quinta-feira, 19 de março de 2015

Resumo do Livro XVI – Conferências Introdutórias sobre Psicanálise (Partes III) (1915-1916)

Resumo do Livro XVI – Conferências Introdutórias sobre Psicanálise (Partes III) (1915-1916)
Parte III – Teoria Geral das Neuroses (1917[1916-17])
Conferência XVI – Psicanálise e Psiquiatria
_ No ano passado, falei-lhes de como a psicanálise aborda as parapraxias e os sonhos. Este ano, gostaria de conduzi-los à compreensão dos fenômenos da neurose, que, conforme logo verificarão, têm muitas coisas em comum com ambos. – p. 251;
_ Não desejo suscitar convicção; desejo estimular o pensamento e derrubar preconceitos. – p. 251;
_ Por outro lado, não devem, de modo algum, supor que aquilo que lhes apresento como conceito psicanalítico seja um sistema especulativo. Pelo contrário, é empírico – seja uma expressão direta das observações, seja um processo consistente em trabalhá-las exaustivamente. Se esse trabalho exaustivo foi executado de uma maneira adequada e fundamentada, isto se verá no decorrer de futuros progressos da ciência, e realmente posso afirmar, sem jactância, após um período de quase vinte e cinco anos e tendo atingido uma idade razoavelmente avançada, que essas observações são o resultado de trabalho especialmente difícil, intensivo e aprofundado. – p. 252;
_ Mas, na maioria dos casos, tenho agido com acerto; pois todo aquele que se conduz dessa forma e deixa aberta a porta entre a sala de espera e a sala de consulta de um médico, é mal-educado e merece uma recepção inamistosa. Não tomem, contudo, partido nesta questão, sem terem ouvido o restante. Pois esse descuido por parte do paciente apenas acontece quando esteve sozinho na sala de espera e, portanto, deixou atrás de si uma sala vazia; jamais acontece no caso de outras pessoas, que lhe sejam estranha, terem estado esperando com ele. Nesse último caso, sabe muito bem que é de seu interesse que sua conversa com o médico não seja ouvida secretamente, e nunca deixa de fechar cuidadosamente as duas portas. Assim, a omissão do paciente não é determinada pelo acaso ou por falta de propósito; e, na realidade, ela não é destituída de importância, pois, conforme verificaremos, elucida a atitude de recém-chegado para com o médico. O paciente é mais um da grande multidão que tem um desejo insaciável de autoridade mudança, que deseja ser ofuscado e intimidado. Ele pode ter perguntado pelo telefone sobre a hora em que mais facilmente poderia conseguir uma entrevista; havia formado para si a imagem de uma multidão de pessoas procurando ajuda, como a multidão do lado de fora de uma das filiais de Julius Meinl. E então entra em uma sala de espera vazia, e principalmente, mobiliada com extrema modéstia, e fica chocado. Ele tem de fazer o médico pagar pelo respeito supérfluo que tencionava oferecer-lhe: é assim que deixa de fechar a porta entre a sala de espera e a sala de consulta. O que quer dizer ao médico, por essa sua conduta, é: ‘Ah, então não há ninguém, e provavelmente não virá ninguém enquanto eu estiver aqui.’ Ele se conduziria de forma igualmente descortês e desrespeitosa durante a consulta, se sua arrogância não recebesse uma dura repreensão logo no começo. A análise dessa pequena ação sintomática não lhes diz nada que já não soubessem antes: a tese de que ela não é uma ação casual, mas teve um motivo, um sentido e uma intenção, que se localiza num contexto mental específico e que informa, mediante uma pequena indicação, acerca de um processo mental mais importante. Mais que tudo, porém, essa ação sintomática lhes revela que o processo assim indicado era inconsciente para a consciência da pessoa que executou essa ação, de vez que nenhum dos pacientes que deixou as duas portas abertas teria conseguido admitir, por meio dessa omissão, que desejasse demonstrar tal desrespeito. Alguns deles provavelmente ter-se-iam apercebido de determinada sensação de desapontamento ao penetrarem na sala de espera vazia; mas a conexão entre esta impressão e a ação sintomática que se seguiu, por certo permaneceu desconhecida de sua consciência. – p. 255/256;
_ Se não se pode eliminar um delírio mediante uma referência à realidade, então sem dúvida ele não se originou da realidade. De onde mais ter-se-ia originado? – p. 258;
_ Verifico agora, senhores, que lhes venho falando de muitas coisas, e os senhores não estão preparados para entendê-las. Assim procedi para fazer a comparação entre psiquiatria e psicanálise. Existe, porém, uma coisa que posso perguntar-lhes, agora. Observaram algum sinal de contradição entre elas? A psiquiatria não emprega os métodos técnicos da psicanálise; toca superficialmente qualquer inferência acerca do conteúdo do delírio, e, ao apontar para a hereditariedade, dá-nos uma etiologia geral e remota, em vez de indicar, primeiro, as causas mais especiais e próximas. Mas existe uma contradição, uma oposição nisso? Não é o caso de uma suplementar a outra? O fator hereditário contradiz a importância da experiência? Ambas as coisas não se combinam da maneira mais efetiva? Os senhores assegurarão não existir nada na natureza do trabalho psiquiátrico que possa opor-se à investigação psicanalítica. O que se opõe à psicanálise não é a psiquiatria, mas os psiquiatras. – p. 261/262;
Conferência XVII – O sentido dos sintomas
_ Na última conferência, expliquei-lhes que a psiquiatria clínica atenta pouco para a forma externa do conteúdo dos sintomas individualmente considerados, que a psicanálise, entretanto, valoriza precisamente este ponto e estabeleceu, em primeiro lugar, que os sintomas têm um sentido e se relacionam com as experiências do paciente. O sentido dos sintomas neuróticos foi descoberto, em primeira mão, por Josef Breuer, em seu estudo e cura bem sucedida (entre 1880 e 1882) de um caso de histeria, que desde então se tornou famoso. É verdade que Pierre Janet apresentou as mesmas provas, independentemente; com efeito, o pesquisador francês pode alegar prioridade de publicação, pois foi só uma década depois (em 1893 e 1895), quando estava colaborando comigo, que Breuer publicou suas observações. Em todo caso, pode parecer questão de somenos importância saber quem fez a descoberta, de vez que, como sabem, toda descoberta é feita mais de uma vez, e nenhuma se faz de uma só vez. Ademais disso, nem sempre o sucesso acompanha o mérito: não foi de Colombo que a América recebeu seu nome. – p. 265;
_ Os sintomas neuróticos têm, portanto, um sentido, como as parapraxias e os sonhos, e, como estes, têm uma conexão com a vida de quem os produz. – p. 265;
_ Essa neurose, conhecida como neurose obsessiva, não é tão comum como a universalmente conhecida histeria. Não é, se assim posso expressar-me, tão indiscretamente ruidosa; comporta-se mais como assunto particular do paciente, prescinde quase que completamente dos fenômenos somáticos e cria todos os sintomas da esfera mental. A neurose obsessiva e a histeria são as formas de doenças neuróticas em cujo estudo baseou-se inicialmente a psicanálise, e em cujo tratamento, também, nossa terapia realiza seus triunfos. Mas a neurose obsessiva, na qual o enigmático salto do mental para o físico não desempenha nenhum papel, se nos tornou, através dos esforços da psicanálise, realmente mais compreensível e conhecida do que a histeria, e temos constatado que ela apresenta muito mais flagrantemente determinadas características extremas da natureza da neurose. – p. 266;
_ Certamente, esta é uma doença louca (neurose obsessiva). A imaginação psiquiátrica mais extravagante não teria conseguido, segundo penso, construir nada semelhante; e só mesmo vendo-a diante de si a cada dia, é que se é levado a acreditar nela. No entanto, não suponham que ajudarão o paciente, nem de longe, admoestando-o para que adote uma nova conduta, deixe de ocupar-se com esses pensamentos absurdos e faça algo sensato em lugar de suas extravagâncias infantis. Ele próprio gostaria de fazê-lo, pois está perfeitamente lúcido, compartilha da opinião dos senhores acerca de seus sintomas neuróticos, e até mesmo expressa-a espontaneamente aos senhores. Só que ele próprio não consegue ajudar-se a si mesmo. O que é posto em ação, em uma neurose obsessiva, é sustentado por uma energia com a qual provavelmente não encontramos nada comparável na vida mental normal. Existe uma coisa apenas, que ele pode fazer: realizar deslocamentos, trocas, pode substituir uma idéia absurda por outra um pouco mais atenuada, em vez de um cerimonial pode realizar um outro. Pode deslocar a obsessão, mas não removê-la. A possibilidade de deslocar qualquer sintoma para algo muito distante de sua conformação original é uma das principais características desta doença. Ademais, surpreende que, nesta condição, as contradições (polaridades), com as quais a vida mental está entretecida, emergem de maneira especialmente nítida, diferenciada. Além das obsessões, de conteúdo positivo e negativo, a dúvida se faz notar na área intelectual, e lentamente começa a corroer até mesmo aquilo que geralmente é tido como muito certo. A situação inteira termina em um grau sempre crescente de indecisão, perda da energia e restrição da liberdade. Ao mesmo tempo, o neurótico obsessivo inicia seus empreendimentos com uma disposição de grande energia, freqüentemente é muito voluntarioso e, via de regra, tem dotes intelectuais acima da média. Geralmente atingiu um nível de desenvolvimento ético satisfatoriamente elevado; mostra-se superconsciencioso, e tem uma correção fora do comum em seu comportamento. – p. 267;
_ Devo, assim, contentar-me com ter-lhes dado um prova experimental de minha asserção e, quanto ao restante, remeto-os aos relatos que a bibliografia oferece sobre o assunto – às clássicas interpretações de sintomas do primeiro caso (de histeria), de Breuer, à vívida luz lançada sobre os mais obscuros sintomas daquilo que se conhece como dementia praecox, por C. G. Jung [1907], numa época em que ele era apenas psicanalista e ainda não aspirava a ser profeta; e a todos os trabalhos que desde então têm enchido os nossos periódicos. Não faltavam investigações, justamente sobre esses assuntos. A análise, interpretação e tradução de sintomas psiconeuróticos provaram ser tão atraentes para os psicanalistas, que estes, por um tempo, negligenciaram os demais problemas da neurose. Se algum dos senhores empreender exercícios desta natureza, certamente terá uma poderosa impressão da quantidade de provas documentais. Mas também se defrontará com uma dificuldade. O sentido de um sintoma, conforme verificamos, possui determinada conexão com a experiência do paciente. Quanto mais individual for a forma dos sintomas, mais motivos teremos para esperar que seremos capazes de estabelecer esta conexão. A tarefa, então, consiste simplesmente em descobrir, com relação a uma idéia sem sentido e uma ação despropositada, a situação passada em que a idéia se justificou e a ação serviu a um propósito. – p. 277;
Conferência XVIII – Fixação em traumas – O Inconsciente
_ Não podemos desprezar a questão de saber por que, de que forma e por qual motivo uma pessoa pode chegar a uma atitude assim tão estranha (fixação em traumas) perante a vida, uma atitude tão pouco prática – supondo-se que esta atitude seja uma característica geral das neuroses, e não uma peculiaridade especial dessas duas pacientes. E, de fato, é um aspecto geral, de grande importância prática em toda neurose. – p. 281/282;
_ Esta analogia nos compele a descrever como traumáticas também aquelas experiências nas quais nossos pacientes neuróticos parecem se haver fixado. Isto nos proporia uma causa única para o início da neurose. Assim, a neurose poderia equivaler a uma doença traumática, e apareceria em virtude da incapacidade de lidar com uma experiência cujo tom afetivo fosse excessivamente intenso. Na verdade, foi esta realmente a primeira fórmula pela qual (em 1893 e 1895) Breuer e eu explicamos teoricamente nossas observações. Um caso como aquele da primeira de minhas duas pacientes, em minha conferência anterior – a jovem mulher casada separada de seu marido – ajusta-se muito bem a esta opinião. Ela não tinha superado o fracasso de seu casamento e permanecia ligada ao trauma. – p. 283;
_ Quanto ao tema da fixação numa determinada fase do passado, podemos, porém, acrescentar que tal conduta é muito mais difundida do que a neurose. Toda neurose inclui uma fixação desse tipo, mas nem toda fixação conduz a uma neurose, coincide com uma neurose ou surge devido a uma neurose. Um perfeito modelo de fixação afetiva em algo que é passado, é o que se nos apresenta no luto, que realmente envolve a mais completa alienação do presente e do futuro. Mesmo o julgamento de um leigo, contudo, distinguirá com nitidez entre luto e neurose. Existem, por outro lado, neuroses que podem ser descritas como forma patológica de luto. Também pode acontecer que uma pessoa seja levada a uma parada tão completa, devido a um acontecimento traumático que estremece os alicerces de sua vida, a ponto de abandonar todo o interesse pelo presente e pelo futuro e manter-se permanentemente absorvida na concentração mental no passado. Uma pessoa assim desafortunada, porém, não se torna, por isso, necessariamente neurótica. Não atribuiremos, portanto, demasiado valor a este único aspecto ao caracterizar a neurose, embora ele esteja regularmente presente e possa ser geralmente importante. – p. 284;
_ Os processos mentais, portanto, tinham estado em operação dentro dela e o ato obsessivo era o efeito deles; ela se apercebia deste efeito num estado mental normal, porém nenhum dos predeterminantes deste efeito vieram ao conhecimento de sua consciência. – p. 285;
_ Isto não é tudo, porém. Graças a uma segunda descoberta de Breuer, que a mim parece mais significativa ainda do que a outra, a que ele empreendeu sozinho, aprendemos ainda mais acerca da conexão entre os sintomas neuróticos e o inconsciente. Não apenas o sentido dos sintomas é, com regularidade, inconsciente, mas também existe uma relação inseparável entre este fato de os sintomas serem inconscientes e a possibilidade de eles existirem. Logo os senhores me compreenderão. Estou de acordo com Breuer ao afirmar que sempre ao encontrarmos um sintoma, poderemos concluir existirem determinados processos mentais definidos, no paciente, os quais contêm o sentido do sintoma. Mas, também é necessário que este sentido seja inconsciente, para que o sintoma possa surgir. Jamais se constroem sintomas a partir de processos conscientes; tão logo os processos inconscientes pertinentes se tenham tornado conscientes, o sintoma deve desaparecer. Aqui os senhores prontamente percebem um meio de se chegar à terapia, uma forma de fazer os sintomas desaparecerem. E, dessa maneira, Breuer realmente recuperou sua paciente histérica – isto é, libertou-a de seus sintomas; encontrou uma técnica de trazer à consciência os processos mentais inconscientes que continham o sentido dos sintomas, e os sintomas desapareceram. – p. 287;
_ A construção de um sintoma é o substituto de alguma outra coisa que não aconteceu. Determinados processos mentais normalmente deveriam ter evoluído até um ponto em que a consciência recebesse informações deles. Isto, porém, não se realizou, e, em seu lugar – a partir dos processos interrompidos, que de alguma forma foram perturbados e obrigados a permanecer inconscientes – o sintoma emergiu.  Assim, passou-se algo semelhante a uma troca; se isso puder ser invertido, o tratamento dos sintomas neuróticos terá atingido seus objetivos. – p. 287/288;
_ A descoberta de Breuer ainda é o alicerce da terapia psicanalítica. A tese, segundo a qual os sintomas desaparecem quando se fazem conscientes seus motivos predeterminantes inconscientes, tem sido confirmada por todas as pesquisas subseqüentes, embora nos defrontemos com as mais estranhas e inesperadas complicações ao tentarmos pô-la em prática. Nossa terapia age transformando aquilo que é inconsciente em consciente, e age apenas na medida em que tem condições de efetuar essa transformação. – p. 288;
_ Se o médico transferir seu conhecimento para o paciente, na forma de informação, não se produz nenhum resultado. Não, seria incorreto dizer isso. Não resulta em remoção do sintoma, mas tem um outro resultado – o de pôr em movimento a análise, do que um dos primeiros sinais, freqüentemente, são as expressões de rechaço. O paciente sabe, depois disso aquilo que antes não sabia – o sentido de seus sintomas; porém, sabe tanto quanto sabia. Com isso, aprendemos que existe mais de uma espécie de ignorância. Necessitaremos ter uma compreensão mais profunda da psicologia, para que esta nos mostre em que consistem essas diferenças. Malgrado isso, continua, porém, verdadeira a nossa tese segundo a qual os sintomas desaparecem quando seu sentido se torna conhecido. Tudo quanto nos resta acrescentar é que o conhecimento deve basear-se numa modificação interna no paciente, e esta só pode efetuar-se através de uma parcela de trabalho psicológico orientado para um objetivo determinado. Aqui deparamos com problemas que, presentemente, serão agrupados na dinâmica da construção dos sintomas. – p. 289;
_ Conforme já ouviram falar, a tarefa do tratamento psicanalítico pode ser expressa nesta fórmula: sua tarefa consiste em tornar consciente tudo o que é patogenicamente inconsciente. Os senhores talvez se surpreenderão ao constatar, então, que esta fórmula pode ser substituída por uma outra: sua tarefa consiste em preencher todas as lacunas da memória do paciente, em remover as amnésias. O que corresponderia à mesma coisa. Com isso queremos dizer que as amnésias dos pacientes neuróticos possuem importante conexão com a origem de seus sintomas. – p. 290;
_ No transcorrer dos séculos, o ingênuo amor-próprio dos homens teve de submeter-se a dois grandes golpes desferidos pela ciência. O primeiro foi quando souberam que a nossa Terra não era o centro do universo, mas o diminuto fragmento de um sistema cósmico de uma vastidão que mal se pode imaginar. Isto estabelece conexão, em nossas mentes, com o nome de Copérnico, embora algo semelhante já tivesse sido afirmado pela ciência de Alexandria. O segundo golpe foi dado quando a investigação biológica destruiu o lugar supostamente privilegiado do homem na criação, e provou sua descendência do reino animal e sua inextirpável natureza animal. Esta nova avaliação foi realizada em nossos dias, por Darwin, Wallace e seus predecessores, embora não sem a mais violenta oposição contemporânea. Mas a megalomania humana terá sofrido seu terceiro golpe, o mais violento, a partir da pesquisa psicológica da época atual, que procura provar o ego que ele não é senhor nem mesmo em sua própria casa, devendo, porém, contentar-se com escassas informações acerca do que acontece inconscientemente em sua mente. Os psicanalistas não foram os primeiros e nem os únicos que fizeram essa invocação à introspecção; todavia, parece ser nosso destino conferir-lhe expressão mais vigorosa e apoiá-la com material empírico que é encontrado em todas as pessoas. Em conseqüência, surge a revolta geral contra nossa ciência, o desrespeito a todas as considerações de civilidade acadêmica e a oposição se desvencilha de todas as barreiras da lógica imparcial. Em ademais de tudo isso, perturbamos a paz deste mundo também de uma outra forma, conforme em breve os senhores ouvirão. – p. 292
Conferência XIX – Resistência e repressão
_ Em primeiro lugar, então, quando assumimos a tarefa de recuperar um paciente para a saúde, aliviá-lo dos sintomas de sua doença, ele nos enfrenta com uma resistência intensa e persistente, que se prolonga por toda a duração do tratamento. Este é um fato tão estranho que não podemos esperar que as pessoas acreditem muito nele. A este respeito é melhor nada dizer aos parentes dos pacientes, pois eles, invariavelmente, consideram-no desculpa de nossa parte para o prolongamento ou fracasso de nosso tratamento. O paciente, também, apresenta todos os fenômenos desta resistência, sem reconhecê-la como tal, e, se pudermos induzi-lo a adotar nossa opinião a respeito dela e a contar com a existência da mesma, isto já se pode considerar como grande êxito. – p. 293;
_ No tratamento psicanalítico, fazemos uso da mesma técnica que os senhores já conhecem da interpretação de sonhos. Instruímos o paciente para se colocar em um estado de auto-observação tranqüila, irrefletida, e nos referir quaisquer percepções internas que venha a ter – sentimentos, pensamentos, lembranças – na ordem em que lhe ocorrem. Ao mesmo tempo, advertimo-lo expressamente a não deixar que algum motivo leve-o a fazer uma seleção entre essas associações ou a excluir alguma dentre elas, seja porque é muitodesagradável ou muito indiscreta para ser dita, ou porque é muito banal ou irrelevante, ou que é absurda e não necessita ser dita. Sempre insistimos com o paciente para seguir apenas a superfície de sua consciência e pôr de lado toda crítica sobre aquilo que encontrar, qualquer que seja a forma que esta crítica possa assumir; e asseguramos-lhe que o sucesso do tratamento, e sobretudo sua duração, depende da conscienciosidade com que ele obedece a esta regra técnica fundamental da análise. Já sabemos, da técnica da interpretação de sonhos, que aquelas associações que originam as dúvidas e objeções, que acabei de enumerar, são justamente as que invariavelmente contêm o material que leva à descoberta do inconsciente. A primeira coisa que conseguimos ao estabelecer a regra técnica fundamental é que ela se transforma no alvo dos ataques da resistência. O paciente procura, por todos os meios, livrar-se das exigências desta regra. Num momento, declara que não lhe ocorre nenhuma idéia; no momento seguinte, que tantos pensamentos se acumulam dentro de si, que não pode apreender nenhum. Ora constatamos com desgostosa surpresa que o paciente cedeu primeiro a uma e, depois a mais outra objeção crítica: no-lo revela pelas longas pausas que introduz em seus comentários. E logo depois, admite que existe algo que de fato não pode dizer – ele teria vergonha de dizer; e permite que este motivo prevaleça sobre sua promessa. Ou diz que lhe ocorreu algo, mas que isto se refere a outra pessoa, e não a ele mesmo, e, em vista disso, não há por que referi-lo. Ou ainda, aquilo que agora lhe acudiu à mente é realmente sem importância, excessivamente tolo e sem sentido: como é que eu poderia imaginar que ele enveredasse por pensamentos desse tipo. – p. 294/295;
_ Inicialmente, Breuer e eu empreendíamos a psicoterapia por meio da hipnose; a primeira paciente de Breuer foi totalmente tratada sobinfluência hipnótica, e, no início, eu o segui neste procedimento. Admito que, naquela época, o trabalho avançava mais fácil e satisfatoriamente, e também em muito menos tempo. Os resultados eram, porém, incertos e não duradouros, e por esse razão finalmente abandonei a hipnose. E então compreendi que não se tornaria possível a compreensão da dinâmica destas doenças enquanto fosse empregada a hipnose. Este estado era justamente capaz de subtrair à percepção do médico a existência da resistência. Ele fazia recuar a resistência, tornando uma determinada área livre para o trabalho analítico e represava-a nas fronteiras desta área sob uma tal forma, que se tornava impenetrável, do mesmo modo como a dúvida age na neurose obsessiva. Por esse motivo, tenho podido declarar que a psicanálise propriamente dita começou quando dispensei o auxílio da hipnose. – p. 298/299;
_ Já sabemos, através da observação de Breuer, que há uma precondição para a existência de um sintoma: algum processo mental deve não ter sido conduzido normalmente até seu objetivo normal – que era o objetivo de poder tornar-se consciente. O sintoma é o substituto daquilo que não aconteceu nesse ponto. Agora sabemos em que ponto devemos localizar a ação da força que presumimos. Uma violenta oposição deve ter-se iniciado contra o acesso à consciência do processo mental censurável, e, por este motivo, ele permaneceu inconsciente. Por constituir algo inconsciente, teve o poder de construir um sintoma. Esta mesma oposição, durante o tratamento psicanalítico, se insurge, mais uma vez, contra nosso esforço de tornar consciente aquilo que é inconsciente. É isto o que percebemos como resistência. Propusemos dar ao processo patogênico, que é demonstrado pela resistência, o nome de repressão. – p. 300;
_ Isso é tudo o que temos a dizer, no momento, a respeito da repressão. Ela, contudo, é apenas a precondição da formação dos sintomas. Os sintomas, conforme sabemos, são um substituto de algo que foi afastado pela repressão. Entretanto, vai uma longa distância, ainda, dede a repressão à compreensão dessa estrutura substitutiva. Quanto a este outro aspecto do problema, surgem de nossas observações sobre a repressão as seguintes perguntas: que espécie de impulsos está sujeita à repressão? por que forças ela se efetua? e por que motivos? Até agora, temos somente uma parcela de informação a respeito destes pontos. Ao investigar a resistência, constatamos que ela emana de forças do ego, de traços de caráter conhecidos e latente [ver em [1], acima]. São estes, pois, os responsáveis pela repressão, ou, pelo menos, têm uma participação nela. Presentemente, não sabemos de nada mais. – p. 304
Conferência XX – A vida sexual dos seres humanos
_ Pois bem, senhoras e senhores, que atitude adotaremos para com essas formas incomuns de satisfação sexual? Indignação, expressão de nossa repugnância pessoal e garantia de que nós próprios não compartilhamos de semelhantes sensualidades, obviamente não proporcionarão qualquer ajuda. Na realidade, não foi para isso que fomos solicitados. Porque, afinal de contas, o que temos de encarar neste assunto é um campo de fenômenos como qualquer outro. Seria fácil refutar alguém que negasse sua importância, propondo evasivamente que, afinal, isto são somente raridades e curiosidades. Pelo contrário, estamos tratando de fenômenos muito comuns e difundidos. – p. 312;
_ Eu disse que os sintomas neuróticos são substitutos da satisfação sexual e lhes indiquei que a confirmação desta assertiva pela análise dos sintomas viria a defrontar-se com numerosas dificuldades. Pois somente será válida se na ‘satisfação sexual’ incluirmos a satisfação daquilo que se chama necessidades sexuais pervertidas, de vez que, com freqüência surpreendente, se nos impõe uma interpretação de sintomas dessa espécie. A reivindicação que fazem os homossexuais ou invertidos de serem uma exceção, desfaz-se imediatamente ao constatarmos que os impulsos homossexuais são encontrados invariavelmente em cada um dos neuróticos e que numerosos sintomas dão expressão a essa inversão latente. Aqueles que se proclamam homossexuais são apenas invertidos conscientes e manifestos e seu número nada é em comparação com os dos homossexuais latentes. Entretanto, somos forçados a encarar a escolha de um objeto do mesmo sexo como um desvio na vida erótica, desvio cuja ocorrência é positivamente freqüente, e cada vez aprendemos mais sobre isso, atribuindo-lhe importância particularmente elevada. Sem dúvida, isso não elimina as diferenças entre o homossexualismo manifesto e uma atitude normal; permanece a importância prática dessas diferenças, mas seu valor teórico diminui muito. Temos até mesmo verificado que determinada doença, a paranóia, que não deve ser incluída entre as neuroses de transferência, origina-se habitualmente de uma tentativa no sentido de o doente libertar-se de impulsos homossexuais excessivamente intensos. – p. 313;
_ Mas devem ter em mente a seguinte consideração. Se procede o fato de que um aumento de dificuldade em obter satisfação sexual normal da vida real, ou a privação desta satisfação, põe à mostra as inclinações pervertidas de pessoas que, anteriormente, nada disso tinham demonstrado, devemos supor que nessas pessoas havia algo que já se encontrava a meio-caminho das perversões; ou, se preferirem, as perversões devem ter estado presentes, nessas pessoas, em forma latente. E isto nos traz a segunda novidade que lhes anunciei. Pois a investigação psicanalítica teve de ocupar-se também com a vida sexual das crianças, e isto porque as lembranças e associações emergentes durante a análise de sintomas de adultos remetiam-se regularmente aos primeiros anos da infância. O que inferimos destas análises mais tarde se confirmou, ponto por ponto, nas observações diretas de crianças. E, com isso, verificou-se que todas essas inclinações à perversão tinham suas raízes na infância, que as crianças têm uma predisposição a todas elas e põem-nas em execução numa medida correspondente à sua imaturidade – em suma, que a sexualidade pervertida não é senão uma sexualidade infantil cindida em seus impulsos separados. – p. 316;
_ Pois a sociedade deve assumir como uma de suas mais importantes tarefas educadoras domar e restringir o instinto sexual quando este irrompe como impulso à reprodução, e sujeitá-lo a uma vontade individual que é idêntica à ordem da sociedade. Esta também se preocupa em adiar o pleno desenvolvimento do instinto até que a criança tenha atingido certo grau de maturidade intelectual, de vez que, aí, com a completa irrupção do instinto sexual, a educabilidade, para fins práticos, chega a seu fim. De outro modo, o instinto romperia todos os diques e arrasaria todo o trabalho da civilização laboriosamente construído. Ademais, nunca é fácil a tarefa de dominar o instinto; seu êxito, por vezes, é muito pequeno, por vezes, muito grande. O móvel da sociedade humana é, em última análise, econômico; como não possui provisões suficientes para manter vivos todos os seus membros, a menos que trabalhem, ela deve limitar o número de seus membros e desviar suas energias da atividade sexual para o trabalho. Em suma, defronta-se com as eternas e primevas exigências da vida, que nos assediam até o dia de hoje. – p. 317;
­_ Sugar ao seio materno é o ponto de partida de toda a vida sexual, o protótipo inigualável de toda satisfação sexual ulterior, ao qual a fantasia retorna muitíssimas vezes, em épocas de necessidade. Esse sugar importa em fazer o seio materno o primeiro objeto do instinto sexual. – p. 319;
_ Ao formarmos esta opinião referente à sucção sensual, já passamos a conhecer duas características decisivas da sexualidade infantil. Ela surge ligada à satisfação das principais necessidades orgânicas e se comporta de maneira auto-erótica – isto é, procura seus objetos no próprio corpo da criança. O que ficou demonstrado tão claramente com relação à tomada de alimentos repete-se, em parte, com as excreções. Concluímos que os bebês têm sensações prazerosas no processo de evacuação da urina e das fezes, e que logo conseguem dispor destes atos de maneira que estes lhes tragam a máxima produção de prazer possível, através das correspondentes excitações das zonas erógenas da membrana mucosa. É aqui que, pela primeira vez (conforme sutilmente percebeu Lou Andreas-Salomé [1916]), os bebês se defrontam com o mundo externo como força inibidora, hostil, ao seu desejo de prazer, e têm certa antevisão dos futuros conflitos externos e internos. Um bebê não deve eliminar suas excreções em qualquer momento de sua escolha, e sim quando outras pessoas decidem que deve fazê-lo. Para induzi-lo a renunciar a essas fontes de prazer, é-lhes dito que tudo aquilo que se relaciona com essas funções é vergonhoso e deve ser mantido em segredo. Então, pela primeira vez, a criança é obrigada a trocar o prazer pela respeitabilidade social. No início, sua atitude para com suas excreções é muito diferente. Não sente repugnância por suas fezes, valoriza-as como parte de seu próprio corpo, da qual não se separa facilmente, e usa-as como seu primeiro ‘presente’ com que distingue as pessoas a quem preza de modo especial. Mesmo depois de a educação ter atingido seu objetivo de tornar essas tendências incompatíveis com a criança, esta continua a atribuir elevado valor às fezes, considerando-as ‘presentes’ e ‘dinheiro’. Por outro lado, parece considerar com especial orgulho a proeza de urinar. – p. 320;
_ Sem dúvida terão ouvido falar, senhores, que, na psicanálise, o conceito daquilo que é sexual foi indevidamente ampliado, a fim de dar suporte às teses da causação sexual das neuroses e do significado sexual dos sintomas. Agora os senhores estão em condições de julgar por si mesmos se essa ampliação é injustificada. Ampliamos o conceito de sexualidade apenas o bastante para podermos compreender a vida sexual dos pervertidos e das crianças. Isto é, restituímos-lhe sua dimensão verdadeira. Fora da psicanálise, o que se denomina sexualidade refere-se apenas a uma vida sexual restrita, que serve ao propósito da reprodução e é descrita como normal. – p. 324;  
Conferência XXI – O desenvolvimento da libido e as organizações sexuais
_ Tenho a impressão de que não alcancei êxito em convencê-los muito profundamente da importância das perversões para nossa visão da sexualidade e, portanto, gostaria, até onde me for possível, de aprimorar e suplementar aquilo que disse. Não é o caso de apenas as perversões, isoladamente, ter-nos obrigado a realizar a modificação no conceito de sexualidade que levantou tantas objeções contra nós. O estudo da sexualidade infantil teve muito mais influência sobre esse fato, e foi o concurso desses dois fatores que se tornou decisivo para nós. As manifestações da sexualidade infantil, por mais inequívocas que possam ser num período ulterior da infância, contudo parecem mergulhadas na indefinição pelos inícios da infância. Todo aquele que resolver desprezar a história de sua evolução e de seu contexto analítico, negará que elas possuem características sexuais e, em vez disso, lhes atribuirá alguma característica indiferenciada. Os senhores devem não se esquecer de que, por agora, não possuímos nenhum critério universalmente reconhecido da natureza sexual de um processo, salvo, novamente, uma conexão com a função reprodutiva, que devemos rejeitar por ser um critério demasiadamente limitado. Os critérios biológicos, como os de periodicidades de vinte e três e de vinte e oito dias, postulados por Wilhelm Fliess [1906], são ainda altamente controvertidos; as características químicas do processo sexual, que podemos supor, continuam aguardando a sua descoberta. Por outro lado, as perversões sexuais dos adultos constituem algo tangível e inequívoco. Como já o demonstra o nome pelo qual são universalmente conhecidas, elas são inquestionavelmente sexuais. Se descritas como indicações de degeneração, ou o que quer que seja, ninguém ainda teve a coragem de classificá-las como algo que não sejam fenômenos da vida sexual. Apenas em virtude delas justifica-se afirmarmos que sexualidade e reprodução não coincidem, pois é óbvio que todas as perversões negam o objetivo da reprodução. – p. 325;
_ Na realidade, os pervertidos são, antes, uns pobres diabos, que têm de pagar extremamente caro pela satisfação que obtêm a duras penas. – p. 326;
_ A organização sádico-anal é o precursor imediato da fase de primazia genital. Um estudo detalhado mostra quanto dele se mantém na forma definitiva e ulterior das coisas, e, também, revela a forma em que seus instintos parciais são compelidos a tomar seu lugar na nova organização genital. Anterior à fase sádico-anal do desenvolvimento libidinal, podemos divisar um estádio de organização ainda mais precoce e primitivo, no qual a zona erógena da boca desempenha o papel principal. Como podem perceber, a atividade sexual da sucção pertence a esse estádio. Devemos admirar a compreensão dos antigos egípcios que, na sua arte, representavam as crianças, inclusive o deus Hórus, com um dedo na boca. Apenas recentemente, Abraham [1916] deu exemplo dos vestígios que essa fase oral primitiva deixa após si na vida sexual posterior. – p. 331/332;
_ Não pode haver dúvida de que o complexo de Édipo pode ser considerado uma das mais importantes fontes do sentimento de culpa com que tão freqüentemente se atormentam os neuróticos. E mais do que isso: em um estudo sobre o início da religião e da moralidade humanas, que publiquei em 1913 sob o título de Totem e Tabu [Freud, 1912-13], apresentei a hipótese de que a humanidade como um todo pode ter adquirido seu sentimento de culpa, a origem primeira da religião e da moralidade, no começo de sua história, em conexão com o complexo de Édipo. Eu teria muita satisfação em dizer-lhes mais a esse respeito, prefiro, porém, deixá-lo de lado. Sempre que se começa com esse assunto, é difícil interromper; devemos, contudo, retornar à psicologia individual. – p. 335/336;
_ Um dos crimes de Édipo foi o incesto com a mãe, o outro foi o parricídio. Pode-se observar, de passagem, que estes são também os dois grandes crimes proscritos pelo totemismo, a primeira instituição social-religiosa da humanidade. – p. 339;
Conferência XXII – Algumas ideias sobre desenvolvimento e regressão - Etiologia
_ Ouviram dizer que a função libidinal sofre uma prolongada evolução, até que possa, segundo o que se descreve como forma normal, ser posta a serviço da reprodução. Gostaria de atrair sua atenção, agora, para a importância desse fato na causação das neuroses. Penso que estamos de acordo com as teorias da patologia geral ao supormos que um desenvolvimento dessa espécie envolve dois perigos: primeiro, de inibição, e, segundo, deregressão. Isto é, em vista da tendência geral dos processos biológicos à variação, não há como fugir ao fato de que nem todas as fases preparatórias são ultrapassadas com igual êxito e superadas completamente: partes da função serão retidas permanentemente nesses estádios iniciais e o quadro total do desenvolvimento será limitado por determinada quantidade de inibição de desenvolvimento. – p. 343;
_ Acima de tudo, penso, todavia, que devo adverti-los para não confundirem regressão com repressão e ajudá-los a formar uma idéia clara das relações entre os dois processos. A repressão, como se recordam, é o processo pelo qual um ato admissível à consciência, portanto um ato que pertence ao sistema Pcs., é tornado inconsciente – é repelido para dentro do sistema Ics. E igualmente falamos em regressão se o ato mental inconsciente é de todo impedido de ter acesso ao vizinho sistema pré-consciente e é repelido, no limiar, pela censura. Assim, o conceito de repressão não implica nenhuma relação com a sexualidade: devo pedir-lhes que tomem especial nota disto. Indica um processo puramente psicológico, que podemos caracterizar mais bem ainda se o denominarmos processo ‘topográfico’. Com isso queremos dizer que repressão diz respeito às regiões psíquicas que supomos existirem ou, se abandonamos essa desajeitada hipótese de trabalho, à construção do aparelho mental a partir dos diferentes sistemas psíquicos. – p. 345;
_ Uma regressão da libido, sem repressão, jamais produziria uma neurose, mas levaria a uma perversão. Assim, os senhores podem ver que a repressão é o processo mais característico das neuroses e é de todos os mecanismos o mais característico. – p. 347;
_ Até agora, forneci-lhes apenas uma parcela de informação a respeito desse assunto, ou seja: que as pessoas adoecem de neurose quando impedidas da possibilidade de satisfazer sua libido – que adoecem devido à ‘frustração’, conforme costumo dizer – e que seus sintomas são justamente um substituto para sua satisfação frustrada. – p. 348;
_ Ora, os senhores poderão ter a impressão de que a privação foi reduzida à insignificância devido a todos esses métodos de tolerá-la. Contudo, não é assim; ela conservou sua capacidade patogênica. As contramedidas são, em sua totalidade, insuficientes. Há um limite à quantidade de libido não satisfeita que os seres humanos, em média, podem suportar. A plasticidade ou livre mobilidade da libido não se mantém absolutamente preservada em todas as pessoas, e a sublimação jamais tem a capacidade de manejar senão determinada parcela de libido; acresce-se o fato de que muitas pessoas são dotadas apenas de uma escassa capacidade de sublimar. A mais importante dessas limitações é, evidentemente, aquela referente à mobilidade da libido, de vez que isto faz com que a satisfação da pessoa dependa da obtenção de apenas um número muito reduzido de fins e de objetos. Basta os senhores recordarem que um desenvolvimento imperfeito da libido deixa atrás de si fixações libidinais muito férteis e, talvez, também, muito numerosas, em fases precoces da organização e da busca de objetos, as quais, em sua maior parte, são incapazes de prover satisfação real; e, com isso, os senhores poderão reconhecer na fixação libidinal o segundo poderoso fator que, juntamente com a frustração, é causa de doença. Podem afirmar, numa abreviação esquemática, que a fixação libidinal representa o fator interno, predisponente, da etiologia das neuroses, ao passo que a frustração representa o fator externo, acidental. – p. 349;
_ Assim, o problema da causação das neuroses parece tornar-se mais complicado. De fato, a investigação psicanalítica nos familiariza com um fator novo, que não é levado em conta em nossa série etiológica e que podemos reconhecer muito facilmente em casos nos quais aquilo que até então constituiu condição sadia, é subitamente perturbado por um início de doença neurótica. Nessas pessoas regularmente encontramos indícios de uma luta entre impulsos plenos de desejos, ou segundo costumamos expressá-lo, um conflito psíquico. Uma parte da personalidade defende a causa de determinados desejos, enquanto outra parte se opõe a eles e os rechaça. Sem tal conflito não existe neurose. Pareceria não haver nada de característico nisto. Nossa vida mental, conforme sabem, é permanentemente agitada por conflitos que temos de resolver. Sem dúvidas, por conseguinte, condições especiais devem ser preenchidas para que um conflito se torne patogênico. Devemos perguntar que condições são essas, entre que poderes mentais se desenrolam esses conflitos patogênicos, e qual é a relação entre o conflito e os demais fatores causais. – p. 352/353;
_ O conflito patogênico é, pois, um conflito entre os instintos do ego e os instintos sexuais. Em muitos casos, parece haver como que um conflito também entre diferentes tendências puramente sexuais. Em essência, isto, porém, é a mesma coisa; pois das duas tendências sexuais em conflito, uma sempre é, poderíamos dizer assim, ‘egossintônica’, ao passo que a outra provoca a defesa do ego. Portanto, ainda continua sendo um conflito entre o ego e a sexualidade. Senhores, sempre que a psicanálise tem afirmado que algum evento mental é produto dos instintos sexuais, tem-se-lhe argumentado, indignadamente, a modo de defesa, que os seres humanos não se resumem apenas em sexualidade, que existem na vida mental instintos e interesses outros além dos sexuais, que não se deve derivar ‘tudo’ da sexualidade, e assim por diante. Pois bem, é muito gratificante, vez por outra, verificar que estamos de acordo com nossos opositores. A psicanálise jamais se esqueceu de que há também forças instintuais que não sexuais. Ela se baseou numa nítida distinção entre os instintos sexuais e os instintos do ego, e, apesar de todas as objeções, sustentou não que as neuroses derivavam da sexualidade, mas sim, que, sua origem se deve a um conflito entre o ego e a sexualidade. E nem possui qualquer motivo concebível para contestar a existência ou a importância dos instintos do ego, enquanto rastreia a parte executada pelos instintos sexuais na doença e na vida corrente. Simplesmente a psicanálise teve o destino de começar por interessar-se pelos instintos sexuais, de vez que as neuroses de transferência os tornaram os de mais fácil acesso ao exame, e porque é psicanálise coube a tarefa de estudar aquilo de que outras pessoas haviam descurado. – p. 354;
_ Assim, descobrimos que o terceiro fator na etiologia das neuroses, a tendência ao conflito, depende tanto do desenvolvimento do ego como do da libido. Com isso faz-se mais completa nossa compreensão interna (insight) da causação das neuroses. Primeiro, existe a precondição mais geral – a frustração; e, a seguir, a fixação da libido que a força em determinadas direções; e terceiro, a tendência ao conflito, surgida do desenvolvimento do ego, a qual rejeita esses impulsos libidinais. – p. 355;
_ É como se a totalidade de nossa vida mental fosse dirigida para obter o prazer e evitar o desprazer – que é automaticamente regulada pelo princípio de prazer. Gostaríamos de saber, dentre todas as coisas, o que é que determina a geração do prazer e do desprazer; isto, contudo, ignoramos. Podemos apenas arriscar-nos a dizer o seguinte: que o prazer está de alguma forma relacionado com a diminuição, redução ou extinção das cargas de estímulos reinantes no aparelho mental e que, de maneira semelhante, o desprazer está em conexão com o aumento dessas cargas. Um exame do prazer mais intenso acessível aos seres humanos, o prazer de efetuar o ato sexual, deixa pouca dúvida quanto a esse ponto. De vez que, em tais processos relativos ao prazer, a questão é saber o que acontece com as quantidades de excitação ou energia mental, damos a essa nova dimensão o nome de econômica. Notar-se-á que podemos descrever as atribuições e realizações do aparelho mental de outra forma mais geral do que simplesmente enfatizando a objeção de prazer. Podemos dizer que o aparelho mental serve ao propósito de dominar e eliminar as cargas de estímulo e as somas de excitação que incidem sobre ele, provenientes de fora e de dentro. É imediatamente óbvio que os instintos sexuais, do começo ao fim de seu desenvolvimento, atuam com vistas à obtenção de prazer; eles mantêm inalterada sua função original. Os outros instintos, os instintos do ego, têm, inicialmente, o mesmo objetivo. Sob a influência da instrutora Necessidade, porém, logo aprendem a substituir a princípio de prazer por uma modificação do mesmo. Para eles, a tarefa de evitar desprazer vem a ser tão importante como a de obter prazer. O ego descobre que lhe é inevitável renunciar à satisfação imediata, adiar a obtenção de prazer, suportar um pequeno desprazer e abandonar inteiramente determinadas fontes de prazer. Um ego educado dessa maneira tornou-se ‘racional’; não se deixa mais governar pelo princípio de prazer, mas obedece ao princípio de realidade que, no fundo, também busca obter prazer, mas prazer que se assegura levando em conta a realidade, ainda que seja um prazer adiado ou diminuído. A transição do princípio de prazer para o princípio de realidade é um dos mais importantes passos na direção do desenvolvimento do ego. – p. 359/360;
Conferência XXIII – O caminho da formação dos sintomas   
_ Os sintomas – e, naturalmente, agora estamos tratando de sintomas psíquicos (ou psicogênicos) e de doença psíquica – são atos, prejudiciais, ou, pelo menos, inúteis à vida da pessoa, que por vez, deles se queixa como sendo indesejados e causadores de desprazer ou sofrimento. O principal dano que causam reside no dispêndio mental que acarretam, e no dispêndio adicional que se torna necessário para se lutar contra eles. Onde existe extensa formação de sintomas, esses dois tipos de dispêndio podem resultar em extraordinário empobrecimento da pessoa no que se refere à energia mental que lhe permanece disponível e, com isso, na paralisação da pessoa para todas as tarefas importantes da vida. Como esse resultado depende principalmente da quantidade da energia que assim é absorvida, os senhores verão facilmente que ‘ser doente’ é, em essência, um conceito prático. Se, contudo, assumirem um ponto de vista teórico e não considerarem essa questão de quantidade, os senhores podem muito bem dizer que todos nós somos doentes – isto é, neuróticos -, pois as precondições da formação dos sintomas também podem ser observadas em pessoas normais.
Já sabemos que os sintomas neuróticos são resultado de um conflito, e que este surge em virtude de um novo método de satisfazer a libido. As duas forças que entraram em luta encontram-se novamente no sintoma e se reconciliam, por assim dizer, através do acordo representado pelo sintoma formado. É por essa razão, também, que o sintoma é tão resistente: é apoiado por ambas as partes em luta. Também sabemos que um dos componentes do conflito é a libido insatisfeita, que foi repelida pela realidade e agora deve procurar outras vias para satisfazer-se. Se a realidade se mantiver intransigente, ainda que a libido esteja pronta a assumir um outro objeto em lugar daquele que lhe foi recusado, então a mesma libido, finalmente, será compelida a tomar o caminho da regressão e a tentar encontrar satisfação, seja em uma das organizações que já havia deixado para trás, seja em um dos objetos que havia anteriormente abandonado. A libido é induzida a tomar o caminho da regressão pela fixação que deixou após si nesses pontos do seu desenvolvimento. O caminho que leva à perversão se destaca nitidamente daquele que leva à neurose. Se essas regressões não suscitam objeção por parte do ego, não surgirá neurose alguma; e a libido chegará a alguma satisfação real, embora não mais uma satisfação normal. Entretanto, se o ego, que tem sob seu controle não só a consciência, mas também o acesso à inervação motora e, por conseguinte, à realização dos desejos mentais, não concordar com essas regressões, seguir-se-á o conflito. A libido, por assim dizer, é interceptada e deve procurar escapar em alguma direção na qual, de acordo com as exigências do princípio de prazer, possa encontrar uma descarga para suas catexias de energia. Ela deve retirar-se do ego. Uma saída dessa espécie é-lhe oferecida pelas fixações situadas na trajetória do seu desenvolvimento, na qual agora entrou regressivamente – fixações das quais o ego se havia protegido, no passado, por meio de repressões. Catexizando essas posições reprimidas, à medida que se desloca para trás, a libido se retirou do ego e afastou-se de suas leis e, ao mesmo tempo, renunciou a toda a educação que adquiriu sob influência do ego. Era dócil somente enquanto a satisfação lhe acenava; mas, sob a dupla pressão da frustração externa e interna, torna-se refratária e relembra épocas anteriores e melhores. Tal é o caráter fundamentalmente imutável da libido. As idéias, às quais agora transfere sua energia em forma de catexia, pertencem ao sistema do inconsciente e estão sujeitas aos processos que ali são possíveis, sobretudo condensação e deslocamento. Estabeleceu-se, assim, condições que se assemelham totalmente àquelas existentes na construção onírica. O sonho propriamente dito, que foi completado no inconsciente e que é a realização de uma fantasia inconsciente constituída de um desejo, enfrenta uma parcela de atividade (pré-)consciente que exerce o papel de censura e que, quando foi preservada, permite a formação do sonho manifesto em forma de um acordo. – p. 361/362;
_ Onde, pois, encontra a libido as fixações necessárias para romper as repressões? Nas atividades e experiências da sexualidade infantil, nas tendências parciais abandonadas, nos objetos da infância que foram abandonados. É a estes, por conseguinte, que a libido retorna. A significação desse período da infância é dupla: por um lago, durante esse período, pela primeira vez se tornam manifestas as tendências instintuais que a criança herdou com sua disposição inata; e, em segundo lugar, outros instintos seu são, pela primeira vez, despertados e postos em atividade pelas impressões externas e experiências casuais. – p. 363;
_ A importância das experiências infantis não deve ser totalmente negligenciada, como as pessoas preferem, em comparação com as experiências dos ancestrais da pessoa e com sua própria maturidade; pelo contrário, as experiências infantis exigem uma consideração especial. Elas determinam as mais importantes conseqüências, porque ocorrem numa época de desenvolvimento incompleto e, por essa mesma razão, são capazes de ter efeitos traumáticos. Os estudos sobre os mecanismos do desenvolvimento, feitos por Roux e outros, têm mostrado que a picada de uma agulha em uma camada geminal de um embrião no ato da divisão celular resulta em grave distúrbio do desenvolvimento. A mesma lesão infligida a um animal larvar ou inteiramente desenvolvido não causaria dano. – p. 364;
_ Retornemos agora aos sintomas. Estes criam, portanto, um substituto das satisfações frustradas, realizando uma regressão da libido a épocas de desenvolvimento anteriores, regressão a que necessariamente se vincula um retorno a estádios anteriores de escolha objetal ou de organização. Descobrimos, há algum tempo, que os neuróticos estão ancorados em algum ponto do seu passado; agora sabemos que esse ponto é um período do seu passado, no qual sua libido não se privava de satisfação, no qual eram felizes. – p. 367;
_ Podemos desprezar o fato de que o sintoma se constitui em algo irreconhecível para o indivíduo que, pelo contrário, sente a suposta satisfação como sofrimento e se queixa deste. Essa transformação é uma função do conflito psíquico sob pressão, do qual o sintoma veio a se formar. Aquilo que para o indivíduo, em determinada época, constituía uma satisfação, na realidade passa, hoje, necessariamente a originar resistência e repugnância. Conhecemos bem um modelo banal, porém instrutivo, de uma tal mudança de atitude. A mesma criança que em determinada época sugava com avidez o seio materno, alguns anos depois, provavelmente, mostrará uma intensa aversão a tomar leite, o que causa dificuldade na sua criação. A aversão aumenta até à repugnância, no caso de se formar uma película sobre o leite ou sobre a mistura que contenha leite. – p. 368;
_ Eu os avisei de que ainda tínhamos algo novo para aprender; trata-se realmente de algo surpreendente e desconcertante. Por meio da análise, conforme sabem, partindo dos sintomas chegamos ao conhecimento das experiências infantis, às quais a libido está fixada e das quais se formam os sintomas. Pois bem, a surpresa reside em que essas cenas da infância nem sempre são verdadeiras. Com efeito, não são verdadeiras na maioria dos casos, e, em alguns, são o posto direto da verdade histórica. – p. 369;
_ A retração da libido para a fantasia é um estádio intermediário no caminho da formação dos sintomas e parece que ela requer um nome especial. C.G. Jung introduziu o nome apropriado de ‘introversão’; mas depois, muito desacertadamente, deu-lhe também um outro significado. Continuaremos a considerar que a introversão denota o desvio da libido das possibilidades de satisfação real e a hipercatexia das fantasias que até então foram toleradas como inocentes. Um introvertido não é bem um neurótico, porém se encontra em situação instável: seguramente desenvolverá sintomas na próxima modificação da relação de força, a menos que encontre algumas outras saídas para sua libido represada. O caráter irreal da satisfação neurótica e a desatenção à diferença entre fantasia e realidade já são, por outro lado, determinados pelo fato de ter havido uma demora no estádio de introversão. – p. 375;
_ Antes de deixá-los ir, gostaria, contudo, de chamar-lhes um pouco mais a atenção para um aspecto da vida de fantasia que merece o mais amplo interesse. Isto porque existe um caminho que conduz da fantasia de volta à realidade – isto é, o caminho da arte. Um artista é, certamente, em princípio um introvertido, uma pessoa não muito distante da neurose. É uma pessoa oprimida por necessidades instintuais demasiado intensas. Deseja conquistar honras, poder, riqueza, fama e o amor das mulheres; mas faltam-lhe os meios de conquistar essas satisfações. Conseqüentemente, assim como qualquer outro homem insatisfeito, afasta-se da realidade e transfere todo o seu interesse, e também toda a sua libido, para as construções, plenas de desejos, de sua vida de fantasia, de onde o caminho pode levar à neurose. – p. 377;
Conferência XXIV - O estado neurótico comum
_ Uma das formas pelas quais o ego se relaciona com suas neuroses, entretanto, é tão óbvia que foi possível considerá-la desde o início. Parece jamais estar ausente; e é reconhecível com bastante nitidez em um distúrbio que, ainda hoje em dia, estamos longe de compreender – a neurose traumática. Os senhores devem saber que os mesmos fatores sempre entram em jogo na causação e no mecanismo de todas as possíveis formas de neurose; mas a importância principal na construção dos sintomas recai ora num, ora noutro desses fatores. – p. 382;
_ Mesmo nessa época, não pude deixar de perceber que a causação da doença nem sempre aponta para a vida sexual. Uma pessoa, é fato, adoeceu por uma influência nociva sexual direta; mas uma outra adoeceu porque perdeu sua fortuna ou porque sofreu uma doença orgânica exaustiva. A explicação dessas diferenças veio posteriormente, quando compreendemos as inter-relações, de que já suspeitávamos, entre o ego e a libido, e a explicação se tornou mais satisfatória à medida que essa compreensão se aprofundava. Uma pessoa somente adoece de uma neurose se seu ego perdeu a capacidade de diversificar, de algum modo, sua libido. Quanto mais forte é seu ego, mais fácil lhe será executar essa tarefa. Qualquer enfraquecimento do seu ego por qualquer causa deve ter o mesmo efeito, agindo como um aumento excessivo das exigências da libido, e, por isso, lhe possibilitará adoecer de uma neurose. ­– p. 387;
_ O que caracteriza a psicanálise como ciência não é o material de que trata, mas sim a técnica com a qual trabalha. Pode ser aplicada à história da civilização, à ciência da religião e da mitologia não em menor medida do que à teoria das neuroses, sem forçar sua natureza essencial. Aquilo a que ela visa, aquilo que realiza, não é senão descobrir o que é inconsciente na vida mental. – p. 389;
Conferência XXV – A ansiedade
_ O que lhes disse em minha última conferência a respeito do estado neurótico geral deve tê-los surpreendido, sem dúvida, como o mais incompleto e inadequado de todos os meus pronunciamentos. Sei que é verdade, e nada deve tê-los surpreendido mais, segundo espero, do que não haver nessa conferência nada a respeito da ansiedade, da qual todos os neuróticos se queixam, e descrevem como sendo seu pior sofrimento e que, de fato, neles atinge enorme intensidade, e pode resultar nas atitudes mais loucas. Entretanto, ali, pelo menos, não tive a intenção de oferecer-lhes resumos. Ao contrário, foi minha intenção abordar o problema da ansiedade nos neuróticos de forma especialmente acurada e discuti-lo em profundidade com os senhores.A ansiedade, como tal, não há por que apresentá-la Aos senhores. Cada um de nós experimentou essa sensação, ou, para expressar com maior correção, esse estado afetivo, numa ou noutra época, por nossa própria conta. Penso, porém, que jamais com seriedade suficiente levantou-se a questão de saber por que os neuróticos, em particular, sofrem de ansiedade tanto mais e tão mais intensamente do que outras pessoas. – p. 393;
_ Finalmente chegamos à conexão que estamos procurando se tomamos como nosso ponto de partida a oposição, que tantas vezes afirmamos existir, entre o ego e a libido. Conforme sabemos, a geração de ansiedade é a reação do ego ao perigo e o sinal para empreender a fuga. Assim sendo, parece plausível supor que, na ansiedade neurótica, o ego faz uma tentativa semelhante de fuga da exigência feita por sua libido, que o ego trata este perigo interno como se fora um perigo externo. Portanto, isto corresponderia à nossa expectativa de que, onde se manifesta ansiedade, aí existe algo que se teme. Mas a analogia poderia ser ampliada ainda mais. Assim como a tentativa de fuga de um perigo externo é substituída pela adoção de uma atitude firme e de medidas apropriadas de defesa, também a geração de ansiedade neurótica dá lugar à formação de sintomas, e isto resulta em que a ansiedade seja vinculada. – p. 405;
_ Permitam-me sumarizar o que nossas observações relativas ao estado de apreensão das crianças nos têm ensinado. A ansiedade infantil tem escassa relação com a ansiedade realística, mas, por outro lado, relaciona-se estreitamente com a ansiedade neurótica dos adultos. Assim como esta, deriva-se da libido não-utilizada e substitui o objeto de amor ausente por um objeto externo, ou por uma situação. – p. 409;
_ Assim, achamo-nos convencidos de que o problema da ansiedade ocupa, na questão da psicologia das neuroses, um lugar que pode justificadamente ser classificado como central. Impressionou-nos intensamente a forma como a geração de ansiedade se vincula às vicissitudes da libido e ao sistema do inconsciente. Existe apenas um ponto que julgamos desconexo – uma lacuna em nossos pontos de vista: o fato único, praticamente inegável, de que a ansiedade realística deve ser considerada manifestação dos instintos de autopreservação do ego. – p. 411;
Conferência XXVI – A teoria da libido e o narcisismo
_ Repetidas vezes (e, bem recentemente, mais uma vez, tivemos de tratar da diferença entre os instintos do ego e os instintos sexuais. Em primeiro lugar, a repressão nos mostrou que esses dois instintos podem opor-se um ao outro, que os instintos sexuais são ostensivamente reprimidos e são obrigados a encontrar satisfação por si mesmos, por vias regressivas e indiretas, e que, com isso, eles são capazes de encontrar compensação por haverem sido frustrados em sua inflexibilidade. A seguir, verificamos que os dois tipos de instintos, desde o início, relacionam-se diversamente com a Necessidade, a educadora, de modo que a sua trajetória evolutiva não é a mesma, e que não estabelecem a mesma relação com o princípio de realidade. Por fim, pensamos haver reconhecido que os instintos sexuais, mais do que os instintos do ego, têm estreitos laços a vinculá-los ao estado afetivo de ansiedade – e essa conclusão parece incompleta em apenas um importante aspecto. A fim de estabelecê-la com mais firmeza, portanto, aduzo o fato ainda mais significativo de que, se a fome e a sede (os dois instintos de autopreservação mais elementares) estão insatisfeitas, o resultado nunca é a sua transformação em ansiedade, ao passo que a modificação da libido insatisfeita em ansiedade é, conforme vimos, um dos fenômenos mais bem conhecidos e mais freqüentemente observados. – p. 413;
_ Assim, aos poucos nos familiarizamos com a noção de que a libido, que encontramos ligada aos objetos e que é expressão de um esforço para obter satisfação em conexão com esses objetos, também pode deixar os objetos e colocar o próprio ego da pessoa em lugar deles: a essa noção foi-se firmando gradualmente, sempre com maior coerência. O nome para essa forma de distribuir a libido – narcisismo -, nós o tomamos de empréstimo de uma perversão descrita por Paul Näcke [1899], na qual um adulto trata seu corpo com todos os mimos que usualmente são dedicados a um objeto sexual externo. A reflexão logo sugere que, se ocorre uma fixação da libido ao próprio corpo e à personalidade da pessoa, em vez de se fazer a um objeto, ela não pode constituir um evento excepcional ou trivial. Pelo contrário, é provável que esse narcisismo constitui a situação universal e original a partir da qual o amor objetal só se desenvolve posteriormente, sem que, necessariamente, por esse motivo o narcisismo desapareça. Com efeito, tivemos de recordar, a partir da história da evolução da libido objetal, que muitos instintos sexuais começam encontrando satisfação no próprio corpo da pessoa auto-eroticamente, conforme dizemos – e que essa capacidade para o auto-erotismo é a base do atraso da sexualidade no processo de educação no princípio de realidade. O auto-erotismo seria, pois, a atividade sexual do estádio narcísico da distribuição da libido. - p. 416/417;
_ Experiências dessa natureza, em casos sempre mais numerosos, nos levaram a concluir que a paranóia persecutória é a forma da doença na qual uma pessoa se defende contra um impulso homossexual que se tornou por demais intenso. A mudança de afeição em ódio, a qual, conforme já se sabe, pode tornar-se séria ameaça à vida do objeto amado e odiado, corresponde, nesses casos, à transformação dos impulsos libidinais em ansiedade, que é o resultado constante do processo de repressão. – p. 425;
_ A escolha objetal homossexual situa-se originalmente mais próxima do narcisismo, do que ocorre com a escolha heterossexual. Quando se trata, pois, de repelir um impulso homossexual indesejavelmente forte, torna-se sobremodo fácil o caminho de regresso ao narcisismo. Até o momento, tive bem pouca oportunidade de falar-lhes acerca dos fundamentos da vida erótica, até onde nós os descobrimos; e é muito tarde para reparar essa omissão. O que posso enfatizar para os senhores, porém, é o seguinte. A escolha objetal, o passo adiante no desenvolvimento da libido, que se faz após o estádio narcísico, pode realizar-se segundo dois tipos diferentes: um, segundo o tipo narcísico, no qual o próprio ego da pessoa é substituído por um outro, que lhe é tão semelhante quanto possível; o outro, segundo o tipo ligação, no qual as pessoas que se tornaram valiosas, porque satisfizeram as outras necessidades vitais, são, também, escolhidas como objetos pela libido. Uma intensa fixação ao tipo narcísico de escolha objetal deve ser incluída na predisposição ao homossexualismo manifesto. – p. 427;
Conferência XXVII - Transferência
_ Aprenderam tudo quanto é essencial a respeito dos fatores determinantes do adoecer, bem como todos os fatores que entram em jogo após o paciente haver adoecido. Onde darão estes lugares a alguma influência terapêutica? Em primeiro lugar, existe a disposição hereditária. Desta não falamos com muita freqüência, de vez que é enfaticamente ressaltada a partir de outras direções, e não temos nada de novo a dizer a respeito. Não suponham, porém, que a subestimamos; justamente como terapeutas, chegamos a perceber com muita nitidez a sua força. De qualquer modo, nada podemos fazer para modificá-la; também devemos considerá-la algo estabelecido, que põe um limite aos nossos esforços. Depois, existe a influência das experiências do início da infância, às quais costumamos conferir importância na análise: elas pertencem ao passado e não podemos anulá-las. Vem, a seguir, tudo aquilo que resumimos como ‘frustração real’ – os infortúnios da vida dos quais se originam a falta de amor, pobreza, dissensões de família, escolha mal feita de um companheiro no casamento, circunstâncias sociais desfavoráveis, e a rigidez dos padrões éticos a cuja pressão o indivíduo está sujeito. – p. 433;
_ Ademais disso, posso assegurar-lhes que estão mal informados se supõem que o conselho e a orientação nos assuntos da vida façam parte integral da influência analítica. Pelo contrário, na medida do possível, evitando exercer o papel de menor desse tipo, e tudo o que procuramos levar a efeito é, de preferência, que o paciente venha a tomar as decisões por si mesmo. Também com vistas a esse propósito, exigimos do paciente que adie para o término de seu tratamento quaisquer decisões relativas à escola de uma profissão, encargos de negócios, casamento ou divórcio, e que só as ponha em prática quando o tratamento estiver terminado. – p. 435;
– Dizemos a nós próprios que todo aquele que conseguiu educar-se de modo a se conduzir de acordo com a verdade referente a si mesmo, está permanentemente protegido contra o perigo da imoralidade, conquanto seus padrões de moralidade possam diferir, em determinados aspectos, daqueles vigentes na sociedade. – p. 436;
_ Aquilo que empregamos sem dúvida deve ser a substituição do que está inconsciente pelo que é consciente, a tradução daquilo que é inconsciente para o que é consciente. Sim, é isso. Transformando a coisa inconsciente em consciente, suspendemos as repressões, removemos as precondições para a formação dos sintomas, transformamos o conflito patogênico em conflito normal, para o qual deve ser possível, de algum modo, encontrar uma solução. Tudo o que realizamos em um paciente é essa única modificação psíquica: a extensão em que ela se efetua é a medida da ajuda que proporcionamos. Ali onde as repressões (ou os processos psíquicos análogos) não podem ser desfeitos, nossa terapia não tem nada a esperar. Podemos expressar o objetivo de nossos esforços em diversas fórmulas: tornar consciente o que é inconsciente, remover as repressões, preencher lacunas da memória – tudo isso corresponde à mesma coisa. – p. 437;
_ O que, pois, devemos fazer a fim de substituir o que é inconsciente, em nossos pacientes, por aquilo que é consciente? Houve uma época em que pensávamos ser isto algo muito simples: tudo o que tínhamos de fazer era descobrir esse material inconsciente e comunicá-lo ao paciente. Já sabemos, porém, que este é um erro primário. O nosso conhecimento acerca do material inconsciente não é equivalente ao conhecimento dele; se lhe comunicarmos nosso conhecimento, ele não o receberá em lugar de seu material inconsciente, mas ao lado do mesmo; e isso causará bem pouca mudança no paciente. Devemos, de preferência, situar esse material inconsciente topograficamente, devemos procurar, em sua memória, o lugar em que se tornou inconsciente devido a uma repressão. A repressão deve ser eliminada – e a seguir pode efetuar-se desimpedidamente a substituição do material consciente pelo inconsciente. Como, pois, removemos uma repressão dessa espécie? A essa altura, nossa tarefa entra numa segunda fase. Primeiro, a busca da repressão e, depois, a remoção da resistência que mantém a repressão. Como removemos a resistência? Da mesma forma: descobrindo-a e mostrando-a ao paciente. Na realidade, também a resistência deriva de uma repressão – da mesma repressão que nos esforçamos por solucionar, ou de uma repressão que se realizou anteriormente. Foi provocada pela anticatexia, que surgiu a fim de reprimir o impulso censurável. Assim, fazemos o mesmo que tentamos fazer inicialmente: interpretar, descobrir, comunicar; mas, então, estamos fazendo-o no lugar certo. A anticatexia ou a resistência não fazem parte do inconsciente, e sim do ego, que é nosso colaborador, sendo-o, ainda que não consciente. Como sabemos, aqui a palavra ‘inconsciente’ está sendo usada em dois sentidos: por um lado, como fenômeno e, por outro, como sistema. – p. 438;
­_ Ao procurar assim a repressão, ao revelar as resistências, ao assinalar o que está reprimido, conseguimos, com efeito, cumprir nossa tarefa – isto é, vencer as resistências, remover a repressão e transformar o material inconsciente em material consciente. – p. 439;
_ Esses pacientes, paranóicos, melancólicos, sofredores de demência precoce, permanecem, de um modo geral, intocados e impenetráveis ao tratamento psicanalítico. Qual seria a razão? – p. 440;
_ Devo começar por esclarecer que uma transferência está presente no paciente desde o começo do tratamento e, por algum tempo, é o mais poderoso móvel de seu progresso. Dela não vemos indício algum, e com ela não temos por que nos preocupar enquanto age a favor do trabalho conjunto da análise. Se, porém, se transforma em resistência, devemos voltar-lhe nossa atenção e reconhecemos que ela modifica sua relação para com o tratamento sob duas condições diferentes e contrárias: primeira, se na forma de inclinação amorosa ela se torna tão intensa e revela sinais de sua origem em uma necessidade sexual de modo tão claro, que inevitavelmente provoca uma oposição interna a ela mesma; e, segundo, se consiste em impulsos hostis em vez de afetuosos. Os sentimentos hostis revelam-se, via de regra, mais tarde do que os sentimentos afetuosos, e se ocultam atrás destes; sua presença simultânea apresenta um bom quadro da ambivalência emocional dominante na maioria de nossas relações íntimas com outras pessoas. Os sentimentos hostis indicam, tal qual os afetuosos, haver um vínculo afetivo, da mesma forma como o desafio, tanto como a obediência, significa dependência, embora tendo à sua frente um sinal ‘menos’ em lugar de ‘mais’. Não podemos ter dúvidas de que os sentimentos hostis para com o médico merecem ser chamados de ‘transferência’, pois a situação, no tratamento, com muita razão não proporciona qualquer fundamento para sua origem; essa inevitável visão da transferência negativa nos assegura, portanto, que não estivemos equivocados em nosso julgamento acerca da transferência positiva ou afetuosa. – p. 444;
Conferência XXVIII – Terapia Analítica
_ Os senhores sabem de que iremos falar, hoje. Os senhores perguntaram-me por que não utilizamos a sugestão direta na terapia psicanalítica, de vez que admitimos que nossa influência se baseia essencialmente na transferência – isto é, na sugestão; e acrescentaram a dúvida quanto a saber se, em vista dessa predominância da sugestão, ainda temos o direito de declarar que nossas descobertas psicológicas são objetivas. Prometi que lhes daria uma resposta detalhada. – p. 449;
_ À luz do conhecimento que adquirimos da psicanálise, podemos descrever a diferença entre tratamento hipnótico e tratamento psicanalítico da seguinte maneira. O tratamento hipnótico procura encobrir e dissimular algo existente na vida mental; o tratamento analítico visa a expor e eliminar algo. O primeiro age como cosmético, o segundo, como cirurgia. O primeiro utiliza-se da sugestão, a fim de proibir os sintomas: fortalece as repressões, mas afora isso, deixa inalterados todos os processos que levaram à formação dos sintomas. O tratamento analítico faz seu impacto mais retrospectivamente, em direção às raízes, onde estão os conflitos que originaram os sintomas, e utiliza a sugestão a fim de modificar o resultado desses conflitos. O tratamento hipnótico deixa o paciente inerte e imodificado, e, por esse motivo também, igualmente incapaz de resistir a alguma nova oportunidade de adoecer. Um tratamento analítico exige do médico, assim como do paciente, a realização de um trabalho sério, que é empregado para desfazer as resistências internas. Através da superação dessas resistências, a vida mental do paciente é modificada permanentemente, é elevada a um alto nível de evolução e fica protegida contra novas possibilidades de adoecer. Esse trabalho de superar as resistências constitui a função essencial do tratamento analítico; o paciente tem de realizá-lo e o médico lhe possibilita fazê-lo com a ajuda da sugestão, operando em um sentido educativo. Por esse motivo, o tratamento psicanalítico tem sido apropriadamente qualificado como um tipo de pós-educação. – p. 451/452;
_ Passo a completar minha descrição do mecanismo de cura, revestindo-o com as fórmulas da teoria da libido. Um neurótico é incapaz de aproveitar a vida e de ser eficiente – incapaz de aproveitar a vida porque sua libido não se dirige a nenhum objeto real, e incapaz de ser eficiente porque é obrigado a empregar grande quantidade de sua valiosa energia, a fim de manter sua libido sob repressão e a fim de repelir seus assaltos. Ele se tornaria sadio se o conflito entre seu ego e sua libido chegasse ao fim, e se o ego mesmo tivesse novamente sua libido à sua disposição. A tarefa terapêutica consiste, pois, em liberar a libido de suas ligações atuais, subtraídas ao ego, e em torná-la novamente utilizável para o ego. Onde então se situa a libido do neurótico? É fácil encontrá-la: está ligada aos sintomas, o que a ela proporciona a única satisfação substitutiva possível, na época. Portanto, devemos nos tornar senhores dos sintomas e solucioná-los – o que é exatamente a mesma coisa que o paciente exige de nós. A fim de solucionar os sintomas, devemos remontar às suas origens, devemos reconstituir o conflito do qual eles surgiram e, com o auxílio das forças motrizes que, no passado, não estavam à disposição do paciente, devemos conduzir o conflito rumo a um resultado diferente. Essa revisão do processo de repressão só pode ser realizado em parte, em relação aos traços mnêmicos dos processos que conduziram à repressão. A parte decisiva do trabalho se consegue criando na relação do paciente com o médico – na transferência – novas edições dos antigos conflitos; nestas, o paciente gostaria de se comportar do mesmo modo como o fez no passado, ao passo que nós, concentrando todas as forças mentais disponíveis [do paciente], compelimo-lo a chegar a uma nova decisão. Assim, a transferência torna-se o campo de batalha no qual todas as forças mutuamente em choque se enfrentam. – p. 454/455;
_ Do ponto de vista da teoria da libido, também, podemos dizer uma última palavra sobre os sonhos. Os sonhos de um neurótico, bem como suas parapraxias e suas associações livres referentes aos mesmos, nos auxiliam a descobrir o sentido de seus sintomas e a revelar a maneira como sua libido se distribui. Eles não mostram, na forma de uma realização de desejo, quais impulsos plenos de desejos foram sujeitos à repressão e a quais objetos a libido retirada do ego foi ligada. Por esse motivo, a interpretação dos sonhos desempenha um papel importante em um tratamento psicanalítico, e, em alguns casos, ela é, por longos períodos, o mais importante instrumento de nosso trabalho. Já sabemos que o estado de sono, por si mesmo, leva a um determinado afrouxamento das repressões. Um impulso reprimido, devido a essa redução da pressão que pesa sobre ela, torna-se capaz de expressar-se muito mais claramente num sonho, do que lhe é permitido expressar-se por um sintoma, durante o dia. Portanto, o estudo dos sonhos torna-se o meio mais conveniente de se obter acesso ao conhecimento do inconsciente reprimido, do qual faz parte a libido retirada do ego. – p. 456/457;
_ A distinção entre saúde nervosa e neurose reduz-se, por conseguinte, a uma questão prática e é decidida pelo resultado, isto é, a pessoa ter ou não ter um nível suficiente de capacidade para aproveitar a vida e ser eficiente. Tal distinção provavelmente se atribui às dimensões relativas das quantidades de energia que permanece livre e que é ligada pela repressão; é de natureza quantitativa, não qualitativa. Não preciso dizer-lhes que essa descoberta é a justificação teórica de nossa convicção de que as neuroses são, em princípio, curáveis, apesar de se basearem na disposição constitucional. – p. 457.