sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Fábula - O Guardião da Luz - Cristiane Caracas


Gigantes amarelos eram aqueles girassóis do campo. Como o próprio nome sugere buscavam incansavelmente pelo Sol e, por isso, todos os dias se firmavam diante do astro rei e giravam em acrobacias num diurno balé fascinante.
Certa noite, entrementes, a Lua, com inveja do Sol e inconformada com o desprezo daquelas flores, acordou os girassóis e propôs a eles que lhe devotassem a mesma importância que devotavam ao Sol.
- Veja que confortável não ter que passar horas a se contorcer em busca de migalhas de raios de Sol? Ao invés de procurar o Sol, eu é que vos buscareis e, com meus raios prateados, iluminarei o dourado de vossas pétalas, propôs.
Os girassóis mais novos, de certa forma revoltados com o inquestionável destino de submissão ao Sol, resolveram acatar o aliciamento da Lua. De dia, em revide, ficavam fechados em copas e à noite se abriam aos primeiros raios de Luar, em uma total transgressão das leis naturais que regem os girassóis.
Tudo parecia correr muito bem até que, cumprindo a ordem das coisas, era chegada a Lua Nova e, com ela, a escuridão no firmamento.
Os girassóis, naquela noite, não conseguiram desabrochar, ao revés, murcharam ante a ausência de luminosidade. O Sol, como de costume, bem cedinho em sua aurora, resplandeceu sem se importar com a decepção dos girassóis que ingenuamente acreditaram na ilusão de um reflexo.

_ Pobres inocentes girassóis, não se deram conta de que só há um guardião da luz.
Só então aquelas flores compreenderam, como num clarão de lucidez, que nascemos predestinados à luz, mas os eclipses da vida podem nos levar a caminhos ermos, obscuros, ludibriados que somos por aparências e caprichos disfarçados em formas de desejos que nunca se realizam porque acaso conquistados deixam de ser desejos e se transmudam em um pretérito esvaziado pela posse daquilo que se quis.
Querer ser Luz é conhecer a silhueta de sua própria escuridão de forma a não mais temer a sombra e entender que a vida deve ser vivida como um balé de girassóis que não se pode deixar enganar por ilusões de cintilâncias que são criadas por nós mesmos ante o desconhecimento da nossa própria alma.
Cristiane Caracas
08/08/2014 

Nenhum comentário:

Postar um comentário