Gigantes amarelos eram
aqueles girassóis do campo. Como o próprio nome sugere buscavam incansavelmente
pelo Sol e, por isso, todos os dias se firmavam diante do astro rei e giravam
em acrobacias num diurno balé fascinante.
Certa noite, entrementes, a
Lua, com inveja do Sol e inconformada com o desprezo daquelas flores, acordou
os girassóis e propôs a eles que lhe devotassem a mesma importância que
devotavam ao Sol.
- Veja que confortável não
ter que passar horas a se contorcer em busca de migalhas de raios de Sol? Ao
invés de procurar o Sol, eu é que vos buscareis e, com meus raios prateados,
iluminarei o dourado de vossas pétalas, propôs.
Os girassóis mais novos, de
certa forma revoltados com o inquestionável destino de submissão ao Sol, resolveram
acatar o aliciamento da Lua. De dia, em revide, ficavam fechados em copas e à
noite se abriam aos primeiros raios de Luar, em uma total transgressão das leis
naturais que regem os girassóis.
Tudo parecia correr muito
bem até que, cumprindo a ordem das coisas, era chegada a Lua Nova e, com ela, a
escuridão no firmamento.
Os girassóis, naquela noite,
não conseguiram desabrochar, ao revés, murcharam ante a ausência de
luminosidade. O Sol, como de costume, bem cedinho em sua aurora, resplandeceu sem
se importar com a decepção dos girassóis que ingenuamente acreditaram na ilusão
de um reflexo.
_ Pobres inocentes girassóis,
não se deram conta de que só há um guardião da luz.
Só então aquelas flores
compreenderam, como num clarão de lucidez, que nascemos predestinados à luz,
mas os eclipses da vida podem nos levar a caminhos ermos, obscuros, ludibriados
que somos por aparências e caprichos disfarçados em formas de desejos que nunca
se realizam porque acaso conquistados deixam de ser desejos e se transmudam em um
pretérito esvaziado pela posse daquilo que se quis.
Querer ser Luz é conhecer a
silhueta de sua própria escuridão de forma a não mais temer a sombra e entender
que a vida deve ser vivida como um balé de girassóis que não se pode deixar
enganar por ilusões de cintilâncias que são criadas por nós mesmos ante o
desconhecimento da nossa própria alma.
Cristiane Caracas
08/08/2014
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