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quinta-feira, 31 de julho de 2014
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sábado, 26 de julho de 2014
sexta-feira, 25 de julho de 2014
Crônica - A redescoberta da capacidade de amar ou O método de cura pelo amor - José Anastácio de Sousa Aguiar
Desde a criação do processo analítico por Sigmund Freud
várias foram as opiniões, comentários e críticas sobre a sua validade como
processo terapêutico, bem como sobre sua verdadeira eficácia.
Cumpre inicialmente destacar que o referido método
terapêutico foi inicialmente formulado, em uma versão embrionária, por Josef
Breuer e Freud o complementou e aperfeiçoou. Breuer inicialmente o denominou de
método catártico, mas o pai da psicanálise preferiu chamá-lo de psicanalítico.
Tem-se entendido que o processo analítico constitui-se em
fazer chegar à consciência do paciente o teor inconsciente cuja repressão
provocou a enfermidade. Assim, ao serem identificadas as suas origens, a
perturbação desaparece.
Alguns entendem que a psicanálise tem um alcance
limitado, outros preferem entender que é um método inócuo, que não realiza
verdadeiramente a cura.
Creio que parte das críticas dão-se por não ter sido entendido o verdadeiro alcance da técnica psicanalítica, posto que a psicanálise não deve se limitar à identificação das causas da repressão, mas sim ir além, provocar a facilitação da redescoberta da capacidade de amar por parte do paciente. Vejamos o que diz o próprio Freud sobre o tema, denominando-o o ‘método de cura pelo amor’ (em Gradiva de Jensen e outros trabalhos): “Todo tratamento psicanalítico é uma tentativa de libertar amor reprimido que na conciliação de um sintoma encontrara escoamento insuficiente”.
Creio que parte das críticas dão-se por não ter sido entendido o verdadeiro alcance da técnica psicanalítica, posto que a psicanálise não deve se limitar à identificação das causas da repressão, mas sim ir além, provocar a facilitação da redescoberta da capacidade de amar por parte do paciente. Vejamos o que diz o próprio Freud sobre o tema, denominando-o o ‘método de cura pelo amor’ (em Gradiva de Jensen e outros trabalhos): “Todo tratamento psicanalítico é uma tentativa de libertar amor reprimido que na conciliação de um sintoma encontrara escoamento insuficiente”.
José Anastácio de Sousa Aguiar
quinta-feira, 24 de julho de 2014
quarta-feira, 23 de julho de 2014
terça-feira, 22 de julho de 2014
segunda-feira, 21 de julho de 2014
domingo, 20 de julho de 2014
sábado, 19 de julho de 2014
Fábula - Preciosas Amizades - Cristiane Caracas
Em
um telhado de uma casa de fazenda, daquelas que parece ter se perdido no tempo,
esquecida, com ares de que ainda vive no passado, sem perceber que o presente é
fato e o futuro bate às portas, viviam muitos pássaros, dentre eles uma rolinha
caldo de feijão e um corrupião.
Viviam
de boa, livres, sem grandes dificuldades de sobrevivência e, principalmente,
sem as ameaças do homem, tudo era harmonia naquele lugar.
Pois
bem! A rolinha tinha pelo corrupião uma enorme estima, sempre moraram pertinho,
se ajudando, se respeitando, criaram assim um laço estreito de amizade bonito
de se ver.
O
corrupião era aquilo: bonito, elegante, de um preto brilhante e um vermelho
fabuloso, um canto espetacular de agradar aos ouvidos mais exigentes. Já a
rolinha não tinha a mesma sorte, era sem graça, marrom, seu canto era muitas
vezes confundido com agouro. Tais diferenças, entretanto, nunca sequer foram
notadas, eram o que eram e se gostavam de qualquer jeito.
Chegou
o verão e com ele, inesperadamente e sem precedente, chegou também, àquele telhado,
uma fêmea sabiá, linda, rara e preciosa como uma joia, foi assim que o corrupião
a enxergou e de logo se encantou pela novata.
O
corrupião, vendo aquela beleza toda, de pronto se animou. Foi se chegando, logo
se apresentando, dando ares de dono do lugar.
_
Como vais, nunca a vi antes, de onde vens e o que buscas?
_
Costumas fazer esse interrogatório a todas, perguntou a sabiá.
_
Não, só com para as bonitas, respondeu, em tom simpático, o corrupião.
A
sabiá, nada difícil, ficou logo prosa do pássaro e engataram um romance ali
mesmo. A rolinha não gostou nada do que viu, mordendo-se de ciúmes do amigo,
mas sem querer admitir, reclamava com todos do telhado aquele assanhamento dos
dois.
_
Indecência asse namoro, mal se conhecem, nunca se viram, amor de verão. Não se conformava.
O
fato é que o corrupião era só suspiros para a linda sabiá que não se fazia de
rogada, sabia que causava ciúmes na rolinha e se derretia toda para o corrupião,
só para provocar.
Os
dias passaram, a rolinha foi definhando de tristeza, não conseguia lidar com a situação,
sofria, mas compreendeu que nada podia fazer, a não ser esquecer tantos anos de
estima que tinha devotado ao corrupião, afinal ele tinha feito uma escolha,
cabia a ela respeitar, porque não se implora afeto, sempre ouviu isso de sua
avó. Consciente resolveu partir, porque ali já não tinham paz, restaram a ela o
profundo silêncio e uma solidão lancinante.
Estava
decidida, não o procuraria mais. Encontrou no silenciar a paz esquecida e a
melhor reposta. É que muitas vezes a nossa guerra interior só é dissipada pelo
silêncio pessoal capaz de restabelecer a harmonia sufocada pelos pensamentos
ensurdecedores.
Os
dias passaram e o corrupião nem para lembrar-se da rolinha, levava os dias
alegres ao lado da linda sabiá. Certa manhã, entretanto, por uma fenda do telhado
apareceu uma cobra cascavel, estava faminta e disposta a devorar a primeira
presa que encontrasse e deu de cara com a sabiá que dormia ao lado do corrupião,
a cobra, com ares de psicopata, acordou a sabiá, sorrateiramente e disse com
voz cavernosa:
_Preparada
para morrer mocinha?
_
A sabiá deu um sobressalto e, diante do seu destino inevitável, tentou entrar
em um acordo com a cobra.
_
Estou sim Dona Cobra, mas acho que Vossa Senhoria devia pensar melhor no
assunto. É que estou por demais magrinha, não vês? Só pena e osso. Padeço de
dores forte no peito, desconfio de uma tuberculose. Fosse a Senhora se
assegurava de comer algo mais saudável e robusto, quem sabe o corrupião aqui, é
forte, suculento e tá no ponto não acha?
_
Tuberculose é? E isso pega? Perguntou a cobra,
_
Ah, claro! Uma bactéria poderosíssima capaz de matar em poucas horas.
_
A cobra, que não tinha nada a perder, resolveu não arriscar e partiu para dar o
bote no inocente corrupião que ainda dormia sonhando com a sua sabiá.
Àquela
altura a rolinha vinha chegando, havia esquecido um bebedouro de estimação que
sua avó lhe tinha dado e resolveu buscá-lo exatamente naquela hora. Percebeu a
cena da cobra pronta para dar o bote no corrupião e partiu para cima da cobra,
sem se dar conta que ela era pelo menos cinco vezes o seu tamanho e que não
tinha meios de defesa contra a peçonhenta.
E
deu-se o acontecido, foi aquela zuada, o corrupião acordou assustado, mas a tempo
de ver sua amiga rolinha partir para o sacrifício para defendê-lo. A cobra fez
a rolinha em pedaços, ela, porém, foi guerreira, bicou cabeça da cobra em
tantos lugares que a fez desistir do desiderato, indo-se embora com uma terrível
cefaleia e prometendo voltar para se vingar da rolinha atrevida.
O
corrupião, vendo a amiga destroçada, correu em seu socorro. A sabiá, cara de
pau, sabedora de que viria a ser desmascarada, cuidou em fugir rapidamente dali
para nunca mais voltar.
A
rolinha de certa forma se recuperou, mas o duelo lhe deixou sequelas, uma das
asas ficou irreparável e ela não mais podia voar, ficou presa ao telhando. O corrupião
aprendeu com a rolinha o que se é capaz de enfrentar por uma amizade
verdadeira, cuidou dela para sempre, porque compreendeu que os puros
sentimentos, estes sim, são como joias raras precisam ser lapidados, cuidados e
assumidos, que a preciosidade da joia não está na sua beleza ou raridade, mas
na capacidade que ela tem de nos fazer sentir importantes pelo só fato de
tê-las conosco. Que não vale a pena se iludir com falsos adornos porque no mais
das vezes seu brilho esconde uma reles bijuteria.
Cristiane
Caracas
19/07/2014
sexta-feira, 18 de julho de 2014
quinta-feira, 17 de julho de 2014
Resumo do Livro IX de Sigmund Freud - "Gradiva" de Jensen e outros trabalhos (1906-1908)
Nota
do editor inglês
_ esta
foi a primeira análise de uma obra de literatura feita por Freud a ser
publicada, com exceção, naturalmente, de seus comentários sobre Édipo Rei e
Hamlet em Interpretação de Sonhos (1900) – p. 15;
_ foi
Jung quem chamou a atenção de Freud para o livro d Jensen. Acredita-se que
Freud escreveu o presente trabalho para agradar a Jung – p. 16;
_ aquilo
que atraiu especialmente a atenção de Freud na obra de Jensen foi, sem dúvida,
o cenário em que ela se desenrola. Já era antigo o interesse de Freud por
Pompéia. Freud sentia-se particularmente fascinado pela analogia existente
entre o destino histórico de Pompéia (o soterramento e a posterior escavação) e
os eventos mentais que lhe eram tão familiares: o soterramento pela repressão e
a escavação pela análise. Trata-se de um dos seus primeiros trabalhos
psicanalíticos – p. 16;
Delírios
e sonhos na Gradiva de Jensen
_ os
sonhos são desejos realizados – p. 19;
_ há
muito menos liberdade e arbitrariedade na vida mental do que tendemos a
admitir, e pode ser até que não exista nenhuma. Aquilo que no mundo externo
denominamos de causalidade pode, como sabemos, ser colocado dentro de leis.
Assim também o que chamamos de arbitrariedade da mente repousa sobre leis das
quais só agora começamos vagamente a suspeitar – p. 20/21;
_ a
história de Gradiva situa-se em Pompéia e trata-se de um jovem arqueólogo que
abdicara de seu interesse pela vida para dedicar-se aos remanescentes da
Antiguidade clássica. O jovem arqueólogo, Norbert Hanold, descobrira num museu
de antiguidades em Roma um relevo que o atraíra muitíssimo, do qual conseguiu
com grande prazer uma cópia em gesso que colocou em seu gabinete de trabalho
numa cidade universitária na Alemanha para admirá-la com vagar. A escultura
representava uma jovem adulta, cujas vestes esvoaçantes, revelavam os pés
calçados com leves sandálias, surpreendida ao caminhar. Um dos pés repousava no
solo, enquanto o outro, já flexionado para o próximo passo, apoiava-se somente
na ponta dos dedos, estando a planta e o calcanhar perpendiculares ao solo.
Provavelmente foi esse modo de andar incomum e particularmente gracioso que
atraiu a atenção do escultor e que, tantos séculos depois, seduziu seu
admirador arqueólogo. O interesse que o relevo desperta no herói da história é
o fato psicológico básico da narrativa – p. 21/22;
_ ele
foi predestinado pela tradição da família a dedicar-se à arqueologia e que,
quando se achou só e independente, se absorveu inteiramente nos estudos,
afastando-se por completo da vida e dos prazeres. Só o mármore e o bronze eram
para ele verdadeiramente vivos, só esses materiais exprimiam o propósito e o
valor da vida humana. Essa divisão entre imaginação e o intelecto o predispunha
a tornar-se ou um artista ou um neurótico; ele estava entre aqueles cujo reino
não é deste mundo. Daí resultou interessar-se pelo relevo que representava uma
jovem caminhando de forma peculiar e tecer sobre ela suas fantasias, imaginado
para ela um nome e uma origem, e situando-a na cidade de Pompéia, soterrada há
mais de mil e oitocentos anos, até que por fim, após um estranho sonho de
ansiedade, sua fantasia da existência e da morte de Gradiva ampliou-se,
passando a constituir um delírio que influenciava suas ações – p. 23/24/25;
_
sentiu que estava insatisfeito porque lhe faltava algo, embora não pudesse
precisar o quê – p. 26;
_
hora do meio-dia que para os antigos era a hora dos espíritos – p. 26;
_ o
delírio tinha em Hanold raízes internas – p. 28;
_ se
a jovem, em cuja figura Gradiva tornou à vida, aceitou tão plenamente o delírio
de Hanold, provavelmente fazia isso para libertá-lo dele. O tratamento sério de
um caso real de doença desse tipo só poderia ter sequência situando-se
inicialmente no mesmo plano da estrutura delirante e passando-se então a
investiga-la o mais completamente possível – p. 30;
_
não se pode desprezar o poder curativo do amor contra um delírio – e acaso a
paixão do nosso herói pela sua escultura da Gradiva não possui todas as
características de uma paixão amorosa, ainda que paixão amorosa por algo
passado e sem vida? – p. 30;
_
ninguém esquece alguma coisa sem uma razão secreta ou um motivo oculto – p. 30;
_ o
melhor método para acordar um sonâmbulo ou um indivíduo adormecido é chama-lo
pelo seu próprio nome – p. 34;
_
suas fantasias foram determinadas, sem que ele soubesse disso, pelo acervo de
impressões infantis esquecidas – p. 37;
_ o
reprimido, via de regra, não emerge à lembrança sem maiores dificuldades, mas
conserva uma capacidade de ação efetiva e, sob a influência de algum evento
externo, pode vir a ter consequências psíquicas que podem ser consideradas como
produtos da modificação da lembrança esquecida e como derivados dela, e que, se
não forem vistas por esse prisma, permanecerão incompreensíveis – p. 39;
_
tal retorno do que foi reprimido dever ser esperado com particular regularidade
quando os sentimentos eróticos de uma pessoa estão ligados às impressões
reprimidas – quando a sua vida erótica sofreu as investidas da repressão – p.
40;
_
considerações sobre caso típico de repressão na vida dos santos e penitentes –
p. 40;
_ em
casos patológicos, a mente humana se torna sensível, em estado de repressão, a
qualquer aproximação do que foi reprimido – p. 40;
_ se
Norbert Hanold fosse alguém da vida real que dessa forma e com o auxílio da
arqueologia houvesse fugido do amor e de uma amizade infantil, seria lógico e
dentro das normas que o que nele revivesse as lembranças esquecidas da menina
amada em sua infância fosse justamente uma escultura antiga – p. 41;
_ é
também exatamente dessa forma que se comportam os pacientes quando aliviados da
compulsão dos seus pensamentos delirantes pela revelação do material reprimido
que estes ocultam. Ao compreendê-los, eles próprios revelam nas ideias que
subitamente ocorrem as soluções dos enigmas finais e mais importantes de sua
estranha condição – p. 42;
_
perda de memória é o mais fidedigno sinal de mudança de atitude – p. 43;
_ ao
tentarmos compreender os sonhos reais de uma pessoa real, temos de examinar
atentamente seu caráter e sua história, investigando não só as experiências que
antecederam de pouco seu sonho, mas também as de seu passado remoto – p. 45;
_ a
psiquiatria estaria cometendo um erro se tentasse restringir-se permanentemente
ao estudo das graves e sombrias doenças decorrentes de severos danos sofridos
pelo delicado aparelho da mente. Desvios da saúde mais leves e suscetíveis de
correção, que hoje podemos atribuir apenas a perturbações na interação das
forças mentais, atraem igualmente seu interesse. Na verdade, só através deles é
que se pode chegar à compreensão dos estados normais – p. 47;
_
características principais de um delírio – p. 48;
_
considerações sobre atribuir fetichismo às impressões eróticas da infância – p.
49;
_ o
estado de se manter permanentemente afastado das mulheres produz uma
susceptibilidade pessoal ou, como costumamos dizer, uma disposição à formação
de um delírio – p. 49;
_ ao
ser despertada a impressão infantil tornou-se ativa, mas não chegou à
consciência, isto é, permaneceu inconsciente – p. 50;
_
tudo o que é reprimido é inconsciente, mas não podemos afirmar que tudo o que é
inconsciente é reprimido. Inconsciente é um termo puramente descritivo, mas
reprimido é uma expressão dinâmica – p. 50;
_
enquanto lidarmos apenas com lembranças e ideias, permaneceremos na superfície.
Só os sentimentos têm valor na vida mental. Nenhuma força mental é
significativa se não possuir a característica de despertar sentimentos. As
ideias só são reprimidas porque estão associadas à liberação de sentimentos que
devem ser evitados. Seria mais correto dizer que a repressão age sobre
sentimentos, mas só nos apercebemos destes através de sua associação com as
ideias – p. 51;
_ o
que aconteceu com nosso herói é que nele se desenvolveu uma luta entre o poder
do erotismo e o poder das forças que o reprimiam, luta esta que se manifestava
como delírio. A dedicação de Hanold à ciência não passava certamente de um
instrumento utilizado pela repressão. O erotismo reprimido emerge precisamente
do campo dos instrumentos que serviram à sua repressão – p. 51;
_
assim, observamos já nos primeiros produtos das fantasias delirantes e ações de
Hanold um duplo grupo de determinantes, derivando-se de duas fontes diferentes
– p. 53;
_ a
motivação científica servia de pretexto para a motivação erótica inconsciente.
Os sintomas de um delírio são produtos de conciliação de duas correntes
mentais, que nunca é inteiramente satisfatória – p. 53;
_
assinalei, particularmente em conexão com os estados mentais conhecidos como
histeria e obsessão que o determinante individual desses distúrbios psíquicos é
a supressão de uma parcela da vida instintal e a repressão das ideias que
representam o instinto suprimido – p. 54/55;
_
resumo do conteúdo do sonho de Hanold – p. 55
_
considerações sobre as características dos sonhos – p. 56/57;
_
distorção por deslocamento – p. 58;
_
origem e natureza das fantasias precursoras dos delírios – elas são substitutos
e derivados de lembranças reprimidas que não conseguem atingir a consciência de
forma inalterada devido a uma resistência. As lembranças reprimidas
transformam-se em fantasias – p. 58;
_
interpretar um sonho consiste em traduzir o conteúdo manifesto dos sonhos nos
pensamentos oníricos latentes, desfazendo a distorção que a censura da
resistência impôs aos pensamentos oníricos. Só raramente um sonho representa ou
encena um único pensamento – p. 59;
_ é
erro atribuir à ansiedade que pode ser sentida em sonhos a seu conteúdo e de
tratar esse conteúdo como se fosse de uma ideia que ocorre no estado de
vigília. A ansiedade nos sonhos de ansiedade, como toda a ansiedade neurótica, em
geral, corresponde a um afeto sexual, a um sentimento libidinal e surge da
libido pelo processo de repressão. Portanto, ao interpretar um sonho devemos
substituir a ansiedade por excitação sexual – p. 60;
_ os
sonhos e os delírios surgem de uma mesma fonte – do que é reprimido. Poderíamos
dizer que os sonhos são os delírios fisiológicos das pessoas normais. Antes de
tornar-se suficientemente forte para irromper na vida de vigília como delírio,
o que é reprimido pode ter alcançado um primeiro sucesso, sob as condições mais
favoráveis do sono, na forma de sonho de efeitos duradouros. Durante o sono,
justamente com uma diminuição geral da atividade mental, dá-se um relaxamento
da atividade da resistência que as forças psíquicas dominantes opõem ao que é
reprimido. É esse relaxamento que possibilita a formação dos sonhos – p. 61/62;
_
análise do segundo sonho – p. 63;
_
estranho desassossego tornou-o insatisfeito com tudo que o cercava – p. 63;
_ a
viagem de Hanold estava a serviço do delírio – p. 64;
_ o impulso
mental suprimido conservava poder suficiente para vingar-se do impulso
supressor através da inibição e do descontentamento – p.66;
_
assistimos até aqui ao desenvolvimento de um delírio; agora, iremos testemunhar
a sua cura – p. 67;
_
facilidade com que o nosso intelecto está pronto a aceitar algo absurdo, desde
que isso satisfaça impulsos emocionais poderosos – p. 68;
_
técnica que constitui o procedimento normal ara a interpretação dos sonhos.
Consiste em não prestar atenção nas conexões aparentes do sonho manifesto, mas
em concentrar a atenção isoladamente em cada um dos elementos de seu conteúdo,
buscando sua origem nas impressões, lembranças e associações livres do sonhador
– p. 69/70;
_ a
experiência da véspera foi utilizada pelo sonho e submetida a mudanças e
distorções – p. 70;
_
uma das regras da interpretação de sonhos é a seguinte: “Uma fala ouvida no
sonho sempre deriva de outra que o próprio sonhador ouviu ou pronunciou na vida
de vigília”. Outra regra de interpretação de sonhos diz que a substituição de
uma pessoa por outra, ou a combinação de duas pessoas (quando, por exemplo, uma
ocupa uma posição característica da outra), significa uma equiparação dessas
pessoas, a existência de uma semelhança entre elas – p. 70;
_
existe uma parcela de verdade oculta em todo delírio. Se, de forma distorcida,
consegue chegar à consciência, dá-se uma intensificação da convicção que lhe
está conectada, como uma espécie de compensação, e que se liga ao substituto
distorcido da verdade reprimida, protegendo-o de quaisquer ataques críticos. É
como se a convicção se deslocasse da verdade inconsciente para o erro
consciente que está ligado a ela, ali fixando-se justamente em consequência
desse deslocamento – p. 74/75;
_ se
nos pensamentos oníricos há zombaria, menosprezo ou escárnio, isso é expresso
pela forma insensata do sonho manifesto, pelo absurdo do sonho – p. 76;
_ o
sonhador sabe, em seus pensamentos inconscientes, de tudo aquilo que esqueceu
em seus pensamentos conscientes, e que nos primeiros avalia corretamente o que
nos últimos transforma em delírio – p. 77;
_ o
delírio resultou da combinação de um componente do desejo amoroso com a
resistência a esse desejo – p. 81;
_ o
tratamento consistiu em dar-lhe acesso, pelo exterior, às lembranças reprimidas
que ele não conseguia atingir no seu interior; contudo, o tratamento
frustrar-se-ia se ao longo deste a terapeuta não houvesse levado em conta os
sentimentos dele – p. 81;
_
esse método de tratamento, a que inicialmente Breuer chamou de “catártico”, mas
que prefiro denominar de “psicanalítico”, consiste, aplicado a pacientes que
sofrem de perturbações semelhantes ao delírio de Hanold, em lhes fazer chegar à
consciência, até certo ponto forçadamente, o inconsciente cuja repressão provocou
a enfermidade. Ao serem identificadas as suas origens, a perturbação
desaparece; da mesma forma, a análise produz simultaneamente a cura – p. 81;
_
mas a semelhança do processo empregado por Gradiva e o método analítico de
psicoterapia não se limita a esses dois aspectos – tornar consciente o que foi
reprimido e fazer coincidir o esclarecimento e a cura. Estende-se também ao que
consideramos o ponto fundamental de toda a modificação: o despertar dos
sentimentos. Toda perturbação semelhante ao delírio de Hanold, o que em termos
científicos chamamos de” psiconeurose”, tem como precondição a repressão de uma
parcela da vida instintual ou, já podemos afirmar, do extinto sexual p. 82;
_
todo tratamento psicanalítico é uma tentativa de libertar amor reprimido que na
conciliação de um sintoma encontrara escoamento insuficiente – p. 82;
_ nosso
processo consiste na observação consciente de processos mentais anormais em
outras pessoas, com o objetivo de poder deduzir e mostrar suas eis – p. 83;
_ os
pensamentos oníricos latentes – sabemos agora o que são – podem ser dos mais
diversos tipos; em Gradiva são resíduos diurnos, pensamentos que passaram
desapercebidos e não foram trabalhados pelas atividades mentais da vida de
vigília. Mas para que deles resulte um sonho é necessário a cooperação de um
desejo (geralmente inconsciente); isso fornece a força motivadora para a
construção do sonho, enquanto o material é fornecido pelos resíduos diurnos –
p. 84;
A
Psicanálise e a determinação dos fatos nos processos jurídicos
_ primeiro
uso do conceito de “complexo” – p. 92;
_
considerações sobre “experiência de associação” – p. 95;
_
breve histórico sobre a psicanálise – p. 98/99;
_
equivalência entre material psíquico reprimido e complexos – p. 99;
_
explicação sobre o uso da técnica psicanalista – p. 99;
_ a
psicanálise permite tornar o paciente consciente do que está nele reprimido,
isto é, do seu segredo, assim removendo a causação psicológica dos sintomas que
ele sofre – p. 101;
_ o
propósito da psicanálise é absolutamente uniforme em todos os casos: é preciso
trazer à tona os complexos reprimidos por causa de sentimentos de desprazer e
que produzem sinais de resistência ante às tentativas de leva-los à
consciência. É como se essa resistência estivesse localizada; surge na fronteira
entre o consciente e o inconsciente – p. 102;
_ o
adulto neurótico comporta-se exatamente como uma criança – p. 103;
Atos
obsessivos e práticas religiosas
_
incursão inicial de Freud na psicologia da religião – 107;
_ as
pessoas que praticam atos obsessivos ou cerimoniais pertencem à mesma classe
das que sofrem de pensamento obsessivo, ideias obsessivas, impulsos obsessivos
e afins – p. 109;
_ os
cerimoniais neuróticos são atividades que contêm meras formalidades na
aparência, afiguram-se destituídas de qualquer sentido. O próprio paciente não
as julga diversamente, mas é incapaz de renunciar a elas, pois a qualquer
afastamento do cerimonial manifesta-se uma intolerável ansiedade – p. 109;
_ o
cerimonial é sempre executado como se tivesse que obedecer a certas leis
tácitas – p. 110;
_ a
neurose obsessiva parece uma caricatura, ao mesmo tempo, cômica e triste, de
uma religião particular – p. 111
_ o
ato obsessivo serve para expressar motivos e ideias inconscientes – p. 113;
_
aquele que sofre de compulsões e proibições comporta-se como se estivesse
dominado por um sentimento de culpa, do qual, entretanto, nada sabe, de modo
que podemos denominá-lo de sentimento inconsciente de culpa, apesar da aparente
contradição dos termos. Esse sentimento de culpa origina-se de certos eventos
mentais primitivos, mas é constantemente revivido pelas repetidas tentações que
resultavam de cada nova provocação – p. 113/114;
_ o
cerimonial surge como um ato de defesa, ou de segurança, uma medida protetora –
p. 114;
_ o
sentimento de culpa dos neuróticos obsessivos corresponde à convicção dos
indivíduos piedosos de serem, no íntimo, apenas miseráveis pecadores, e as
práticas devotas (tais como orações, invocações, etc.) com que tais indivíduos
precedem cada ato cotidiano, especialmente os empreendimentos não habituais,
parecem ter o valor de medidas protetoras – p. 114;
_ há
sempre, no mecanismo da neurose obsessiva, a repressão de um impulso instintual
(um componente do instinto sexual) presente na constituição do sujeito e que
pôde expressar-se durante algum tempo em sua infância, sucumbindo
posteriormente à pressão – p. 114;
_ o
processo de repressão que acarreta a neurose obsessiva deve ser considerado
como um processo que só obtém êxito parcial, estando constantemente sob a
ameaça de um fracasso. Podemos, pois, compará-lo a um conflito interminável.
Assim, os atos cerimoniais obsessivos surgem, em parte, como uma proteção
contra a tentação e, em parte, contra proteção contra o mal esperado – p. 114/115;
_ as
proibições substituem os atos obsessivos, assim como uma fobia evita um ataque
histérico. Uma outra característica da neurose obsessiva, e de todas as
enfermidades semelhantes, é que suas manifestações (seus sintomas, inclusive os
atos obsessivos), preenchem a condição de ser uma conciliação entre as forças
antagônicas da mente – p. 115;
_ a
formação de uma religião parece basear-se igualmente na supressão, na renúncia,
de certos impulsos instintuais – p. 115;
_ as
recaídas totais no pecado são mais comuns entre os indivíduos piedosos do que
entre os neuróticos, dando origem a uma nova forma de atividade religiosa: os
atos de penitência, que têm seu correlato na neurose obsessiva – p. 115;
_
como característica curiosa e menosprezável da neurose obsessiva temos que seus
cerimoniais se prendem aos atos menores da vida cotidiana e se expressam
através de restrições e regulamentações tolas em conexão com eles. O simbolismo
e os pormenores desses mesmos atos resultam de um deslocamento, da substituição
do elemento real e importante por um trivial – p. 115/116;
_ podemos
atrever-nos a considerar a neurose obsessiva como o correlato patológico da
formação de uma religião, descrevendo a neurose como uma religião individual e
a religião como uma neurose obsessiva universal. A semelhança fundamental
residiria na renúncia implícita à ativação dos instintos constitucionalmente
presentes; e a principal diferença residiria na natureza desses instintos, que
na neurose são exclusivamente sexuais em sua origem, enquanto na religião
procedem de fontes egoístas – p. 116;
_ a
renúncia progressiva dos instintos constitucionais, cuja ativação
proporcionaria o prazer primário do ego, parece ser uma das bases do
desenvolvimento da civilização humana – p. 116;
O
esclarecimento sexual das crianças (Carta aberta ao Dr. M. Furst)
_ o
senhor espera que eu responda aos seguintes quesitos: devem as crianças ser
esclarecidas sobre os fatos da vida sexual, em que idade isso deve ocorrer e de
que modo isso deve ser realizado? – p. 123;
_ a
curiosidade nos leva a esmiuçar coisas que teriam pouco ou nenhum interesse
para nós, se tivéssemos sido informados com simplicidade – p. 124;
_ é
crença geral que o instinto sexual inexiste nas crianças, só começando a
irromper na puberdade. Na realidade, o recém-nascido já vem ao mundo com sua
sexualidade, sendo seu desenvolvimento na lactância e na primeira infância
acompanhado de sensações sexuais; só muito poucas crianças alcançam a puberdade
sem ter tido sensações e atividades sexuais – p. 124;
_ os
órgãos de reprodução propriamente ditos não são as únicas partes do corpo que
geram sensações de prazer sexual – p. 125;
_
considerações sobre o período de auto-erotismo – p. 125;
_ a
puberdade apenas concede aos genitais a primazia entre todas as outras zonas e
fontes produtoras de prazer, assim forçando o erotismo a colocar-se a serviço
da função reprodutora. Em resumo, com exceção do seu poder de reprodução, muito
antes da puberdade já está completamente desenvolvida na criança a capacidade
de amar – p. 125;
_ o
interesse intelectual da criança pelos enigmas do sexo, o seu desejo de
conhecimento sexual, revela-se numa idade surpreendentemente tenra – p. 125;
_ o
segundo grande problema a ocupar a mente das crianças é a origem dos bebês – p.
126;
_ não
me parece haver uma única razão de peso para negar às crianças o esclarecimento
que sua sede de saber exige. Se as dúvidas que as crianças levam aos mais
velhos não são satisfeitas, elas continuam a atormentá-las em segredo – p.
127/128;
_ em
torno dos dez anos de idade, a criança deveria ser esclarecida sobre os fatos
específicos da sexualidade humana e sobre a significação social desta – p. 129;
Escritos
criativos e devaneio
_
nós, leigos, sempre sentimos uma intensa curiosidade em saber de que fontes
esse estranho ser, o escritor criativo, retira seu material – p. 135;
_ a
antítese de brincar não é o que é sério, mas o que é real. Apesar de toda a
emoção com que a criança catexiza seu mundo de brinquedo, ela o distingue
perfeitamente da realidade. O escritor criativo faz o mesmo que a criança que
brinca – p. 135;
_ ao
crescer, as pessoas param de brincar e parecem renunciar ao prazer que obtinham
ao brincar. Contudo, quem compreende a mente humana sabe que nada é tão difícil
para o homem quanto abdicar de um prazer que já experimentou. Na realidade,
nunca renunciamos a nada; apenas trocamos uma coisa por outra. O escritor
criativo, em vez de brincar, agora fantasia – p. 136;
_ a
pessoa feliz nunca fantasia, somente a insatisfeita. As forças motivadoras das
fantasias são os desejos insatisfeitos, e toda fantasia é a realização de um
desejo, uma correção da realidade insatisfatória. Os desejos motivadores variam
de acordo com o sexo, o caráter e as circunstâncias da pessoa que fantasia,
dividindo-se naturalmente em dois grupos principais: ou são desejos ambiciosos,
que se destinam a elevar a personalidade do sujeito, ou são desejos eróticos –
p. 137/138;
_
quando as fantasias se tornam exageradamente profusas e poderosas estão
assentes as condições para o desencadeamento da neurose e da psicose – p. 139;
_
não se esqueçam que a ênfase colocada nas lembranças infantis da vida do
escritor – ênfase talvez desconcertantes – deriva-se basicamente da suposição
de que a obra literária, como o devaneio, é uma continuação, ou um substituto,
do que foi o brincar infantil – p. 141;
_ a
verdadeira satisfação que usufruímos de uma obra literária procede de uma
libertação de tensões em nossas mentes – p. 143;
Fantasias
histéricas e sua relação com a bissexualidade
_
considerações sobre fantasias e sintomas – p. 149;
_
todas essas criações de fantasia têm sua fonte comum e seu protótipo normal nos
chamados devaneios da juventude. Ocorrem talvez com igual frequência em ambos
os sexos, sendo invariavelmente de natureza erótica nas jovens e mulheres,
enquanto nos homens são tanto ambiciosos como eróticos – p. 149;
_
considerações sobre as fantasias inconscientes – p. 150;
_ as
fantasias inconscientes são os precursores psíquicos imediatos de toda uma
série de sintomas histéricos. Estes nada mais são do que fantasias
inconscientes exteriorizadas por meio da conversão – p. 151;
_
quem estudar a histeria, portanto, logo transferirá seu interesse dos sintomas
para as fantasias que lhes deram origem. A técnica da psicanálise nos permite
em primeiro lugar inferir dos sintomas o que essas fantasias inconscientes são,
e então torná-las conscientes para o paciente. Esse método de investigação
psicanalítica, que dos sintomas visíveis conduz às fantasias inconscientes
ocultas, revela-nos tudo que é possível conhecer sobre a sexualidade dos
psiconeuróticos – p. 151;
_
considerações sobre a natureza dos sintomas histéricos – p. 152;
_ na
análise dos psiconeuróticos se evidencia de modo especialmente claro a
pressuposta exigência de uma disposição bissexual inata no homem – p. 154;
Caráter
e erotismo anal
_
conexão orgânica entre o caráter e o comportamento de um órgão – p. 159;
_ há
um grupo que se recusa a esvaziar os intestinos ao ser colocado no urinol,
porque obtém um prazer suplementar do ato de defecar – 159/160;
_ o
instinto sexual do homem é altamente complexo e resultante da contribuição de
numerosos constituintes e instintos componentes – p. 160;
_
conexões entre o complexo do apego ao dinheiro e a defecação – p. 162;
_ o
diabo nada mais é do que a personificação da vida instintual inconsciente
reprimida – p. 163;
_ os
traços de caráter permanentes são ou prolongamentos inalterados dos instintos
originais, ou sublimação desses instintos, ou formações reativas contra os
mesmos – p. 164;
Moral
sexual civilizada e doença nervosa moderna
_
considerações sobre a relação entre a alta incidência da doença nervosa e a
moderna vida civilizada – p. 170;
_ dois
grupos de distúrbios nervosos: as neuroses propriamente ditas e as
psiconeuroses – p. 172;
_
nas psiconeuroses é mais evidente a influência da hereditariedade, e menos
transparente a causação – p. 172;
_
nossa civilização repousa sobre a supressão dos instintos – p. 173;
_ no
homem o instinto sexual não serve originalmente aos propósitos da reprodução,
mas à obtenção de determinados tipos de prazer – p. 174;
_
tipos de desvios nocivos da sexualidade normal: os pervertidos, nos quais uma
fixação infantil a um objetivo sexual preliminar impediu o estabelecimento da
primazia da função reprodutora, e os homossexuais ou invertidos, nos quais, de
maneiras ainda não compreendida, o objeto sexual foi defletido do sexo oposto –
p. 175;
_ a
experiência nos ensina que existe para a imensa maioria das pessoas um limite
além do qual suas constituições não podem atender às exigências da civilização.
Aqueles que desejam ser mais nobres do que suas constituições lhes permitem,
são vitimados pela neurose – p. 177;
_ a
tarefa de dominar um instinto tão poderoso quanto um instinto sexual, por outro
meio que não a sua satisfação, é de tal monta que consome todas as forças do
indivíduo. O domínio do instinto pela sublimação, defletindo as forças
instintuais sexuais do seu objetivo sexual para fins culturais mais elevados,
só pode ser efetuado por uma minoria, e mesmo assim, de forma intermitente,
sendo amis difícil no período ardente e vigoroso da juventude. Os demais
tornam-se em sua grande maioria neuróticos – p. 178;
_ a
libido represada torna-se capaz de perceber os pontos fracos raramente ausentes
da estrutura da vida sexual, e por ali abre caminho obtendo uma satisfação
substitutiva neurótica na forma de sintomas patológicos. Quem penetrar nos
determinantes das doenças nervosas cedo ficará convencido de que o incremento
dessas doenças em nossa sociedade provém da intensificação das restrições
sexuais – p. 179;
_ a
desilusão espiritual e a privação física a que a maioria dos casamentos estão
então condenados recolocam os cônjuges na situação anterior ao casamento – p.
179;
_
nada protegerá sua virtude tão eficazmente quanto uma doença – p .180;
_ o
comportamento sexual de um ser humano frequentemente constitui o protótipo de
suas demais reações ante a vida. Do homem que mostra firmeza na conquista do
seu objeto amoroso, podemos esperar que revele igual energia e constância na
luta pelos seus outros fins – p. 182;
_
uma esposa neurótica, insatisfeita, torna-se uma mãe excessivamente terna e
ansiosa, transferindo para o filho sua necessidade de amor – p. 185
_ a
restrição da atividade sexual numa comunidade é, em geral, acompanhada de uma
intensificação de medo da morte e da ansiedade ante a vida que perturba a
capacidade do indivíduo para o prazer – p. 186;
Sobre
as teorias sexuais das crianças
_
estou convicto de que nenhuma criança – pelo menos nenhum que seja mentalmente
normal e menos ainda as bem dotadas intelectualmente – pode evitar o interesse
pelos problemas do sexo nos anos anteriores à puberdade – p. 191;
_ os
neuróticos são muito semelhantes aos demais homens. Não se diferenciam
acentuadamente das pessoas normais, e na infância não é fácil distingui-los dos
que permanecerão sadios em sua vida posterior. Como Jung, já analisou, eles
adoecem devido aos mesmos complexos com que nós, as pessoas sadias, lutamos –
p. 192;
_ aqueles
que posteriormente se tornam neuróticos com frequência apresentam em sua
constituição inata um instinto sexual particularmente forte e uma tendência à
precocidade e à expressão prematura desse instinto – p. 192;
_ a
criança começa a refletir sobre o primeiro grande problema da vida e pergunta a
si mesma: De onde vêm os bebês? – p. 193;
_ as
crianças se recusam a crer na teoria da cegonha e que, a partir dessa primeira
decepção, começam a desconfiar dos adultos e a suspeitar que estes lhe escondem
algo proibido, passando como resultado a manter em segredo suas investigações
posteriores. Com isso, entretanto, a criança experimenta o seu primeiro
conflito ‘psíquico’ – p. 194;
_ se
um indivíduo na infância fixa essa ideia da mulher com um pênis, tornar-se-á,
resistindo a todas as influências dos anos posteriores, incapaz de prescindir
de um pênis no seu objeto sexual e, embora em outros aspectos tenha uma vida sexual
normal, está fadado a tornar-se um homossexual, indo procurar seu objeto sexual
entre os homens que, devido a características físicas e mentais, lembram a
mulher – p. 196;
_ os
genitais femininos, vistos mais tarde, são encarados como um órgão mutilado e
trazem à lembrança aquela ameaça, despertando assim horror, em vez de prazer,
no homossexual – p. 197;
_
considerações sobre a teoria sádica do coito – p. 199/200;
Algumas
observações gerais sobre ataques histéricos
_
ataques histéricos não passam de fantasias traduzidas para a esfera motora – p.
209;
_ o
ataque histérico, portanto, deve ser submetido à mesma revisão interpretativa
que empregamos para os sonhos noturnos – p. 209;
_ as
fantasias são sempre de natureza bem diversas, podendo, por exemplo, consistir
num desejo recente e numa reativação de uma impressão infantil – p. 209;
_
considerações sobre as leis que são seguidas quando do desencadeamento de
ataques histéricos –p. 211;
_ a
investigação da história infantil de pacientes histéricos mostra que o ataque
histérico destina-se a substituir uma satisfação auto-erótica – p. 211;
_ a
perda de consciência num ataque histérico deriva-se do fugaz mas inegável lapso
de consciência que se observa no clímax de toda satisfação sexual intensa – p.
212;
_ já
na Antiguidade o coito era descrito como uma pequena epilepsia – p. 213;
_ os
ataques histéricos, assim como a histeria em geral, revivem uma parcela da
atividade sexual das mulheres que existiu durante a sua infância e que naquele
período revelava um caráter essencialmente masculino – p. 213;
Romances
familiares
_ ao
crescer, o indivíduo liberta-se da autoridade dos pais, o que constitui um dos
mais necessários, ainda que mais dolorosos, resultados do curso de seu
desenvolvimento. Tal liberação é primordial e presume-se que todos os que
atingiram a normalidade lograram-na pelo menos em parte. Na verdade, todo
progresso da sociedade repousa sobre a oposição entre as gerações sucessivas.
Existe, porém, uma classe de neuróticos cuja condição é determinada
visivelmente por terem falhado nessa tarefa – p. 219;
_ o
menino tem maiores tendências a sentir impulsos hostis contra o pai do que
contra a mãe, tendo um desejo bem mais intenso de libertar-se dele do que dela
– p. 219;
_
considerações sobre o romance familiar do neurótico – p. 220;
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