Os inúmeros ipês de variadas cores formavam um cantinho de mata onde morava uma família de tatu bola. Era uma família de três filhos, além do pai e da mãe. A vida corria normalmente, as crianças tatus bola cresciam e os pais acompanhavam a tudo sem problemas. O tatuzinho do meio, agora contando com 14 anos, decidiu que já era grande o suficiente para enfrentar os perigos da mata sozinho.
- Já sei de tudo o que preciso saber, não há motivos para não sair para a mata e curtir o que ela pode me proporcionar, dizia Gabriel, esse era o seu nome. Os pais, entretanto, não concordavam com a ideia do adolescente.
E foi por isso que Gabriel, às escondidas, em uma noite clara de Lua cheia, saiu de casa e “ganhou a mata”, como ele mesmo dizia. Percorreu colinas, cruzou riachos e veredas e conheceu muitos outros animais. Foi quando conheceu Mário, uma raposa metida a esperta, que era famosa por enganar os outros.
Mário sabia que já estava conhecido por tirar vantagens dos outros bichos e que por isso ninguém o queria por perto. Chegou de mansinho para Gabriel, fingindo ser amigo, e propôs:
- Ô Gabriel, você que não quer ser o tatu bola mais rico da mata?
- Como posso ficar rico assim de uma hora para ao outra? Perguntou o tatu.
- Se você deixar vou te fazer o tatu mais sábio e rico da floresta.
- E como vou fazer pra ficar rico?Insistiu Gabriel.
- Enganando os bestas, disse Mário, é muito fácil, vou te ensinar e ficarás mais esperto que todos da floresta. Basta fazer o que te mandar e verás que em pouco tempo acumularás fortuna.
Gabriel, logo se interessou e começou a fazer tudo o que a raposa mandava. A raposa, astuta, combinou que todas as noites o tatu cavaria um buraco até um galinheiro que ficava próximo da mata e furtaria os ovos das galinhas. Depois, a raposa venderia na feira frequentada pelas cobras e lagartos que adoravam ovos.
Deu-se o ocorrido, Gabriel cavou um buraco até o galinheiro e todas as noites levava os ovos e os entregava a Mário para vender na tal da feira. E assim se passaram várias noites e Gabriel a espera pelo dinheiro prometido que nunca chegava. Mário, sempre dando desculpas esfarrapadas, justificava:
- A cobra comprou fiado, disse que vai pagar amanhã, mas, cobra é cobra, não se pode confiar.
Até que uma noite o dono do galinheiro, percebendo o desaparecimento dos ovos, ficou de guarda e quando o tatu adentrou foi surpreendido com o estampido da espingarda e uma rede que o aprisionou. Preso, Gabriel ficou solitário e por vários dias imaginou que o amigo iria salvá-lo.
- Mário certamente sabe que fui capturado e vem me salvar, pensava.
Pobre tatuzinho a sua espera era em vão, a raposa nunca foi ajudá-lo.
Uma pomba, amiga da mãe de Gabriel, que sobrevoava a fazenda avistou o tatu aprisionado e tratou logo de avisar a família.
Passado poucos dias Gabriel avistou toda a sua família que, de mansinho, abriu as grades e o salvou.
Foi uma felicidade só, abraços de um lado, lágrimas do outro, finalmente estava entre os seus e o que é melhor livre novamente.
Saíram alegres e contentes até que, ao chegarem à mata, ouviram gritos de socorro e avistaram Mário, a raposa, presa em uma arapuca de caçador. Sem pensar duas vezes Gabriel, abriu a arapuca e libertou Mário que estava a ponto de desfalecer.
Daniel, o tatu bola caçula, indagou de Gabriel:
- Por que você ajudou o Mário? Não viu que ele te enganou e te abandonou na hora que você mais precisava?
- Gabriel refletiu e respondeu:
- Ajudei porque todos que passam em nossas vidas nos ensinam algo, uns ensinam pelo amor, outros pela dor e eu tive que aprender pelo caminho mais difícil. Mário me disse, quando o conheci, que me faria o tatu bola mais sábio e rico da floresta e ele conseguiu. Sábio é quem perdoa, pois, quem não perdoa é prisioneiro de si mesmo. Quanto à riqueza, já era rico e não percebia, pois maior fortuna não há que a família que está ao sempre ao nosso lado, formada pelos laços indestrutíveis de sangue e de amor.
Fortaleza-CE, 23.3.2014.
Cristiane Caracas.
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