguma forma
obedecer às exigências do ego, o qual manipula a repressão; deve oferecer
alguma vantagem, ter alguma aplicação proveitosa, ou haveria de ter o mesmo
destino que o próprio impulso instintivo original que foi desviado. A expressão
“vantagem da doença” levou isso em conta; é até justificável que se queira
fazer distinção entre a vantagem “primária” do ego, que deve estar atuante na
ocasião da gênese do sintoma, e uma parte “secundária”, que sobrevém ligada a
outras finalidades do ego, a fim de que o sintoma persista. De há muito se sabe
que a eliminação dessa vantagem da doença, ou seu desaparecimento em
conseqüência da modificação de circunstâncias externas reais, constitui um dos
mecanismos da cura de um sintoma– p. 61;
_ a
visão da vida refletida no sistema adleriano fundamenta-se exclusivamente no
instinto agressivo; nele não há lugar para o amor – p. 65;
_ dos
dois movimentos em discussão, o de Adler é, sem dúvida alguma, o mais
importante; embora radicalmente falso, apresenta consistência e coerência. Além
disso, se baseia, apesar de tudo, numa teoria dos instintos. A modificação de
Jung, por outro lado, afrouxa a conexão dos fenômenos com a vida instintiva; e
além disso, conforme seus críticos (p. ex. Abraham, Ferenczi e Jones)
ressaltaram, é tão obscura, ininteligível e confusa a ponto de se tornar
difícil assumir uma posição em relação a ela. Quando se pensa que se entendeu
alguma coisa, pode-se ficar preparado para ouvir dizer que não se entendeu e
não se pode saber como tirar uma conclusão correta. Tudo é formulado de uma
maneira particularmente vacilante, ora como “uma divergência sutil que não
justifica o escarcéu que se fez em torno dela” (Jung), ora como uma nova
mensagem de salvação que irá iniciar uma nova era para a psicanálise, e mais
ainda, uma nova Weltanschauung
para todos – p. 67;
_ em
lugar de um conflito entre as tendências eróticas ego-distônicas e as
autopreservadoras, surge um conflito entre as “tarefas da vida” e a “inércia
psíquica”; o sentimento de culpa do neurótico corresponde a sua
auto-recriminação por não cumprir adequadamente seu “trabalho de viver”. Dessa
forma, criou-se um novo sistema ético-religioso, que, tal qual o sistema
adleriano, estava destinado a reinterpretar, distorcer ou alijar os achados
efetivos da análise. A verdade é que essas pessoas detectaram algumas nuanças
culturais da sinfonia da vida e mais uma vez não deram ouvidos à poderosa e
primordial melodia dos instintos – p. 70;
_ o
próprio Jung admite isso no seu Darstellung
der psychoanalytischen Theorie [1913] e formula a tarefa da terapia
como o desligamento das catexias libidinais desses complexos. Entretanto, isso
jamais pode ser realizado desviando-se o paciente delas e concitando-o a
sublimar, e sim através do exame exaustivo das mesmas que as torne plena e
completamente conscientes. O primeiro item de realidade com o qual o paciente
deve lidar é a sua doença. Esforços no sentido de poupar-lhe essa tarefa
indicam incapacidade do médico em ajudá-lo a superar suas resistências, ou
então o medo que tem o médico dos resultados do seu trabalho – p. 73;
_
creio ter deixado claro que, pelo contrário, a nova teoria que visa a
substituir a psicanálise significa um abandono da análise e uma deserção da
mesma. Algumas pessoas podem ser inclinadas a temer que essa deserção esteja
fadada a ter conseqüências mais graves para a análise do que outras, devido ao
fato de ter sido iniciada por homens que desempenharam um papel tão grande no
movimento e contribuíram tanto para o seu avanço. Eu não compartilho dessa
apreensão. Os homens são fortes enquanto representam uma idéia forte; se
enfraquecem quando se opõem a ela. A psicanálise sobreviverá a essa perda e a
compensará com a conquista de novos partidários – p. 73;
Sobre
o Narcisismo: uma introdução (1914)
Nota
do editor inglês
_ a
tradução mais literal do título deste artigo seria ‘Sobre a Introdução do
Conceito de Narcisismo’. Freud já vinha empregando o termo há muitos anos.
Sabemos por Ernest Jones (1955, 388) que numa reunião da Sociedade
Psicanalítica de Viena, a 10 de novembro de 1909, Freud havia declarado que o
narcisismo era uma fase intermediária necessária entre o auto-erotismo e o amor
objetal – p. 77;
Sobre
o Narcisismo: uma introdução
_ o
termo narcisismo deriva da descrição clínica e foi escolhido por Paul Näcke em
1899 para denotar a atitude de uma pessoa que trata seu próprio corpo da mesma
forma pela qual o c.orpo de um objeto sexual é comumente tratado – que o
contempla, vale dizer, o afaga e o acaricia até obter satisfação completa
através dessas atividades. Desenvolvido até esse grau, o narcisismo passa a
significar uma perversão que absorveu a totalidade da vida sexual do indivíduo,
exibindo, conseqüentemente, as características que esperamos encontrar no
estudo de todas as perversões. Observadores psicanalíticos foram
subseqüentemente surpreendidos pelo fato de que aspectos individuais da atitude
narcisista são encontrados em muitas pessoas que sofrem de outras perturbações
– por exemplo, conforme Sadger ressaltou, em homossexuais -, e finalmente
afigurou-se provável que uma localização da libido que merecesse ser descrita
como narcisismo talvez estivesse presente em muito maior extensão, podendo
mesmo reivindicar um lugar no curso regular do desenvolvimento sexual humano.
Dificuldades do trabalho psicanalítico em neuróticos conduziram à mesma
suposição, pois parecia que, neles, essa espécie de atitude narcisista
constituía um dos limites à sua susceptibilidade à influência. O narcisismo
nesse sentido não seria uma perversão, mas o complemento libidinal do egoísmo
do instinto de autopreservação, que, em certa medida, pode justificavelmente
ser atribuído a toda criatura viva – p. 81;
_ um
motivo premente para nos ocuparmos com a concepção de um narcisismo primário e
normal surgiu quando se fez a tentativa de incluir o que conhecemos da demência
precoce (Kraepelin) ou da esquizofrenia (Bleuler) na hipótese da teoria da
libido. Esse tipo de pacientes, que eu propus fossem denominados de
parafrênicos, exibem duas características fundamentais: megalomania e desvios
de seu interesse do mundo externo – de pessoas e coisas. Em conseqüência da
segunda modificação, tornam-se inacessíveis à influência da psicanálise e não
podem ser curados por nossos esforços. Mas o afastamento do parafrênico do
mundo externo necessita ser mais precisamente caracterizado. Um paciente que
sofre de histeria ou de neurose obsessiva, enquanto sua doença persiste, também
desiste de sua relação com a realidade. Mas a análise demonstra que ele de modo
algum corta suas relações eróticas com as pessoas e as coisas. Ainda as retém
na fantasia, isto é, ele substitui, por um lado, os objetos imaginários de sua
memória por objetos reais, ou mistura os primeiros com os segundos, e, por
outro, renuncia à iniciação das atividades motoras para a obtenção de seus objetivos
relacionados àqueles objetos. Essa é a única condição da libido a que podemos
legitimamente aplicar o termo ‘introversão’ da libido, empregado por Jung
indiscriminadamente. Com o parafrênico a situação é diferente. Ele parece
realmente ter retirado sua libido de pessoas e coisas do mundo externo, sem
substituí-las por outras na fantasia. Quando realmente as substitui, o
processo parece ser secundário e constituir parte de uma tentativa de
recuperação, destinada a conduzir a libido de volta a objetos. Surge a questão:
Que acontece à libido que foi afastada dos objetos externos na esquizofrenia? A
megalomania característica desses estados aponta o caminho. Essa megalomania,
sem dúvida, surge a expensas da libido objetal. A libido afastada do mundo externo
é dirigida para o ego e assim dá margem a uma atitude que pode ser denominada
de narcisismo. Mas a própria megalomania não constitui uma criação nova; pelo
contrário, é, como sabemos, ampliação e manifestação mais clara de uma condição
que já existia previamente. Isso nos leva a considerar o narcisismo que surge
através da indução de catexias objetais como sendo secundário, superposto a um
narcisismo primário que é obscurecido por diversas influências diferentes – p. 82;
_ essa
extensão da teoria da libido – em minha opinião, legítima – recebe reforço de
um terceiro setor, a saber, de nossas observações e conceitos sobre a vida
mental das crianças e dos povos primitivos. Nos segundos, encontramos
características que, se ocorressem isoladamente, poderiam ser atribuídas à
megalomania: uma superestima do poder de seus desejos e atos mentais, a
‘onipotência de pensamentos’, uma crença na força taumatúrgica das palavras, e
uma técnica para lidar com o mundo externo – ‘mágica’ – que parece ser uma
aplicação lógica dessas premissas grandiosas. Nas crianças de hoje, cujo
desenvolvimento é muito mais obscuro para nós, esperamos encontrar uma atitude
exatamente análoga em relação ao mundo externo. Assim, formamos a idéia de que
há uma catexia libidinal original do ego, parte da qual é posteriormente
transmitida a objetos, mas que fundamentalmente persiste e está relacionada com
as catexias objetais, assim como o corpo de uma ameba está relacionado com os
pseudópodes que produz – p. 83;
_ a
separação dos instintos sexuais dos instintos do ego simplesmente refletiria
essa função dúplice do indivíduo – p. 86;
_ ao
avaliar a influência da doença orgânica sobre a distribuição da libido, sigo
uma sugestão que me foi feita verbalmente por Sándor Ferenczi. É do
conhecimento de todos, e eu o aceito como coisa natural, que uma pessoa
atormentada por dor e mal-estar orgânico deixa de se interessar pelas coisas do
mundo externo, na medida em que não dizem respeito a seu sofrimento. Uma
observação mais detida nos ensina que ela também retira o interesse libidinal
de seus objetos amorosos: enquanto sofre, deixa de amar. A banalidade desse
fato não justifica que deixemos de traduzi-lo nos termos da teoria da libido.
Devemos então dizer: o homem enfermo retira suas catexias libidinais de volta
para seu próprio ego, e as põe para fora novamente quando se recupera.
‘Concentrada está a sua alma’, diz Wilhelm Busch a respeito do poeta que sofre
de dor de dentes, ‘no estreito orifício do molar’. Aqui a libido e o interesse
do ego partilham do mesmo destino e são mais uma vez indistiguíveis entre si –
p. 89;
_ além
disso, visto já estarmos familiarizados com a idéia de que o mecanismo do
adoecer e da formação de sintomas nas neuroses de transferência – o caminho da
introversão para a regressão – deve ficar vinculado a um represamento da libido
objetal, podemos também ficar mais perto da idéia de um represamento da libido
do ego, e podemos estabelecer uma relação dessa idéia com os fenômenos da
hipocondria e da parafrenia – p. 91;
_
contentar-me-ei com a reposta de que o desprazer é sempre a expressão de um
grau mais elevado de tensão, e que, portanto, o que ocorre é que uma quantidade
no campo dos acontecimentos materiais é transformada, aqui como em outros
lugares, na qualidade psíquica do desprazer. Não obstante, talvez o fator
decisivo para a geração do desprazer não seja a magnitude absoluta do
acontecimento material, mas antes alguma função específica dessa magnitude
absoluta. Aqui podemos até mesmo aventurar-nos a abordar a questão de saber o
que torna absolutamente necessário para a nossa vida mental ultrapassar os
limites do narcisismo e ligar a libido a objetos. A resposta decorrente de
nossa linha de raciocínio mais uma vez seria a de que essa necessidade surge
quando a catexia do ego com a libido excede certa quantidade. Um egoísmo forte
constitui uma proteção contra o adoecer, mas, num último recurso, devemos
começar a amar a fim de não adoecermos, e estamos destinados a cair doentes se,
em conseqüência da frustração, formos incapazes de amar – p. 92;
_
reconhecemos nosso aparelho mental como sendo, acima de tudo, um dispositivo
destinado a dominar as excitações que de outra forma seriam sentidas como
aflitivas ou teriam efeitos patogênicos. Sua elaboração na mente auxilia de
forma marcante um escoamento das excitações que são incapazes de descarga
direta para fora, ou para as quais tal descarga é, no momento, indesejável. No
primeiro caso, contudo, é indiferente que esse processo interno de elaboração
seja efetuado em objetos reais ou imaginários. A diferença não surge senão
depois – caso a transferência da libido para objetos irreais (introversão)
tenha ocasionado seu represamento. Nos parafrênicos, a megalomania permite uma
semelhante elaboração interna da libido que voltou ao ego; talvez apenas quando
a megalomania falhe, o represamento da libido no ego se torne patogênico e
inicie o processo de recuperação que nos dá a impressão de ser uma doença – p. 92;
_
descobrimos, de modo especialmente claro, em pessoas cujo desenvolvimento
libidinal sofreu alguma perturbação, tais como pervertidos e homossexuais, que
em sua escolha ulterior dos objetos amorosos elas adotaram como modelo não sua
mãe mas seus próprios eus. Procuram inequivocamente a si mesmas como um objeto
amoroso, e exibem um tipo de escolha objetal que deve ser denominado
‘narcisista’. Nessa observação, temos o mais forte dos motivos que nos levaram
a adotar a hipótese do narcisismo – p. 94;
_ sabemos
que os impulsos instintuais libidinais sofrem a vicissitude da repressão
patogênica se entram em conflito com as idéias culturais e éticas do indivíduo.
Com isso, nunca queremos dizer que o indivíduo em questão dispõe de um
conhecimento meramente intelectual da existência de tais idéias; sempre
queremos dizer que ele as reconhece como um padrão para si próprio,
submetendo-se às exigências que elas lhe fazem. A repressão, como dissemos,
provém do ego; poderíamos dizer com maior exatidão que provém do amor-próprio
do ego – p. 100;
_ além
disso, a formação de um ideal do ego e a sublimação se acham relacionadas, de
forma bem diferente, à causação da neurose. Como vimos, a formação de um ideal
aumenta as exigências do ego, constituindo o fator mais poderoso a favor da
repressão; a sublimação é uma saída, uma maneira pela qual essas exigências
podem ser atendidas sem envolver repressão – p. 101/102;
_ em
primeiro lugar, parece-nos que a auto-estima expressa o tamanho do ego; os
vários elementos que irão determinar esse tamanho são aqui irrelevantes. Tudo o
que uma pessoa possui ou realiza, todo remanescente do sentimento primitivo de
onipotência que sua experiência tenha confirmado, ajuda-a a aumentar sua
auto-estima. Aplicando nossa distinção entre os instintos sexuais e os do ego,
devemos reconhecer que a auto-estima depende intimamente da libido narcisista.
Aqui somos apoiados por dois fatos fundamentais: o de que, nos parafrênicos, a
auto-estima aumenta, enquanto que nas neuroses de transferência ela se reduz; e
o de que, nas relações amorosas, o fato de não ser amado reduz os sentimentos
de auto-estima, enquanto que o de ser amado os aumenta. Como já tivemos ocasião
de assinalar, a finalidade e satisfação em uma escolha objetal narcisista
consiste em ser amado – p. 104;
_ O
ideal do ego impõe severas condições à satisfação da libido por meio de
objetos, pois ele faz com que alguns deles sejam rejeitados por seu censor como
sendo incompatíveis onde não se formou tal ideal, a tendência sexual em questão
aparece inalterada na personalidade sob a forma de uma perversão. Tornar a ser
seu próprio ideal, como na infância, no que diz respeito às tendências sexuais
não menos do que às outras – isso é o que as pessoas se esforçam por atingir
como sendo sua felicidade. O estar apaixonado consiste num fluir da libido do
ego em direção ao objeto. Tem o poder de remover as repressões e de reinstalar
as perversões. Exalta o objeto sexual transformando-o num ideal sexual. Visto
que, com o tipo objetal (ou tipo de ligação), o estar apaixonado ocorre em
virtude da realização das condições infantis para amar, podemos dizer que
qualquer coisa que satisfaça essa condição é idealizada. O ideal sexual pode
fazer parte de uma interessante relação auxiliar com o ideal do ego. Ele pode
ser empregado para satisfação substitutiva onde a satisfação narcisista
encontra reais entraves. Nesse caso, uma pessoa amará segundo o tipo narcisista
de escolha objetal: amará o que foi outrora e não é mais, ou então o que possui
as excelências que ela jamais teve (cf. (c) [ver em [1]]). A fórmula paralela à
que se acaba de mencionar diz o seguinte: o que possui a excelência que falta
ao ego para torná-lo ideal é amado. Esse expediente é de especial importância
para o neurótico, que, por causa de suas excessivas catexias objetais, é
empobrecido em seu ego, sendo incapaz de realizar seu ideal do ego. Ele procura
então retornar, de seu pródigo dispêndio da libido em objetos, ao narcisismo,
escolhendo um ideal sexual segundo o tipo narcisista que possui as excelências
que ele não pode atingir. Isso é a cura pelo amor, que ele geralmente prefere à
cura pela análise – p. 107;
Artigos
sobre Metapsicologia (1915)
Introdução
do editor inglês
Os
instintos e suas vicissitudes
_
ouvimos com freqüência a afirmação de que as ciências devem ser estruturadas em
conceitos básicos claros e bem definidos. De fato, nenhuma ciência, nem mesmo a
mais exata, começa com tais definições. O verdadeiro início da atividade científica
consiste antes na descrição dos fenômenos, passando então a seu agrupamento,
sua classificação e sua correlação – p. 175;
_ chegamos
assim à natureza essencial dos instintos, considerando em primeiro lugar suas
principais características – sua origem em fontes de estimulação dentro do
organismo e seu aparecimento como uma força constante – e disso deduzimos uma
de suas outras características, a saber, que nenhuma ação de fuga prevalece
contra eles. (...) Esse postulado é de natureza biológica e utiliza o conceito
de ‘finalidade’ (ou talvez de conveniência), podendo ser enunciado da seguinte
maneira: o sistema nervoso é um aparelho que tem por função livrar-se dos
estímulos que lhe chegam, ou reduzi-los ao nível mais baixo possível; ou que,
caso isso fosse viável, se manteria numa condição inteiramente não-estimulada.
Não façamos objeção por enquanto à indefinição dessa idéia e atribuamos ao
sistema nervoso a tarefa – falando em termos gerais – de dominar estímulos. Vemos
então até que ponto o modelo simples do reflexo fisiológico se complica com a
introdução dos instintos. Os estímulos externos impõem uma única tarefa: a de
afastamento; isso é realizado por movimentos musculares, um dos quais
finalmente atinge esse objetivo e, sendo o movimento conveniente, torna-se a
partir daí uma disposição hereditária. Não podemos aplicar esse mecanismo aos
estímulos instintuais, que se originam de dentro do organismo – p. 125/126;
_
considerações sobre o princípio do prazer – p. 126;
_
considerações sobre a finalidade, objeto e fonte de um instinto – p. 128;
_
considerações sobre a sublimação – p. 131;
_ o
retorno de um instinto em direção ao próprio eu (self) do indivíduo se torna plausível pela
reflexão de que o masoquismo é, na realidade, o sadismo que retorna em direção
ao próprio ego do indivíduo, e de que o exibicionismo abrange o olhar para o
seu próprio corpo. A observação analítica, realmente, não nos deixa duvidar de
que o masoquista partilha da fruição do assalto a que é submetido e de que o
exibicionista partilha da fruição de [a visão de] sua exibição. A essência do
processo é, assim, a mudança do objeto,
ao passo que a finalidade permanece inalterada. Não podemos deixar de observar,
contudo, que, nesses exemplos, o retorno em direção ao eu do indivíduo e a
transformação da atividade em passividade convergem ou coincidem – p. 132;
_
talvez cheguemos a uma melhor compreensão dos vários opostos do amar, se
refletirmos que nossa vida mental como um todo se rege por três polaridades,
as antíteses: Sujeito (ego) – Objeto (mundo externo); Prazer – Desprazer, e
Ativo – Passivo – p. 138;
_ é
digno de nota que no uso da palavra ‘ódio’ não aparece essa conexão íntima com
o prazer sexual e a função sexual. A relação de desprazer parece ser a única decisiva. O ego
odeia, abomina e persegue, com intenção de destruir, todos os objetos que
constituem uma fonte de sensação desagradável para ele, sem levar em conta que
significam uma frustração quer da satisfação sexual, quer da satisfação das
necessidades autopreservativas. Realmente, pode-se asseverar que os verdadeiros
protótipos da relação de ódio se originam não da vida sexual, mas da luta do
ego para preservar-se e manter-se – p. 142/143;
_ considerações
sobre a gênese do amor e do ódio – p. 143;
_
podemos resumir dizendo que o traço essencial das vicissitudes sofridas pelos
instintos está na sujeição dos
impulsos instintuais às influências das três grandes polaridades que dominam a
vida mental. Dessas três polaridades podemos descrever a da
atividade-passividade como a biológica,
a do ego-mundo externo como a real,
e finalmente a do prazer-desprazer como a polaridade econômica – p. 144;
Repressão
(1915)
Nota
do editor inglês
_ em
sua ‘História do Movimento Psicanalítico’ (1914d), Freud declarou que ‘a teoria
da repressão é pedra angular sobre a qual repousa toda a estrutura da
psicanálise’ (ver em [1] acima); e no presente ensaio, juntamente com a Seção
IV do artigo sobre ‘O Inconsciente’ que a ela se segue (ver em [1] e segs.),
oferece-nos sua formulação mais elaborada dessa teoria. O conceito de repressão
remonta historicamente aos primórdios da psicanálise – p. 147;
_
todos esses relatos são unânimes em ressaltar o fato de que o conceito de
repressão foi inevitavelmente sugerido pelo fenômeno clínico da resistência,
que por sua vez foi trazido à luz por uma inovação técnica – a saber, o
abandono da hipnose no tratamento catártico da histeria – p. 148;
Repressão
_ uma
das vicissitudes que um impulso instintual pode sofrer é encontrar resistências
que procuram torná-lo inoperante. Em certas condições, que logo investigaremos
mais detidamente, o impulso passa então para o estado de ‘repressão’ [‘Verdrängung‘].
Se o que estava em questão era o funcionamento de um estímulo externo,
obviamente se deveria adotar a fuga como método apropriado; para o instinto, a
fuga não tem qualquer valia, pois o ego não pode escapar de si próprio. Em dado
período ulterior, se verificará que a rejeição baseada no julgamento (condenação)
constituirá um bom método a ser adotado contra um impulso instintual. A
repressão é uma etapa preliminar da condenação, algo entre a fuga e a
condenação; trata-se de um conceito que não poderia ter sido formulado antes da
época dos estudos psicanalíticos. Não é fácil deduzir em teoria a possibilidade
de algo como a repressão. Por que deve um impulso instintual sofrer uma
vicissitude como essa? Condição necessária para que ela ocorra deve ser, sem
dúvida, que a consecução, pelo instinto, de sua finalidade produza desprazer em
vez de prazer. Contudo, não podemos imaginar facilmente tal eventualidade. Não
existem tais instintos: a satisfação de um instinto é sempre agradável.
Teríamos de supor a existência de certas circunstâncias peculiares, alguma
espécie de processo através do qual o prazer da satisfação se transforma em
desprazer – p. 151;
_ em
conseqüência disso, torna-se condição para repressão que a força motora do
desprazer adquira mais vigor do que o prazer obtido da satisfação. Ademais, a
observação psicanalítica das neuroses de transferência leva-nos a concluir que
a repressão não é um mecanismo defensivo que esteja presente desde o início;
que ela só pode surgir quando tiver ocorrido uma cisão marcante entre a
atividade mental consciente e a inconsciente; e que a essência da repressão consiste
simplesmente em afastar determinada coisa do consciente, mantendo-a à distância.
Esse conceito de repressão ficaria mais completo se supuséssemos que, antes de
a organização mental alcançar essa fase, a tarefa de rechaçar os impulsos
instintuais cabia às outras vicissitudes, às quais os instintos podem estar
sujeitos – por exemplo, a reversão no oposto ou o retorno em direção ao próprio
eu (self) do
sujeito – p. 152;
_ considerações
sobre a correlação entre repressão e inconsciente – p. 152;
_ sob
a influência do estudo das psiconeuroses, que coloca diante de nós os
importantes efeitos da repressão, inclinamo-nos a supervalorizar sua dimensão
psicológica e a esquecer, demasiado depressa, o fato de que a repressão não
impede que o representante instintual continue a existir no inconsciente, se
organize ainda mais, dê origem a derivados, e estabeleça ligações. Na verdade,
a repressão só interfere na relação do representante instintual com um único sistema psíquico, a
saber, o do consciente – p. 153;
_
observações como esta, contudo, permitem-nos notar outras características da
repressão. Ela é não só individual
em seu funcionamento, conforme acabamos de assinalar, como também é
extremamente móbil.
O processo de repressão não deve ser encarado como um fato que acontece uma
vez, produzindo resultados permanentes, tal como, por exemplo, se mata um ser
vivo que, a partir de então, está morto; a repressão exige um dispêndio
persistente de força, e se esta viesse a cessar, o êxito da repressão correria
perigo, tornando necessário um novo ato de repressão. Podemos supor que o
reprimido exerce uma pressão contínua em direção ao consciente, de forma que
essa pressão pode ser equilibrada por uma contrapressão incessante. Assim, a
manutenção de uma repressão acarreta ininterrupto dispêndio de força, ao passo
que sua eliminação, encarada de um ponto de vista econômico, resulta numa
poupança. Incidentalmente, a mobilidade da repressão também encontra expressão
nas características psíquicas do estado do sono, o único a tornar possível a
formação de sonhos. Com o retorno à vida de vigília, as catexias repressivas
absorvidas são mais uma vez expulsas – p. 156;
_
gostaríamos de fazer algumas afirmações genéricas a respeito das vicissitudes
de ambos, coisa que, depois de nos situarmos, será efetivamente possível. A idéia
que representa o instinto passa por uma vicissitude geral que consiste em
desaparecer do consciente, caso fosse previamente consciente, ou em ser
afastada da consciência, caso estivesse prestes a se tornar consciente. Essa
diferença não é importante, correspondendo à mesma coisa que a diferença entre
ordenar a um hóspede indesejável que saia da minha sala de visitas (ou do meu hall
de entrada), e impedir, após reconhecê-lo, que cruze a soleira de minha porta.
O fator quantitativo do representante instintual possui três
vicissitudes possíveis, tal como podemos verificar pelo breve exame das
observações feitas pela psicanálise: ou o instinto é inteiramente suprimido, de
modo que não se encontra qualquer vestígio dele, ou aparece como um afeto que
de uma maneira ou de outra é qualitativamente colorido, ou transformado em
ansiedade. As duas últimas possibilidades nos apontam a tarefa de levar em
conta, como sendo uma vicissitude instintual ulterior, a transformação em
afetos, e especialmente em ansiedade, das energias psíquicas dos instintos.
Recordamos o fato de que o motivo e o propósito da repressão nada mais eram do
que a fuga ao desprazer – p. 158;
_ o
fracasso na repressão do fator quantitativo afetivo põe em jogo o mesmo
mecanismo de fuga, por meio de evitação e proibições, tal como vimos em
funcionamento na formação de fobias histéricas. A rejeição da idéia oriunda do consciente
é, contudo, obstinadamente mantida, porque provoca a abstenção oriunda da ação,
um aprisionamento motor do impulso. Assim, na neurose obsessiva, o trabalho da
repressão se prolonga numa luta estéril e interminável – p. 162;
O Inconsciente
(1915)
Nota
do editor inglês
_ se a
série ‘Artigos Sobre Metapsicologia’ talvez seja considerada como o mais
importante de todos os escritos teóricos de Freud, não há dúvida alguma de que
este ensaio sobre ‘O Inconsciente’ constitui seu ponto culminante – p. 165;
_
deve-se, porém, repetir que Freud não estabeleceu uma mera entidade metafísica.
O que ele fez no Capítulo VII de A
Interpretação de Sonhos foi, por assim dizer, revestir a entidade
metafísica de carne e sangue. Pela primeira vez, revelou o inconsciente, tal
como era, como funcionava, como diferia de outras partes da mente, e quais eram
suas relações recíprocas com elas – p. 168;
O
Inconsciente
_
aprendemos com a psicanálise que a essência do processo de repressão não está
em pôr fim, em destruir a idéia que representa um instinto, mas em evitar que
se torne consciente. Quando isso acontece, dizemos que a idéia se encontra num
estado ‘inconsciente’, e podemos apresentar boas provas para mostrar que,
inclusive quando inconsciente, ela pode produzir efeitos, incluindo até mesmo
alguns que finalmente atingem a consciência. Tudo que é reprimido deve
permanecer inconsciente; mas, logo de início, declaremos que o reprimido não
abrange tudo que é inconsciente. O alcance do inconsciente é mais amplo: o
reprimido não é apenas uma parte do inconsciente. Como devemos chegar a um
conhecimento do inconsciente? Certamente, só o conhecemos como algo consciente,
depois que ele sofreu transformação ou tradução para algo consciente. A cada
dia, o trabalho psicanalítico nos mostra que esse tipo de tradução é possível.
A fim de que isso aconteça, a pessoa sob análise deve superar certas
resistências – resistências como aquelas que, anteriormente, transformaram o
material em questão em algo reprimido rejeitando-o do consciente – p. 169;
I –
Justificação do Conceito de Inconsciente
_
podemos ir além e afirmar, em apoio da existência de um estado psíquico
inconsciente, que, em um dado momento qualquer, o conteúdo da consciência é
muito pequeno, de modo que a maior parte do que chamamos conhecimento
consciente deve permanecer, por consideráveis períodos de tempo, num estado de
latência, isto é, deve estar psiquicamente inconsciente – p. 172;
_ na
psicanálise, não temos outra opção senão afirmar que os processos mentais são
inconscientes em si mesmos, e assemelhar a percepção deles por meio da
consciência à percepção do mundo externo por meio dos órgãos sensoriais – p.
176;
II –
Vários significados de “O Inconsciente” – O ponto de vista topográfico
_
antes de prosseguirmos, enunciemos o fato importante, embora inconveniente, de
que o atributo de ser inconsciente é apenas um dos aspectos do elemento
psíquico, de modo algum bastando para caracterizá-lo. Há atos psíquicos de
valor muito variável que, no entanto, concordam em possuir a característica de
ser inconsciente. O inconsciente abrange, por um lado, atos que são meramente
latentes, temporariamente inconscientes, mas que em nenhum outro aspecto
diferem dos atos conscientes, e, por outro lado, abrange processos tais como os
reprimidos, que, caso se tornassem conscientes, estariam propensos a sobressair
num contraste mais grosseiro com o restante dos processos conscientes – p. 177;
_
nossa topografia psíquica, no
momento, nada tem que ver com a anatomia; refere-se não a
localidades anatômicas, mas a regiões do mecanismo mental, onde quer que
estejam situadas no corpo – p. 179;
_ essa
concepção talvez pareça estranha, mas pode ser apoiada por observações da
prática psicanalítica. Se comunicamos a um paciente uma idéia reprimida por ele
em certa ocasião, mas que conseguimos descobrir, o fato de lhe dizermos isso
não provoca de início qualquer mudança em sua condição mental. Acima de tudo,
não remove a repressão nem anula seus efeitos, como talvez se pudesse esperar
do fato de a idéia previamente inconsciente ter-se tornado agora consciente.
Pelo contrário, tudo o que de início conseguiremos será uma nova rejeição da
idéia reprimida. No entanto, agora, o paciente tem de modo concreto a mesma
idéia, sob duas formas, em diferentes lugares em seu mecanismo mental:
primeiro, ele possui a lembrança consciente do traço auditivo da idéia,
transmitido no que lhe dissemos; segundo, também possui – como temos certeza –
a lembrança inconsciente de sua experiência – em sua forma primitiva.
Realmente, não há supressão de repressão até que a idéia consciente, após as
resistências terem sido vencidas, entre em ligação com o traço de lembrança
inconsciente. Só quando este último se torna consciente é que se alcança o
êxito. Numa consideração superficial, isso pareceria revelar que as idéias
conscientes e inconscientes constituem registros distintos, topograficamente
separados, do mesmo teor – p. 180;
III –
Emoções inconscientes
_ de
fato, sou de opinião que a antítese entre consciente e inconsciente não se
aplica aos instintos. Um instinto nunca pode tornar-se objeto da consciência –
só a idéia que o representa pode. Além disso, mesmo no inconsciente, um
instinto não pode ser representado de outra forma a não ser por uma idéia. Se o
instinto não se prendeu a uma idéia ou não se manifestou como um estado
afetivo, nada poderemos conhecer sobre ele – p. 182;
_ em
geral, o emprego das expressões ‘afeto inconsciente’ e ‘emoção inconsciente’
refere-se a vicissitudes sofridas, em conseqüência da repressão, pelo fator
quantitativo no impulso instintual. Sabemos que três dessas vicissitudes são
possíveis: ou o afeto permanece, no todo ou em parte, como é; ou é transformado
numa quota de afeto qualitativamente diferente, sobretudo em ansiedade; ou é
suprimido, isto é, impedido de se desenvolver. (Essas possibilidades talvez
possam ser estudadas mais facilmente na elaboração dos sonhos do que nas
neuroses.) Sabemos, também, que suprimir o desenvolvimento do afeto constitui a
verdadeira finalidade da repressão, e que seu trabalho ficará incompleto se
essa finalidade não for alcançada. Em todos os casos em que a repressão
consegue inibir o desenvolvimento de afetos, denominamos esses afetos (que
restauramos quando desfazemos o trabalho da repressão) de ‘inconscientes’ – p.
183;
IV –
Topografia e dinâmica da repressão
_
chegamos à conclusão de que a repressão constitui essencialmente um processo
que afeta as idéias na fronteira entre os sistemas Ics. e Pcs. (Cs.).
Podemos fazer agora uma nova tentativa de descrever o processo com maiores
detalhes. Deve tratar-se de uma retirada da catexia; mas a questão é: em
que sistema ocorre a retirada e a que sistema pertence a catexia retirada? A
idéia reprimida permanece capaz de agir no Ics., e deve, portanto, ter
conservado sua catexia. O que foi retirado deve ter sido outra coisa – p. 185;
– esse
outro processo só pode ser encontrado mediante a suposição de uma anticatexia,
por meio da qual o sistema Pcs. se protege da pressão que sofre por
parte da idéia inconsciente. Veremos, por meio de exemplos clínicos, como tal
anticatexia, atuando no sistema Pcs., se manifesta. É isso que
representa o permanente dispêndio [de energia] de uma repressão primeva,
garantindo, igualmente, a permanência dessa repressão. A anticatexia é o único
mecanismo da repressão primeva; no caso da repressão propriamente dita
(‘pressão posterior’) verifica-se, além disso, a retirada da catexia do Pcs.
É bem possível que seja precisamente a catexia retirada da idéia a utilizada
para a anticatexia. Vemos como gradativamente fomos levados a adotar um
terceiro ponto de vista em nosso relato dos fenômenos psíquicos. Além dos
pontos de vista dinâmico e topográfico [ver em [1]], adotamos o econômico.
Este se esforça por levar até as últimas conseqüências as vicissitudes de
quantidades de excitação e chegar pelo menos a uma estimativa relativa
de sua magnitude. Não será descabido dar uma denominação especial a essa
maneira global de considerar nosso tema, pois ela é a consumação da pesquisa
psicanalítica. Proponho que, quando tivermos conseguido descrever um processo
psíquico em seus aspectos dinâmico, topográfico e econômico, passemos a nos
referir a isso como uma apresentação metapsicológica. Devemos afirmar,
de imediato, que no presente estado de nosso conhecimento há apenas alguns
pontos nos quais essa tarefa terá êxito. Esforcemo-nos tentativamente por
apresentar uma descrição metapsicológica do processo de repressão nas três
neuroses de transferência que nos são familiares. Aqui podemos substituir
‘catexia’ por ‘libido’, porque, como sabemos, estaremos lidando com as
vicissitudes dos impulsos sexuais – p. 186;
_ a
fuga de uma catexia consciente da idéia substitutiva se manifesta nas
evitações, nas renúncias e nas proibições, por meio das quais reconhecemos a
histeria de ansiedade – p. 188;
_
nesse processo, a repressão é bem-sucedida num ponto particular: a liberação da
ansiedade pode, até certo ponto, ser represada, mas somente à custa de um
pesado sacrifício da liberdade pessoal. Via de regra, porém, as tentativas de
fuga às exigências do instinto são inúteis, e, apesar de tudo, o resultado da
fuga fóbica permanece insatisfatório – p. 189;
V – As
características especiais do sistema inconsciente
_ o
núcleo do Ics. consiste em representantes instintuais que procuram
descarregar sua catexia; isto é, consiste em impulsos carregados de desejo.
Esses impulsos instintuais são coordenados entre si, existem lado a lado sem se
influenciarem mutuamente, e estão isentos de contradição mútua. Quando dois
impulsos carregados de desejo, cujas finalidades são aparentemente
incompatíveis, se tornam simultaneamente ativos, um dos impulsos não reduz ou
cancela o outro, mas os dois se combinam para formar uma finalidade
intermediária, um meio-termo. Não há nesse sistema lugar para negação, dúvida
ou quaisquer graus de certeza: tudo isso só é introduzido pelo trabalho da
censura entre o Ics. e o Pcs. A negação é um substituto, em grau
mais elevado, da repressão. No Ics. só existem conteúdos catexizados com
maior ou menor força. As intensidades catexiais [no Ics.] são muito mais
móveis. Pelo processo de deslocamento uma idéia pode ceder a outra toda a sua
quota de catexia; pelo processo de condensação pode apropriar-se de toda
a catexia de várias outras idéias. Propus que esses dois processos fossem
considerados como marcos distintivos do assim denominado processo psíquico
primário. No sistema Pcs. o processo secundário é dominante.
Quando se permite que um processo primário siga seu curso em conexão com
elementos que pertencem ao sistema Pcs., ele parece ‘cômico’ e provoca o
riso – p. 191;
_ os
processos do sistema Ics. são intemporais; isto é, não são
ordenados temporalmente, não se alteram com a passagem do tempo; não têm
absolutamente qualquer referência ao tempo. A referência ao tempo vincula-se,
mais uma vez, ao trabalho do sistema Cs. Do mesmo modo os processos Ics.
dispensam pouca atenção à realidade. Estão sujeitos ao princípio do
prazer; seu destino depende apenas do grau de sua força e do atendimento às
exigências da regulação prazer-desprazer. Resumindo: a isenção de
contradição mútua, o processo primário (mobilidade das catexias), a
intemporalidade e a substituição da realidade externa pela psíquica – tais
são as características que podemos esperar encontrar nos processos pertencentes
ao sistema Ics. Os processos inconscientes se tornam cognoscíveis por
nós sob as condições de sonho e neurose – vale dizer, quando os processos do
sistema Pcs., mais elevado, são levados de volta a uma fase anterior, a
um nível mais baixo (pela regressão) – p. 192;
VI –
Comunicação entre os dois sistemas
_ em
suma, deve-se dizer que o Ics. continua naquilo que conhecemos como derivados,
que é acessível às impressões da vida, que influencia constantemente o Pcs., e que, por sua vez,
está inclusive sujeito à influência do Pcs.
– p. 195;
_ a
cada transição de um sistema para o que se encontra imediatamente acima dele
(isto é, cada passo no sentido de uma etapa mais elevada da organização
psíquica), corresponde uma nova censura. Isso, pode-se observar, elimina a
suposição de uma armazenagem contínua de novos registros – p. 196;
_ o
tratamento psicanalítico se baseia numa influência do Ics. a partir da direção do Cs., e pelo menos demonstra
que, embora se trate de uma tarefa laboriosa, não é impossível. Os derivados do
Ics. que agem como
intermediários entre os dois sistemas desvendam o caminho, conforme já
dissemos, para que isso se realize. Contudo, podemos presumir com segurança que
uma alteração espontaneamente efetuada no Ics.
a partir da direção do Cs.
constitui um processo difícil e lento – p. 199;
_ o
conteúdo do Ics,
pode ser comparado à presença de uma população aborígine na mente. Se existem
no ser humano formações mentais herdadas – algo análogo ao instinto nos animais
-, elas constituem o núcleo do Ics.
Depois, junta-se a elas o que foi descartado durante o desenvolvimento da
infância como sendo inútil; e isso não precisa diferir, em sua natureza,
daquilo que é herdado. Em geral, uma divisão acentuada e final entre o conteúdo
dos dois sistemas não ocorre até a puberdade – p. 200;
VII –
Avaliação do inconsciente
_
desde a publicação de uma obra de Abraham (1908) – atribuída por esse
consciencioso escritor à minha instigação -, tentamos basear nossa caracterização
da ‘dementia praecox‘
de Kraepelin (‘esquizofrenia’ de Bleuler) em sua posição relativa à antítese
entre ego e objeto. Nas neuroses de transferência (histeria de ansiedade,
histeria de conversão e neurose obsessiva) nada havia que desse especial proeminência
a essa antítese. Sabíamos, realmente, que a frustração quanto ao objeto
acarreta a irrupção da neurose e que esta envolve uma renúncia ao objeto real;
sabíamos também que a libido que é retirada do objeto real reverte primeiro a
um objeto fantasiado e então a um objeto reprimido (introversão). Mas nessas
perturbações a catexia objetal geralmente é retida com grande energia, e um
exame mais pormenorizado do processo de repressão nos obrigou a presumir que a
catexia objetal persiste no sistema Ics. apesar da repressão – ou antes, em
conseqüência desta. [ver em [1]] Na realidade, a capacidade de transferência,
que usamos com propósitos terapêuticos nessas afecções, pressupõe uma catexia
objetal inalterada – p. 201;
_ é
uma verdade geral que nossa atividade mental se movimenta em duas direções
opostas: ou parte dos instintos e passa através do sistema Ics. até a atividade de
pensamento consciente, ou, começando com uma instigação de fora, passa através
do sistema Cs. e
do Pcs. até
alcançar as catexias do Ics.
do ego e dos objetos – p. 208;
Apêndice
A - Freud e Ewald Hering
Apêndice
B – Paralelismo psicofísico
Apêndice
C – Palavras e coisas
Suplemento
metapsicológico à teoria dos sonhos (1917 [1915])
Nota
do editor inglês
_
Freud argumentava que por si mesmos os ‘processos psíquicos primários’ não
estabelecem qualquer distinção entre uma idéia e uma percepção; precisam, em
primeiro lugar, ser inibidos pelos ‘processos psíquicos secundários’, que, por
sua vez, só podem entrar em ação onde há um ‘ego’ com reserva suficientemente
grande de catexia capaz de suprir a energia necessária para acionar a inibição.
A finalidade da inibição consiste em dar tempo para que ‘indicações de
realidade’ cheguem do aparelho perceptual. Mas, em segundo lugar, além dessa
função inibidora e retardadora, o ego é também responsável por dirigir as
catexias da ‘atenção’ (ver acima, em [1] e nota de rodapé) para o mundo
externo, sem as quais as indicações da realidade não poderiam ser observadas –
p. 226;
Suplemento
metapsicológico à teoria dos sonhos
_ podemos
acrescentar que, quando vão dormir, despem de modo inteiramente análogo suas
mentes, pondo de lado a maioria de suas aquisições psíquicas. Assim, sob ambos
os aspectos, aproximam-se consideravelmente da situação na qual começaram a
vida. Somaticamente, o sono é uma reativação da existência intra-uterina, na
medida em que atende às condições de repouso, calor e exclusão do estímulo; na
realidade, durante o sono muitas pessoas retomam a posição fetal. O estado
psíquico de uma pessoa adormecida se caracteriza por uma retirada quase
completa do mundo circundante e de uma cessação de todo interesse por ele – p.
229;
_
desse modo, sabemos que os sonhos são inteiramente egoístas e que a pessoa que
desempenha o principal papel em suas cenas deve sempre ser reconhecida como
aquela que sonha. Isso é agora facilmente explicado pelo narcisismo do estado
de sono. O narcisismo e o egoísmo, na realidade, coincidem; a palavra
narcisismo destina-se apenas a ressaltar o fato de que o egoísmo é também um
fenômeno libidinal; ou, expressando-o de outra maneira, o narcisismo pode ser
descrito como o complemento libidinal do egoísmo. A capacidade de ‘diagnóstico’
dos sonhos – um fenômeno geralmente reconhecido, mas considerado enigmático –
se torna igualmente compreensível. Nos sonhos, a doença física incipiente é com
freqüência detectada mais cedo e mais claramente do que na vida de vigília, e
todas as sensações costumeiras do corpo assumem proporções gigantescas. Essa
amplificação é por natureza hipocondríaca; depende da retirada de todas as
catexias psíquicas do mundo externo para o ego, tornando possível o
reconhecimento precoce das modificações corporais que, na vida de vigília,
permaneceriam inobservadas ainda por algum tempo – p. 230;
_ a
alucinação traz consigo a crença na realidade – p. 237;
_
considerações sobre teste da realidade – p. 238;
_
situaremos o teste da realidade entre as principais instituições do ego, ao lado das censuras que viemos a
reconhecer entre os sistemas psíquicos, e esperaremos que a análise das
desordens narcisistas nos ajude a trazer à luz outras instituições semelhantes
– p. 240;
_ nos
sonhos, a retirada da catexia (libido ou interesse) afeta igualmente todos os
sistemas; nas neuroses de transferência, a catexia do Pcs. é retirada; na
esquizofrenia, a catexia do Ics.;
na amência, a do Cs.–
p. 241;
Luto e
melancolia (1917 [1915])
Nota
do editor inglês
_ ‘os
impulsos hostis contra os pais (o desejo de que morram) são também um
constituinte integrante das neuroses. Vêm à luz conscientemente como idéias
obsessivas. Na paranóia, o que há de pior nos delírios de perseguição
(desconfiança patológica de governantes e monarcas) corresponde a esses
impulsos. São reprimidos quando a compaixão pelos pais é ativa – nas ocasiões
de sua doença ou morte. Em tais ocasiões, é uma manifestação de luto
recriminar-se a si próprio pela morte deles (o que se conhece como melancolia)
ou punir-se a si mesmo de uma maneira histérica (por intermédio da idéia de
retribuição) com os mesmos estados [de doença] que tenham tido. A identificação
que ocorre aqui, como podemos ver, não passa de uma modalidade de pensar e não
nos exime da necessidade de procurar o motivo’ – p. 246;
Luto e
melancolia
_ a
correlação entre a melancolia e o luto parece ser justificada pelo quadro geral
dessas duas condições. Além disso, as causas excitantes devidas a influências
ambientais são, na medida em que podemos discerni-las, as mesmas para ambas as
condições. O luto, de modo geral, é a reação à perda de um ente querido, à perda
de alguma abstração que ocupou o lugar de um ente querido, como o país, a
liberdade ou o ideal de alguém, e assim por diante. Em algumas pessoas, as
mesmas influências produzem melancolia em vez de luto; por conseguinte,
suspeitamos de que essas pessoas possuem uma disposição patológica – p. 249;
_ os
traços mentais distintivos da melancolia são um desânimo profundamente penoso,
a cessação de interesse pelo mundo externo, a perda da capacidade de amar, a
inibição de toda e qualquer atividade, e uma diminuição dos sentimentos de
auto-estima a ponto de encontrar expressão em auto-recriminação e
auto-envilecimento, culminando numa expectativa delirante de punição. Esse
quadro torna-se um pouco mais inteligível quando consideramos que, com uma
única exceção, os mesmos traços são encontrados no luto. A perturbação da
auto-estima está ausente no luto; afora isso, porém, as características são as
mesmas – p. 250;
_ é
assim que encontramos a chave do quadro clínico: percebemos que as
auto-recriminações são recriminações feitas a um objeto amado, que foram
deslocadas desse objeto para o ego do próprio paciente– p. 254;
_ via
de regra, em ambas as desordens, os pacientes ainda conseguem, pelo caminho
indireto da autopunição, vingar-se do objeto original e torturar o ente amado
através de sua doença, à qual recorrem a fim de evitar a necessidade de
expressar abertamente sua hostilidade para com ele – p. 257;
_ de
há muito, é verdade, sabemos que nenhum neurótico abriga pensamentos de
suicídio que não consistam em impulsos assassinos contra outros, que ele volta
contra si mesmo, mas jamais fomos capazes de explicar que forças interagem para
levar a cabo esse propósito. A análise da melancolia mostra agora que o ego só
pode se matar se, devido ao retorno da catexia objetal, puder tratar a si mesmo
como um objeto – se for capaz de dirigir contra si mesmo a hostilidade
relacionada a um objeto, e que representa a reação original do ego para com
objetos do mundo externo. Assim, na regressão desde a escolha objetal narcisista,
é verdade que nos livramos do objeto; ele, não obstante, se revelou mais
poderoso do que o próprio ego. Nas duas situações opostas, de paixão intensa e
de suicídio, o ego é dominado pelo objeto, embora de maneiras totalmente
diferentes – p. 257;
_ a
proeminência do medo de ficar pobre, parece plausível supor que se origina do
erotismo anal que foi arrancado de seu contexto e alterado num sentido
regressivo – p. 258;
_ a
característica mais notável da melancolia, e aquela que mais precisa de explicação,
é a sua tendência a se transformar em mania – p. 259;
Um
caso de paranoia que contraria a teoria psicanalítica da doença [(1915)]
Nota
do editor inglês
_ A
anamnese apresentada neste artigo serve como confirmação ao conceito formulado
por Freud em sua análise de Schreber (1911c), segundo o qual existe estreita
ligação entre a paranóia e o homossexualismo. Constitui, incidentalmente, uma
lição objetiva para clínicos quanto ao perigo de fundamentarem uma opinião
apressada sobre um caso num conhecimento superficial dos fatos – p. 269;
Um
caso de paranoia que contraria a teoria psicanalítica da doença
_ já
se expressara, na literatura psicanalítica, o conceito de que os pacientes que
sofrem de paranóia lutam contra uma intensificação de suas tendências homossexuais
– fato que aponta para uma escolha objetal narcisista. E posteriormente já se
fizera uma outra interpretação: que o perseguidor é, no fundo, alguém que o
paciente ama ou já amou no passado. Uma síntese das duas proposições nos
levaria à conclusão necessária de que o perseguidor deve ser do mesmo sexo que
a pessoa perseguida. Não sustentamos, é verdade, como universalmente válida e
sem exceção, a tese de que a paranóia é determinada pelo homossexualismo, mas
isso apenas porque nossas observações não eram suficientemente numerosas;
tratava-se de uma dessas teses que, em vista de certas considerações, só se
tornam importantes quando se pode reivindicar para elas uma aplicação
universal. Na literatura psiquiátrica, por certo, não faltam casos em que o paciente
se imagina perseguido por uma pessoa de sexo oposto. Uma coisa, contudo, é ler
a respeito de tais casos, e outra bem diversa é entrar em contato pessoal com
um deles. Minhas próprias observações e análises, e as dos meus amigos, haviam
até então confirmado a relação entre a paranóia e o homossexualismo sem
qualquer dificuldade. Mas o presente caso contradizia isso com toda ênfase. A
moça parecia estar-se defendendo contra o amor por um homem, transformando
diretamente o amante num perseguidor: não havia sinais da influência de uma
mulher, nenhum vestígio de luta contra uma ligação homossexual – p. 273;
_
quando uma mãe obsta ou detém a atividade sexual de uma filha, está realizando
uma função normal cujos fundamentos são estabelecidos pelos eventos na
infância, cujos motivos são perigosos e inconscientes, e que recebeu a sanção
da sociedade. Constitui tarefa da filha emancipar-se dessa influência e
resolver por si mesma, num terreno amplo e racional, qual deverá ser sua
parcela de fruição ou negação do prazer sexual. Se, na tentativa de
emancipar-se, vier a ser vítima de uma neurose, isso implica a presença de um
complexo materno que, em geral, é superpoderoso e por certo não dominado. O
conflito entre esse complexo e a nova direção tomada pela libido é tratado sob
a forma de uma ou outra neurose, segundo a disposição do indivíduo. A
manifestação da reação neurótica será sempre determinada, contudo, não por sua
relação atual com o que sua mãe é hoje, mas pelas relações infantis com sua
imagem mais antiga da mãe – p. 275;
Reflexões
para os tempos de guerra e morte (1915)
I – A
desilusão da guerra
_ as
guerras jamais podem cessar enquanto as nações viverem sob condições tão
amplamente diferentes, enquanto o valor da vida individual for tão diversamente
apreciado entre elas, e enquanto as animosidades que as dividem representarem
forças motrizes tão poderosas na mente – p. 285/286;
_
referência a Parnaso e a Escola de Atenas – p. 287;
– o
Estado proíbe ao indivíduo a prática do mal, não porque deseja aboli-la, mas
porque deseja monopolizá-la, tal como o sal e o fumo – p. 289;
_ na
realidade, não existe essa erradicação do mal. A pesquisa psicológica – ou,
falando mais rigorosamente, psicanalítica – revela, ao contrário, que a
essência mais profunda da natureza humana consiste em impulsos instintuais de
natureza elementar, semelhantes em todos os homens e que visam a satisfação de
certas necessidades primevas. Em si mesmos, esses impulsos não são bons e nem
maus – p. 290;
_
raramente um ser humano é totalmente bom ou mau; via de regra ele é bom em
relação a determinada coisa e mau em relação a outra, ou bom em certar
circunstâncias externas e em outras indiscutivelmente mau. É interessante
verificar que na primeira infância, a preexistência de certos impulsos maus
constitui muitas vezes a condição para uma inequívoca inclinação no sentido do
bom no adulto. Aqueles que, enquanto criança, foram os mais pronunciados
egoístas, podem muito bem tornar-se os mais prestimosos e abnegados membros da
comunidade; a maioria dos sentimentalistas, amigos da humanidade e protetores
de animais, evoluíram de pequenos sádicos e atormentadores de animais – p. 291;
_
considerações sobre a transformação dos maus instintos – p. 291/292;
_ as
etapas primitivas sempre podem ser restabelecidas; a mente primitiva é, no
sentido mais pleno desse termo, imperecível – p. 295;
_ a
essência da doença mental reside num retorno a estados anteriores de vida
afetiva e de funcionamento – p. 295;
_ os
estudiosos da natureza humana e os filósofos de há muito nos ensinaram que nos
enganamos ao considerar nossa inteligência uma força independente e ao
negligenciar sua dependência em relação a vida emocional. Nosso intelecto,
segundo nos ensinam, só pode funcionar de uma maneira digna de confiança quando
afastado das influências de fortes impulsos emocionais; do contrário,
comporta-se simplesmente como um instrumento da vontade e fornece a
interferência que a vontade exige. Assim, na opinião deles, os argumentos
lógicos são impotentes contra os interesses afetivos – p. 296;
II –
Nossa atitude para com a morte
_ os
filósofos declararam que o enigma intelectual apresentado ao homem primevo pelo
quadro da morte forçou-o à reflexão; tornando-se assim o ponto de partida de
toda especulação – p. 303;
_ só mais
tarde as religiões conseguiram representar essa vida futura como a mais
desejável, a única verdadeiramente válida, a reduzir a vida que termina com a
morte a uma mera preparação. Depois disso, passou a ser apenas coerente
estender a vida para trás até o passado, elaborar a noção de existências
pretéritas, da transmigração das almas e da reencarnação, tudo com a finalidade
de despojar a morte de seu significado de término da vida – p. 305;
_
nosso inconsciente, portanto, não crê em sua própria morte, comporta-se como se
fosse imortal. O que chamamos de nosso inconsciente – as camadas mais profundas
de nossas mentes, compostas de impulsos instintuais – desconhece tudo o que é
negativo e toda e qualquer negação; nele as contradições coincidem. Por esse motivo,
não conhece sua própria morte, pois a isso só podemos dar um conteúdo negativo –
p. 306;
_ cada
agravo a nosso ego todo-poderoso e autocrático é, no fundo, um crime de
lesa-majestade – p. 307;
_
poder-se-ia dizer que devemos as mais belas florações de nosso amor à reação
contra o impulso hostil que sentimos dentro de nós – p. 309;
_ em
suma: nosso inconsciente é tão inacessível à ideia de nossa própria morte, tão
inclinado ao assassinato em relação a estranhos, tão dividido (isto é,
ambivalente) para com aqueles que amamos, como era o homem primevo – p. 309;
_
tolerar a vida continua a ser, afinal de contas, o primeiro dever de todos os
seres vivos. A ilusão perderá todo o seu valor, se tornar isso mais difícil
para nós – p. 310;
Apêndice
Carta
a Frederik Van Eeden
_ A
psicanálise inferiu dos sonhos e das parapraxias das pessoas saudáveis, bem
como dos sintomas dos neuróticos, que os impulsos primitivos, selvagens e maus
da humanidade não desaparecem em qualquer dos seus membros individuais, mas
persistem, embora num estado reprimido, no inconsciente e aguardam as
oportunidades para se tornarem ativos mais uma vez. Ela nos ensinou, ainda, que
nosso intelecto é algo débil e dependente, um joguete e um instrumento de
nossos instintos e afetos, e que todos nós somos compelidos a nos comportar
inteligente ou estupidamente, de acordo com as ordens de nossas atitudes
emocionais e resistências internas – p. 311;
Sobre
a transitoriedade (1916[1915])
_ o
valor da transitoriedade é o valor da escassez no tempo. A limitação da
possibilidade de uma fruição eleva o valor dessa fruição. Era incompreensível,
declarei, que o pensamento sobre a transitoriedade da beleza interferisse na
alegria que dela derivamos – p. 317;
_ a
mente instintivamente recua de algo que lhe é penoso – p. 318;
Alguns
tipos de caráter encontrados no trabalho psicanalítico (1916)
I – As
exceções
_ o
trabalho psicanalítico continuamente se defronta com a tarefa de induzir o
paciente a renunciar a uma dose imediata e diretamente atingível de prazer
(...) Em outras palavras, sob a orientação do médico, pede-se a ele que avance
do princípio do prazer para o princípio da realidade pelo qual o ser humano
maduro se distingue de uma criança – p. 326;
_ suas
neuroses se ligavam a alguma experiência ou sofrimento a que estiveram sujeito
em sua primeira infância, e em relação as quais eles próprios sabiam não ter
culpa, podendo encará-los a uma desvantagem injusta a eles imposta – p. 327;
II –
Arruinados pelo êxito
_ para
que uma neurose seja gerada, deve haver um conflito entre os desejos libidinais
de uma pessoa e a parte de sua personalidade que denominamos de ego, que é a
expressão de seu instinto de autopreservação e que também abrange os ideais de
sua personalidade – p. 331;
_ há
casos em que as pessoas adoecem precisamente no momento em que um desejo
profundamente enraizado e de há muito alimentado atinge a realização. Então, é
como se elas não fossem capazes de tolerar a sua felicidade, pois não pode
haver dúvida de que existe uma ligação causal entre seu êxito e o fato de
adoecerem – p. 331;
_
considerações sobre o sentimento de culpa – p. 343/344;
_ o
trabalho psicanalítico nos ensina que as forças da consciência que induzem à
doença, em consequência do êxito, em vez de, como normalmente, em consequência
da frustração, se acham intimamente relacionadas com o complexo de Édipo, a
relação com o pai e a mãe – como talvez, na realidade, se ache o nosso
sentimento de culpa em geral – p. 346;
III –
Criminosos em consequência de um sentimento de culpa
_ o
trabalho analítico trouxe a surpreendente descoberta de que tais ações eram
praticadas principalmente por serem proibidas e por sua execução acarretar,
para seu autor, um alívio mental. Este sofria de um opressivo sentimento de
culpa, cuja origem não conhecia, e, após praticar uma ação má, essa opressão se
atenuava. Seu sentimento de culpa estava pelo menos ligado a algo – p. 347;
Breves
escritos (1915-1916)
Um
paralelo mitológico com uma obsessão visual (1916)
_ num
paciente com cerca de vinte e um anos de idade, os produtos da atividade mental
inconsciente tornavam-se conscientes não apenas em pensamentos obsessivos, mas
também em imagens obsessivas – p. 351;
_
considerações sobre o erotismo anal – p. 351;
Uma
ligação entre um símbolo e um sintoma
Carta
à Dra. Hermine Von Hug-Hellmuth
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