Dora era uma mulher por volta de seus 70
anos de idade. Relatou que havia casado muito cedo e passara toda a vida
dedicando-se a cuidar dos quatro filhos e, logo em seguida, dos vários netos.
Confidenciara que apesar de ter batalhado
tanto em sua vida, não tinha o reconhecimento dos filhos, netos e nem mesmo do
marido. O que lhe feria mesmo era a falta de carinho e atenção por parte daqueles
que ela tanto se dedicara. Complementou nessas palavras: “São todos ingratos,
pois como podem ser tão indiferentes depois de tanto esforço meu. Sinto-me
vítima de todos.”
Relatou ainda que nunca houvera diálogo
com o marido, os filhos e os netos, pois ela estava sempre muito ocupada com os
afazeres domésticos. A história de Dora estava recheada de mágoa, tristeza e
sensação de tempo perdido e abandono.
Os passos do processo terapêutico do
caso de Dora precisariam passar pela retomada do controle emocional de sua
vida, por meio da conscientização de que os outros não podem ser
responsabilizados e cobrados pelas nossas opções, decisões e inconsciência, o
que evita o perigoso caminho da vitimização; bem como pelo treinamento do
perdão, da aceitação, da não-resistência e da gratidão.
Ver o outro como responsável pela nossa
dor somente alimentará o ciclo de sofrimento e mágoa.
Em verdade, todos, que ingressam na vida
de cada um de nós, nos trazem uma mensagem de aprendizado. A interpretação que
daremos para o contexto de cada evento de nossas vidas é uma decisão pessoal e
intransferível, que definirá a saúde mental de cada um.
José Anastácio de Sousa Aguiar
*nomes, sexos e alguns detalhes foram
alterados para proteger a identidade dos pacientes.
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