A regressão a vidas passadas, ou como
alguns preferem Terapia de Vidas Passadas, é uma técnica que tenho utilizado no
meu trabalho psicanalítico quando outras ferramentas mostram-se ineficazes. No
meio psicanalítico, a referida abordagem tem vários defensores, entretanto, tem
também profissionais que a evitam ou até mesmo entendem que é apenas ilusão do
paciente.
Pois bem, tenho me posicionado no
sentido de que os sucessos obtidos pela TVP são as melhores credenciais em
defesa dela, tudo o mais são discussões teóricas que no geral esbarram nos
limites das crenças de cada um.
Passo a narrar um dos casos que utilizei
a abordagem da TVP.
Nice era uma jovem senhora solteira com
bastante sucesso na vida profissional, entretanto sua vida afetiva estava em
desequilíbrio. Sua queixa principal referia-se a uma obsessão que ela tinha com
um antigo namorado, Pedro, que atrapalhava sobremaneira os seus
relacionamentos. A fixação de Nice no ex-namorado era o principal fator que
impedia novos relacionamentos e tirava a sua paz. O relacionamento com o
ex-parceiro não tinha sido nada fácil, Pedro tinha índole violenta e as brigas
e discussões eram recorrentes, chegando ao ponto da agressão física.
Após ter tentado sem sucesso outras
abordagens com Nice, perguntei a ela se poderíamos tentar a TVP, e ela
prontamente concordou.
Depois de uma rápida indução, Nice se
via no corpo de uma outra mulher, que ela identificou como Rana, uma bela e
pobre jovem em algum lugar da França no século XIII. Via-se como uma camponesa
cheia de sonhos e planos que havia iniciado um relacionamento com um homem mais
velho que ela, de nome Thomas.
Adiantei-a no tempo para um evento
relevante que justificasse a sua relação atual. Rana agora estava morando em
uma pequena casa que Thomas havia comprado para ela em uma região distante da
cidade. Thomas agora era monge, um cavalheiro templário, que almejava alcançar
o título de Grão-mestre da Ordem Templária. Aquele objetivo de Thomas e pelo
fato de ser proibido casar pelo voto da castidade, o levara a esconder o
relacionamento com Rana da sociedade local, fato que muito a incomodava e que
era motivo constante de desentendimento do casal.
Certa feita, Thomas a visitara e disse
que iria se ausentar por longa data e que achava melhor que ela permanecesse
longe da sociedade para não levantar suspeitas. Aquela atitude foi a gota
d’água para Rana, que tinha sonhos de casar e ter uma vida normal. Uma violenta
discussão iniciou-se e Thomas empunhou sua espada e atingiu o flanco esquerdo
de Rana.
Nice passou a sentir a dor da morte de
Rana. Adiantei-a um pouco no tempo e ela se viu como espírito flutuando sobre o
corpo sem vida de Rana, enquanto Thomas fugia confuso em seu cavalo.
De posse das técnicas adequadas,
solicitei ao espírito de Rana que perdoasse Thomas daquele ato e também
vislumbrasse Thomas pedindo perdão a ela. Após algumas outras instruções com o
foco no Amor, Perdão, Compaixão, Aceitação, Não-resistência e Gratidão, trouxe
Nice de volta ao tempo presente.
Nice ficou maravilhada com a experiência
e no mesmo dia me enviou uma empolgada mensagem dizendo que havia encontrado na
internet todas as informações que havia vivenciado na regressão: o nome de
Thomas era Thomas Berard (ou Bernard) e o objetivo de Tomas fora alcançado, ele
havia se tornado grão-mestre dos Cavalheiros Templários de 1256 a 1273.
Agradeci a Nice sua pesquisa, mas
destaquei que o mais importante não era o fato em si, mas a ressignificação das
emoções a partir do conhecimento do fato.
Após aquela sessão Nice demonstrara uma
melhora acentuada de seu quadro neurótico, mas ainda houve necessidade de
continuar com mais algumas sessões da TVP. Entretanto, isso é outra história...
José Anastácio de Sousa Aguiar
*nomes, sexos e alguns detalhes foram
alterados para proteger a identidade dos pacientes.
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