Sigmund Freud nos conta em um dos seus livros que,
certa feita, recebeu em seu consultório uma paciente altiva e bem vestida, que
pela sua postura e educação, deveria pertencer às altas classes da sociedade.
Ela disse que o procurara para relatar que havia tido
uma amiga de infância de poucas posses que um dia lhe informara que iria se casar
com um homem maravilhoso que ela muito amava e sentia-se muito feliz com ele.
Combinaram as duas um encontro com o rapaz para que lhe fosse apresentado o
noivo da amiga. Quando do encontro, ela apaixonou-se pelo prometido em
casamento e decidira que iria matar a outrora amiga para se casar com o moço. E
assim o fez. Pouco tempo depois, envenenou a amiga e desposou seu ex-noivo.
O casal teve uma filha e os anos se passaram. Quando a
filha já era adolescente, a conta dos seus atos vis chegou. O marido faleceu
repentinamente, a filha que nunca havia se dado bem com ela viajou para outro
continente e nunca voltou. Restava-lhe ainda o apego aos seus cavalos, que
sempre foi sua grande paixão, juntamente com os seus belos cães. Pois bem,
semanas após o falecimento do marido, seus cavalos tornaram-se arredios a sua
presença, impedindo-a de montar-lhes e, também, os seus cães vieram a falecer
de forma súbita. Ela complementou que tudo o que ela sempre amara já não mais
existia. Após descrever sua história, despediu-se, informando a Freud que ele
jamais a veria novamente, o que levou o velho terapeuta a concluir que ela iria
suicidar-se.
Essa questão da Justiça nos sistemas trazida por
Freud, tornou-se pedra angular na composição teórica de determinadas linhas de pensamento
terapêutico, como o caso de Ivan Boszormenti-Nagy, que colocava a Justiça ao
lado da Equidade e Lealdade como preceitos básicos no que ficou conhecido como o
Processo Transgeracional. Posteriormente, Bert Hellinger adota tais conceitos e
os incorpora às suas Constelações Familiares Sistêmicas.
Tal evento, lembra-me o mito de Nêmesis, deusa grega,
que está encarregada de castigar os atos daqueles que se elevam acima de sua
condição, tanto no bem quanto no mal, e infringir a devida represália para que
não seja subvertida a ordem do mundo e pôr em perigo, assim, o equilíbrio
universal.
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