terça-feira, 29 de maio de 2018

Há luzes que apagam e escuridões que iluminam, ou Como tornar-se amigo da sua sombra?

Há algum tempo houve um grande apagão que atingiu boa parte do país, inclusive a cidade na qual resido. Como faço quase todo início de noite, mesmo sem o retorno da eletricidade, por vota das 18:00h, dei início à caminhada pela vizinhança com a nossa labradora, Bia.
A primeira constatação, além da óbvia ampla obscuridade, foi que não vi uma pessoa sequer. Com o passo mais reduzido, demos início ao que eu esperava ser mais uma rotineira atividade. Ledo engano. Já nos primeiros passos, pude encontrar a gentil companheira da escuridão, o silêncio.
Nunca havia caminhado desfrutando da agradável companhia da quietação. Entretanto, logo percebi que ela caprichosamente revela-se aos amigos ao permitir que os sons mais cálidos da noite sorrateiramente se manifestem. Perceber o sussurrar das palhas dos coqueiros, o coaxar dos sapos e o inconfundível e sereno correr da água de um riacho próximo não tiveram preço e foram os ingredientes amealhados de uma noite inesquecível.
As surpresas maiores estavam a caminho, quando atravessando a parte mais escura do trajeto fomos brindados com as magníficas luzes de vários vaga-lumes que margeavam o percurso (ah..., os vaga-lumes, que admiráveis criaturas...). Tão belo quanto, eram as cintilantes estrelas, que de forma deslumbrante, acompanhavam pacientemente a nossa jornada. Bia, que sempre se mostra agitada nas caminhadas, naquela noite, permaneceu serena e contemplativa, acompanhando e reverenciando a pacífica e plácida energia da natureza.
Pois bem, cotidianamente, na nossa sociedade hodierna, somos distraídos com entretenimentos mundanos que tendem a subjugar a nossa luz interna. O excesso de estímulos triviais exteriores nos torna reféns do universo material que nos rodeia, abafando qualquer tentativa de autoconhecimento e mergulho em si mesmo. Somos grandes desconhecidos de nós mesmos, perdidos num emaranhado (quase) inesgotável de superficialidades e puerilidade, tornando-nos confusos e desorientados.
Confusão e desorientação, aliás, são questões comuns que vejo em boa parte dos pacientes, que, em geral, se digladiam com problemas gerados pelo quadro acima disposto.
Uma das principais demandas na clínica psicanalítica é justamente o enfrentamento da própria escuridão do paciente. As sombras acumuladas e indevidamente trabalhadas levam o indivíduo, muitas vezes, a situações emocionais limites.
Carl G. Jung tratou com bastante propriedade a temática da sombra. Ele asseverava que aquele lado reprimido que evitamos considerar precisa ser integralizado à psique. Somente a partir do mergulho em si mesmo e a aposta na ampliação da Consciência e do concebível pode o indivíduo dar início ao seu processo de cura.
Finalizo essas poucas linhas com Jung: "O que negas, te submete; o que aceitas, te transforma".

José Anastácio de Sousa Aguiar
Psicanalista, hipnoterapeuta e terapeuta de vidas passadas

Não podemos ensinar... - Carl Rogers


sábado, 26 de maio de 2018

Em que momento perdemos a nossa Pureza?


Diga-me o que fazes no teu tempo livre que te direi quem tu és, ou Que haja mais Sofias nesse mundo

Constantemente somos bombardeados com informações sobre atitudes desagradáveis e reclamações de toda ordem sobre políticos, administradores, profissionais, vizinhos, pais, irmãos, filhos, etc. Parece-nos que o mundo está cada vez pior... Entretanto, o que nós efetivamente fazemos para tornar o mundo melhor, em especial quando se refere ao nosso tempo livre?
Pois bem, tive a agradável surpresa de conhecer a Sofia e suas amigas, que em uma bela e ensolarada manhã de sábado estavam dispostas a fazer, no anonimato, a parte delas para tornar o mundo um local mais limpo. Elas, empunhando sacos plásticos, utilizaram uma considerável parte do seu lazer para recolher o lixo deixado na praia do Porto das Dunas.
A atitude das meninas do Porto das Dunas pode, para muitos, parecer não ter grande repercussão, entretanto parece-me que vejo nascer nessa nova geração uma disposição de fazer algo a mais em proveito do todo.
Preocupar-se apenas com o próprio umbigo trouxe a sociedade atual e a natureza ao estado limite em que nos encontramos: competição, concorrência, egoísmo, devastação, inconsciência e dualidade.
Nesses tempos de crise moral e ética é mais que reconfortante presenciar exemplos e atitudes como a das meninas do Porto das Dunas. A geração nova que nasce, com suas crianças cristais e índigos, vai ter a grande incumbência de reparar nossos erros. Serão eles os resgatadores do belo, do harmônico, da empatia e do amor incondicional. Serão eles que realizarão a reconexão perdida com a nossa irmã terra, com os nossos irmãos animais, seres tão sencientes quanto nós.
Finalizo essa poucas linhas com Gandhi: "Tudo que vive é teu próximo".
Que haja, urgente, mais Sofias nesse mundo. 

domingo, 20 de maio de 2018

Toc, o que é, para que serve e como tratar? ou Só quem sofre sabe o que é



Tenho recebido recentemente um número considerável de pacientes com demandas relacionadas ao TOC. Diante do crescente número de casos e com o fito de levar algumas informações a quem sofre ou conhece alguém que sofre da doença, escrevo essas poucas linhas.
Pois bem, TOC ou Transtorno Obsessivo Compulsivo é um desequilíbrio da psique muito estudado, mas nem sempre bem compreendido. Como o próprio nome antecipa é a combinação de obsessão, pensamentos involuntários e indesejados que invadem a consciência; e compulsão, atos decorrentes das obsessões.
Imperioso ressaltar o grande sofrimento que acomete o paciente, em razão das ansiedades, medos, receio da não-aceitação e exclusão de grupos sociais, somatizações, etc. Cumpre lembrar que sofre não só o indivíduo, mas todo o seu núcleo familiar, que, na maioria dos casos, não entende ou considera “frescura” os sintomas, levando em muitos casos ao total desequilíbrio da família.  
Em que pese a vasta literatura sobre o tema, ainda não foi possível identificar com clareza suas causas e cura, entretanto observo na clínica que é possível inferir que em vários casos ocorrem a partir de um evento traumático. Por outro lado, em uma amostragem considerável, não foi possível observar um evento único catalisador dos sintomas.
Observo que os sintomas são vários: manias de limpeza, organização, repetição, confirmação, acumulação, dentre outros. A energia psíquica do indivíduo é consumida por um conflito mental interno que tende a minar parte da energia do paciente, levando, em alguns casos, a uma completa imobilização. Em outras palavras, procedimentos que em outras pessoas são executados de forma (quase) automática, como lavar as mãos, fechar uma porta, etc, nas pessoas que padecem da enfermidade muita energia é destinada para executar essas tarefas cotidianas.
No contexto da Psicologia Analítica de Jung, o Ego é o centro da consciência, responsável pela execução das tarefas do indivíduo e que em tese é o responsável pela administração e saúde da psique, tendo para tal a liberdade e a autonomia de gerenciar todo o processo psíquico. Pois bem, em indivíduos acometidos pelo TOC essa liberdade e autonomia do Ego são consideravelmente reduzidas, obrigando-o a despender uma vasta parte de seu tempo e energia para administrar a ansiedade e inquietações oriundas do TOC.
Tenho visto também que um considerável número de pacientes desse universo tem uma personalidade forte e tem especial apreço pelo controle. Parece-me que em algum momento da evolução e estruturação da psique, essa necessidade de controle volta-se contra o próprio indivíduo, tornando o controlador, controlado.
Apostar no reequilíbrio da energia psíquica do indivíduo é o cerne do tratamento clínico que utilizo, bem verdade, que essa retomada da harmonização da psique deve ser avaliada caso a caso.
José Anastácio de Sousa Aguiar
Psicanalista, hipnoterapeuta e Terapeuta de Vidas Passadas

No tension - Mooji


terça-feira, 8 de maio de 2018

Sri Prem Tata, os medos de cada um; ou Viver ou não viver, eis a questão


Certa ocasião, Tata e seu fiel discípulo foram à praia. Tata, como de costume, levantou cedo e ao raiar do sol dirigiu-se por um belo bosque a uma das praias da região.
A acolhedora e fina areia deram as boas-vindas aos visitantes e Tata calmamente entrou na água e gentilmente deliciava-se e brincava com a irmã água.
O discípulo de Tata tentou acompanhar o mestre, mas assim que pisou na fria água da incipiente manhã, recuou. Após alguns minutos, vendo a alegria e a jovialidade do mestre na água, indagou:
_ Mestre, como é possível sentir-se tão confortável em uma água tão fria. Não entrarei no mar, esperarei a água esquentar e estar nas condições ideias.
Tata continuou a regozijar-se e após alguns segundos assim se expressou:
_ A água representa a vida, somente aquele que enfrenta os seus desafios terá efetivamente vivido. Só há uma maneira de aprender a viver, vivendo. Esperar as condições ideais para começar a viver é condenar-se a desperdiçar seus dons e potenciais. A frieza da água representa os desafios a serem enfrentados (medos, culpas, sombra, etc), por mais que possa haver sofrimento ao se encarar a vida de frente, eles são o passaporte para a paz, a plenitude e a efetiva realização do seu potencial nessa existência.