sábado, 16 de março de 2019

O complexo de Wilson; ou Como acabar uma relação aos poucos


Há algum tempo, o ator americano Tom Hanks foi o protagonista de um filme chamado aqui no Brasil de “O Náufrago”. Após a queda, em alto mar, do avião no qual ele estava, Chuck Noland (Tom Hanks) fica em uma ilha deserta na companhia de alguns objetos que estavam sendo transportados como carga pela aeronave. Dentre os objetos, encontrava-se uma bola de voleibol, que Chuck passou a tratar como amigo e a nomeou de Wilson (a marca da bola).
Pois bem, depois de algum tempo adaptando-se à ilha e de prolongado convívio com o Wilson, no qual ocorreram momentos de boa convivência, mas também de atritos e xingamentos, Chuck passou a pensar em uma maneira de tentar sair daquele isolamento. Montou um simples barco com o material disponível e posicionou o fiel amigo na proa do barco.
A aventura do mar apresentou-se perigosa. Para pescar, Chuck amarrava uma corda no barco e a segurava com firmeza, enquanto estava na água a procura de algum peixe. Durante toda ausência ao barco, a referida corda, firmemente empunhada, era a ligação entre ele e sua nau.
Certo dia, cansado e faminto, o náufrago adormece. Em razão do mar agitado, Wilson cai ao mar e Chuck só o vê quando está a uma distância maior do que a extensão da corda. Mesmo assim, empunhando a corda, ele salta para resgatar o amigo, mas vê aos poucos Wilson afastando-se, levado pelas ondas. Chuck chega ao limite do tamanho da corda, se ele soltar a corda poderia ter chance de alcançar Wilson, mas arriscaria perder-se do barco e sucumbir no vasto oceano. Ele retorna ao barco e o amigo vai se afastando, pois não há nenhum laço que os uma.
A cena referida apresenta-se repleta de simbolismo. Tenho visto na minha prática psicanalítica que a questão acima referida é mais comum do que se possa imaginar. A conexão que mantemos conosco mesmo (mundo interior) e com os demais deve ser objeto de constante regagem e amorização, sob pena de cair no “sono” da mesmice e ser levada pelas ondas do cotidiano niilista.
Um dos casos mais comuns da minha clínica são indivíduos (em sua maioria mulheres) que sentem que seus relacionamentos afetivos se esvaíram com o passar dos anos. Aquela paixão inicial foi substituída pela repetição das atividades diárias que minam o casamento e afogam a outrora empolgação. Sentem-se como estranhos em seus próprios lares e reconhecem que não há mais conexão com o parceiro de outrora. Em algum momento da relação, ocorreu o complexo de Wilson, e as perguntas mais frequentes são: o que aconteceu? de quem é a culpa?
E você, como vão suas conexões?

José Anastácio de Sousa Aguiar
Psicanalista, hipnoterapeuta e terapeuta de vidas passadas

Nenhum comentário:

Postar um comentário