sábado, 25 de outubro de 2014

O que é sucesso? Ralph Waldo Emerson


Da Religiosidade à Espiritualidade: um caminho percorrido - Parte IV - Religião


Todas as definições de Religião estão ligadas à expressão exterior – ritos, atos de culto e outras formas visíveis de manifestação religiosa. O fundamento da religião está no ritual, no cerimonial, no visível. A própria definição etimológica latina “religio” presume uma compreensão de ato de culto a alguma divindade, ligação entre duas partes ou conexão entre imanência e transcendência (MAZZAROLO, 2006).
As religiões possuem um código de ética que rege o comportamento e dita valores morais. Muitas religiões baseiam suas crenças num ser supremo ou num Deus que deve ser reverenciado e as pessoas devem viver de acordo com os seus ensinamentos (SOMMERHALDER; GOLDSTEIN apud FREITAS, 2006).
“Religião é o aspecto institucional da espiritualidade”, “religiões são instituições organizadas em torno da ideia de espírito” (HUFFORD apud STROPPA e MOREIRA (2008).
Weil (1987) explica que no plano religioso, as tradições que poderiam mostrar ao homem o significado de sua existência no mundo e de seu papel na terra foram igualmente fragmentadas e institucionalizadas em agrupamentos e seitas, frequentemente muito distanciados do espírito universal e abertos de seus criadores.
 Os ensinamentos de Jesus, Buda, Krishna, Maomé, Moisés, entre outros grandes mestres, que deveriam trazer grandes avanços à humanidade foram deturpados e utilizados indevidamente para outros fins. As guerras religiosas estão aí para nos mostrar isso.   
Cavalcanti (2000), no texto abaixo, faz uma reflexão sobre o papel da religião como algo que pouco tem contribuído para a esperada transformação do indivíduo.
“Com o tempo, as religiões oficiais foram adotando uma visão laica, ligada ao mundo profano, visível na atuação de seus representantes, a qual mostra uma preocupação muito maior com o aspecto social e político do que com o aspecto transcendente e sagrado. Mesmo assim, as práticas espirituais das religiões institucionalizadas ainda que mecânicas e destituídas de significados transcendentes, são como parênteses na vida das pessoas. E tem contribuído muito pouco para a vivência do lado espiritual como elemento transformador, pois não fornecem o instrumento simbólico que permita a seus praticantes uma mudança na concepção de mundo. Sem tais instrumentos determinantes de uma auto-reflexão e de uma práxis que levam ao autoconhecimento e à autotransformação – pouco poderá ser feito” (CAVALCANTI, 2000, p. 59).
Desse modo, o espírito tem sido destronado e esquecido nas religiões e todo o conhecimento das antigas tradições corrompido e desprezado, restando instituições com regras dogmáticas, ressaltando o pecado e a culpa, ameaçando, aterrorizando, causando divisões, disputas e alimentando o ego, quando na verdade deveriam ser instrumento de reflexão e autotransformação.
Sobre esse assunto, Wildes (1995) ressalta que religião é um conjunto de crenças, leis e ritos que visam a um poder que o homem considera supremo, do qual é dependente e com o qual tem um relacionamento e obtém favores. Trata-se, portanto, de questões sagradas, exercidas no seio de uma instituição, ligadas às estruturas formais, rígidas, dogmáticas e, principalmente, relacionadas às questões do além-morte (religiões de salvação).
Kant (1794) tenta situar o pensamento religioso e o sentimento de religiosidade no âmbito da racionalidade humana. O autor parte do princípio que a dualidade da existência, representada no bem e no mal, afeta fundamentalmente o indivíduo e que, somente através do esclarecimento interior, o homem pode entender seu papel frente à universal luta entre o bem e o mal, a qual está no mundo, mas, também, se faz presente em seu interior.
De acordo com Zilles (2002), Kant era contrário à fé numa religião de culto, pois seria uma fé de escravos, já que o culto em si não teria valor moral e que o verdadeiro culto deveria ser o cumprimento do dever moral, como mandamento de Deus. Nesse aspecto, Deus se revela em diálogo com o que Kant afirma:
“(...) Nas suas mentes imprimirei as minhas leis, também sobre os seus corações as inscreverei; e Eu lhes serei por Deus, e eles me serão por povo. E não ensinará jamais cada um ao seu próximo, nem cada um a seu irmão, dizendo: conhece ao Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor deles até o maior” (HEBREUS 8,10). 
Finalmente, Boff (2006) deixa claro que existe uma distinção essencial entre religião e espiritualidade, onde a religião estaria vinculada a crenças, rituais, dogmas, e a espiritualidade relacionada às qualidades do espírito humano – amor, compaixão, capacidade de perdoar, solidariedade, tolerância, contentamento, noção de responsabilidade e harmonia – que trazem felicidade para a própria pessoa e para os outros.
Jeruzia Costa de Medeiros
*Artigo científico apresentado ao Curso de Pós-graduação (Lato Senso) em Psicologia Transpessoal da Faculdade de Tecnologia Darcy Ribeiro em parceria com o Instituto Celta, como requisito parcial para obtenção do Título de Especialista em Psicologia Transpessoal.

Dica de Evento - Workshop de Renascimento na Água


Volta à consciência - Sigmund Freud


quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Resumo do Livro XI de Sigmund Freud - Cinco Lições de Psicanálise, Leonardo da Vinci e outros trabalhos (1910)


Resumo do Livro XI – Cinco Lições de Psicanálise, Leonardo da Vinci e outros trabalhos (1910)
Cinco Lições de Psicanálise
_ as 5 conferências de Freud na Clark University, Worcester, Massachusetts foi o primeiro reconhecimento oficial na novel ciência – p. 17;
_ as conferências foram em alemão e foram pronunciadas de improviso, sem notas e depois de muito pouco preparo – p. 18;
_ em 1908, se reunia em Salisburgo, o primeiro congresso psicanalítico internacional – p. 21;
_ a vida de Freud tem sido toda ela uma luta incessante pela verdade e é possível dizer que Freud passou toda a existência debruçado sobre a alma dos neuróticos – p. 22;
Primeira lição
_ o primeiro a empregar o método da psicanálise num tratamento de uma jovem histérica foi o Dr. Breuer (1880-1882) – p. 27;
_ considerações a respeito dos sintomas da primeira paciente do Dr. Breuer – p. 27/28;
_ nem sempre é fácil distinguir a histeria de uma grave doença orgânica – p. 28;
_ é forçoso reconhecer que a alteração psíquica manifestada durante as “absences” era consequência da excitação proveniente dessas fantasias intensamente afetivas. A própria paciente, que nesse período da moléstia só falava e entendia inglês, deu a esse novo gênero de tratamento o nome de “talking cure” (cura pela conversação) qualificando-o também, por gracejo, de “chimney sweeping” (limpeza de chaminé). Verificou-se logo, como por acaso, que, limpando-se a mente por esse modo, era possível conseguir alguma coisa mais que o afastamento passageiro das repetidas perturbações psíquicas – p. 30;
_ depois de exteriorizar energicamente a cólera retida, pediu de beber, bebeu sem embaraço grande quantidade de água e despertou da hipnose com o copo nos lábios. A perturbação desapareceu definitivamente – p. 30;
_ ninguém, até então, havia removido por tal meio um sintoma histérico nem penetrado tão profundamente na compreensão da sua causa – p. 31;
_ quase todos os sintomas se haviam formado desse modo, como resíduos – como ‘precipitados’, se quiserem – de experiências emocionais que, por essa razão, foram denominados posteriormente ‘traumas psíquicos’; e o caráter particular a cada um desses sintomas se explicava pela relação com a cena traumática que o causara. Eram, segundo a expressão técnica, determinados pelas cenas cujas lembranças representavam resíduos – p. 31;
_ todas as impressões patogênicas provinham do tempo em que ela se dedicara ao pai doente – p. 31;
_ os histéricos sofrem de reminiscências. Seus sintomas são resíduos e símbolos mnêmicos de experiências especiais traumáticas – p. 33;
_ os histéricos e os neuróticos não só recordam acontecimentos dolorosos que se deram há muito tempo, como ainda se prendem a eles emocionalmente; não se desembaraçam do passado e alheiam-se por isso da realidade e do presente. Essa fixação da vida psíquica aos traumas patogênicos é um dos caracteres mais importantes da neurose e dos que têm maior significação prática – p. 33;
_ é preciso salientar que a doente de Breuer em quase todas as situações teve que subjugar uma poderosa emoção, em vez de permitir sua descarga por sinais apropriados de emoção, palavras ou ações – p. 34;
_ ao reproduzir, posteriormente, essas mesmas cenas diante do médico, a energia afetiva então inibida manifestava-se intensamente, como se estivera até então represada. Além disso, o sintoma – resíduo desta cena – atingia a máxima intensificação quando durante o tratamento ia-se chegando a sua causa, para desaparecer completamente quando esta se aclarava inteiramente. Por outro lado, pode-se verificar que era inútil recordar a cena diante do médico se, por qualquer razão, isto se dava sem exteriorização afetiva. Era pois a sorte dessas emoções, que podemos imaginar como grandezas variáveis o que regulava tanto a doença como a cura. Tinha-se de admitir que a doença se instalava porque a emoção desenvolvida nas situações patogênicas não podia ter exteriorização normal; e que a essência da moléstia consistia na atual utilização anormal das emoções ‘enlatadas’. Em parte ficavam estas como carga contínua da vida psíquica e fonte permanente de excitação para a mesma; em parte se desviavam para insólitas inervações e inibições somáticas, que se apresentavam como sintomas físicos do caso. Para esse último mecanismo propusemos o nome de ‘conversão histérica’. Demais, uma certa parte de nossas emoções psíquicas é conduzida normalmente para a inervação somática, constituindo aquilo que conhecemos por ‘expressão das emoções’ – p. 34/35;
_ onde existe um sintoma, existe também uma amnésia, uma lacuna da memória, cujo preenchimento suprime as condições que conduzem à produção do sintoma – p. 36;
Segunda lição
_ divisão da mente e dissociação da personalidade como ponto central da nossa teoria – p. 37;
_ o procedimento catártico, como Breuer o praticava, exigia previamente a hipnose profunda do doente, pois só no estado hipnótico é que tinha este o conhecimento das ligações patogênicas que em condições normais lhe escapavam. Tornou-se-me logo enfadonho o hipnotismo, como recurso incerto e algo místico; e quando verifiquei que apesar de todos os esforços não conseguia hipnotizar senão parte dos meus doentes, decidi abandoná-lo, tornando o procedimento catártico independente dele – p. 38;
_ pude, prescindindo do hipnotismo, conseguir que os doentes revelassem tudo quanto fosse preciso para estabelecer os liames existentes entre as cenas patogênicas olvidadas e os seus resíduos – os sintomas. Esse processo era, porém, ao cabo de algum tempo, extenuante, inadequado para uma técnica definitiva – p. 38;
_ as recordações esquecidas não se haviam perdido, mas alguma força as detinha, obrigando-as a permanecer inconsciente, a resistência do enfermo – p. 38/39;
_ nesta ideia da resistência alicercei então minha concepção acerca dos processos psíquicos na histeria. Para o restabelecimento do doente mostrou-se indispensável suprimir estas resistências. Partindo do mecanismo da cura, podia-se formar ideia muito precisa da gênese da doença. As mesmas forças que hoje, como resistência, se opõem a que o esquecido volte à consciência deveriam ser as que antes tinham agido, expulsando da consciência os acidentes patogênicos correspondentes. A esse processo por mim formulado, dei o nome de repressão e julguei-o demonstrado pela presença inegável da resistência – 39;
_ era, portanto, a incompatibilidade entre a ideia e o ego do doente, o motivo da repressão; as aspirações individuais, éticas e outras, eram as forças repressivas. A aceitação do impulso desejoso incompatível ou o prolongamento do conflito teriam despertado intenso desprazer; a repressão evitava o desprazer, revelando-se desse modo um meio de proteção da personalidade psíquica – p. 39;
_ considerações sobre um caso em que estão patentes os aspectos determinantes e a vantagem da repressão e comparação do processo de repressão com um indivíduo comportando-se de modo inconveniente num auditório – p. 39/40/41;
_ a hipnose encobre a resistência, deixando livre e acessível um determinado setor psíquico, em cujas fronteiras, porém acumula as resistências, criando para o resto uma barreira intransponível – p. 41;
_ a repressão das ideias, expulsam-na da consciência e da lembrança; com isso os pacientes se livram aparentemente de grande soma de dissabores. Mas o impulso desejoso continua a existir no inconsciente à espreita de oportunidade para se revelar, concebe a formação de um substituto do reprimido, disfarçado e irreconhecível, para lançar à consciência, substituto ao qual logo se liga a mesma sensação de desprazer que se julgava evitada pela repressão. Esta substituição da ideia reprimida – o sintoma – é protegida contra as forças defensivas do ego e em lugar do breve conflito, começa então um sofrimento interminável. Pelo tratamento psicanalítico desvenda-se o trajeto ao longo do qual se realizou a substituição, e para a recuperação é necessário que o sintoma seja reconduzido pelo mesmo caminho até a ideia reprimida – p. 41/42;
_ uma vez restituído à atividade mental consciente aquilo que fora reprimido – e isso pressupõe que consideráveis resistências tenham sido desfeitas – o conflito psíquico que desse modo se originara e que o doente quis evitar, alcança, orientado pelo médico, uma solução mais feliz do que a oferecida pela repressão – p. 42;
_ considerações sobre as várias soluções para rematar satisfatoriamente conflito e neurose – p. 42;
Terceira lição
_ duas forças antagônicas atuam no doente; de um lado o esforço refletido para trazer à consciência o que jazia deslembrado no inconsciente; de outro lado a resistência, já nossa conhecida, impedindo a passagem para o consciente do elemento reprimido ou dos derivados deste – p. 43;
_ podemos admitir que seja tanto maior a deformação do elemento procurado quanto mais forte a resistência que o detiver – p. 43;
_ considerações sobre a técnica psicanalítica: as ideias livres nunca deixam de aparecer se o paciente renunciar a qualquer crítica, expondo tudo o que lhe vier à mente. O material associativo que o paciente rejeita como insignificante está sob a influência da resistência – p. 45;
_ a interpretação dos sonhos é a estrada real para o conhecimento do inconsciente. Quando me perguntam como pode uma pessoa fazer-se psicanalista, respondo que é pelo estudo dos próprios sonhos – p. 46;
_ os fatos e impressões da tenra infância exercem no desenvolvimento do homem um papel importantíssimo e nunca imaginado – p. 49;
_ a ansiedade é uma das reações do ego contra desejos reprimidos violentos, daí perfeitamente explicável a presença dela no sonho, quando a elaboração deste se pôs excessivamente a serviço da satisfação daqueles desejos reprimidos – p. 49;
_ a interpretação dos sonhos leva ao conhecimento dos desejos ocultos e reprimidos – p. 49/50;
_ o exame dos atos falhos, os sintomáticos e os fortuitos, bem como a interpretação dos sonhos fazem jus à mesma consideração que os sintomas e o seu exame podem levar ao descobrimento da parte oculta da mente – p. 50;
_ a proposta da técnica psicanalítica é conduzir à consciência o material psíquico patogênico, dando fim desse modo aos padecimentos ocasionados pela produção dos sintomas de substituição. Quer a psicanálise tornar conscientemente reconhecido aquilo que está reprimido na vida mental – p. 51;
Quarta lição
_ o exame psicanalítico relaciona com uma regularidade verdadeiramente surpreendente os sintomas mórbidos a impressões da vida erótica do doente; mostra-nos que os desejos patogênicos são da natureza dos componentes instintivos eróticos: e obriga-nos a admitir que as perturbações do erotismo têm a maior importância entre as influências que levam à moléstia, tanto num como noutro sexo – p. 53;
_ alguns são inclinados a julgar que eu exagero a participação etiológica do fator sexual, e vêm a mim perguntando por que outras excitações mentais não hão de dar também motivo aos fenômenos da repressão e formação de substitutivos. Por ora só lhes posso responder: não sei. Mas a experiência mostra que elas não têm a mesma importância – p. 53;
_ em matéria sexual, os homens são, em geral, insinceros – p. 53;
_ só os fatos da infância explicam a sensibilidade aos traumatismos futuros e só com o descobrimento desses restos de lembranças, quase regularmente olvidados, e com a volta deles à consciência, é que adquirimos o poder de afastar os sintomas – p. 54;
_ comentários sobre a existência da sexualidade infantil – p. 54/55;
_ os instintos sexuais aparecem em grupos de dois, um oposto ao outro, ativo e passivo: cito-lhes como mais notável representante desse grupo o prazer de causar sofrimento (sadismo) com o seu reverso passivo (masoquismo) e o prazer visual, ativo ou passivo. Do gozo visual ativo desenvolve-se mais tarde a sede de saber, como do passivo, o pendor para as representações artísticas e teatrais – p. 56/57;
_ a diferença de sexo ainda não tem neste período infantil papel decisivo; pode-se, pois, atribuir a toda criança, sem injustiça, uma parcial disposição homossexual – p. 57;
_ os mais profundamente atingidos pela repressão são primeiramente, e sobretudo, os prazeres infantis coprófilos, isto é, os que se relacionam com os excrementos, e, em segundo lugar, os da fixação às pessoas da primitiva escolha de objeto – p. 57;
_ um dos princípios da patologia geral afirma que todo processo evolutivo traz em si os germes de uma disposição patológica e pode ser inibido ou retardado ou desenvolver-se incompletamente. Isso vae para o tão complicado desenvolvimento da função sexual que nem em todos os indivíduos se desenrola sem incidentes que deixem após si ou anormalidades ou disposições a doenças futuras por meio de uma regressão. Pode suceder que nem todos os impulsos parciais se sujeitem à soberania da zona genital; o que ficou independente estabelece o que chamamos perversão e pode substituir a finalidade sexual normal por sua própria. Segundo já foi dito, acontece frequentemente que o auto-erotismo não seja completamente superado, como testemunham as multiformes perturbações aparecidas depois. A equivalência primitiva dos sexos como objeto sexual pode conservar-se, e disso se originará no adulto uma tendência homossexual, capaz de chagar em certas circunstâncias até a da homossexualidade exclusiva. Esta série de distúrbios corresponde a entraves diretos no desenvolvimento da função sexual: abrange as perversões e o nada raro infantilismo geral da vida sexual – p. 57/58;
_ a propensão à neurose deve provir por outra maneira de uma perturbação do desenvolvimento sexual. As neuroses são para as perversões o que o negativo é para o positivo – p. 58;
_ é muito possível que me contestem dizendo que nada disso é sexualidade e que emprego a palavra num sentido mais extenso do que estão habituados a entender. Concordo. O psicanalista considera a sexualidade nesse sentido amplo – p. 58;
_ a criança toma ambos os genitores, e particularmente um deles, como objeto de seus desejos eróticos – p. 59;
_ considerações sobre o mito do rei Édipo – p. 59;
_ é absolutamente normal e inevitável que a criança faça dos seus pais o objeto da primeira escolha amorosa – p. 60;
Quinta lição
_ os indivíduos adoecem quando, por obstáculos exteriores ou ausência de adaptação interna lhes falta na realidade a satisfação das necessidades sexuais – p. 61;
_ a fuga, da realidade insatisfatória para aquilo que pelos danos biológicos que produz chamamos doença, não deixa jamais de proporcionar ao doente um prazer imediato; ela se dá pelo caminho da regressão às primeiras fases da vida sexual a que na época própria não faltou satisfação. Esta regressão mostra-se sob dois aspectos: temporal e formal – p. 61;
_ quando com a revolta perpétua contra o mundo real faltam ou são insuficientes esses preciosos dons, é absolutamente inevitável que a libido, seguindo a origem da fantasia, chegue ao reavivamento dos desejos infantis, e com isso à neurose, representante, em nossos dias, do claustro aonde costumavam recolher-se todas as pessoas desiludidas da vida ou que se sentiam fracas demais para viver – p. 62;
_ considerações sobre a transferência, experiência mais importante, que vem confirmar nossa suposição acerca das forças instintivas sexuais da neurose e verdadeiro veículo da ação terapêutica– p. 62/63;
_ considerações sobre o que acontece com os desejos inconscientes libertados pela psicanálise – p. 64;
_ a extirpação radical dos desejos infantis não é absolutamente o fim ideal. Por causa das repressões, o neurótico perdeu muitas fontes de energia mental que lhe teriam sido de grande valor na formação do caráter e na luta pela vida. Conhecemos uma solução muito mais conveniente, a chamada ‘sublimação’. Pela qual a energia dos desejos infantis não se anula, mas ao contrário permanece utilizável, substituindo-se o alvo de algumas tendências por outro mais elevado, quiça não mais de ordem sexual. A repressão prematura exclui a sublimação do instinto reprimido; desfeito aquele, está novamente livre o caminho para a sublimação – p. 65;    
Leonardo Da Vinci e uma lembrança da sua infância (1910)
_ este trabalho de Freud não foi o primeiro em que foram aplicados métodos clínicos da psicanálise no estudo de vultos históricos do passado – p. 70;
_ o mundo gosta de denegrir o brilhante e arrastar na lama o sublime – p. 73;
_ Da Vinci adorava o belo em tudo o que o cercava – p. 74;
_ ele possui uma tênue visão da perfeição, que tenta sempre reproduzir sem nunca conseguir satisfazer-se – p. 76;
_ a vagareza do trabalho de Leonardo era proverbial– p. 76;
_ uma certa ociosidade e indiferença são evidentes em sua personalidade. Leonardo se fazia notar pela sua pacatez e pela aversão a qualquer antagonismo ou controvérsia. Era gentil e amável para com todos, recusava-se, dizem, a comer carne por não achar justo matar animais; gostava, sobretudo, de comprar pássaros no mercado para soltá-los depois – p. 78;
_ Leonardo representava a fria rejeição da sexualidade– p. 79;
_ Leonardo tinha o insaciável desejo de tudo compreender a seu redor. Dizia que não se tem o direito de amar ou odiar qualquer coisa da qual não se tenha conhecimento profundo – p. 82;
_ seus afetos eram controlados e submetidos ao instinto da pesquisa e convertera sua paixão em sede de conhecimento – p. 83;
_ devido a sua sede insaciável e incansável de conhecimento, Leonardo tem sido chamado de o Fausto italiano. A evolução de Leonardo se aproxima do pensamento de Spinoza – p. 84;
_ a investigação substituiu a ação e também a criação. Um homem que começou a vislumbrar a grandeza do universo com todas as suas complexidades e suas leis, esquece facilmente de sua própria insignificância – p. 84;
_ sua ânsia de conhecimento foi sempre dirigida ao mundo exterior, qualquer coisa o afastava da investigação da alma humana – p. 85;
_ a observação da vida cotidiana das pessoas mostra-nos que a maioria das pessoas conseguiu orientar uma boa parte das forças resultantes do instinto sexual para sua atividade profissional. O instinto sexual presta-se bem a isso, já que é dotado de uma capacidade de sublimação: isto é, tem a capacidade de substituir seu objetivo imediato por outros desprovidos de caráter sexual e que possa ser mais altamente valorizados – p. 86;
_ considerações sobre o sonho de Leonardo com abutre – p. 91/100;
_ considerações sobre o complexo de castração – p. 103;
_ considerações sobre eventuais causas de impotência psíquica, misoginia e homossexualidade – p. 104;
_ em todos os nossos casos de homossexualismo masculino, os indivíduos haviam tido uma ligação erótica muito intensa como uma mulher, geralmente sua mãe, durante o primeiro período de sua infância, esquecendo depois esse fato; essa ligação havia sido despertada ou encorajada por demasiada ternura da própria mãe, e reforçada posteriormente pelo papel secundário desempenhado pelo pai durante sua infância – p. 106;
_ o amor da criança por sua mãe não pode mais continuar a se desenvolver conscientemente – ele sucumbe à repressão. O menino reprime seu amor pela mãe; coloca-se em seu lugar, identifica-se com ela, e toma a si próprio como um modelo a que devem assemelhar-se os novos objetos de seu amor. Desse modo ele transformou-se num homossexual. Um homem que assim se torna homossexual, permanece inconscientemente fixado à imagem mnêmica de sua mãe – p. 107;
_ considerações sobre o quadro ‘A Mona Lisa’ – p. 114/120;
_ a compulsão derivada das impressões dos primeiros anos da infância, e o que foi reprimido e se tornou inconsciente, não pode ser corrigido pelas experiências futuras – p. 128;
_ a psicanálise tornou conhecida a intima conexão existente entre o complexo do pai e a crença em Deus – p. 129;
_ os sintomas neuróticos são estruturas que funcionam como substitutos para algumas consequências de repressão, a qual devemos submeter-nos no curso de nosso desenvolvimento, desde a criança ao ser humano civilizado – p. 137;
_ duas características de Leonardo que não podem ser explicadas pela psicanálise: sua tendência muito especial para a repressão dos instintos e sua extraordinária capacidade para sublimar os instintos primitivos – p. 141;
_ a natureza está cheia de inúmeras razões que nunca penetram a experiência – p. 142;
As perspectivas futuras da terapêutica psicanalista (1910)
_ trabalho proferido para a abertura do Segundo Congresso de Psicanálise em Nurembergue – p. 145;
_ o tratamento psicanalítico compõe-se de duas partes: o que o médico infere e diz ao doente e o que o doente elabora de quanto ouviu – p. 147;
_ à época do tratamento catártico, o que almejávamos era a elucidação dos sintomas; afastamo-nos depois dos sintomas e devotamo-nos, em vez disso, a desvendar os complexos, para usar uma palavra que Jung tornou indispensável; agora, no entanto, nosso trabalho objetiva encontrar e sobrepujar, diretamente, as resistências, e podemos confiar em que venham à luz, justificadamente, sem dificuldade, os complexos, tão logo se reconheçam e se removam as resistências – p. 150;
_ nos pacientes masculinos, a maioria das resistências importantes ao tratamento parecem derivar-se do complexo paterno e expressar-se neles no medo ao pai, desobediência ao pai e desavença ao pai – p. 150;
_ nenhum psicanalista avança além do quanto permitem seus próprios complexos e resistências internas – p. 150;
_ qualquer um que falhe em produzir resultados numa auto-análise desse tipo deve desistir, imediatamente, de qualquer deia de tornar-se capaz de tratar pacientes pela análise – p. 150;
_ deve-se modificar a técnica psicanalítica, em certos setores, de acordo com a natureza da doença e das tendências instintivas predominantes no paciente – p. 151;
_ não necessito dizer-lhes muito sobre a importância da autoridade. Poucas pessoas civilizadas, apenas, são capazes de existir sem confiar em outras ou, até mesmo, de vir a ter uma opinião independente. Os senhores não podem exagerar a intensidade de carência interior de decisão das pessoas e de exigência de autoridade. O aumento extraordinário das neuroses desde que decaiu o poder das religiões pode dar-lhes uma medida disso. O empobrecimento do ego devido ao grande dispêndio de energia, na repressão, exigido de cada indivíduo pela civilização, pode ser uma das principais causas desse estado de coisas – p. 151/152;
_ as psiconeuroses são satisfações substitutivas de algum instinto, cuja presença o indivíduo é obrigado a negar a si e aos outros – p. 153;
_ certo número de pessoas, ao defrontar-se em suas vidas, com conflitos que constataram muito difíceis de resolver, fogem para a neurose e, desse modo, retiram da doença vantagem inequívoca, embora com o tempo, acarrete bastante prejuízo – p. 155;
_ um bom número daqueles que, hoje, fogem para a enfermidade não suportariam o conflito. As neuroses possuem, de fato, sua função biológica, como um dispositivo protetor, e têm sua justificativa social: a vantagem da doença – p. 155;
A significação antitética das palavras primitivas (1910)
_ o não parece não existir no que se refere aos sonhos – p. 161;
_ eu não conseguia entender a tendência singular do trabalho do sonho para desconhecer a negação e empregar os mesmos meios de representação para expressar os contrários – p. 161;
_ nossos conceitos devem sua existência a comparações. É claro que tudo nesse planeta é relativo e tem uma existência independente apenas na medida em que se diferencia quanto as suas relações com as outras coisas. De vez que cada conceito é dessa maneira o gêmeo de seu contrário, como poderia ele ser de início pensado e como poderia ele ser comunicado a outras pessoas que tentavam concebê-lo, senão pela medida de seu contrário? – p. 163;
_ é nas raízes mais antigas que se vê ocorreram as significações duplas antitéticas – p. 164;
_ a relatividade essencial de todo conhecimento, pensamento ou consciência não se pode mostrar a não ser na linguagem – p. 165;
_ o trabalho do sonho faz uso da inversão do material representativo para várias finalidades – p. 166;
Um tipo especial de escolha de objeto feita pelos homens (contribuições à psicologia do amor I) (1910)
_ pré-condições para o amor – p. 173/174;
_ influência da fixação infantil dos sentimentos de ternura pela mãe na fixação – p. 176;
_ escolha de assemelhamento a prostituta como objeto de amor – p. 176/177;
_ o que no consciente encontra dividido com dois opostos, muitas vezes no inconsciente ocorre como unidade – p. 178;
_ ânsia de salvar a pessoa amada – p. 179;
_ o nascimento é tanto o primeiro de todos os perigos da vida, como o protótipo de todos os subsequentes que nos levam a sentir ansiedade, e a experiência do nascimento, provavelmente, nos levou a expressão de afeto que chamamos de ansiedade – p. 180;
_ Artemidoro, o intérprete dos sonhos da Antiguidade, estava certamente com razão ao afirmar que a significação de um sonho depende de quem venha a ser a pessoa que sonha – p. 181;
_ vários significados de salvamento – p. 181;
_ conexões entre o tema salvamento e o complexo parental – p. 182;
Sobre a tendência universal à depreciação na esfera do amor (contribuições à psicologia do amor II) (1912)
_ considerações sobrea impotência psíquica e antagonismo entre a civilização e a vida instintiva – p. 185/188;
_ o máximo de intensidade de paixão sensual trará consigo a mais alta valorização psíquica do objeto – sendo esta a supervalorização normal do objeto sexual por parte do homem – p. 189;
_ considerações sobre as correntes de afeição e sensualidade – p. 190/192;
_ a psicanálise revelou-nos que quando o objeto original de um impulso desejoso se perde em consequência da repressão, ele se representa, frequentemente, por uma sucessão infindável de objetos substitutos, nenhum dos quais, no entanto, representa satisfação completa – p. 196;
_ é impossível harmonizar os clamores do nosso instinto sexual com as exigências da civilização – p. 197;
O tabu da virgindade (contribuições à psicologia do amor III) (1918[1917])
_ poucas particularidades dos povos primitivos são tão estranhas a nossos próprios sentimentos quanto a valorização da virgindade, o estado de intocabilidade da mulher – p. 203;
_ o homem primitivo institui algum tabu quando teme algum perigo – p. 210;
_ a frigidez inclui-se, assim, entre os determinantes genéticos das neuroses – p. 213;
A concepção psicanalítica da perturbação psicogênica da visão (1910)
_ neste trabalho pela primeira vez Freud empregou o termo “instintos do ego”, identificou-os, explicitamente, com os instintos de autopreservação e atribui-lhes papel vital na função da repressão. Freud expressa, com firmeza especial, sua convicção de que os fenômenos psíquicos se baseiam definitivamente nos físicos – p. 221;
_ a cegueira histérica é considerada um tipo de perturbação psicogênica visual – p. 223;
_ as pessoas histericamente cegas só o são no que diz respeito à consciência; em seu inconsciente elas veem – p. 224;
_ o paciente histérico fica cego, não em consequência de uma ideia auto-sugestiva de que ele não pode ver, mas como resultado de uma dissociação entre os processos inconsciente e consciente – p. 224;
_ o conceito psicanalítico é dinâmico e atribui a origem da vida psíquica a uma interação entre forças que favorecem ou inibem uma a outra – p. 224;
_ considerações sobre a repressão – p. 225;
_ tanto os instintos sexuais como os instintos do ego, têm, em geral, os mesmos órgãos e sistemas de órgãos a sua disposição – p. 227;
_ considerações sobre a relação de um órgão com uma dupla exigência sobre ele – sua relação com o ego consciente e com a sexualidade reprimida – p. 228;
Psicanálise silvestre (1910)
_ considerações sobre o caso de uma mulher que consultara um jovem médico e este a informou que a causa de sua ansiedade era a falta de satisfação sexual – p. 235;
_ longos anos de experiência me ensinaram a não aceitar de imediato como verdade os que os pacientes relatam – p. 235;
_ em psicanálise, o conceito do que é sexual abrange bem mais, ele vai mais abaixo e também mais acima do que seu sentido popular – p. 236;
_ considerações sobre as neuroses atuais – p. 237;
_ é ideia há muito superada, e que se funda em aparência superficiais, a de que o paciente sofre de uma espécie de ignorância, e que se alguém consegue remover essa ignorância dando a ele a informação (acerca da conexão causal de sua doença com sua vida, acerca de suas experiências da meninice, e assim por diante) ele deve recuperar-se. O fator patológico não é esse ignorar propriamente, mas estar o fundamento dessa ignorância em suas resistências internas; foram elas que primeiro produziram esse ignorar e elas ainda o conservam até agora. A tarefa do tratamento está no combate a essas resistências. O informar ao paciente aquilo que ele não sabe porque ele reprimiu é apenas um dos preliminares necessários ao tratamento. O informar ao paciente sobre seu inconsciente redunda, em regra, numa intensificação do conflito nele e uma exacerbação em seus distúrbios. No entanto, a psicanálise não pode abster-se de dar essa informação, prescreve que isto não se poderá fazer antes de duas condições tenham sido satisfeitas. Primeiro, o paciente deve, através de preparação, ter alcançado ele próprio a proximidade daquilo que ele reprimiu e, segundo, ele deve ter formado uma ligação suficiente (transferência) com o médico para que seu relacionamento emocional com este torne uma nova fuga impossível. Somente quando essas condições forem satisfeitas se torna possível reconhecer e dominar as resistências que conduziram à repressão e à ignorância – p. 239;
_ pois, em verdade, os analistas silvestres desta espécie causam amis danos à causa da psicanálise do que aos pacientes individualmente – p. 240;
Breves escritos (1910)
Contribuições para uma discussão acerca do suicídio
A carta ao Dr. Friedrich S. Krauss sobre a Anthropophyteia      
Dois exemplos de fantasias patogênicas reveladas pelos próprios pacientes
Críticas às cartas de uma mulher neurótica, de Wilhelm Neutra

Unicidade - Mahatma Gandhi


Presença - Buda


segunda-feira, 20 de outubro de 2014

As Aventuras de Sri Prem Tata - Episódio 2 - O destino de cada um ou O que não for trabalhado em você, tornar-se-á seu destino


Certa feita, Sri Prem Tata e o seu discípulo dirigiram-se a um longínquo reinado para visitar um antigo companheiro de jornada espiritual. Tratava-se de Sri Buddu Amurti, um velho e circunspecto ermitão, no qual a grande sabedoria aliava-se ao porte físico avantajado.
Rever seu amigo de priscas eras era para Tata motivo de regozijo e o fazia lembrar dos tempos em que ele, Sri Buddu Amurti e Lama Tahju, outro amigo de inestimável sabedoria, eram pupilos iniciáticos. Desde aquela época, os três eram grandes amigos, em especial, depois que descobriram por meio de profunda meditação progressiva que o trio haveria de recepcionar, um dia, o menino Cristo com ouro, incenso e mirra, mas essa é outra estória...
O reinado no qual Buddu vivia passava por um período de tensões, posto que um rei despótico preparava-se para entrar em outra guerra contra o reinado vizinho por disputa de poder. Para motivar o povo a entrar em guerra, utilizava-se de todo tipo de artimanha falaciosa, em especial a incitação ao ódio e ao medo. Aproveitava-se das justas reivindicações da população, como diminuição da pobreza e igualdade social, para obter cada vez mais poder e eternizar-se no trono, às custas do cerceamento da liberdade de opinião e de expressão.
Ao aproximarem-se da gruta na qual Buddu residia e atendia àqueles que recorriam a ele em busca de sabedoria, Tata e seu fiel discípulo avistaram Buddu falando para um pequeno grupo de pessoas. Ambos juntaram-se à plateia e ouviram o mestre, que dizia: “A liberdade é sem nenhum motivo, a liberdade não está no fim da evolução humana, mas se encontra no primeiro passo da sua existência. Pela observação, a pessoa começa a descobrir a falta de liberdade. A liberdade é encontrada no estar atento, sem escolha, à nossa existência e atividades diárias.”
Pouco tempo depois a aula encerrou-se e o grupo dispersou-se. Tata e o amigo saudaram o mestre, que os convidou para compartilharem uma leve refeição. Após alguns dias de amigável convívio, ambos deixaram a companhia do guru e seguiram viagem.
Dado momento da caminhada, o escudeiro de Tata, referindo-se ao que tinha ouvido do mestre Buddu sobre o tema liberdade, perguntou a Tata qual seria a razão de as pessoas deixarem-se envolver por líderes tiranos e demagogos, empenhando a liberdade individual e arriscando, até mesmo, a própria vida em uma guerra.
Sri Prem Tata destacou que nem todos conseguem se libertar dos seus medos e culpas e existem pessoas que ainda não conseguiram trabalhar a sua relação mal resolvida com a maternidade e projetam as suas carências emocionais nos líderes messiânicos acolhedores, que eles veem como o representante inconsciente da própria mãe, mesmo que tenham que pagar um preço caro por sua ânsia de carinho e atenção maternais. Complementou o mestre, “aquilo que não trabalhamos na nossa vida, torna-se o nosso destino. Só há verdadeira liberdade com autoconhecimento, que é pai da consciência.”
*desenho de Jailson Arquino

Alegria transbordante - Osho


domingo, 19 de outubro de 2014

Fixação dos histéricos e neuróticos ao passado - Sigmund Freud


Sinceridade


Fábula - Promessas quebradas - Cristiane Caracas


Vivia no meio da rua, sem endereço e sem pouso certo, um cão que de tão magro e franzino era conhecido entre a cachorrada como Sibite.
Sibite podia se definir como a própria liberdade encarnada em um cão. Não tinha casa, não tinha laços com ninguém, era dono de si, sua vontade dirigia seus atos. Era assim um cosmopolita.
Certa feita, Sibite dormia tranquilo embaixo do banco de uma praça, uma praça qualquer, dessas que ele elegia como seu lar provisório, quando se deixou prender a atenção para um homem que sentado no banco da praça chorava como criança.
Sibite se comoveu com a dor daquele homem. Não sabia do que se tratava, aliás, nem tinha a pretensão para tanto, mas, por um instante, pode sentir a dor dele que de tão grande fez Sibite querer dividi-la, na esperança de que compartilhada fosse aliviada como um sopro gélido em feridas escaldantes.
E nesse transe de compartilhamento de sentimentos, Sibite conheceu a dor do homem e ela tinha nome:  Chamava-se decepção.

Quis conhece-la melhor, sua face era desfigurada, teve medo. Sibite fez da fraqueza força e a enfrentou. Percebeu que se mostrava de diferentes maneiras, a daquele homem era imensa, com raízes na honra e galhos no ego.
Estando frente a frente quis saber dela mesma a sua razão e ela logo respondeu: Foram promessas quebradas.  Pode sentir que a decepção, embora sentimento único, se apresenta com duas faces que oscilam entre o ingênuo inacreditável do “antes” e a cruel constatação da realidade dos fatos do “depois”.
Desnorteando a razão, revela-se um fardo pesado, difícil de carregar já que seu caminhar é sem chão, sem rumo, apresentando muitas estradas, mas nenhuma direção. E porque sem chão, para continuar, ao ser decepcionado não resta outra alternativa a não ser do peito dilacerado criar asas e aprender a voar.

Sibite silenciou porque compreendeu que por mais que se compadecesse daquele homem, somente a ele cabia se reinventar e, nesse novo ser, encontrar novas razões para viver. Quem sabe o choro do homem - criança não fosse o início do aprendizado de que somente se despojando de si, se poderá encontrar o verdadeiro “eu”.
Cristiane Caracas
19/10/2014

Comece por você... - Lao Tzu


sábado, 18 de outubro de 2014

Equilíbrio


Da Religiosidade à Espiritualidade: um caminho percorrido - Parte III - Religião, Religiosidade e Espiritualidade


A existência de Deus é um sentimento inato ao ser humano. A adoração, como a elevação do pensamento a Deus, existe entre todos os povos em diferentes formas. Essa espiritualidade vem sendo manifestada desde os primórdios da humanidade, quando ainda os nossos ancestrais já acreditavam no poder mágico da natureza, estendendo-se pelas primeiras civilizações, chegando aos textos sagrados, aos ensinamentos dos grandes profetas, até que a experiência humana dessa espiritualidade se convertesse em religião institucionalizada. A vivência do sagrado como experiência interior foi se diluindo ao longo do tempo, sobretudo nas culturas ocidentais. Os ritos foram sendo incorporados e automatizados e o significado espiritual transcendente foi sendo alienado da vida das pessoas. Com o tempo, o homem passou a confiar somente naquilo que os seus próprios olhos viam, pois precisava acreditar que as coisas estavam sob seu controle, já que isso lhe trazia mais segurança. Pensar dessa forma, no entanto, comprometia a natureza e a intensidade de sua fé e, por conseguinte, sua relação com Deus.    
Nas últimas décadas, contudo, começa a emergir nos povos do mundo inteiro um movimento no sentido de resgatar a espiritualidade humana, assim como já é possível perceber uma tímida aproximação entre a ciência e a espiritualidade. Entretanto, entender a dimensão espiritual da realidade não é tarefa fácil, tendo em vista certa sobreposição de conceitos, no que diz respeito à espiritualidade, religião e religiosidade. Além do mais, discutir quaisquer desses aspectos implica, necessariamente, uma discussão preliminar sobre fé, tendo em vista que esta permeia todas essas instâncias da subjetividade humana.

CONSIDERAÇÕES SOBRE FÉ
     Segundo Breitbart (2005), a espiritualidade é uma construção formada por fé e sentido. Já o dicionário Vine (Urger; White; Vine, 2002) define o termo “fé”, do grego “pistis”, como “persuasão firme”, convicção fundamentada no ouvir (cognato de peithõ, “persuadir”).  Assim, pode-se dizer que fé é uma determinada estrutura de sentido e de valores que cada um constrói para dar significação à sua existência dentro do real. Todos nós temos uma fé, que é aquilo que dá sabor à nossa existência. No sentido antropológico do termo, “fé é uma relação com o fim visado e que dinamiza todo o processo de ir em direção a ele. Seria a determinação que dá toda energia ao agir” (SEGUNDO, 1983, 1997).
Segundo os estudiosos, todo o ser humano tem imanente dentro de si um poder capaz de criar tudo aquilo que deseja com uma vontade firme e persistente. De acordo com essa premissa, referem às Escrituras Sagradas que somos feitos à imagem e semelhança de Deus e, consequentemente, em seu espírito – que é a parte do Espírito infinito, do qual procede – residem o poder infinito e a sabedoria infinita. (GÊNESIS 1,26).
 Essa capacidade nos é inerente e responde de maneira diretamente proporcional às nossas crenças e convicções. Ter fé é acreditar na realização do seu propósito. É trazer ao mundo, através da vontade firme, as coisas que esperamos.
Nessa  linha de pensamento, define o apóstolo Paulo: “Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, a convicção de fatos que não se vêem. Pela fé, entendemos que foi o universo formado pela palavra de Deus, de maneira que o visível veio a existir das coisas que não aparecem” (HEBREUS, 11,1,3).
Para Chardin (1980), “fé é a certeza inabalável de que o Universo, considerado em seu conjunto, tem uma finalidade e não pode nem se enganar de itinerário, nem se deter no caminho”.
Frankl (2003) discute a fé como uma ligação com o esperado, a determinação da ação, o vivido de uma opção que mobiliza todo o ser.
O autor enfatiza, ainda, que o homem sempre apresentou, mesmo inconscientemente, um vínculo intencional com Deus, a quem ele denomina de “Deus inconsciente”. Complementa dizendo que o ser humano tem uma religiosidade inconsciente, pois nos campos de concentração, em meio à angústia, ele percebeu que uma fé surgia, uma esperança no futuro fazia brotar o sentido da vida, a crença em Deus, que parecia estar oculta. A isso ele chamou de dimensão noética ou espiritual humana (FRANKL, 2006).
Não falamos aqui de fé em crenças dogmáticas de religião convencional – ritual, cerimônia, forma ou instituição. A ideia de que a fé só tem a ver com a nossa experiência religiosa é um engano. Ela é, portanto, uma faculdade da mente que tem a sua máxima expressão na atitude religiosa.
Segundo Trevisan (1980), “a mente também tem as suas leis e seus princípios que nunca falham, quando usados corretamente; por exemplo: o pensamento cria, o desejo atrai e a fé realiza. Isto quer dizer que tudo o que você pensa, deseja e acredita que vai acontecer, acontece obrigatoriamente”. 
O Mestre Jesus, que conhecia todas as leis universais, ensinava este princípio, quando dizia:  “Pedi e recebereis”. (MATEUS 7,7).  Nesse mesmo sentido,  ainda  declara :  “Seja-vos   feito segundo a vossa  fé”  (MATEUS 9,29).
Definiu claramente que a sua metodologia de ação estava inteiramente ancorada no poder da fé. E ainda ressalta: “Se tiverdes fé como um grão de mostarda direis a este monte:    Passa daqui para acolá, e ele passará.  Nada vos será  impossível” (MATEUS 17,20).
Fé é aceitar definitivamente uma coisa como verdadeira. Em outras palavras, é trazer o invisível para o mundo de manifestação. É materializar as formas originais oriundas do mundo das ideias.
Podemos deduzir daí que a fé é o instrumento que move e sustenta o reino invisível, contribuindo para o desenvolvimento de uma espiritualidade amadurecida e, consequentemente, para um relacionamento mais verdadeiro com Deus.
Jeruzia Costa de Medeiros
* Artigo científico apresentado ao Curso de Pós-graduação (Lato Senso) em Psicologia Transpessoal da Faculdade de Tecnologia Darcy Ribeiro em parceria com o Instituto Celta, como requisito parcial para obtenção do Título de Especialista em Psicologia Transpessoal.